Capítulo 297: O Túmulo de Oracleus [1]  

Cra Crack—!  

Um som de rachadura ecoou pelo ar enquanto eu ficava imóvel de olhos fechados. Meus músculos se moviam, e meus ossos rangiam uns contra os outros.  

“Hoo… Hoo…”  

Mantive meus pensamentos estáveis enquanto meu peito subia e descia repetidamente. Eu podia sentir mudanças ocorrendo em meu corpo enquanto permanecia composto e deixava a energia fria dentro do meu núcleo de mana percorrer todo o meu corpo.  

Embora houvesse diferenças entre cada Nível, as verdadeiras mudanças ocorriam quando alguém alcançava o Nível 4. Era aí que um verdadeiro abismo aparecia. Para cada Nível subsequente, uma nova mudança ocorreria, com a criação de um Domínio no Nível 5 sendo o maior exemplo.  

No caso do Nível 4, o corpo passava por uma Reforma Corporal.  

Era um processo no qual o corpo se ajustava ao aumento repentino de absorção de mana, fortalecendo ossos e músculos.  

O processo era razoavelmente doloroso, mas só isso.  

Não levei mais do que cinco minutos para o processo terminar. Ele terminou com um longo suspiro, enquanto ar turvo escapava de meus lábios.  

“Hooo.”  

Quando abri os olhos novamente, desviei minha atenção para a direita, onde Leon estava. Ele encarava as mãos cortadas diante dele com uma expressão de profunda apreensão.  

“Não me diga que você ainda não as consumiu.”  

“….”  

Leon me olhou em silêncio.  

Então, ele abriu a boca.  

“Então você já consumiu.”  

Sua boca… Estava completamente preta.  

O fato de ele não estar falando era porque não conseguia. Eu podia mais ou menos entender como ele se sentia, já que meu rosto se contorceu ao lembrar do gosto do sangue.  

“Sua força aumentou?”  

Aceno com a cabeça.  

“Urkh!”  

Leon rapidamente cobriu a boca, soltando um som abafado de engasgo no processo. Simpatizei brevemente com ele até ouvir o som abafado de algo batendo perto da entrada.  

Estrondo, estrondo!  

Nós dois nos olhamos antes de nos levantarmos.  

Com uma careta, Leon franziu o rosto e pegou as mãos restantes no chão antes de me entregá-las.  

“Huu… Leve-as. Achei que teríamos um pouco mais de tempo.”  

“….Eu também achei.”  

Os espectros eram fortes o suficiente para quebrar as rochas na entrada facilmente, mas eram cautelosos com a estrutura interna de seu ninho. Muita força e havia o risco de todo o lugar desabar.  

Foi por isso que não corremos de volta para o poço.  

Eu também temia que, se subíssemos correndo, seríamos recebidos por um bando de Espectros. O lugar mais seguro era onde estávamos nos últimos cinco minutos, mas agora era hora de ir.  

“Eu vou primeiro.”  

Chegando à base do poço, mal tive tempo de falar antes que Leon entrasse em ação. Ele saltou, agarrando as laterais com os braços e pernas, e começou a escalar em uma velocidade alarmante.  

“Ei, espere!”  

Sem me olhar, ele continuou sua subida, deixando-me completamente perplexo.  

Não perdi um único segundo para segui-lo.  

“Qual é a pressa—Uh?”  

Subir deveria ser mais difícil do que descer, mas foi para meu choque e agradável surpresa ver-me chegando ao topo sem esforço. Quase parecia que eu era feito de ar, de tão fácil que foi para eu subir.  

“Uau.”  

Chegando ao topo e vendo os arredores familiares, olhei para minhas mãos.  

‘Essa diferença é maior do que eu pensava.’  

Agora estava animado para ver quais outras mudanças meu corpo havia passado após a reforma corporal.  

Era uma pena que eu não tivesse ninguém para testar isso.  

Levantando a cabeça, fiquei um pouco surpreso ao não ver espectros por perto. O lugar estava estranhamente quieto, envolto em um silêncio pesado e opressivo que quase parecia sufocante.  

