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    Inverter o céu…?  

    As palavras sussurraram em minha mente, ecoando continuamente enquanto eu encarava a menina diante de mim. Tentei entender o que ela dizia, desviando minha atenção dela e olhando para o quarto.  

    Então, um pensamento me ocorreu…  

    Voltei minha atenção para a janela. O céu escuro e nebuloso pairou acima, como uma pintura a tinta esfregada em uma tela, enquanto o sol branco e pálido lançava sua luz fria sobre tudo abaixo.  

    ‘…Será que eles querem que o céu volte ao normal?’  

    Mas por quê?  

    Se quisessem ver o sol, poderiam simplesmente sair. Por que quereriam ‘Inverter o Céu’?  

    ‘Será que não podem sair da Dimensão Espelhada?’  

    O pensamento cavou fundo em minha mente, e quanto mais eu pensava nisso, mais alto ele se tornava.  

    Mas ainda havia muitas perguntas.  

    …Dentre elas, havia uma que eu mais queria saber.  

    Olhei para a menina cega.  

    ‘Quem é ela…?’  

    Era apenas uma colecionadora, ou…  

    Lambi meus lábios.  

    “P-para…!”  

    Quebrando o silêncio, veio uma voz suave e fraca. Era do Rei, que parecia uma casca do que já foi.  

    Ele estava observando tudo o tempo todo.  

    …Em silêncio, viu seu povo morrer e se matar.  

    O espetáculo diante da janela só aumentou seu desespero. Seus olhos estavam injetados de sangue, e seu corpo inteiro estava pálido.  

    Naquele momento, lembrei de algo.  

    ‘Já vi esse olhar antes.’  

    Era um olhar que eu mesmo tive muitas vezes no passado.  

    O olhar de um homem quebrado.  

    …A criança havia quebrado completamente o outrora imponente Rei.  

    “O-o—”  

    “Como eu disse, ações têm consequências.”  

    Apesar de todo o horror lá fora, o tom da menina permaneceu indiferente, com uma frieza que gelou o ambiente. Com o rosto voltado para a janela, seu reflexo encarava diretamente a nós.  

    “Você pegou algo que nunca deveria ter tocado.”  

    “M-mas—”  

    “Sim, a quantidade não era muita, mas esse não é o ponto.”  

    A menina piscou, seus olhos vazios refletindo as centenas de pessoas lá fora, com suas cabeças apresentadas a ela.  

    Seu sangue escorria até o chão, formando lentamente um tapete vermelho.  

    Cada gota criava pequenas ondulações no véu de sangue.  

    “Aquele sangue que você pegou…”  

    Seu rosto se contorceu.  

    “…Era puro. Não estava diluído como o resto. Isso não é algo que se consegue facilmente.”  

    Pressionando suas mãozinhas contra a janela, a janela começou a tremer.  

    “Veja, não temos mais acesso ao sangue como antes. Cada gota é preciosa, e o fato de você tê-lo tirado de mim para dar à sua filha… Hoo.”  

    Os ombros da menina tremeram.  

    De repente, o quarto ficou insuportavelmente opressivo, enquanto a mandíbula da menina se apertava. Suas mãos se fecharam lentamente em punhos, e um silêncio arrepiante pairou no ar, como se o próprio ambiente estivesse segurando a respiração, esperando algo terrível acontecer.  

    Ignorei a confusão que ela estava causando.  

    Minha mente estava totalmente focada no que ela dissera.  

    ‘Não temos mais acesso ao sangue como antes…’  

    O que isso significa?  

    O que poderia—  

    “Hoo.”  

    Soltando um pequeno suspiro, a menina se acalmou, e minha atenção voltou para ela. Esforcei-me para ouvir cuidadosamente, sabendo que cada palavra poderia esclarecer coisas que eu queria saber.  

    …  

    Seus olhos mantinham a mesma vacuidade de antes.  

    Erguendo a cabeça, encarou o sol diretamente sem piscar. Enquanto o quarto ficava em silêncio, ela murmurou baixinho:  

    “Aposto que você está vendo tudo isso, não está?”  

    ‘…?’  

