Capítulo 282: As cinzas que pairam no ar [2]
Estava escuro.
A escuridão envolvia cada centímetro ao meu redor.
Mal conseguia ouvir ou ver qualquer coisa.
‘Onde estou…?’
Olhei ao redor.
Ainda estava escuro. Por mais que procurasse, só via escuridão.
‘O que está acontecendo?’
Tentei falar, mas minha voz ficou presa na garganta. Por mais que tentasse, minha boca se recusava a abrir.
“….!”
Movendo meu corpo, estiquei a mão para frente e senti algo.
Era liso ao toque, com um leve calor. Bati várias vezes com os nós dos dedos, ‘Tok, Tok—!’, e cada batida parecia muito leve.
‘Madeira…?’
Parecia ser o caso, pois bati novamente.
Tok, Tok—!
Parei quando percebi que não adiantava. Então, passei a mão ao meu redor, tentando entender o ambiente. Para meu choque, percebi que estava preso por todos os lados.
Não entrei em pânico imediatamente e continuei a explorar o espaço com as mãos. Por causa da escuridão, era difícil sentir tudo direito.
Mesmo assim, tentei mapear o ambiente em minha mente.
Tentando entender completamente minha situação e o espaço que tinha. Quando minha mão chegou à esquerda, parei.
‘Nada.’
O espaço estava completamente vazio.
Ou pelo menos parecia vazio.
Tok, tok—!
Bati na parede à minha esquerda e minhas sobrancelhas se levantaram em surpresa. O som… era um pouco diferente das outras paredes.
Parecia muito menos oco e muito mais sólido.
…Não parecia ser feito de madeira.
‘Que estranho…’
Bati várias vezes mais, mas logo parei quando percebi que não levaria a lugar nenhum.
Não estava em pânico. Se aquilo fosse realmente madeira, seria tão fácil quanto rasgar um papel para mim.
Embora eu fosse um mago, minhas capacidades físicas estavam muito acima de uma pessoa comum, e, sem pensar duas vezes, dei um soco na parede à minha frente.
Estrondo—!
Um barulho alto ecoou quando meu punho atingiu a parede.
O som foi bastante alto, mas além disso… nada aconteceu.
‘Eh…?’
Pisquei várias vezes.
‘Como isso faz sentido?’
Sentindo a superfície de madeira diante de mim, fiquei pasmo ao ver que ainda estava lisa. Nem um arranhão ou amassado. Especialmente na área onde eu havia socado.
Aquilo também estava incrivelmente liso…
‘O que está acontecendo?’
Ainda não entrei em pânico, baixei a cabeça e comecei a refletir sobre minha situação.
‘Se isso não funcionar, posso tentar outra coisa.’
Estendendo a mão para frente, tentei lançar um pequeno feitiço.
Tentei usar as correntes, mas…
Tzzz—!
Para meu choque, o círculo mágico que eu queria formar se desfez em menos de uma fração de segundo.
Atônito, só consegui encarar a escuridão enquanto imaginava minha mão vazia em minha mente.
Mas não era isso que me importava. Não, isso não importava.
O que importava era o fato de que…
‘Sumiu.’
Quase não tinha mana dentro de mim.
Era extremamente mínima, mas só isso.
‘Meu corpo físico parece ter regredido, e praticamente toda minha mana desapareceu…’
Que tipo de situação horrível era essa?
Meu rosto se contraiu enquanto eu desesperadamente tentava manter a compostura.
Tocando o lado do espaço, bati repetidamente em todas as direções, esperando encontrar alguma pista sobre minha situação, mas isso se mostrou inútil, pois mesmo com as horas passando, minha situação permaneceu a mesma.
“…..”
A escuridão continuou a envolver cada parte do meu corpo, mas parecia sufocante.
Com o passar do tempo, comecei a me sentir asfixiado.
O espaço era pequeno, e eu estava preso, incapaz de sair ou gritar por ajuda.
‘O que está acontecendo…?’
Tinha certeza de que havia usado a terceira folha em Kiera, mas o que era essa situação? Não fazia sentido.
“…..”
Perdido em meus pensamentos, continuei esperando.
Algo tinha que acontecer, certo…?
Continuei me convencendo de que sim, mas…
“…..”
Nada.
Mesmo com as horas passando, continuei preso no escuro, sem saída.
Estava confinado em um espaço pequeno, preso e sozinho.
Minha respiração ficou mais curta, e minha cabeça começou a ficar leve. De vez em quando, batia ao redor, tentando encontrar algo que me tirasse dali, mas tudo em vão.
