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    Haven.  

    Farfalha~ Farfalha~  

    Delilah sentou-se em sua cadeira enquanto desembrulhava as barras de chocolate diante dela. Havia mais de uma dúzia, e olhando para os invólucros espalhados por toda parte, ela continuou a desembrulhar mais enquanto devorava.  

    Sua boca logo ficou coberta de chocolate, mas o que ela se importava?  

    Mais.  

    Farfalha~!  

    Mais!  

    To Tok—  

    “Chanceler! Chanceler! Recebemos outra carta dos delegados do Império Aurora!”  

    “Chanceler!”  

    Fora de sua porta, ela podia ouvir os gritos de suas secretárias.  

    Elas pareciam desesperadas, e provavelmente estavam. Uma situação ocorrera. Os cadetes de Haven, incluindo os do Império Aurora, haviam desaparecido.  

    Cr.. Crack!  

    A mesa de Delilah começou a rachar.  

    “….Logo quando as coisas estavam indo bem.”  

    Os últimos cinco meses haviam sido alguns dos mais tranquilos que ela já teve.  

    Houve algumas tentativas aqui e ali, mas nada que lhe desse dor de cabeça.  

    Mas adivinhe?  

    No momento em que Julien retornou, sua paz de espírito se desfez1.  

    “Chanceler!”  

    To Tok!  

    “Ukh.”  

    Delilah gemeu e enfiou uma barra de chocolate na boca.  

    “Eu… Eu sabia…!”  

    Ela continuou assim até não sobrar mais nada, e foi então que sua expressão ficou vazia.  

    Acabou.  

    ….Assim, as barras de chocolate que ela havia comprado se foram.  

    “Como?”  

    Delilah olhou para os invólucros com um olhar vazio.  

    Devo trocar por drogas?  

    “…..”  

    Isso provavelmente não faria efeito nela, já que sua constituição a tornava imune à maioria das drogas, e as que funcionavam eram simplesmente muito caras.  

    “Por que ele ainda não usou?”  

    Mas o que mais incomodava Delilah era o fato de Julien ainda não ter usado o item que ela lhe dera.  

    Sabendo que algo provavelmente daria errado em sua presença, Delilah decidiu presenteá-lo com algo para usar em casos de emergência.  

    Ela esperara o tempo todo que ele usasse o item.  

    ….E ainda assim, ele não o havia usado.  

    Swoosh!  

    Delilah jogou os invólucros para o lado com uma expressão impassível.  

    Mas ela estava com raiva.  

    Ou pelo menos, achava que estava.  

    “Tão difícil.”  

    Sua cabeça começou a doer.  

    Pelo menos, ela sabia que estava estressada.  

    Estrondo!  

    Os gritos se transformaram em batidas, e Delilah ergueu a cabeça. Franzindo os olhos, ela podia ver exatamente que tipo de expressão as pessoas lá fora estavam fazendo, e ela suspirou.  

    “Parece que ele não vai usá-lo.”  

    Seu corpo começou a desaparecer.  

    “…..Vou me meter em problemas por isso, mas não tenho escolha.”  

    ***  

    “…..”  

    Meus arredores estavam silenciosos, e diminui meus passos enquanto olhava para o caminho escuro à minha frente.  

    Mal conseguia ouvir qualquer som, e tentei manter minha respiração no mínimo.  

    ‘Isso deve ser suficiente, certo?’  

    Olhei para meus braços e pernas, que agora pareciam feitos da mesma rocha que as paredes da caverna.  

    A olho nu, não deveria ser possível me detectar.  

    Havia apenas um problema: eu não sabia se era o suficiente para enganar completamente os olhos de quaisquer criaturas que estivessem à espreita na caverna.  

    “…..Pare.”  

    A voz de Coruja-Poderosa ecoou baixinho.  

    Empoleirada em meu ombro, seus olhos vermelhos brilhavam na escuridão enquanto encaravam à frente.  

    “Ouço alguns passos.”  

