Capítulo 278: Nunca parou de sorrir [8]
Atuar é difícil.
Isso ficou claro para mim no momento em que assumi este roteiro.
Encarnar perfeitamente as emoções e afetar o público sem usar nenhum poder. Não é fácil fazer isso.
….Eu sabia disso antes, mas só agora percebi o quão difícil era.
Especialmente quando eu não conhecia bem o personagem.
Pensei em tentar me imergir no roteiro, mas não era o suficiente. Palavras não bastavam. Havia algo que eu fundamentalmente não entendia e não conseguia alcançar.
Eu tentei… tentei e tentei…
Mas ainda falhei.
No final, olhando ao redor e vendo todos os olhos fixos em mim, meu peito tremeu.
‘Está quase acabando.’
….Eu ainda não tinha alcançado o que queria alcançar.
Isso não era bom o suficiente para mim.
As reações do público não eram suficientes.
Eu não podia parar.
Especialmente quando a peça ainda não tinha terminado.
Imersão.
Eu precisava me imergir ainda mais.
“Hooo.”
No silêncio que me cercava, fechei os olhos e revi todo o roteiro em minha mente.
David.
Ele era um tolo.
Um tolo patético.
Movido por sua curiosidade, ele acabou descobrindo um dos segredos de sua colega de classe.
Transtorno de Distorção Afetiva. Uma doença que consumia a vida de alguém quanto mais experimentava uma certa emoção.
Desde que evitassem sentir tal emoção, poderiam viver uma vida longa.
…Mas seria uma vida assim realmente significativa?
Alguém realmente ficaria bem vivendo assim?
Desde o momento em que assumi o roteiro, me fiz essa pergunta.
E a resposta veio rapidamente…
A maioria não ficaria, mas alguns ficariam. David não era esse tipo de pessoa. Ele era alguém que queria viver sua vida ao máximo, e por isso eu tive dificuldade em me imergir.
Ele era o oposto do que eu era.
Eu vivi pelo meu irmão, e não por mim mesmo.
Quem se importava com o que eu sentia? Desde que meu irmão estivesse bem, o que eu importava…?
Eu… não importava.
Era essa ideia fundamental sobre mim mesmo que me impedia de me imergir no personagem. Éramos tão diferentes que me tornava impossível me ver nele.
Pelo menos, até o último momento.
Até a última cena.
Apesar de também ter a mesma doença, David não tinha consideração por si mesmo e fez o possível para ajudar Amélia. Mesmo sabendo que o que estava fazendo o matava, ele continuou a ajudá-la.
Eu não entendia por que ele iria a tais extremos para ajudar alguém que mal conhecia.
No momento em que descobriu sobre sua doença, ele poderia ter simplesmente ido embora e seguido sua vida. Mas ele não fez isso. Em vez disso, ficou com ela até seu último suspiro.
Por quê…?
Por que ele fez isso?
Mas logo entendi. O motivo pelo qual ele fez o que fez.
Era porque…
Ele estava sozinho.
Enfrentando uma doença que quase ninguém conhecia ou entendia, ele só podia viver sua vida em silêncio.
Ele não era tão diferente de mim nesse aspecto.
Sofrer em silêncio.
….E foi esse entendimento que me fez compreendê-lo melhor como personagem.
Abrindo meus olhos, olhei para o diário à minha frente. Era tudo que eu podia ver.
Caneta na mão, comecei a escrever.
<Eu daria qualquer coisa por mais uma hora. Só mais uma hora. Eu quero ver sua peça. É uma pena que não tenha muito tempo. Meu relógio está girando, e posso sentir meu corpo começando a desistir de mim.>
Minha voz ecoou pelo teatro.
Ao mesmo tempo, memórias começaram a passar diante dos meus olhos. Eram as cenas da peça.
Desde a primeira cena em que vi Amélia até a última cena em que ela sorriu e chorou.
As cenas continuaram a se repetir em minha mente, sem parar, quase como um filme, e antes que percebesse, estava começando a ter dificuldade em distinguir o que era real e o que era falso.
Eu estava lentamente começando a me imergir.
David…
Eu estava lentamente me tornando ele.
“….”
Minha mão tremeu. Emoções começaram a inundar minha mente.
<Ela não vai cometer um erro durante a peça, vai? Durante os ensaios, ela cometeu alguns erros por nervosismo. Espero que isso não aconteça… Eu realmente espero que não.>
Senti uma certa dor invadir meu peito.
Isso fez minha mão tremer mais enquanto meus lábios tremiam.
Piscando com força, pressionei a caneta com mais força contra o papel. Ele ficou um pouco amassado.
<Mas tenho que dizer, seu rosto nervoso é muito fofo. Desde como seus olhos se movem por todo lugar até como fica completamente vermelho…>
“Hahaha.”
Uma risada escapou de meus lábios enquanto escrevia. A cena passou em minha mente, e me vi incapaz de conter minha risada.
<…Eu quero ver isso de novo.>
Meu peito doeu novamente.
Era mais doloroso que antes.
Conforme a imersão aumentava, também aumentavam as emoções e a dor. Eu estava… lentamente montando uma identidade completamente nova em minha mente.
Rabisca~ Rabisca~
Minha mão continuou a se mover apesar das sensações avassaladoras que começava a sentir.
….O relógio estava girando.
Quanto tempo eu ainda tinha?
Podia sentir meu corpo ficando mais fraco a cada segundo. Estava ficando mais difícil me concentrar, e as memórias que inundavam minha mente vinham com ainda mais intensidade.
A velocidade com que escrevia aumentou conforme isso acontecia.
Despejei tudo no diário.
<Não, não é isso. Eu quero ver seu rosto de novo. Eu quero ver sua peça. Eu quero…>
“….”