De repente, começou a ficar quente.
Suor escorria pelo meu rosto, e respirar ficou cada vez mais difícil.
“…..”
Minha mente permaneceu firme diante das circunstâncias.
Continuei calmo e apenas esperei pacientemente. Já havia passado por coisas muito piores no passado. Isso eu conseguia aguentar.
Mas havia um limite para o quanto eu podia suportar.
Dez horas.
…Por volta da décima hora, minhas pernas começaram a ter cãibras.
“….!”
A dor me fez estremecer.
Qualquer gemido que pudesse sair da minha boca parou antes mesmo de sair. Por algum motivo, meu corpo continuava a se recusar a fazer qualquer som.
Era como se tivesse medo de eu fazer barulho.
Mas e as batidas?
.
.
.
O tempo continuou a passar.
Na décima quinta hora, minha outra perna teve cãibras e meu pescoço ficou tenso.
Novamente, nenhum som saiu dos meus lábios.
Só consegui suportar a dor em silêncio.
‘…Já passei por pior.’
Apesar da agonia, minha mente permaneceu firme.
Pelo menos, tentei mantê-la firme.
Podia sentir que estava começando a desmoronar.
E isso ficou especialmente aparente conforme o tempo passava, finalmente chegando à marca das vinte e quatro horas.
“….”
Não tinha dormido um minuto.
Tentei, mas o desconforto tornava impossível.
‘Preciso sair.’
A essa altura, o desespero começava a se infiltrar em minha mente. Estava mental e fisicamente exausto.
O espaço era apertado, e o oxigênio estava acabando.
‘Sair… Preciso sair…’
Estava desesperado para ver a luz.
Era só minha imaginação, mas parecia que as paredes estavam se fechando sobre mim.
Minha respiração ficou mais superficial, e os únicos pensamentos que passavam pela minha mente eram sobre escapar.
Já não me importava com a situação.
…Só queria ser livre daquela prisão.
Estava cobrando um preço mental.
Tok! Tok—
Continuei batendo, mas sem sucesso.
‘Por quê…? Por que essa visão não acaba?’
Meus lábios tremeram enquanto os mordia. Foi então que percebi que estavam secos, assim como minha boca.
‘Á-gua.’
Minha mente finalmente registrou que estava com fome e sede.
O desespero aumentou com a realização, e eu desesperadamente passei as mãos pelo espaço confinado.
Já tinha feito a mesma coisa centenas de vezes, praticamente mapeando todo o espaço em minha mente.
Sabia que não adiantava, mas precisava fazer algo.
…Precisava fazer algo para sair dali.
Baque!
Logo, meu braço esquerdo ficou mole.
Tinha perdido toda minha energia. A fome e a sede estavam me afetando. Mal conseguia pensar, minha mente estava nebulosa.
‘…S-sair.’
Os únicos pensamentos em minha mente eram sobre escapar.
Queria sair dali.
Me sentia tão claustrofóbico.
“….”
Foi então que senti algo no meu bolso. Era uma pequena caixa, e quando a peguei, minha mente ficou em branco por um momento.
Comecei a lembrar o que me trouxe até ali e meu aperto na caixa se intensificou.
Levantando a tampa, tirei um objeto longo e macio. Era cilíndrico, e um cheiro familiar de tabaco pairava no ar.
Meu estômago embrulhou com o cheiro, e o cigarro escorregou dos meus dedos, caindo no chão.
Tak—
Já acostumado com o escuro, sabia exatamente onde o cigarro tinha caído apenas pelo som.
Minha mão tremia enquanto o pegava.
Ainda não conseguia ver nada, mas minha mente parecia preencher as lacunas, e eu via minha mão com o cigarro.
A visão fez meu coração acelerar.
“….”
Fazia tanto tempo…
Engolindo em seco, levei a mão até a ponta do cigarro. Embora não pudesse usar mana para criar um feitiço, não era difícil criar uma pequena faísca para acendê-lo.
Minha mão parou bem na ponta.
“….”
Lambi meus lábios, mas só senti dor.
Então…
Estala—!
Faíscas voaram, e um círculo vermelho flutuou diante de mim.
Pela primeira vez em muito tempo, finalmente vi luz. Mesmo que fosse por algo que eu detestava, não consegui desviar o olhar daquele círculo vermelho.
A ponta brilhante do cigarro tremeluzia e pulsava, me hipnotizando.
