Capítulo 275: Nunca parou de sorrir [5]
Atuar…
Era difícil.
Eu nunca pensei que fosse fácil. Mas ao mesmo tempo, minha vida era uma atuação. Eu tinha me acostumado com essa vida. Tanto que comecei a me sentir desconfortável, mostrando uma expressão feliz e alegre.
Cada sorriso meu parecia forçado, e eu sentia um estranho desconforto.
No entanto, eu precisava fazer isso.
Pela atuação…
Eu precisava sorrir.
‘Preciso esquecer. Imergir mais.’
Por um breve momento, deixar-me tornar o personagem da peça.
Mas isso era mais fácil falar do que fazer.
Eu não estava familiarizado com o personagem, e o único recurso que tinha para replicá-lo era uma simples descrição.
Por isso eu nunca aspirei ser ator. A única razão pela qual eu concordei em fazer isso em primeiro lugar foi porque eu queria o dinheiro.
Mas as coisas eram diferentes agora.
….Eu precisava da atuação.
Eu precisava entender a última emoção.
‘Amor.’
Eu sentia que estava perto de alcançar algo. Não tinha certeza do que era, mas sabia que seria algo importante.
Por isso eu precisava atuar.
Para entender minha última emoção restante.
[Não ria de mim, ok?]
Aoife estava na minha frente. Estávamos no meio de um palco vazio e ela mexeu nos dedos enquanto me olhava.
Sua voz era suave e seus olhos se moviam por todo lugar.
Ela parecia tímida.
‘Ela melhorou muito.’
Havia uma grande diferença comparado ao seu eu do passado. Sua atuação antes era bem realista, mas havia momentos em que ela cometia alguns erros, quebrando um pouco minha imersão.
Nesse caso, não havia falhas.
Ela claramente não poupou esforços para esse momento.
Por isso eu não podia decepcioná-la. Custe o que custasse… Eu precisava encontrar uma maneira de me imergir no personagem conhecido como David.
Ele, que até o fim foi um…
….Tolo patético.
***
O tempo todo, a plateia estava prestando muita atenção na peça. Quase não havia som na sala do teatro, com todos os olhos focados nas duas figuras à frente.
Não, na verdade…
Aoife.
[Keum… Keum…]
Com um olhar tímido, ela encarou toda a plateia e tossiu. Ela olhou para cada membro da plateia.
Desde o momento em que a peça começou, ela era o centro das atenções.
A atuação de Julien era ótima, mas ele era apenas um pensamento secundário. A atuação de Aoife estava engolindo ele, roubando todo o holofote.
Não era que sua atuação fosse ruim, mas não era nada impressionante.
….Pelo menos, até agora.
[Eu só vou fazer isso uma vez, então preste atenção. Seja honesto comigo.]
[Ok.]
David acenou repetidamente enquanto ficava atrás dela para observar.
Amélia estava prestes a começar quando parou. Franziu os lábios e virou a cabeça.
[Eu nunca pratiquei muito. Só um pouco. Não seja muito duro.]
[….Ok.]
[….]
Amélia mordeu os lábios.
[Seja gentil, certo?]
[Ok.]
[….Você vai mesmo?]
[Você não acabou de me dizer para ser honesto?]
[Esqueça o que eu disse.]
[Ok. Ok.]
Apesar dos pedidos irracionais de Amélia, David manteve um sorriso bobo no rosto. Era óbvio para todos assistindo que ele estava feliz só de estar ali.
Amélia desviou o olhar dele e respirou fundo.
[Atuar… Atuar…]
Resmungando baixinho para si mesma, ela levantou a cabeça. Dessa vez, olhou para a plateia. Enquanto fazia isso, sua boca se abriu lentamente e seu tom mudou.
[O mundo é um lugar cruel.]
A atmosfera ao seu redor mudou completamente.
De repente, parecia que ela era outra pessoa. Uma imagem surgiu em suas mentes. Com roupas esfarrapadas e uma expressão seca, ela continuou:
[Por décadas, eu lutei… Matei pessoas que conheci por muito tempo, mas para quê…?]
O olhar de Amélia baixou enquanto seus olhos tremiam.