    Aproximei-me novamente.  

    Do que ela estava falando…?  

    “Você, que controla o passado, o presente e o futuro… Aposto que já viu o que está acontecendo.”  

    O mundo ao meu redor pareceu se esticar.  

    A única coisa em minha visão era a menina, que lentamente se virou, direcionando o rosto para mim.  

    Senti meu corpo inteiro congelar no lugar.  

    “Oracleus.”  

    O ar saiu de meus pulmões.  

    “Talvez eu esteja apenas falando sozinha, ou talvez não. Mas você não pode me culpar, certo? Afinal… você mesmo me disse que vê tudo.”  

    Toc—  

    Ela deu um passo em minha direção.  

    Foi silencioso, mas soou como uma explosão em minha mente.  

    Era tudo que eu conseguia ouvir.  

    Toc—  

    Ela deu mais um passo, se aproximando.  

    Fiquei parado, incapaz de desviar o olhar.  

    Se não fosse pelo fato de meu corpo real não estar aqui, estaria encharcado de suor.  

    Ela era tão pequena, e ainda assim… sua presença era aterrorizante.  

    Toc—  

    Apertei os lábios, incapaz de esconder minha expressão.  

    Ela agora estava a um metro de mim.  

    ‘Ela pode me ver…’  

    Mas como?  

    Isso é uma memória.  

    Como isso—  

    Toc!  

    Ela agora estava diante de mim.  

    Engoli em seco, sentindo cada centímetro de meu corpo paralisado.  

    Mal conseguia respirar, e cada canto de minha mente gritava.  

    E então…  

    Toc!  

    Ela deu mais um passo, passando direto por meu corpo.  

    …  

    …  

    …  

    Toc, toc.  

    Passando por mim, seus passos continuaram a ecoar suavemente pelo quarto. Virei a cabeça e a vi caminhar em direção à porta.  

    Todos os olhos pareciam focados nela.  

    No entanto, ninguém ousou mover um músculo. Ou melhor… eles não conseguiam se mover.  

    “Estou deixando você vivo apenas para que veja o resultado das ações que tomou.”  

    Chegando à porta, ela parou, dirigindo-se ao Rei. A porta se abriu sozinha, e ela saiu.  

    Olhei para suas costas, recuperando o fôlego.  

    Só quando ela estava longe é que senti que podia respirar novamente.  

    Mas também, quando ela começou a desaparecer, senti que precisava segui-la.  

    Havia mais para ver e ouvir.  

    O fato de o efeito da segunda folha não ter acabado era prova disso.  

    E assim, segui atrás dela.  

    Toc.  

    Ela caminhava em silêncio, seus olhos vazios indiferentes ao entorno.  

    Só quando saiu da mansão e foi saudada pelas cabeças decapitadas que parou.  

    …  

    Ela parecia impassível, saindo do palácio com o mesmo olhar vazio.  

    Respinga—  

    Uma ondulação se formou no fino véu de sangue sob seus pés.  

    “Uuu…”  

    “Uuuh.”  

    Gritos e gemidos de agonia a cercaram enquanto ela caminhava pelas ruas da cidade, observando o resultado do que acontecera. Cada som parecia arranhar seus ouvidos, misturando-se ao cheiro de sangue e fumaça no ar.  

    Seus olhos permaneceram indiferentes a tudo.  

    Por fim, parou na praça da cidade.  

    Estava vazia, exceto por algumas pessoas oferecendo suas cabeças, seus corpos voltados para o palácio.  

    A menina parou na borda da praça. Com um movimento deliberado, ergueu uma mão e a tocou levemente.  

    Krrr!  

    O chão tremeu, e o som de pedra raspando contra pedra ecoou pelo ar.  

    Lentamente, uma grande rocha flutuou diante dela.  

    Ela olhou para trás uma vez, antes de tocar a rocha.  

    A forma da estátua começou a mudar, suas feições se contorcendo enquanto um par de asas se desdobrava de suas costas.  

    Lentamente, o rosto de um anjo emergiu da pedra, sua expressão esculpida com uma tristeza tão profunda que parecia viva. As mãos estendidas da figura espelhavam o suplicar desesperado dos civis atrás dela, como se o anjo estivesse implorando por eles.  