    Ba… Baque!  

    Meu coração quase saltou do peito, e eu rapidamente cerrei os lábios.  

    Não hesitei em me mover para a parede próxima e ajustar minha camuflagem para combinar melhor com os arredores.  

    Tak, tak—  

    Finalmente pude ouvir os passos e engoli em seco.  

    Os passos se aproximaram, e eu prendi a respiração.  

    “….!”  

    Logo, duas pessoas vestidas de branco apareceram em meu campo de visão. Com olhares turvos, caminharam em minha direção. Senti um nó na garganta enquanto continuava a prender a respiração. Ao mesmo tempo, comecei a canalizar minha mana dentro de mim, preparando-me para um possível conflito.  

    Tak!  

    Os passos se aproximaram.  

    Agora estavam a alguns metros de mim.  

    A largura estreita da caverna deixava pouco espaço para manobras. Enquanto passavam, minhas costas pressionadas contra a parede fria e áspera, eu podia sentir o ar se mover com cada passo que davam.  

    Meus olhos se arregalaram de terror, e abafei um suspiro com a mão quando seus ombros quase roçaram no meu.  

    Tak, tak—  

    ‘Ah.’  

    Felizmente, não houve contratempos enquanto passavam por mim.  

    Continuei colado à parede mesmo depois que se afastaram, e justo quando estava prestes a suspirar de alívio, ouvi um som sutil de algo se quebrando à distância.  

    Cra… Crack!  

    Meu coração congelou com o som, e virei a cabeça roboticamente para encontrar dois olhos negros que encaravam em minha direção.  

    Com seus pescoços torcidos para trás, ambos olhavam para trás.  

    Meu estômago embrulhou com a visão, mas consegui me controlar para não fazer nenhum movimento quando percebi que seu olhar não estava focado em mim, mas em minha direção geral.  

    …..Ou pelo menos, eu esperava.  

    “….”  

    O silêncio era opressivo.  

    Talvez fosse minha imaginação, mas eu podia ouvir o som de meu próprio coração batendo alto dentro da caverna.  

    Fiquei paralisado no lugar enquanto encarava o par de olhos negros.  

    Pensei que meu coração iria colapsar de ansiedade, mas, de alguma forma, consegui persistir até que seus pescoços voltaram ao normal.  

    Cra… Crack!  

    Suor escorreu pelo lado do meu rosto enquanto suas costas recuavam para a escuridão.  

    Só depois de vários minutos eu finalmente soltei um suspiro de alívio e relaxei.  

    “Você deveria tê-los matado.”  

    Mas, é claro, Coruja-Poderosa não ia me deixar relaxar.  

    Virei a cabeça para olhar a coruja.  

    “O que você quer dizer?”  

    “…..No momento em que passaram por você. Essa foi sua chance de acabar com tudo.”  

    “Ah, mas—”  

    “Você desperdiçou um tempo valioso. Se fosse Julien, ele os teria matado no momento em que passassem por ele antes de seguir em frente.”  

    “…..”  

    Minha expressão endureceu.  

    “O que isso tem a ver comigo? Eu não sou ele.”  

    Era absurdo ser constantemente comparado a um cara sobre quem eu não sabia nada.  

    Diferente de mim, ele estava acostumado com este mundo.  

    Como esperavam que eu agisse da mesma forma que ele?  

    Eu estava aprendendo.  

    “Não importa. Você está desperdiçando tempo de novo.”  

    Apertando os punhos, segurei todas as palavras que queria dizer e me virei para seguir na direção da igreja.  

    Ao mesmo tempo, olhei o mapa mais uma vez.  

    O layout geral do sistema de cavernas não era muito complicado. Era uma série de túneis que se ramificavam como raízes até eventualmente parar nas profundezas.  

    Parecia complicado, mas assim como todas as raízes, todas se uniam para levar a um único caminho.  

    A saída.  

    ….Ou, neste caso, a igreja.  