Espalhadas por todo o lugar, as velas emitiam um brilho azul fantasmagórico, sua luz mal cortando a escuridão que nos cercava.  

Naquele silêncio, levantei a cabeça mais uma vez para olhar os murais acima. Meu foco se concentrou nas sete figuras que dominavam toda a cena. As figuras eram retratadas em uma postura unificada, seus olhares fixos no céu, onde algo parecia estar se aproximando.  

O que quer que estivesse acima, parecia lançar uma sombra sobre as figuras, suas expressões ilegíveis, já que suas costas estavam voltadas para o mural.  

Embora houvesse muitos outros murais, este era o maior e mais impressionante de todos, ocupando a maior parte do espaço da cúpula acima.  

Parecia que este era o mural que retratava o começo de tudo.  

“Eles são os sete não registrados¹.”  

Leon disse calmamente enquanto olhava para o mesmo mural que eu.  

Sete não registrados…?  

Inclinei a cabeça para encarar Leon. Esta era a primeira vez que ouvia o termo ‘não registrados’ e naturalmente fiquei curioso. O que exatamente isso significava?  

“Eles são chamados de não registrados porque não sabemos muito sobre eles. Alguns dizem que são os criadores da Dimensão Espelho, e outros os adoram como deuses.”  

Leon fez uma pausa, seu maxilar visivelmente se contraindo.  

“Eles não são deuses. Deuses não existem.”  

“…..”  

Fiquei em silêncio, ouvindo o que ele estava dizendo. Sobre suas opiniões sobre deuses, eu teria acreditado nele no passado, mas agora não tinha tanta certeza. Especialmente depois de tudo pelo que passei.  

“Mas eles são fortes. Fortes o suficiente para fazer alguém acreditar que são deuses.”  

Leon fez uma pausa, desviando o olhar dos murais.  

“Mortum, Oracleus, Veltrus, Panthea, Sithrus, Ivanth, Clora.”  

Enquanto falava, ele apontou para cada uma das figuras no mural.  

“Estes são os nomes dos Sete Não Registrados. Você deve memorizá-los bem, pois acredito que eles podem estar ligados ao motivo pelo qual você entrou no corpo de Julien.”  

“…..”  

Apertei os lábios diante de suas palavras. Embora compartilhasse o mesmo pensamento, ouvi-lo articular isso de forma tão direta me deixou inquieto, sem saber como reagir.  

Já fazia quase um ano desde que eu tinha transmigrado para este mundo, e ainda não havia encontrado uma pista verdadeira sobre o motivo pelo qual eu estava aqui, e quem me trouxe para cá. Não era como se eu não estivesse tentando encontrar respostas, mas era difícil.  

O mundo parecia envolto em um véu fino com infinitas camadas. Cada camada que eu removia apenas revelava mais camadas por baixo, tornando todo o progresso que eu fazia nulo.  

Era frustrante, e ainda assim, eu não tinha escolha a não ser continuar removendo as camadas que se apresentavam diante de mim.  

No final, contanto que eu continuasse removendo, eu acabaria encontrando a resposta.  

“Hoo.”  

Respirando fundo, finalmente relaxei e desviei minha atenção para os outros murais. Eles não eram tão grandiosos quanto o primeiro, mas retratavam todo tipo de cena diferente. Um homem robusto com barba e cabelos vermelhos diante de uma grande fogueira com um martelo na mão. Uma mulher alta e esbelta segurando a mão de uma criança pequena enquanto uma luz branca suave envolvia a mão da criança, e assim por diante…  

Eram muitas cenas assim, mas uma em particular se destacava.  

…Era a imagem de uma mão, estendida para frente em um punho fechado, com pequenas gotas de sangue escorrendo dela. Abaixo, um enxame de rostos olhava para cima, suas bocas abertas enquanto esticavam a língua.  

O olhar fanático, quase enlouquecido em seus rostos, se torcia em expressões vazias e desumanas que mais pareciam máscaras do que expressões.  

“Mortum.”  

O nome escapou involuntariamente de minha boca.  

Quando percebi, Leon já estava me olhando, seu olhar se voltando para a mesma cena que eu observava.  

