Índice de Capítulo

    Eu soltei um som frio ao ouvir as palavras da menina. Muitas coisas começaram a fazer sentido.  

    Do símbolo do trevo de quatro folhas à origem da estátua.  

    ‘…Então o Céu Invertido é uma organização formada pelos remanescentes da Monarquia Rilgona.’  

    Tudo começou a se encaixar quando lembrei de tudo que tinha visto.  

    Também aprendi algumas coisas novas.  

    Mas ao mesmo tempo, surgiram mais perguntas.  

    Como…  

    O trevo de quatro folhas, qual a relação com a tatuagem no meu braço? Havia alguma?  

    ‘Parece que preciso investigar mais a fundo a história deste lugar.’  

    Senti que estava perto de algo.  

    Não apenas isso…  

    Ao olhar para a menina que encarava o céu vazia, comecei a ter uma ideia de quem ela era.  

    ‘O Homem Sem Rosto. Sithrus.’  

    Só ele seria capaz de comandar alguém como Atlas.  

    Ele veio pessoalmente punir a Monarquia e possuiu o corpo da menina no processo.  

    Tudo isso para mandar uma mensagem…?  

    Virei e olhei novamente para a estátua.  

    Lágrimas negras escorriam de seu rosto enquanto ela encarava o vazio, imóvel. Foi então que Sithrus e os outros partiram.  

    Uma mudança começou a ocorrer no mundo.  

    Como se o tempo tivesse acelerado, o mundo se transformou. Casas foram abandonadas, as ruas esvaziaram, os prédios começaram a ruir. Aos poucos, a Monarquia caiu.  

    Casas ficaram vazias, portas entreabertas enquanto os habitantes partiam um a um. As ruas, antes cheias de vida, ficaram silenciosas, sem sinal de movimento.  

    Os edifícios começaram a decair, paredes rachando e desmoronando como se apodrecessem por dentro.  

    A Monarquia desmoronou.  

    Nesse período, quase nada permaneceu igual, exceto por algumas coisas.  

    O sol branco.  

    O céu cinzento, e…  

    O Anjo da Tristeza.  

    Fiquei em silêncio, observando tudo se desenrolar diante de meus olhos.  

    Não sabia o que dizer ou fazer. Só pude gravar a cena, sentindo o desespero, angústia, raiva e tristeza da alma dentro da estátua, assistindo tudo impotente.  

    A estátua ficou no mesmo lugar por séculos, até ser movida por quem conquistou a terra.  

    …Foi então que ela ganhou vida.  

    Sentindo a raiva e escuridão acumuladas, olhei para cima e a vi diante de mim, sua mão apertando meu pescoço com força.  

    Ela apertou o máximo que pôde, tentando quebrar meu pescoço.  

    Mas eu sabia que era impossível.  

    Afinal, isso era minha mente.  

    “É inútil.”  

    Encontrando minhas palavras, encarei a estátua. Seu pescoço se torcia, exibindo vários rostos, tentando invadir minha mente para me dominar.  

    O aperto no meu pescoço aumentou.  

    Não conseguia mais respirar.  

    …Ou melhor, ela tentou me fazer acreditar nisso.  

    …  

    Permaneci calmo, impassível.  

    Foi então que a estátua percebeu que era inútil.  

    Num piscar de olhos, suas mãos sumiram do meu pescoço, e ela desapareceu.  

    Só restou a escuridão da minha mente.  

    Foi quando abri os olhos.  

    …  

    O vestiário familiar surgiu diante de mim.  

    “Uff.”  

    Encostado na parede, olhei fixamente para o teto.  

    Fiquei em silêncio assim, só saindo do transe ao ouvir os gritos abafados da arena lá fora.  

    ‘Parece que a luta entre Leon e Amell está terminando.’  

    Levantei e me arrumei.  

    “Não devo perder isso.”  

    Passando pelas roupas espalhadas no chão, fui até a porta. Mas antes de sair, parei para olhar no espelho ao lado do armário de metal.  

    Olhei meu reflexo por alguns segundos, só desviando o olhar após ajustar a gola para esconder as marcas no pescoço.  

    “Uoooo!”  

    “Ahhh!”  

    Ao abrir a porta, os gritos da plateia me envolveram.  

    Deixei o som me envolver por alguns segundos antes de sair.  

    Clank!  

    ‘Leon ficará feliz com o que descobri.’  

    ***  

    A plateia estava em polvorosa.  

    Clank, clank—!  

    Um espetáculo se desenrolava. Faíscas voavam como fogos de artifício. Pequenas explosões acompanhavam cada golpe, enquanto os olhos de Leon ficavam injetados de sangue.  

    Clank!  

    Outro golpe poderoso ecoou, as faíscas brilhando mais forte.  

    …!  

    Leon recuou vários passos, respirando pesadamente.  

    “Haah… Haah…”  

    Seus ombros estavam curvados, seus olhos tremulantes. Enquanto isso, Amell, apesar de também cansado, levava vantagem.  

    “Uooo!”  

    Os gritos da plateia ecoavam pelo Coliseu enquanto os dois recuperavam o fôlego.  

    Tudo isso durou menos de um segundo. Logo, Leon inspirou fundo e atacou, seu corpo ficando borrado. Amell revidou.  

    Clank!  

    Amell abaixou o quadril e cortou horizontalmente. Leon recuou, evitando por pouco a ponta da espada, e então atacou verticalmente.  

    Tak!  

    Amell desviou a espada com um golpe rápido e avançou, cortando diagonalmente para cima.  

    …!  

    O rosto de Leon empalideceu quando um grande golpe apareceu em seu corpo.  

    Sangue escorreu por sua camisa enquanto ele chutava o chão para se afastar. Amell o perseguiu, sem dar chance de recuperação.  

