Índice de Capítulo

    Eu não sabia exatamente para onde precisava ir, mas tinha uma leve ideia. Além da sala de estudos, de acordo com o projeto, não havia mais nada importante.  

    Mas havia algo que me incomodava desde o início.  

    ‘A sala de estudos. Está muito desprotegida.’

    …Era como se o Arcebispo soubesse que não havia nada importante lá e tivesse deixado apenas coisas aleatórias.  

    Mas ele devia ter mais do que isso.  

    Não fazia sentido ele não ter mais nada consigo. Por exemplo, o sangue. Como ele conseguiu algo tão valioso?  

    O mesmo valia para o anel.  

    Gradualmente, meus passos pararam enquanto eu olhava ao redor para garantir que não havia ninguém por perto.  

    ‘É apenas uma hipótese, mas…’

    Baixei a cabeça e olhei para o anel em meu dedo.  

    Fechei os olhos e trouxe minha consciência para dentro.  

    Senti minha consciência se embaçar. Meus pensamentos começaram a desaparecer, como se minha mente se desprendesse do meu corpo.  

    Era uma sensação estranha.  

    Não conseguia descrever direito, mas não era muito diferente do que eu sentia quando testemunhava uma visão.  

    A sensação durou até eu sentir minha consciência retornar e, quando abri os olhos, me vi em um mundo branco familiar.  

    “Hm?”  

    Mas era diferente de antes. Bem à minha frente, vi algo que nunca havia visto antes, e minha expressão mudou levemente.  

    “O que é isso…?”  

    A estrutura era imponente, sua fachada branca adornada com pilares maciços que ficavam nas laterais, dando um ar de majestade ao lugar.  

    Olhando para ela, senti uma certa conexão.  

    …Era difícil explicar, mas parecia estar ligada a mim. Eu podia sentir que era porque o anel agora me pertencia.  

    “O que é este lugar…?”  

    O interior estava vazio. Todo o salão era branco, e meus passos ecoavam enquanto eu olhava em volta.  

    Procurei em todos os lugares, mas o lugar estava completamente vazio. Fiquei confuso no início, mas não demorou muito para que eu avistasse uma certa porta ao fundo.  

    No meio da grandiosidade do lugar, ela parecia pequena, e logo me dirigi para lá.  

    Tinha um pressentimento de que encontraria as pistas que tanto queria.  

    “Está trancada?”  

    Olhando para a porta, coloquei minha mão sobre a maçaneta e a segurei. Por algum motivo, meu coração começou a bater mais rápido enquanto eu ficava parado ali. Respirando fundo, girei a maçaneta.  

    Click!

    Um clique suave ecoou pelo ambiente quando a porta destrancou.  

    “Oh.”  

    Senti meu fôlego escapando no momento em que abri a porta. Soltei a maçaneta e olhei ao redor.  

    O quarto não era grande e estava bastante vazio.  

    Mas não era isso que chamou minha atenção. Olhando para frente, vi um pequeno pódio onde um livro repousava.  

    Um livro… ou um diário?  

    Não tinha certeza, mas me vi caminhando em sua direção.  

    “…Que estranho.”  

    Pressionei minha mão sobre a capa, sentindo o material áspero do livro. Não havia título, e, pelo estado desgastado de algumas pontas, parecia mais um diário.  

    Vira!  

    Sem hesitar, virei a primeira página.  

    Imediatamente, meu olhar caiu sobre ela.  

    Estava completamente vazia.  

    …Vazia, exceto por algumas palavras.  

    ‘Para aqueles que ingerem o sangue de Mortum. Ele logo te encontrará.’

    ***  

    De volta ao que restava da Igreja.  

    “Todos estão bem?”  

    “…Há alguns casos graves aqui, mas parece que todo mundo está vivo.”  

    “Isso é bom.”  

    Aoife suspirou aliviada enquanto olhava ao redor. Sua mana estava lentamente retornando, e sua cabeça estava se sentindo muito melhor.  

