Capítulo 250: Passeio pela Cidade [3]
“….Vou matá-lo se for a última coisa que fizer.”
Aoife saiu furiosa da propriedade, indo em direção ao centro de Bremmer. Seu rosto ficava vermelho de raiva sempre que lembrava das palavras que seu irmão lhe dissera.
“Faz tanto tempo que não te vejo e essa é a primeira coisa que pergunta?”
Por razões óbvias, ela saiu disfarçada. Desde a cor do cabelo até as pupilas.
Ela ainda parecia a mesma, mas mudou as partes mais distintivas de sua aparência.
“Compre um e leve outro grátis!”
“….Oferta por tempo limitado! Venha conferir!”
“Compre comigo! Garanto os melhores preços de Bremmer!”
“Desconto especial!”
As ruas da cidade fervilhavam de vida, vendedores ambulantes gritando pelas calçadas.
As estruturas refinadas dos edifícios, com paredes grossas, janelas e padrões esculpidos, eram um espetáculo à parte. Enquanto caminhava, Aoife absorvia a cena diante de seus olhos.
Fazia bastante tempo desde sua última visita ao centro da cidade, e ela sentiu uma onda de nostalgia.
Especialmente ao lembrar dos tempos em que vinha com seu irmão quando era pequena.
Mas é claro, os bons tempos só duraram até não poderem mais.
Sua realidade era muito diferente agora. Com muitas responsabilidades sobre seus ombros, ela não tinha tempo para lazer como antes.
Era uma pausa muito necessária.
Especialmente depois de tudo que acontecera nos últimos dias.
“Haa…”
Pensando em todo o trabalho que tinha, Aoife suspirou enquanto seguia pelas ruas.
Estava prestes a virar uma esquina quando notou um alvoroço à distância.
“O que está acontecendo?”
Aoife olhou na direção do barulho e uma expressão de descontentamento logo surgiu em seu rosto.
Vendo que não havia guardas por perto, não parecia nada sério, mas para haver tanta gente…
‘Devo dar uma olhada.’
Aoife não hesitou quando a curiosidade falou mais alto.
Nada fora do comum para ela.
“Com licença.”
“Espere um momento.”
“Obrigada.”
Abrindo caminho, Aoife finalmente conseguiu ver a fonte do alvoroço e todo o seu corpo congelou ao avistar a enorme projeção à sua frente.
—Uau! Já é a terceira sala e ela ainda não demonstrou nenhuma expressão! Que impressionante…! O recorde será quebrado!? Alguém finalmente sairá da casa mal-assombrada sem reagir?
No centro da praça estava um homem vestido com roupas finas e um chapéu-coco. Ele narrava tudo o que acontecia na projeção ao seu lado.
—Ela está indo para a quarta câmara…! Quase ninguém passou por aqui. Ela conseguirá…? Ela…! Ah! Nem pestanejou quando ele apareceu do nada! Que força mental incrível.
“…..”
Aoife encarou a cena, completamente sem palavras. Ela abriu a boca, depois fechou, olhando para a figura na projeção.
“….Claro que tinha que ser ela.”
Seja por sua beleza ou pelo fato de estar completando o desafio da casa mal-assombrada em velocidades impressionantes, uma grande multidão se aglomerava ao redor.
Todos conversavam entre si enquanto apontavam para a projeção onde Kiera estava.
“Bem…”
Aoife pensou em ir embora, mas então percebeu algo e estreitou os olhos.
“….Não custa ficar.”
Seus lábios se curvaram lentamente enquanto olhava ao redor e imaginava Kiera gritando na frente de todos.
“Hehe.”
Aoife de repente se pegou rindo sozinha.
Isso… seria hilário.
***
“Uooo!!!”
“Uwa…!”
“Ahh!”
Pessoas vestidas com roupas ridículas surgiam de todos os lados.
Estava escuro, mas não o suficiente para incomodar Kiera, que odiava o escuro.
O leve tremular das velas ao redor facilitava as coisas enquanto ela seguia em frente sem expressão.
‘Isso é moleza.’