    Clank, clank—  

    A plateia mal conseguia acompanhar, os olhos lutando para seguir as espadas cortando o ar em velocidades incríveis, mudando de direção a cada instante.  

    Não era só um duelo de espadas.  

    Era um jogo mental.  

    Quem cairia primeiro?  

    “…Que maestria!”  

    Karl não conteve o elogio, seus olhos brilhando de empolgação.  

    “Com cinco minutos de luta, ambos mostram sinais de cansaço. Mas Leon está em desvantagem. Amell sairá vitorioso? O que acha?”  

    Ele olhou para Johanna.  

    Diferente dele, ela não parecia empolgada.  

    Estava totalmente focada em analisar a situação.  

    “Leon está lutando segurando a respiração o tempo todo.”  

    “Uh?”  

    O rosto de Karl ficou rígido.  

    “Segurando a respiração? Por que ele—”  

    “Porque não tem escolha.”  

    Johanna respondeu, aproximando a transmissão para mostrar os momentos em que Leon pausava para respirar antes de atacar.  

    “Há apenas uma razão para isso: o domínio de Amell.”  

    …?  

    “Veja como Leon fica mais fraco cada vez que respira. Acha mesmo que é por falta de oxigênio?”  

    “Pode ser…”  

    “Não exatamente.”  

    Johanna balançou a cabeça.  

    “Seu domínio deveria deixá-lo mais forte, não mais fraco.”  

    “Ah.”  

    “Seja o que for o domínio de Amell, está impedindo Leon de respirar. Cada vez que ele inspira, fica mais fraco.”  

    …  

    Karl franziu os lábios.  

    Se era assim…  

    Olhou para Leon, lutando com dificuldade.  

    “…Receio que ele não tenha muito tempo antes de desmaiar.”  

    Clank!  

    Mais faíscas voaram enquanto Leon e Amell trocavam golpes.  

    Clank, clank—  

    O peito de Leon formigava enquanto segurava a respiração. Como Karl e Johanna disseram, ele não podia respirar. O ar o enfraquecia, e ele não tinha escolha.  

    O problema é que isso também prejudicava seu desempenho.  

    ‘Se não posso respirar, farei com que ele também não respire!’  

    Por isso, Leon atacou sem parar.  

    Seus músculos se contraíam, seus golpes fluíam em uma dança avassaladora que Amell mal conseguia conter.  

    Clank!  

    Uma faísca poderosa surgiu no ar quando Amell vacilou, sua guarda cedendo por um instante.  

    Os olhos de Leon se estreitaram.  

    ‘Agora…!’  

    Era sua chance.  

    Chutando o chão com um ‘estrondo’, ele avançou e cortou.  

    Swoosh!  

    Foi um movimento arriscado, mas ele não tinha escolha. O tempo estava se esgotando.  

    As estrelas em seus olhos cintilaram, sumindo uma a uma enquanto seu poder aumentava.  

    Clank! Clank!  

    Amell respondeu com movimentos elegantes, desviando e contra-atacando. Seus golpes eram mais refinados que os de Leon, que eram precisos e brutais.  

    “Kh…!”  

    Era uma luta intensa, um lado ganhando tempo, o outro se esforçando ao limite.  

    “Uehk!”  

    O rosto de Leon estava vermelho enquanto ele atacava.  

    ‘Mais…! Mais!’  

    Sua cabeça estava leve, sua visão embaçada.  

    Ele estava no limite.  

    …Precisava respirar.  

    Mas, olhando para Amell, que ainda resistia, ele cerrou os dentes e continuou. As estrelas em seus olhos sumiam, seu poder aumentando.  

    Clank! Clank—!  

    As faíscas brilhavam mais, seus músculos se destacando sob a roupa.  

    ‘Eu tenho que…’  

    Seu rosto estava pálido, seus olhos sem foco.  

    Ainda assim, continuou atacando.  

    Corta! Corta—  

    O ar assobiava com cada golpe, sua forma começando a desmoronar.  

    Amell vacilou novamente.  

    Sua expressão mudou, e Leon aproveitou.  

    Ele concentrou toda sua força e cortou para baixo.  

    “Aaahh!”  

    Leon gritou, perdendo o pouco ar que tinha.  

    CLANK!  

    A guarda de Amell rachou mais.  

    “Ukh!”  

    Leon sentiu seu corpo parar.  

    ‘Ar…!’  

    …Precisava respirar, mas sabia que perderia se o fizesse.  

    “Kh!”  

    Então, ele persistiu.  

    Corta! Corta!  

    Ele cortou, cortou e cortou.  

    Cada golpe forçava Amell a recuar. Ele tentou revidar, mas os ataques de Leon não davam espaço.  

    Leon era como uma máquina…  

    Repetia o mesmo movimento sem parar.  

    Tudo que via era o oponente que mal conseguia enxergar.  

    Clank!  

    Sentiu sua espada atingir algo, mas não sabia o quê. Segurando a respiração, continuou atacando.  

    Era ele ou seu oponente…  

    Swoosh— Swo…  

    Leon sentiu sua espada parar no meio do caminho.  

    Tentou forçá-la, usando as estrelas, mas seu corpo não respondia.  

    Foi quando ele percebeu.  

    ‘Ah.’  

    Não aguentava mais.  

    Sentindo suas pernas falharem, ele soltou a espada e caiu de joelhos.  

    “Haaa…”  

    Pela primeira vez em muito tempo, respirou fundo, enchendo os pulmões. O mundo ao redor parecia silencioso.  

    Sua visão ainda estava embaçada, ele mal conseguia pensar.  

    “O vencedor é…”  

    Mas, mesmo assim, ouviu as palavras do árbitro.  

    “Leon Ellert, do Império Nurs Ancifa!”

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