Apertando sua camisa, sua expressão se distorceu enquanto olhava para o céu. Seu rosto estava cheio de indignação enquanto xingava o céu.
Cada palavra dela parecia perfurar o silêncio que tomou o lugar, e a dor apertou o peito de alguns membros da plateia.
Havia algo na figura solitária e desesperada que evocava algo nas mentes de alguns.
Pinga…!
Aquela dor foi quebrada por uma única lágrima que escorreu pelo rosto de Amélia. Um profundo sentimento de tristeza cobriu seu olhar enquanto ela encarava a plateia.
Naquele momento, era como se fosse apenas ela e eles. Ninguém mais estava presente, e todos prenderam a respiração.
‘Isso é loucura…’
‘…Estou arrepiado.’
Toda a atenção estava em Aoife.
Se antes sua atuação era boa, agora… Era avassaladora. Apesar das luzes brilhantes acima, Aoife conseguia ver a expressão de todos presentes.
Seu coração batia forte enquanto via suas reações.
‘….Valeu a pena.’
Sua falta de sono e os dias intermináveis de prática que se submeteu.
Suas expressões… Era tudo que ela queria ver.
Mas isso não era o suficiente.
Ela queria mais, e logo, Aoife voltou ao personagem, e sua expressão rapidamente se transformou na da personagem tímida e introvertida que estava interpretando.
[Então…?]
Amélia baixou a cabeça e ficou mexendo os dedos timidamente novamente.
[O que você achou?]
Ela manteve a cabeça baixa enquanto perguntava. Estava nervosa, e com o passar dos segundos, ficava mais e mais inquieta.
[….]
Mas não obteve resposta.
Gradualmente, ela levantou a cabeça. Foi então que viu. A expressão chocada de Julien. Sua expressão espelhava a da plateia.
Ele parecia completamente chocado com o que tinha visto.
…E não apenas como personagem.
Demorou um momento para ele voltar a si, e quando voltou, seus olhos pareciam saltar das órbitas.
[Ei, Amélia!]
Ele correu até ela, segurando suas mãos com força e fazendo-a gritar.
[Hiiip!]
Ele manteve as mãos firmes.
[Atuar…]
Enquanto fazia isso, aproximou a cabeça, com animação visivelmente gravada no rosto.
[….Você tem que fazer isso.]
Cli Clank!
As luzes se apagaram e o cenário mudou.
Dessa vez, Amélia e David apareceram no que parecia ser um escritório. Sentada atrás de uma mesa estava uma senhora idosa com óculos de armação grossa.
Ela parecia ocupada com algo.
[Ei, vamos lá.]
Enquanto os dois ficavam de frente para ela, David cutucou Amélia com o cotovelo, fazendo-a olhar para ele com raiva.
[O quê?]
[O quê? O quê…!? Essa é sua chance. Não desperdice.]
[Pare. Eu disse para não exagerar. Minha atuação não é tão boa…]
[Não, você deve!]
Independente do que Amélia dissesse, David não queria ouvir nada enquanto a empurrava para frente. Isso foi o suficiente para chamar a atenção da senhora idosa, que levantou a cabeça.
[Como posso ajudá-los?]
[Ah…]
O rosto de Amélia empalideceu no momento em que foi notada e ela começou a gaguejar.
[I-isso… Eu só estava passando. Sou uma grande fã, e—]
[Ela quer participar da sua peça.]
Suas palavras foram abruptamente cortadas por David, que se adiantou.
[Ouvimos que você estava aceitando candidatos.]
Ele empurrou Amélia para frente com empolgação.
[Deixe-a entrar. Eu garanto o talento dela.]
Enquanto David falava, Amélia olhou para a mulher. Um olhar de expectativa apareceu em seu rosto enquanto fazia isso.
Mas…
[….]
Tudo que receberam foi silêncio.
Mesmo quando David terminou, a mulher não disse nada. Em vez disso, direcionou o olhar para Amélia e a analisou rapidamente.
Só depois de cinco minutos ela falou.
[As audições acabaram. Já vimos todos os candidatos.]
Seu tom era frio e inflexível. Como se não houvesse discussão. Foi então que a expressão de Amélia ficou vazia e seu rosto pálido.