Um cheiro forte e ácido se seguiu, e meu nariz se contraiu. Em qualquer outra ocasião, teria engasgado, mas dessa vez não.
Só continuei encarando a única fonte de luz naquela prisão de escuridão.
…Havia algo no cheiro e na luz que me confortava naquele espaço escuro.
Me deu vontade de rir.
Um cigarro, de todas as coisas…
‘Haha.’
Nunca esperaria que o cheiro me traria conforto, mas ali estava eu, apreciando as sensações que ele trazia.
Pensei em experimentar, mas me segurei.
‘Isso é o suficiente.’
…Mesmo que não estivesse mais enojado com a ideia, simplesmente não sentia vontade. Eu era diferente do meu eu do passado.
Não precisava usá-lo para fugir da minha realidade.
Só precisava da luz que ele trazia.
E então,
Estala—
Quando um cigarro acabava, eu acendia outro e apenas olhava vazio para o círculo vermelho. A luz era extremamente fraca, e mesmo tentando ver melhor ao redor, não adiantava.
No final, só me restou ficar sentado onde estava.
Diferente de antes, me sentia muito mais calmo.
Continuei acendendo um cigarro atrás do outro.
Estala, estala, estala—
A essa altura, o cheiro já tinha se espalhado por todo o espaço, e era tudo que eu sentia.
Não era um cheiro agradável, mas dentro da escuridão e do confinamento sufocante, era extremamente reconfortante, me distraindo de todos os pensamentos ruins.
Estava começando a ficar viciado.
‘Huh…?’
Pegando outro cigarro, meu coração afundou quando percebi que era o último.
Antes que percebesse, já tinha usado todos os cigarros disponíveis.
…E ainda, nada aconteceu.
“…..”
Fechei os olhos e recostei a cabeça.
Estala!
Não pensei duas vezes antes de acender o último cigarro.
Tzz!
Um círculo vermelho flutuou diante de mim.
Hipnotizado, mantive meus olhos fixos nele.
‘O que faço? Como saio daqui? Não entendo… O que é essa situação?’
Perguntas inundaram minha mente enquanto eu pensava no que aconteceria quando o cigarro acabasse, mas com o tempo, minha mente ficou mais quieta.
Só me concentrei em aproveitar o conforto que a luz me trazia.
Sabia que não tinha muito tempo.
Com o tempo, o círculo ficou mais fraco.
Enquanto observava, meu coração afundava cada vez mais.
O que eu faria quando acabasse? O que eu—
Clank!
De repente, ouvi um barulho alto e minha cabeça se ergueu. Olhando para trás, o espaço tremeu, e ouvi o que pareciam vozes abafadas do lado de fora.
Tok Tok—
Bati rapidamente na caixa, tentando fazer com que me notassem.
‘Alô!? Tem alguém aí?’
Clank!
Parecia que não podiam me ouvir, mas os tremores continuaram.
Apesar da agonia que acompanhava cada movimento, virei meu corpo na direção do som. Logo, vi uma linha branca e fina se infiltrando na escuridão.
Era uma linha que ficava mais larga a cada segundo, permitindo que a luz invadisse o espaço.
Meus olhos se fecharam de dor enquanto eu tentava mantê-los abertos, e…
“Tem alguém aqui!”
“Achamos ela!”
Vários rostos apareceram diante de mim.
Não conseguia ver seus traços direito por causa da luz, mas não me importava. Finalmente ia sair.
Finalmente…
“Vem comigo.”
“….”
Meu corpo parou quando estenderam a mão para o espaço ao meu lado.
Percebi algo.
Eles… não estavam olhando para mim.
Virando a cabeça, na área onde pensei que havia uma parede, vi uma figura jovem.
Seu corpo frágil tremia incontrolavelmente, e seus cabelos brancos grudavam em seu rosto magro. Ela tremia tanto que era doloroso de ver, e meu próprio corpo congelou.
O mais perturbador eram seus olhos vermelhos como rubi.
Estavam fixos na ponta do meu cigarro, seguindo cada movimento com uma fixação desesperada e assustadora.
Suas mãos se estenderam para ele, mas nenhuma palavra saiu de sua boca enquanto a arrastavam para longe.
Fiquei paralisado por um momento antes que a escuridão voltasse quando as portas do armário se fecharam.
Foi então que entendi.
“Ah, entendi.”
Minha voz voltou então, mas não tinha mais palavras.
“….”
No silêncio, sentei sozinho naquele espaço.
Só eu e as cinzas que pairavam no ar.
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