“Você está certo.”  

Sua expressão era difícil de ler.  

“Esse é Mortum, o Imortal. Ele é provavelmente o mais famoso dos Sete Não Registrados.”  

“….É por causa de seu sangue?”  

“Sim.”  

Leon acenou calmamente.  

“Com a propriedade mágica de trazer os mortos de volta à vida, o sangue de Mortum é considerado um elixir da imortalidade. Não só pode trazer os mortos de volta à vida, mas também pode estender a vida de uma pessoa indefinidamente. Enquanto consumirem o sangue de Mortum, eles viverão para sempre.”  

Tomei um fôlego frio ao ouvir suas palavras.  

Tendo experimentado isso por mim mesmo, eu já sabia sobre suas propriedades mágicas. O fato de que poderia estender a vida de alguém respondia a uma das perguntas que eu tinha.  

‘Atlas… é assim que ele conseguiu viver por tanto tempo? Por causa do Sangue de Mortum?’  

Comecei a me lembrar da visão com Atlas, e como o Império do Nada havia sido destruído porque possuíam o Sangue de Mortum.  

“Para um recurso tão precioso, não é de admirar que até os não registrados não tenham escolha a não ser agir. Isso iria completamente arruinar o equilíbr—”  

“Não tem nada a ver com isso.”  

Leon me interrompeu de repente, virando a cabeça em minha direção.  

Surpreso, olhei de volta para ele.  

Não tem nada a ver com isso…? Então o quê? Por que eles exterminariam um Império inteiro pelo sangue?  

“Você se lembra de como eu disse que os não registrados não são deuses?”  

Leon disse de repente novamente, seus olhos se tornando sombrios.  

Senti minha expressão mudar ao ver seu rosto, e uma ideia se formou em minha mente.  

Não me diga…  

“É porque todos eles são mortais. A única razão pela qual conseguiram viver além de sua idade natural é por causa do sangue de Mortum. Com exceção de Oracleus, que morreu muito cedo, e Mortum, nenhum deles deveria ter vivido além de sua vida mortal.”  

Leon afirmou lentamente, incendiando minha mente com a informação repentina.  

‘Espere, então…’  

Segurei minha cabeça, sentindo uma enorme dor de cabeça. Graças à informação repentina, consegui respostas para algumas perguntas que ficavam no fundo da minha mente, mas agora…. Agora eu tinha ainda mais perguntas.  

Dentre elas, eu estava particularmente curioso sobre algo que ele disse.  

“Oracleus… Você disse que ele morreu cedo?”  

Olhando para os murais, ele só aparecia uma vez. Na primeira imagem. Em todos os outros lugares, ele não estava lá. Não havia uma única imagem dele além do olho flutuante que parecia deixar uma marca em quase todos os murais.  

Eu estava curioso para saber se aquela era sua verdadeira forma, mas agora entendi que não era.  

“….Sim, ele morreu.”  

Leon se virou para apontar para a entrada.  

“Ah.”  

Foi quando me lembrei das palavras escritas logo na entrada.  

“De todos os sete deuses, ele é o mais misterioso e enigmático. Por causa de sua morte, quase não há informações sobre ele, e ainda assim sua influência não é menor que a dos outros deuses. Eu tentei procurar pistas sobre ele, mas falhei…”  

Leon parou, mais uma vez olhando para tudo ao nosso redor.  

“Até agora.”  

“…..”  

Apertei os lábios em silêncio e igualmente olhei ao redor.  

Dos sete ‘deuses’, ele era o que mais me intrigava.  

Ba… Baque! Ba… Baque!  

Sentindo a batida do meu coração, pensei nas palavras escritas na entrada.  

‘O Vidente’  

Então pensei na minha primeira habilidade.  

‘Previsão.’  

Correlacionando os dois, senti meu coração acelerar.  

‘É ele, não é..?”  

Aquele que me trouxe para este mundo.

1. Anteriormente, havia traduzido eles como esquecidos, mas com a tradução nos atuais, percebi que seria melhor deixar como está atualmente.[↩]