Depois de tudo que vivera ultimamente…? Isso era brincadeira.
Seja na Dimensão Espelhada ou com aquele culto estranho, comparado àquilo, isso era coisa de criança para ela.
“Uooo!!”
Outra figura apareceu. Veio de cima e assustaria qualquer um, menos ela.
Bem, e seus colegas também.
Eles já tinham visto coisas demais.
“Essa deve ser a quinta sala.”
Pelo que disseram, eram sete salas. Se passasse por todas, ganharia um prêmio.
‘Espero que valha a pena.’
Pensando no prêmio, Kiera acelerou o passo.
“Uooo—!”
….Ficava cada vez mais óbvio que isso era fácil para ela.
Quanto mais andava, mais desesperados pareciam ficar os atores da casa mal-assombrada, mas era inútil. Ela simplesmente não se assustava.
“Uoooah!”
“Bah.”
Quanto mais caminhava, mais entediada ficava. Por isso, apressou-se em direção à saída.
Não demorou para avistar a placa no final. Apesar dos inúmeros sustos, nenhum teve efeito.
‘Dinheiro fácil.’
Logo, alcançou a saída.
“Uooo!”
“Sim, sim.”
Kiera balançou a cabeça e abriu a porta, revelando uma multidão.
Todos a olhavam com surpresa e admiração.
—Uau! Olhem só! Não só quebrou o recorde como passou sem piscar! Que perseverança incrível!
O locutor a elogiava. Falava sobre sua grande conquista e o quão difícil era.
Ele continuou assim por alguns minutos antes de entregar-lhe um cartão.
—E agora, o prêmio! Coma à vontade no Berlimo’s Kitchen1! Um dos melhores restaurantes de Bremmer. Pode levar até dez pessoas e tudo por nossa conta!
“Uau! Incrível!”
“Eu também quero!”
“Deixe-me!”
A multidão ficou animada com o prêmio. Kiera também ficou empolgada. Ela pode não ser de Bremmer, mas conhecia o Berlimo.
Era um restaurante incrivelmente popular e imperdível.
Dito isso, era absurdamente caro.
“Aqui está, espero que aproveite. Obrigado por participar.”
Recebendo o ticket, Kiera olhou para ele por um momento. Levar dez pessoas, hein… Ela olhou para o ticket e sentiu uma pontada no peito.
‘Porra, me sinto insultada por algum motivo.’
Ela começou a mexer no cabelo.
Olhando ao redor, seu olhar pousou em Evelyn, que observava de longe.
“Ah!”
Certo, ela pode vir.
Seria estranho ir sozinha. Como o ticket era para dez, planejava levar pelo menos algumas pessoas.
Não poderia aparecer sozinha.
Seria vergonhoso demais.
“Quer que eu vá?”
Evelyn olhou para o ticket surpresa antes de olhar para Kiera.
“Tem certeza?”
“Sim, claro.”
Kiera respondeu com um aceno sério.
“Bem, ok.”
Evelyn acabou aceitando. Então, como se lembrasse de algo, virou-se para olhar a projeção onde um novo grupo entrava.
“Realmente não era tão assustador?”
“Uh? Ah, sim… Não é.”
O rosto de Kiera se contorceu. Se não fosse pelo prêmio, reclamaria do quão sem graça foi.
“Bem, pensando bem, provavelmente não é culpa deles. No geral, sou boa com coisas assustadoras.”
Kiera inflou o peito com orgulho.
“Na verdade, depois de tudo que aconteceu, duvido que algo me assuste. Eu—”
“Você ganhou?”
“….?”
Sentindo um toque no ombro, Kiera se virou. Com cabelos castanhos e olhos azuis, a pessoa não lhe parecia familiar, mas ao olhar melhor, Kiera a reconheceu e seus olhos se arregalaram enquanto ela pulava no lugar.
“Ahhh! Porra—! Mãe de todas as mães, me salve desse horror do caralho!”2
***
“….”
“….”
Eu caminhava por Bremmer com Leon ao meu lado. Sua expressão era a mesma de antes, e ele ainda segurava o cone sem sorvete.