    Dito isso, seu corpo ainda estava em frangalhos, e ela estava funcionando apenas por adrenalina.  

    …Aoife forçou um sorriso, tentando parecer o mais calma possível, mas ela estava longe disso. Tinha que se admitir que ela havia morrido várias vezes nos últimos dias.  

    Ela estava segurando sua sanidade por um fio.  

    Olhando em volta, podia ver alguns cadetes com olhares vazios.  

    Eles não tiveram a mesma sorte que ela.  

    Havia uma chance de que todos tivessem desenvolvido algum tipo de TEPT1 depois de tudo isso. A forma como olhavam e como seus corpos tremiam ao menor estímulo dizia tudo o que Aoife precisava saber.  

    “Haa.”  

    Ela suspirou e se recostou em um dos bancos.  

    “Ei.”  

    Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz áspera e familiar. Aoife sentiu sua cabeça latejar.  

    “Não estou com paciência para isso.”  

    “Não ligo. Sai daí.”  

    “Uh…!”  

    Aoife não teve tempo de reagir antes de ser empurrada para o lado.  

    “Droga!”  

    Ela lançou um olhar furioso para Kiera, que limpava o ouvido com o dedo mindinho.  

    “…Se ao menos eu tivesse um palito de alcaçuz…”  

    “Haa.”  

    Aoife acabou suspirando novamente enquanto olhava para Kiera. Não tinha energia para discutir com ela.  

    Estava simplesmente cansada demais.  

    “Então…”  

    Kiera falou enquanto chacoalhava o dedo.  

    “…O que você achou?”  

    “Achei do quê?”  

    “Você sabe, da reviravolta.”  

    “Uh?”  

    Aoife ergueu a cabeça e olhou para Kiera.  

    “Qual delas?”  

    “Hmm, verdade, teve mais de uma.”  

    Kiera coçou a lateral do rosto.  

    “Bem, você sabe… Sobre ele estar aqui o tempo todo. Você tem alguma ideia do por quê?”  

    “Isso…”  

    Aoife balançou a cabeça.  

    Ela não fazia ideia. Estava tão surpresa quanto todo mundo com aquele repentino desenrolar.  

    “Eu não sabia.”  

    “Hmm.”  

    Kiera assentiu pensativamente.  

    “Imaginei. Se você soubesse, teria provavelmente agido de forma estranha. Provavelmente teria perseguido ele.”  

    “……”  

    Aoife ficou sem palavras.  

    De novo, haviam chamado ela disso.  

    “…Eu não sou uma stalker.”  

    Mas ela não era. Nunca perseguiu ninguém na vida… bem, ela coletava informações e tal, mas isso não era stalking.  

    De jeito nenhum.  

    “Eu não sou uma stalker.”  

    Aoife repetiu, desta vez com um tom muito mais confiante.  

    “…O fato de você não perceber é loucura.”  

    Kiera resmungou ao lado. O jeito que Kiera olhava para ela a deixou desconfortável. Era como se dissesse: ‘É, porra. Essa maluca já perdeu totalmente a cabeça.’

    Não, ela provavelmente estava pensando exatamente isso.  

    Aoife cerrou os dentes.  

    “E você? Não está melhor?”  

    “Uh? Do que você está falando? Onde você me vê perseguindo pessoas?”  

    “Você é uma viciada.”  

    “Bem, estou tentando parar.”  

    Kiera riu.  

    “O quê? Esse é o seu melhor insulto? Pfft, isso é hilár—”  

    “Vadia.”  

    “……”  

    Kiera parou de repente, seus olhos arregalados. Olhando para Aoife, que também estava com os olhos arregalados, Kiera abriu a boca em choque.  

    “Você acabou de…”  

    “Não.”  

    Aoife desviou o olhar, mas Kiera não deixou passar e inclinou a cabeça para ver melhor o rosto dela.  

    “…Você acabou de xingar. A princesa acabou de xingar.”  

    Kiera segurou a própria cabeça, encarando Aoife em total choque. Pela expressão dela, parecia que tinha descoberto a coisa mais inacreditável da vida.  