Minha mão tremeu ainda mais.
Quanto mais eu escrevia, mais meu peito doía.
Comecei a ficar desesperado.
Era uma dor terrível que dificultava minha concentração. Mas eu não podia parar. Precisava terminar de escrever minhas últimas palavras.
Eu precisava…
“Kh.”
Apertando meus dentes, usei cada pouquinho de minha força para escrever as últimas palavras.
Eu precisava. Eu tinha que.
Eu…
Es… crever~ Esc…
<…ver você.>
Tak.
A caneta caiu de minha mão.
De repente, minha visão ficou embaçada. Mal podia ver, e não conseguia respirar. Minha cabeça parecia leve, e meus braços ficaram moles.
Quando levantei a cabeça, vi.
Os milhares de pares de olhos fixos em mim.
Podia ver as lágrimas escorrendo por seus rostos e os olhares de choque em seus olhos.
Seus olhares…
Eles haviam mudado.
“Ah.”
Eu sorri então.
Mas não por causa deles.
Por causa de outra pessoa. Seu rosto apareceu em minha mente novamente, e naquele momento, percebi o que era a dor em meu peito.
∎| Nível 1. [Amor] EXP + 10%
Com o piscar de meus olhos, a notificação desapareceu.
Enquanto o mundo ficava em silêncio, minha boca se abriu.
“Certo, eu esqueci de dizer.”
Podia ouvir minha voz alcançar cada canto do teatro.
“Diferente de você…”
Enquanto o mundo ficava escuro, continuei a sorrir.
“….Foi amor, não alegria.”
Minha Emoção de Desordem.
***
O teatro inteiro estava em silêncio, exceto pelos soluços sutis que saíam de alguns espectadores. Com lágrimas escorrendo pelos rostos de alguns, toda a atenção estava focada no homem solitário que estava no banco.
Baque’
Quando o diário em sua mão caiu, seus olhos se fecharam.
Desde o início da peça, ele nunca se destacou.
Parecia mais um personagem secundário em relação ao principal. Ela era a estrela. Aquela de quem o público não conseguia desviar os olhos.
….Isso até o último momento.
Na última cena, todos os olhos estavam nele. Nenhum olho estava desviado.
Ele roubou os holofotes.
Com seus lábios levemente curvados em um sorriso, ele se recostou no banco com um olhar nostálgico.
“E-ele morreu?”
“…Então ele nunca chegou a ver a peça?”
A realização atingiu alguns membros da plateia como um caminhão, forçando lágrimas a escorrerem.
Era uma visão que fazia as pessoas desviarem o olhar, incapazes de continuar assistindo enquanto a cena tirava seu fôlego.
E lentamente, as luzes ao redor do palco desapareceram, cobrindo sua figura por completo.
Tak—
Foi então que todos ouviram o som de um único passo.
Quando a plateia olhou, uma figura familiar apareceu no meio do palco. Ela parecia diferente do passado. Estava mais velha agora. Não muito, mas pelo menos no final dos vinte anos.
Não havia cenário, nem iluminação extravagante.
Só ela e a plateia.
Pinga. Pinga…!
Com lágrimas escorrendo por seu rosto, ela olhou para a plateia.
[O mundo é um lugar cruel.]
Sua atuação começou, e o teatro ficou em silêncio.
Como se tivessem sido transportados para outro mundo, se viram incapazes de desviar os olhos dela. Enquanto lágrimas escorriam por seu rosto e pelo rosto da plateia, ela despejou tudo em sua atuação.
Naquele palco, ela atuou com toda a sua alma.
Ela…
Se deixou levar.
Rabisca~ Rabisca~
Um som de escrita ecoou, e sua voz ressoou.
<David partiu quando tinha 16 anos. Foi quando encontrei este diário e li tudo. Aquele tolo… mesmo na morte, tinha aquele olhar bobo no rosto.>
Isso mascarou sua voz principal.
<Após sua morte, eu nunca parei de atuar. Ele me fez perceber que a vida vale a pena ser vivida, mesmo que seja curta.>
Sua figura brilhava intensamente sob o palco.
<Eu me tornei um pouco famosa. Bem… ganhei vários prêmios, e não posso sair de casa sem ser reconhecida. Isso é sucesso, certo?>
Ela era como o sol.
Brilhando intensamente diante de milhares.
<…Mas bem, acho que meu tempo também chegou. Eu faria 25 anos em dois dias, mas sei que não vou conseguir. O mundo já sabe sobre minha doença, e também sabem que esta é minha última atuação. Estou feliz que tantas pessoas vieram.>
Os movimentos de Amélia começaram a desacelerar no meio da atuação, evidentemente porque seu corpo estava começando a falhar.
Apesar disso, ela continuou a atuar.
<Isso me deixa feliz que tantas pessoas possam sentir o que eu sinto. O que você me fez sentir.>
Ela despejou tudo o que tinha, e a plateia viu.
Seu esforço.
<Estou tão feliz por ter te conhecido.>
Gradualmente, sua atuação começou a desacelerar.
Estava chegando ao clímax, e a voz ficou mais suave conforme a atuação terminava.
<Ao longo dos anos que passaram, eu nunca esqueci de você, David.>
“Haa.. Haa…”
Quando terminou, sua respiração estava pesada, e suor escorria pelo lado de seu rosto.
Mas o mais importante, ela tinha um sorriso no rosto.
<Porque desde que te conheci, eu…>
Cli Clank—
As luzes se apagaram.
<…nunca parei de sorrir>
***
Nota do autor: História inspirada em “A Culpa é das Estrelas” e “Toki Doki”. Confira-os se tiver tempo.
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