Capítulo 260: Venda [4]  

“Você quer ver o que tem dentro?”  

George já estava eufórico. Não havia passado nem uma hora desde que o vendedor saíra, e ele já encontrara alguém interessado na espada.  

‘Parece que hoje é meu dia de sorte..!’  

“O senhor tem um bom olho para coisas valiosas.”  

George continuou enquanto se movia para trás do balcão para pegar a caixa de madeira. Esfregando as mãos, ele estava prestes a abrir a caixa quando foi interrompido pelo homem, que pressionou a mão contra a tampa.  

“Sim?”  

Confuso com a ação, George ergueu a cabeça para olhar para ele.  

‘O que ele está fazendo…?’  

“…”  

Apesar da pergunta, George permaneceu em silêncio e esperou que o cliente terminasse o que quer que estivesse fazendo. Talvez ele quisesse sentir a caixa. George já tinha visto sua parcela de clientes excêntricos, então não se abalou.  

O cliente era rei em seu livro.  

George não precisou esperar muito. Logo, o homem de cinza tirou a mão da caixa e começou a murmurar.  

“O cheiro, é o mesmo.”  

Sua voz era baixa, mas chegou aos ouvidos de George, que sentiu sua mente ficar em branco.  

Havia algo naquela voz que era difícil de explicar. Parecia sugar a energia de sua alma, e George percebeu que estava piscando lentamente.  

“Pode abrir a caixa?”  

A voz perguntou devagar, quase como um sussurro.  

George ficou imóvel antes de concordar.  

“…Sim, claro.”  

Ele parecia estar se movendo por conta própria. Como se não pudesse recusar as palavras de forma alguma.  

George avançou e pressionou as mãos na fechadura, destrancando-a.  

Click—  

Um clique suave ecoou pela área enquanto o formato da espada era revelado.  

Um cheiro mofado se espalhou imediatamente, e o ambiente ficou em silêncio.  

Era estranho.  

Havia tanto barulho antes. Para onde foi o barulho?  

“…..”  

George piscou lentamente, olhando ao redor. Ele ficou surpreso ao ver que todos, exceto ele, haviam parado de se mover.  

‘O que—’  

“Você.”  

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz calma de antes. Era diferente agora.  

Estava muito mais fria, como se estivesse tentando engoli-lo por completo.  

Não…  

Já o havia engolido, pois George se viu incapaz de se mover.  

Ba… Baque!  

Ele sentiu a batida de seu coração ecoar alto em sua mente, forçando-o a olhar para a figura à sua frente.  

Foi então que ele encontrou seus olhos.  

Eles eram azuis, pretos, verdes, laranja, vermelhos… de que cor eram?  

George não conseguia dizer. Ele simplesmente se perdeu naquele olhar estranho.  

“O que é isso?”  

Ele só voltou a si quando uma pequena pérola foi trazida perto de seu rosto.  

“Isso…”  

Os olhos de George ficaram claros por um breve momento quando ele reconheceu a pérola. Era a pérola que o estudante havia pedido que ele guardasse dentro em troca de uma comissão maior…  

Ele sabia o que era.  

Era apenas um dispositivo de gravação. Embora fosse um pouco estranho ter algo assim, pela comissão, ele não se importou.  

Mas…?  

“….O vendedor da espada a colocou como um requisito para a venda.”  

George se viu falando por conta própria. Era uma sensação arrepiante, difícil de descrever.  

Mas, no momento, tudo o que ele podia fazer era olhar para o homem à sua frente, que encarava o dispositivo de gravação com um pequeno sorriso nos lábios.  

“….Que esperto.”  

Ele murmurou devagar, espremendo o dispositivo com os dedos.  

Crack—  

Um pequeno estalo ecoou, e pouco depois, sua figura desapareceu.  

O barulho voltou, e George finalmente pôde respirar novamente.  

“Haaa… Haaa..”  

Tudo parecia ter voltado ao normal, com exceção de…  

“Uh? Ah…?”  

George esticou as mãos, tentando agarrar algo no mundo negro à sua frente.  

“Por que está escuro…? O que…!”  

Sua visão.  

Tinha sumido.  

***  

Crack—  

A pérola em minha mão se esfacelou. A última coisa que vi foram dois olhos obscuros, cujas profundezas não consegui distinguir. O mesmo valia para o rosto.  

Não consegui ver nada.  

Mas tudo bem.  

“Então ele mordeu a isca.”  

Não me senti feliz com o desenvolvimento. Em vez disso, senti meu coração pular uma batida enquanto minha mente começava a processar a situação.  

A espada… eu não a havia vendido de verdade.  

Era apenas uma réplica que encomendei de um ferreiro famoso aqui. Usei todo o dinheiro que consegui juntar para fazê-la.  

Não era nada impressionante, mas a espada original também não parecia ser à primeira vista.  

A réplica era perfeita, mas não era esse o objetivo.  

“Isso confirma. Ele não sabe quem eu sou. Está me rastreando pelo cheiro da espada.”  

Tudo isso foi um teste para confirmar isso.  

…Sempre me incomodou o fato de não ter sido confrontado diretamente durante a cerimônia de premiação.  

Os aplausos foram vívidos, assim como os assobios. Eu podia dizer de relance que a pessoa me rastreando era mais forte que eu, e mesmo assim, me deixou ir?  

Não fazia sentido.  

Por isso, acreditei que era apenas uma jogada para implantar “medo” em mim.  

Quem quer que eu estivesse lidando era um Mago Emotivo.  

Uma vez que a semente é plantada em alguém, despertar medo se torna muito mais fácil.  

