Capítulo 322: Clériga [1]

Evelyn achou sua oponente inesperada.  

“…Ah, essa.”  

Ao ver Aoife em pé diante dela, Evelyn mordeu silenciosamente os lábios. Ela acabara de voltar da biblioteca, procurando por qualquer informação, mas saiu decepcionada por não ter encontrado nada. Quando perguntou, disseram-lhe que os livros já haviam sido retirados.  

Como os livros eram classificados como “acadêmicos”, não havia muitas cópias disponíveis.  

Havia alguns, mas todos já haviam sido levados.  

Quando Evelyn verificou quem foi o último a pegar o livro, ficou surpresa ao ver que era Aoife.  

‘Será que há realmente algo errado com ela…?’  

Apesar do árbitro anunciar o início da luta, nenhuma das duas se moveu.  

Tudo que Evelyn podia ver eram duas madeixas de cabelo flamejante e um par de olhos amarelos brilhantes que se destacavam nitidamente contra o sol branco e brilhante no céu.  

“Você não vai atacar?”  

Tirando-a de seus pensamentos, Aoife se posicionou como sempre fazia.  

Era uma pena que Evelyn não a conhecesse tão bem, caso contrário, teria percebido melhor.  

‘Mas será mesmo esse o caso?’  

Evelyn sorriu amargamente ao se lembrar de uma certa pessoa. Com ele… ela sempre teve dificuldade para dizer se ele havia mudado ou não.  

Ele mudava com tanta frequência que agora ela lutava para entender se ele realmente havia mudado ou não.  

…Era algo que ainda a afetava até hoje.  

Mas depois de observar Julien por tanto tempo, ela agora estava confiante de que ele havia realmente mudado novamente.  

O pensamento deixou seus sentimentos confusos, mas ela não teve muito tempo para refletir sobre isso.  

Levantando a cabeça, olhou para Aoife. Ela a encarava com um sorriso simples, aparentemente esperando que ela agisse.  

Evelyn não a fez esperar por muito tempo.  

Ao pressionar o dedo para frente, um pequeno círculo mágico roxo apareceu. Ele se formou com uma velocidade tão grande que era quase impossível de acompanhar a olho nu.  

Assim que se completou, um raio roxo rasgou o ar e foi direto em direção a Aoife, que inclinou a cabeça.  

Boom!

Um segundo depois, um estrondo trovejante ecoou pelo ar, sacudindo o chão sob elas.  

O cabelo de Aoife ondulou suavemente enquanto ela olhava para trás.  

“…Essa foi por pouco.”  

Embora dissesse isso, ela ainda conseguiu desviar.  

Evelyn não pareceu desanimada e pressionou o ar novamente. Desta vez, fez isso em sucessão rápida. Os olhos de Aoife se dilataram no momento em que Evelyn se moveu, e no segundo seguinte, todo o seu corpo tremeu enquanto ela corria para frente, torcendo o corpo de todas as formas possíveis.  

Boom! Boom! Boom!

A plataforma tremeu sob a força dos implacáveis ataques de Evelyn, cada golpe fazendo o ar chiar e crepitar com poder.  

Embora os ataques de Evelyn fossem rápidos e precisos, Aoife parecia capaz de ver o futuro, desviando de tudo por um triz.  

A cada erro por pouco, ela se aproximava mais de Evelyn, seus movimentos tão graciosos quanto podiam ser.  

O ritmo de Evelyn permaneceu estável, seus dedos batendo em um padrão preciso enquanto mantinha seu bombardeio. No entanto, apesar da pressão implacável, Aoife permaneceu calma, seus olhos fixos em Evelyn enquanto ela diminuía a distância entre elas, centímetro por centímetro.  

Tap. Tap. Tap.

O ritmo consistente de Evelyn, embora poderoso, tornou-se previsível para Aoife. A cada passo, Aoife ficava mais confiante, seu foco se aguçando enquanto ela fechava o espaço.  

Em algumas respirações, ela estava a apenas alguns metros de Evelyn, cujo exterior composto começou a rachar, revelando os primeiros sinais de agitação e incerteza.  

Quando Aoife deu mais um passo à frente, Evelyn tocou o ar mais uma vez.  

