Capítulo 346: O que significa ser o melhor? [4]
Sobressair acima de todos os outros.
Isso era o que significava ser o melhor.
Caius era o melhor.
Ele sabia que era o melhor.
Ele…
Precisava ser o melhor.
Bep…! Beeep…!
O mundo sombrio se desfez, dando lugar ao mesmo vazio branco. Ele se infiltrou em cada canto, consumindo tudo em seu caminho.
…Parecia vazio.
Um som suave e incessante de ‘beep’ começou a ecoar pelo vazio.
“…”
Caius ficou em silêncio, olhando ao redor.
‘…Eu não quero te quebrar.’
As palavras de Julien ressoaram poderosamente em sua mente. Eram como sussurros, tentando quebrar sua compostura, mas ele permaneceu calmo.
Ele tinha confiança absoluta em si mesmo.
Isso era apenas um jogo mental.
Assim como o mundo branco e suave que o envolvia.
Bep…! Beeep…!
Os beeps continuaram, mas nenhuma imagem apareceu. Eles ecoaram alto na mente de Caius, fazendo com que suas sobrancelhas se franzissem.
‘Ele está hesitando…?’
Palma—
Caius bateu as mãos uma vez, e os beeps pararam.
Então, com um franzido profundo, ele gritou:
“Haa…!”
Mais uma vez, o mundo tremeu.
“Roooooar—!”
Um rugido atravessou o mundo enquanto a criatura de antes emergia atrás dele, sua figura distorcida e assustadora.
A figura de Julien reapareceu no extremo oposto, seu rosto marcado por lágrimas.
“Ha.”
Caius cerrou os dentes, sentindo uma dor poderosa invadir seu peito.
Era sufocante, tirando seu fôlego.
“Vá.”
Segurando a dor, ele empurrou a criatura atrás dele, que rugiu e correu em direção a Julien, que permanecia de costas retas.
“Roooar—!”
Com um rugido feroz, a criatura partiu em direção a Julien.
Sua velocidade era cegante, e sua sede de sangue era evidente. Os olhos amarelos de Caius refletiam a forma da criatura enquanto ela avançava em direção a Julien.
Caius piscou uma vez.
Por um breve momento, o mundo ao seu redor ficou vermelho.
Ele viu figuras demasiadamente familiares deitadas no chão, com seus corpos desmembrados.
Sua mãe… Sua irmã…
‘Lembre-se.’
Uma voz transmitiu em sua mente,
‘…Para ser o melhor, você precisa fazer sacrifícios. Livre-se dos fardos que o prendem, absorva a dor e transforme-a em seu poder.’
“H-hu.”
O peito de Caius tremeu.
Ele relembrou todas as sensações que sentiu naquela época. O medo, a raiva, a tristeza… Ele absorveu tudo.
Piscando os olhos, a criatura reapareceu em sua visão.
Ela saltou em direção a Julien, assim como havia saltado em direção a sua mãe e irmã.
Pinga…!
Ele também… começou a chorar.
Ondula~
“Rooooar—!”
Um rugido aterrorizante seguiu suas lágrimas enquanto uma ondulação se formava sob ele. Levantando a mão, a criatura se preparou para atacar Julien. Seus movimentos eram rápidos e implacáveis, e mesmo em tais circunstâncias, a expressão de Julien permaneceu a mesma.
Levantando levemente a cabeça para mostrar seu rosto pálido, os lábios de Julien tremeram.
Farfalha~
Um sobretudo surgiu do nada, cobrindo seu corpo. Ele ondulava suavemente sob o ataque da criatura.
Parado ali, uma criatura massiva começou a emergir ao seu lado.
“Isso…!”
Sua aparição abalou Caius, que de repente foi tomado por uma sensação esmagadora de pavor e medo.
Caius deu um passo para trás enquanto suas pupilas se contraíam.
‘Um Dragão de Pedra!’
Vira!
Suas pálpebras se abriram, revelando olhos amarelados. A sensação de pavor e terror que tomou conta do mundo branco se tornou ainda mais avassaladora, agarrando Caius pela garganta enquanto ele lutava para respirar.
Um a um, figuras encapuzadas surgiram ao redor de Julien, que vestia um capuz.