Eu entendia esse conceito muito bem, sendo um mago emotivo também.  

O que aconteceu na cerimônia foi tudo uma farsa para plantar uma semente de medo em mim.  

“Foi arriscado, mas valeu a pena.”  

Não tinha certeza do porquê de eu ser o alvo, considerando que a espada estava em Haven.  

‘Será que quem está me caçando não é o homem sem rosto, mas outra pessoa, e eles têm medo de Delilah?’  

Faria sentido, já que ela era o pesadelo de um Mago Emotivo.  

De qualquer forma, a espada real estava no meu anel. Meu plano era usar a caixa em que a espada estava guardada desde o início para atraí-lo e obter o máximo de informação possível.  

Era justo dizer que consegui informações suficientes.  

“…Ainda estou seguro, mas não por muito.”  

O cheiro da espada ainda estava comigo.  

A única razão pela qual ele foi primeiro para a caixa foi porque o cheiro era mais forte, mas não havia como negar que eu seria o próximo.  

Precisava encontrar uma maneira de escapar.  

…Se havia uma coisa da qual eu tinha certeza, era que não me deixaria ser caçado assim.  

“Hoo.”  

Respirando fundo, joguei o que restava do dispositivo de monitoramento e me dirigi para a enorme porta de madeira à minha frente.  

Clank—  

Ar frio entrou no momento em que abri a porta, e me deparei com várias dezenas de indivíduos.  

Clank, clank—!  

O som de metal batendo contra metal ecoou enquanto o cheiro forte de suor atingia minhas narinas.  

“Você chegou.”  

Me recebendo estava um rosto familiar. Um que eu não via há vários meses, e quando nossos olhares se encontraram, inclinei a cabeça.  

“Faz tempo, Professor Hollowe.”  

***  

Todos os representantes do Império Nurs Ancifa estavam presentes. Uma sala de treinamento foi disponibilizada para todos se familiarizarem com os membros dos outros impérios.  

Havia rostos conhecidos e novos.  

Clank—  

Leon, junto com Kiera, Aoife, Evelyn, Josephine e Luxon, estavam lutando contra um time formado por outras academias.  

Os números eram iguais, e os dois lados estavam equilibrados. Principalmente porque era apenas um treino amistoso, e ambos os lados estavam segurando, mas alguns estavam se esforçando mais que outros.  

“Morra….!”  

Uma chama irrompeu, avançando diretamente para o grupo oposto com uma explosão poderosa.  

Foi abrupto e rápido.  

…Tão rápido que quase ninguém teve tempo de processar o que aconteceu antes que já estivesse sobre o outro grupo.  

Estrondo!  

Felizmente, um dos membros mais reativos do time adversário avançou e absorveu o impacto, mas não sem ferimentos, escorregando para trás antes de colidir contra a parede.  

Estrondo—  

“Ryan!”  

Os membros do time gritaram preocupados, virando-se para ver como ele estava.  

Seu corpo estava cheio de queimaduras leves, e sangue escorria pelo canto de sua boca.  

Sua condição não era boa.  

“Qual é o seu problema?!”  

Uma garota de cabelos longos e verdes perguntou, virando-se para encarar Kiera, que estava cutucando a orelha.  

Vendo a garota encará-la, ela revidou.  

“O que você está encarando?”  

“…Você está brincando?”  

A garota, uma cadete de elite da Academia Central de Bremmer, encarou Kiera ainda mais forte, enquanto várias pessoas apareciam atrás dela.  

“Isso era para ser um treino amistoso. O que você está fazendo, indo tão pesada?!”  

“Uh…”  

Kiera olhou ao redor com uma carranca.  

“Isso foi pesado?”  

“Foi.”  

Aoife respondeu por ela, encarando-a assim como o outro grupo. Ela estava um pouco envergonhada, mas não havia como evitar. Devia ter previsto isso, considerando a personalidade de Kiera.  

De qualquer forma, Aoife tentou se desculpar.  

“Desculpe, ela é um pouco lo—”  

“Isso não basta. Isso foi imprudente dela. Suspenda-a, e vamos considerar isso resolvido.”  

“Uh?”  

A boca de Aoife ficou aberta enquanto ela olhava para quem falava com olhos arregalados.  

Ela ouviu direito?  

“Não sei vocês, mas não quero formar equipe com alguém tão imprudente.”  

Era um cadete alto e robusto que Aoife conhecia. Ele era bastante forte, com cabelos castanhos longos e olhos azuis, e até bonito.  

Mas essa não era sua preocupação.  

Foi no momento em que ele revelou sua intenção que ela percebeu o que estava acontecendo.  

‘Isso provavelmente é uma encenação.’  

Ela olhou ao redor, percebendo que os professores estavam parados sem fazer nada.  

Aoife entendeu então que isso provavelmente era algo que acontecia em todo encontro.  

‘Eles provavelmente estão com medo de não conseguir vagas para se apresentar durante o encontro.’  

Aoife suspirou, isso fazia sentido. Se estivesse no lugar deles, teria agido da mesma forma.  

Isso não era uma situação séria.  

Desde que ela desse um pouco de margem, tudo se resolveria.  

Pensando assim, Aoife abriu a boca para falar, quando foi interrompida.  

“Ei.”  

Aoife sentiu todo o seu rosto congelar ao ouvir sua voz, e virou a cabeça rapidamente, parando diretamente em Kiera, que os encarava com uma carranca.  

‘Oh, não.’  

Aoife sentiu seu estômago embrulhar enquanto estendia a mão para impedir Kiera de falar, mas já era tarde.  

“Não—”  

“Lambe minhas bolas.”