    Localizada logo acima do sistema de cavernas, a igreja era onde eu precisava ir para sair deste lugar abandonado.  

    Tak, tak—  

    Enquanto os passos se dissipavam, olhei para a esquerda e prendi a respiração.  

    Agora estava muito perto de chegar à igreja. Com a ajuda do Véu do Engano, consegui evitar ser pego e encontrei meu caminho até o topo.  

    ‘Está estranhamente quieto.’  

    Antes, várias explosões haviam ecoado pelo local.  

    As explosões vinham dos outros tentando escapar, mas os sons não duraram muito antes de cessarem.  

    Só poderia haver duas explicações para tal situação.  

    Um, todos conseguiram escapar, e dois…  

    Lambi os lábios.  

    “Eles foram pegos.”  

    Eu esperava que fosse o primeiro, mas uma parte de mim sabia que era o segundo.  

    ‘Nesse caso, devo salvá-los?’  

    O pensamento passou por minha mente por um breve momento antes que eu balançasse a cabeça.  

    ‘Não, isso não faz sentido. Mal consigo cuidar de mim mesmo. Como posso, em sã consciência, salvá-los?’  

    Rapidamente descartei a ideia de salvá-los.  

    Todos eram estranhos para mim. Além disso, mal conseguia sobreviver sozinho. Como poderia sequer considerar salvá-los?  

    Senti um pouco de pena, mas não havia chance de eu salvá-los.  

    “Estamos perto.”  

    Coruja-Poderosa falou do meu ombro.  

    Ela aparecia e desaparecia quando queria. Eu estava começando a me acostumar com suas ações estranhas.  

    “…..”  

    Meus passos diminuíram, e uniformizei minha respiração.  

    O caminho ainda estava escuro, e mal conseguia ver o que estava à frente. No entanto, confiava que Coruja-Poderosa sabia do que estava falando.  

    Por isso, comecei a me preparar.  

    “Cuidado. Sinto várias forças à frente.”  

    “….Entendo.”  

    Acenei nervosamente.  

    Apenas uma pessoa já era difícil de lidar. Várias…? Senti um calafrio subir por minha mente. No entanto, não tinha escolha a não ser continuar.  

    Meus passos eram leves, assim como minha respiração.  

    ….Felizmente, não encontrei ninguém no caminho para cima e logo vi uma luz brilhante à frente.  

    ‘Ali.’  

    Cobrindo os olhos, diminui ainda mais meus passos e me certifiquei de me camuflar melhor com o ambiente.  

    Só quando estava confiante com minha aparência é que avancei.  

    “Começaremos o ritual em breve. Alguém está faltando?”  

    “Sim, apenas um.”  

    “Oh? Um? Façam o possível para encontrá-lo. Não queremos nenhum problema—Oh! ….Parece que alguém está acordado.”  

    Chegando mais perto, pude ouvir algumas vozes à distância.  

    Diminui ainda mais o ritmo e me dirigi para a porta que levava à igreja.  

    Lá, avistei algumas pessoas saindo.  

    Tak, Tak—  

    Seus passos ecoaram baixinho enquanto se moviam em minha direção. Segurando a respiração, fiquei colado à parede e esperei que passassem antes de avançar e espiar para ver melhor o que estava acontecendo.  

    “…..!”  

    Algo apertou minha garganta quando vi a cena à minha frente.  

    Todos estavam presentes.  

    Presos nos bancos de madeira, estavam sentados com as cabeças abaixadas enquanto o Arcebispo ficava no meio, encarando o altar.  

    ‘Isso é…!’  

    No altar, avistei um círculo familiar, e meu coração quase saltou do peito.  

    ‘Como esperado, preciso sair daqui.’  

    O ritual estava prestes a começar, e eu não tinha muito tempo.  

    Estava prestes a recuar e pensar em uma solução para escapar quando, de repente, meus olhos se encontraram com um par.  

    Meu corpo inteiro congelou naquele momento.

    1. Pé frio do caramba KKKKKKK[]

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