…Ou pelo menos, fez parecer que o fez, pausando o dedo. Pegando Aoife desprevenida, ela se moveu antecipadamente.  

‘Ah.’  

Foi então que ela percebeu que tudo isso havia sido uma armadilha.  

Mas a percepção veio tarde demais, pois Evelyn pressionou o dedo para baixo.  

Boom!

Aoife foi atingida em cheio, sua cabeça recuando enquanto ela tropeçava alguns passos para trás.  

Como Evelyn daria a ela uma chance de se recuperar? Com a abertura agora apresentada, Evelyn avançou, seus olhos faiscando enquanto pequenos raios de eletricidade surgiam em seus olhos.  

Boom—!

Com outro rugido, seu corpo desapareceu, reaparecendo bem na frente de Aoife, distraída.  

Movendo o ombro para baixo, Evelyn pressionou a mão em direção ao abdômen de Aoife, onde outro círculo mágico se formou.  

Cracka!

Um enorme círculo mágico se formou acima delas, pairando sobre suas cabeças com um fluxo denso de mana.  

Relâmpagos crepitavam dentro dele, reunindo poder enquanto se preparavam para atingir com uma força aterradora.  

Cracka! Cracka!

A energia carregada zumbia no ar, lançando sombras estranhas e trêmulas pela plataforma, e a tensão aumentava à medida que o poder continuava a se acumular.  

Aoife, que ainda se recuperava do choque do ataque anterior de Evelyn, mal teve tempo de reagir enquanto olhava para cima.  

Apesar da situação em que se encontrava, seu rosto permaneceu calmo.  

Lançando um olhar na direção de Evelyn, ela ergueu a mão.  

“Eh!?”  

O corpo de Evelyn foi arremessado para cima.  

Direto em direção ao relâmpago iminente.  

“…!”  

Felizmente, o controle de Evelyn sobre o raio era forte. No momento em que percebeu o que havia acontecido, sua expressão mudou e seus dentes se cerraram. Juntando as mãos, o relâmpago se desfez antes de se materializar completamente, e ela torceu o corpo no ar, aterrissando em segurança no chão.  

Baque.

“Haa… Haa…”  

Com respiração pesada, olhou para Aoife, que parecia completamente normal.  

Diferente dela, Aoife não parecia ter gasto muita energia, seu rosto ainda rosado e sua respiração calma.  

Evelyn levantou a mão, preparando-se para atacar novamente, quando Aoife ergueu a mão em um gesto de parada.  

“…!”  

Evelyn sentiu todo o seu corpo parar.  

Seu corpo congelou como se uma força invisível a tivesse envolvido, travando-a no lugar.  

Ciente dos poderes de Aoife, raios se formaram ao redor de Evelyn, eletrocutando seu corpo e libertando-a do controle de Aoife. Imediatamente, Evelyn seguiu erguendo a mão, um círculo mágico se formando na palma de sua mão em preparação para um contra-ataque.  

Mas como Aoife a deixaria?  

“Espalhe isso.”  

Aoife moveu a mão para a esquerda, e a mão de Evelyn foi arremessada na mesma direção.  

“Ukh!”  

Enquanto seu corpo era levado na direção em que seu braço havia sido jogado, Aoife deu um passo à frente.  

Com um movimento rápido, Aoife moveu a outra mão na direção oposta. A força repentina fez com que Evelyn sentisse seu outro braço sendo puxado para o outro lado, resultando em seus braços se cruzando de maneira estranha e desorientadora.  

“Uekh!”  

Evelyn sentiu uma dor imediata.  

No entanto, antes mesmo que ela tivesse a chance de revidar, Aoife moveu as mãos para baixo, e o rosto de Evelyn bateu contra o pavimento.  

Baque!  

O golpe a atordoou.  

Por um breve segundo, ela desmaiou. Quando recobrou a consciência, seus olhos se abriram abruptamente ao perceber a situação em que estava.  

Erguendo a cabeça, viu uma sombra olhando para ela de cima e, sem pensar muito, sacudiu a mente e tentou se levantar.  

Baque!  

…Ou pelo menos tentou.  