    Fiquei em silêncio, observando tudo do começo ao fim.  

    Por fim, a estátua se formou.  

    ‘…É a mesma.’  

    Essa estátua… era o Anjo da Tristeza.  

    Ruído~  

    Acenando a mão, um espelho apareceu em sua mãozinha.  

    Refletido nele estava o rosto da menina, mas, olhando para o espelho, notei algo estranho.  

    Seu reflexo…  

    Era diferente de sua expressão real.  

    “Hmm, eu sei.”  

    Dentro do espelho, os olhos da criança estavam cheios de lágrimas.  

    “…É triste, mas você deve pagar pelos pecados de seu pai.”  

    Pressionando o dedo contra o espelho, a criança dentro dele gritou antes de ser puxada para fora e colocada na estátua.  

    Krrr!  

    Um som de raspagem ecoou enquanto a estátua tremia.  

    Durou alguns segundos antes de parar. Os olhos da menina ondularam enquanto olhava para a estátua.  

    “A partir de agora, o Império Rilgona começará a declinar. Quero que você observe sua queda, sabendo que foi culpa de seu pai.”  

    Pinga!  

    Um som de gotejamento ecoou no ar.  

    Logo seguido por outro.  

    Pinga…!  

    Quando a menina olhou para cima, viu lágrimas escorrendo pelo rosto da estátua.  

    A criança ergueu a mão e enxugou as lágrimas.  

    “…É injusto, não é? Cruel, talvez, mas já perdi minha humanidade. Não sinto pena de você, nem de ninguém.”  

    Retirando a mão, a criança se virou e foi embora.  

    Pinga!  

    As lágrimas continuaram a cair do rosto da estátua.  

    Mas desta vez, ficaram pretas. Uma cor escura que deixava um rastro.  

    Isso…  

    Apertei os lábios, observando tudo com o coração pesado.  

    ‘Então é isso…’  

    Eu…  

    “Você está aqui.”  

    A voz da menina me tirou dos pensamentos.  

    Quando olhei para cima, várias figuras apareceram atrás dela. Todas em silêncio, segurando suas palavras enquanto a encaravam.  

    …  

    Não, era mais como se não ousassem falar.  

    “Aurora.”  

    Quebrando o silêncio, a própria criança falou.  

    Uma figura que eu conhecia muito bem avançou.  

    Cabelos dourados, olhos dourados e uma presença que parecia personificar o próprio sol. Ele era um contraste gritante com o sol branco no céu.  

    “Sim…?”  

    A menina piscou lentamente.  

    “A Monarquia Rilgona provavelmente entrará em declínio após isso. O Rei também não revelará o que aconteceu.”  

    “Sim.”  

    “Absorva os remanescentes do Império.”  

    …  

    Atlas ficou quieto, sua expressão não escondendo a surpresa.  

    A menina permaneceu impassível.  

    “Cuide deles e leve-os para o mundo exterior quando estiver pronto. Construa aos poucos. Quando for a hora, vá para o mundo exterior e estabeleça uma base lá.”  

    “Entendido.”  

    “Já explorou as áreas lá fora?”  

    Com um gole audível, Atlas acenou com a cabeça.  

    “Sim…”  

    “Isso é bom.”  

    Os olhos da menina ondularam levemente.  

    Ela estava prestes a sair quando Atlas a parou.  

    “E sobre a organização… como devo chamá-la?”  

    “Chamar…?”  

    A menina parou, seu olhar ondulando novamente. Parecia um fenômeno estranho que ocorria quando ela sentia emoções.  

    Eu não tinha certeza.  

    Ela ergueu a cabeça e olhou para o orbe branco no céu.  

    Seus olhos ondularam mais uma vez, e então, ela murmurou:  

    “O que eu quero…?”  

    Virando a cabeça, olhou para Atlas, e um sorriso fino finalmente surgiu em seus lábios.  

    “Céu Invertido.”  

    Ela acenou.  

    “Chame de Céu Invertido.”

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