Abrindo a boca, ele se preparou para lamber, mas eu o parei.
“…..Quer um novo?”
“Está tudo bem. Este está particularmente gostoso.”
“É mesmo?”
“E é baixo em calorias também.”
“….”
Apertei os lábios.
‘Preciso descobrir como perdi minhas memórias. Se jogar minhas cartas direito, posso fazer o mesmo com ele, e…’
“Ah.”
Meus olhos pausaram no anel em minha mão.
‘Certo, tem esse método.’
Franzindo os olhos, me virei para Leon, que caminhava com uma cara de pedra enquanto lambia o cone vazio.
“Leon.”
“….Sim?”
“Só estou fazendo isso porque quero testar algo. Entende, certo?”
“Hm?”
Leon virou a cabeça para me encarar. Foi então que levantei minha mão e me preparei para usar o anel quando alguém nos chamou.
“Leon? Julien…?”
“Tsk.”
Estalei a língua e me virei. Lá, avistei três figuras vindo do fim da rua. Olhando melhor, o rosto de Aoife parecia particularmente pálido enquanto murmurava algo para si mesma, ‘Não pode ter sido meu rosto… Não pode…’
Era um monte de bobagem.
“O que estão fazendo?”
Evelyn perguntou olhando para nós.
“Acabei de encontrá-lo.”
Respondi, abaixando minha mão.
“Ah, entendo. Então…”
Evelyn olhou para Kiera, que me encarou por um momento antes de dar de ombros.
“Preciso de dez pessoas, então tudo bem.”
Tudo bem para o quê?
“Vamos ao Berlimo. Temos um ticket para dez pessoas, então se quiserem vir…”
“Oh.”
Esfreguei a barriga. Estava com um pouco de fome. Virando-me para Leon, que ainda parecia distraído, acenei com a cabeça.
“….Ok.”
“Ótimo.”
Evelyn bateu as mãos.
“Vamos.”
***
Ao mesmo tempo, em outro lugar de Bremmer—
“Onde você foi?”
Uma voz rouca falou. Era Joseph, o capitão da Guarda Real. Seu alvo era a mulher sentada à sua frente com as pernas cruzadas.
“…..”
Ela não respondeu e apenas olhou para a janela.
“Onde você foi.”
Joseph perguntou novamente, sua voz mais grave.
“Temos um acordo. Você não sai sem acompanhante. Isso foi acordado com o Imperador, já que não podemos confiar em você andando sozinha.”
“….”
Delilah continuou em silêncio.
Vendo sua indiferença, Joseph sentiu uma veia saltar enquanto se levantava.
“Monarca Respeitada! Por favor, entenda que estou apenas fazendo meu trabalho! Suas ações me causaram grande estresse, e estou perto de ser rebaixado por sua causa!”
Sua voz ecoou pela sala, fazendo algumas janelas tremerem.
Foi só então que Delilah finalmente olhou para ele.
Seus olhos negros profundos fixaram-se nele por um momento, mas foram suficientes para sugar toda sua raiva.
Ainda assim, Delilah acabou respondendo.
“Fui a uma cafeteria.”
“Uma cafeteria…?”
Joseph piscou, incapaz de processar a informação.
Uma Monarca em uma cafeteria?
Isso… fazia sentido, mas ele tinha dificuldade em imaginar.
“Aqui.”
Delilah tirou um recibo do nada, entregando-o a ele.
Pegando o recibo, o rosto de Joseph ficou flácido. Ela realmente foi…
“Ok, então.”
Se era verdade, ele podia aceitar. Suspirou e guardou o ticket.
“Você pode sair, mas gostaria que me avisasse antes. Estou apenas fazendo meu trabalho.”
“Mhm.”
Delilah acenou com a cabeça, virando-se para a janela novamente.
Joseph recostou-se na cadeira. Seu olhar vagueou pela sala até pousar na mão de Delilah, onde viu algo.
“Hm?”
Como se sentisse seu olhar, Delilah virou a cabeça.
“O quê?”
“Não, é só…”
Ele coçou a bochecha.
“Quando você conseguiu isso?”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.