    “Não, não xinguei. Você não é só uma viciada, mas também delirante.”  

    “Bah…! Quem se importa? Eu te fiz xingar! Kakaka.”  

    Kiera bateu na coxa enquanto ria.  

    Sua voz era tão alta que chamou a atenção de todos ao redor.  

    “Pare!”  

    Aoife sentiu o rosto esquentar ainda mais enquanto se levantava e cobria a boca de Kiera às pressas.  

    “Hmmm! Hmm!”  

    Seu objetivo era impedir Kiera de falar, mas não demorou para que ela se arrependesse.  

    “Ah…! Você acabou de me lamber!”  

    “Kakaka…!”  

    Kiera continuou rindo, sua risada ficando mais alta enquanto o rosto de Aoife ficava completamente vermelho. Agora, quase todo mundo estava olhando, e Aoife sentiu a vergonha queimar dentro dela.  

    Olhando furiosa para Kiera, ela viu sua própria mão coberta de saliva e a esfregou no rosto de Kiera.  

    “Uakh…!”  

    Kiera soltou um som estranho, seus olhos se arregalando em choque.  

    “Isso é nojento!”  

    “É sua própria saliva.”  

    “Ah, eu não gosto disso!”  

    Kiera esfregou o rosto rapidamente enquanto Aoife assistia, divertida. Em seguida, Aoife usou a camisa de Kiera para limpar a própria mão.  

    “Ei!”  

    As duas ficaram brigando assim pelos próximos minutos.  

    Leon encarou a cena sem expressão, lutando para processar o que estava vendo.  

    Uma voz ecoou atrás dele.  

    “Elas não se odiavam? Por que parece que são melhores amigas do nada?”  

    Virando a cabeça, Leon olhou para Evelyn, que também encarava a cena com uma expressão confusa.  

    Era de conhecimento geral que as duas se odiavam, mas a realidade parecia diferente.  

    …O que elas faziam uma com a outra definitivamente não parecia amigável, mas parecia que ambas se divertiam com isso.  

    “Não entendo.”  

    “Vão.”  

    Leon respondeu com um aceno enquanto continuava observando a cena. Ele estava ajudando os outros cadetes a se recuperarem desde que Julien saiu, e tentou encontrar uma saída, mas não conseguiu.  

    ‘Só posso esperar o Julien voltar.’

    Ele parecia ser a única pessoa que sabia o caminho.  

    “Você sabia?”  

    Saindo de seus pensamentos, Leon olhou para Evelyn, que o encarava.  

    “Sabia o quê?”  

    “Que o Julien estava aqui o tempo todo.”  

    “Ah.”  

    Leon inclinou a cabeça.  

    “…O que te faz pensar que eu sabia?”  

    “Bem, daquela vez que você o expôs na frente de todo mundo para ganharmos tempo para fugir. Pensando bem, vocês dois provavelmente planejaram aquilo.”  

    “……”  

    Leon sentiu o rosto inteiro congelar.  

    Seu coração acelerou, e seu pescoço virou inconscientemente para longe dela. Com uma expressão séria, ele acabou assentindo.  

    “Sim, claro.”  

    “Ah, eu sabia.”  

    Evelyn concordou.  

    “Faz sentido. Por que você iria traí-lo daquele jeito, né? Você não é esse tipo de pessoa, certo?”  

    Senti seu olhar, Leon sentiu o coração afundar, mas não deixou transparecer enquanto abria a boca para responder.  

    “Ele não sabia, e sim, ele me traiu.”  

    “…!”  

    Infelizmente, Leon nunca conseguiu falar essas palavras, pois uma certa voz ecoou de trás, fazendo-o pular de susto.  

    “Uh?”  

    Evelyn se virou para olhar.  

    Sua expressão mudou levemente quando Julien emergiu da escuridão, seu rosto sério enquanto fixava o olhar em Leon.  

    “Cobra.”  

    Ele disse,  

    “…Ele é uma cobra.”

    1. Transtorno de Estresse Pós Traumático[]

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