Uma força poderosa a pressionou no momento em que tentou se mover.  

“Uuekh!”  

Não importava o quanto ela tentasse lutar, seu corpo permanecia colado ao chão. Sempre que tentava mover uma mão, ela se endireitava e a impedia de se ajudar.  

Ela lutou assim por vários segundos antes que seu corpo inteiro ficasse paralisado.  

Sua luta foi inútil.  

“Khh!”  

Gradualmente, sentiu seu corpo sendo levantado do chão, subindo até que seus olhos se encontrassem com os de Aoife.  

“Foi uma boa luta.”  

Foi o que ela disse.  

Tudo o que veio depois foi um borrão, pois Aoife pressionou a mão contra sua testa, e ela desmaiou.  

“A vencedora é…”  

A última coisa que Evelyn ouviu foi a voz do árbitro.  

“Aoife Megrail do Império Nurs Ancifa.”  

***  

<O resultado foi o esperado, mas Evelyn teve uma performance maravilhosa. Parece que esta é a era de ouro do Império Nurs Ancifa. Se não fosse pelo fato de ter sido confrontada com Aoife, Evelyn certamente teria sido outro cavalo escuro>  

Enquanto Karl suspirava com decepção, virou-se para Johanna, que olhava atentamente para a transmissão.  

Seus olhos estavam fixos em Aoife, que cuidadosamente entregou o corpo de Evelyn ao árbitro antes de sorrir e acenar para a câmera.  

Suas ações provavelmente eram destinadas ao público.  

<Johanna…?>  

<Ah, sim>  

Mudando sua atenção de volta para a transmissão, Johanna explicou os detalhes da luta. Enquanto fazia isso, sua mente não conseguia deixar de voltar ao combate.  

Nos momentos finais, ela sentiu que Evelyn poderia ter virado o jogo. Ou pelo menos, sentiu que Evelyn tinha todos os meios para não perder da maneira que perdeu.  

Em particular, nos últimos momentos, quando seu corpo estava preso ao chão. Se Evelyn tivesse usado seus poderes, poderia ter se libertado da Telecinese de Aoife.  

…Havia também o momento em que Aoife a jogou no ar.  

Isso também poderia ter sido evitado se ela tivesse sido mais cuidadosa.  

Houveram alguns momentos em que Johanna sentiu que Evelyn poderia ter virado a situação a seu favor.  

E, no entanto, ela não o fez.  

‘Será inexperiência…? Ou será que estava nervosa?’  

Com tantos erros que cometeu, quase parecia que ela queria perder.  

Mas seria esse realmente o caso?  

Johanna não tinha certeza, e o pensamento a incomodava um pouco.  

‘Será que, porque Aoife é a princesa, ela perdeu de propósito? Não me surpreenderia se fosse o caso. O Império Nurs Ancifa é conhecido por fazer essas coisas.’  

No final, porém, ela tinha um trabalho a fazer. Então, só pôde jogar esses pensamentos para o fundo da mente enquanto continuava a explicar todos os detalhes da luta.  

<Como podem ver, o ponto crucial foi neste momento. Logo quando o corpo de Evelyn foi levantado do chão, ela…>  

***  

A escuridão parecia sufocante.  

Envolvendo seu corpo como um manto pesado, Evelyn sentiu todo o seu corpo ficar frio. Ela olhou ao redor, escaneando a escuridão que havia tomado conta de seu corpo, e apertou os lábios.  

Virando-se para uma certa direção, seus olhos pousaram sobre uma certa estátua.  

Ela estava na escuridão, metade de seu corpo mascarado e abraçado por ela.  

Era uma visão arrepiante que faria qualquer um estremecer.  

E, no entanto…  

“Então estavam certos.”  

Evelyn murmurou para si mesma, fechando os olhos.  

‘…Aoife e Kiera realmente foram possuídas por alguém.’  

Quando abriu os olhos novamente, a estátua estava a apenas alguns centímetros dela, seu nariz a pouca distância de seu rosto enquanto lágrimas negras escorriam de seus olhos.  

Evelyn encarou a estátua sem muita emoção enquanto seus lábios se separavam.  

“Eu estive esperando.”