Apesar de não ter mostrado antes, ela realmente se importava com a peça.
Significava muito para ela.
….E quando David viu isso, sua expressão mudou.
[Espere! Você está cometendo um erro! Só deixe ela atuar um pouco. Deixe—]
[Por favor, voltem.]
A mulher permaneceu inflexível enquanto voltava a atenção para seu trabalho.
[Mas!]
[Pare.]
David tentou protestar novamente, mas foi interrompido por Amélia, que o segurou com a mão. Olhando para ela, David parecia resignado.
Ele não podia aceitar.
Como ele podia aceitar?
[Pare? O que quer dizer com pare? Eu sei o que vi! Você definitivamente pode fazer isso. O mundo precisa ver sua atuação!]
[Sim, mas podemos ir para outra audi—]
[Não!]
David a interrompeu, deixando Amélia atordoada.
Com olhos desesperados, ele olhou para ela.
[Essa é sua chance. Não estrague. Que depois?! Você tem que fazer isso agora!]
[….]
Amélia ficou em silêncio enquanto encarava os olhos de David. Ela parecia confusa com a situação, sem entender por que ele estava tão obstinado em fazê-la participar da peça.
Mas tudo que ela podia ver era um desejo ardente. Um desejo ardente para que ela atuasse naquela peça.
No final, ela olhou para a senhora idosa.
O tempo todo, sua atenção estava no trabalho, ignorando os dois completamente.
….Era como se eles não existissem.
Quando Amélia virou a cabeça para David para apontar isso, ela parou.
Seja ela ou a plateia, toda a atenção estava em David.
Seus olhos estavam resolutos. Eles podiam ver ali que ele não ia deixá-la ir, e Amélia franziu os lábios.
[…..]
No silêncio, ela fechou os olhos.
Então, abrindo-os novamente, virou para encarar a senhora idosa.
Quando sua boca se abriu, uma pequena lágrima escorreu pelo canto de seus olhos. Foi então que a plateia pôde ver sua atuação novamente.
Como se o mundo inteiro tivesse congelado, toda a atenção estava fixa nela.
As luzes se apagaram, direcionando toda a atenção para ela.
Ela era o centro de tudo.
….E atrás, de pé na penumbra, estava um David sorridente.
Enquanto olhava para ela, uma mudança ocorreu na mulher de meia-idade. No início, ela parecia irritada, mas conforme as coisas progrediam, seu comportamento mudou, e não demorou para que ela ficasse encantada com a atuação de Amélia.
A visão o fez sorrir com orgulho.
E enquanto sorria, uma voz ecoou por todo o teatro.
<De sua respiração ao seu tom… Tudo estava perfeito.>
<Ela era o centro das atenções, e naquele momento, era tudo que eu podia ver. Pensando nisso, não consigo evitar sorrir. Eu sabia então que era ali que ela pertencia.>
[….]
A atuação parou, e o silêncio tomou conta de todo o teatro.
Todos os olhos estavam em Amélia, que estava no centro com a respiração pesada. O tempo todo, seu olhar estava na senhora idosa, que tinha largado tudo e simplesmente a encarava.
Foi só depois de um breve momento de silêncio que a senhora falou:
[Seu nome…]
Seu tom era seco.
[….Qual é seu nome?]
<Ah, foi provavelmente isso que selou para mim.>
Enquanto o rosto de Amélia tremia, ela virou a cabeça para David, que sorria brilhantemente para ela. Nenhum dos dois trocou uma palavra, mas não havia necessidade, pois ela imediatamente olhou de volta para a senhora idosa.
De repente, um sorriso floresceu em seu rosto.
Ba… Baque! Ba… Baque!
Amélia sentiu seu coração bater forte, mas não se importou.
Encarando a senhora idosa, ela rapidamente respondeu:
[Amélia.]
Seu tom era leve, e seu sorriso parecia abraçar todo o teatro.
[….Amélia. Esse é meu nome.]
Foi então que seu relógio começou a girar.
Fim do Ato 31.
- Por algum motivo, o Entrail colocou fim do ato 2, mas ele havia encerrado o segundo em alguns capítulos anteriores…[↩]
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