…Era como se um exército tivesse se levantado ao seu lado.
A mente de Caius gritava de medo. Ele precisava sair…! Precisava fugir! Aterrorizante! Como alguém poderia suportar tal situação!?
Mas, em meio ao medo, ele sentiu algo mais.
Pinga…!
“P-por quê?”
Caius tocou seu rosto, sentindo as quentes lágrimas escorrendo por suas bochechas.
“P-por que estou chorando…?”
Farfalha~
Com um leve farfalhar, os capuzes escorregaram das centenas de figuras, revelando rostos pálidos, sem vida e olhos fechados. Mortos… todos estavam mortos.
O que mais se destacava era a jovem que ficava no centro, onde Julien deveria estar.
Seus olhos estavam fechados, e seu rosto pálido era marcado por veias roxas finas, ramificando-se como uma teia delicada sob sua pele.
Ela estava no centro de tudo, seus lábios pálidos curvados em um sorriso fino.
De fora, ela parecia feliz. Quase alegre. E ainda assim…
Pinga! Pinga…!
Tudo o que Caius sentia era uma tristeza avassaladora, que apertava seu peito com força. Tornava impossível para ele respirar.
Por quê…!? Por quê!?
Caius cerrou os dentes, e seus olhos ficaram injetados de sangue.
Ele olhou para a criatura, que havia parado, e gritou em sua mente.
‘Ataque…!’
Clank!
O ataque da criatura desceu, mas foi facilmente desviado pela jovem, que ergueu a mão, formando um escudo roxo.
“Uukeh…!”
Caius sentiu sua mente latejar intensamente enquanto cambaleava para trás.
“….!”
Caius ergueu a cabeça para olhar para a jovem e o dragão. Mesmo agora, ela sorria, e ainda assim a dor que ele sentia era avassaladora.
Cambaleando para trás, algumas palavras entraram na mente de Caius.
‘As experiências de alguém alimentam nossas emoções. O que você vê na mente de outro é o que eles vivenciaram. Não se deixe dominar.’
Elas pertenciam a um de seus professores de Emotivos.
…Naquela época, Caius não havia prestado muita atenção às palavras, mas como um relógio, as palavras choveram em sua mente justamente quando ele foi colocado em tal situação.
Aperta.
‘Você está dizendo que ele vivenciou isso…?!’
Caius mordeu os lábios, sua expressão se contorcendo enquanto fechava os olhos e memórias que ele havia enterrado ressurgiam em sua mente.
Clank—!
Faíscas voaram no ar.
“Ahhhh!”
Um grito seguiu logo depois.
Pftt!
E sangue se misturou com a chuva.
Passo.
Um pé pisou em uma poça, formando suaves ondulações ao redor.
Olhando para baixo, Caius viu seu próprio reflexo na poça sob ele. Ele encarou seus traços, que pareciam desprovidos de qualquer propósito e vida.
Não, havia um propósito.
Era fraco. Mas certamente havia um propósito.
Pinga. Pinga.
A chuva continuou a cair do céu.
Mais forte do que nunca.
Marcando seus traços indiferentes estavam os filetes de sangue que escorriam por seu rosto, misturando-se suavemente com as gotas de chuva.
“Você fez bem.”
Uma voz suave ecoou no ar.
A voz era suave, quase como um sussurro.
E ainda assim, carregava uma força poderosa por trás.
“Mas…”
As poças ondularam.
“…Não foi o suficiente.”
A chuva caiu ainda mais forte. Quase a ponto de não se ouvir nada além da chuva.
Caius ficou diante do homem.
Ele agora era mais alto e maior do que ele.
E ainda assim…
“…..”
Caius permaneceu em silêncio.
Nenhuma palavra foi trocada entre os dois. Como se pudesse entender o que o homem de sobretudo implicava com seu olhar, ele baixou a cabeça.
Apenas para o homem de sobretudo se aproximar dele.
“Por quê?”
Uma palavra e uma pergunta.
“Por quê?”
Uma que ele escolheu repetir.
Finalmente, Caius abriu a boca.
“Eu sinto muito.”
“Por quê?”
Mas essa não era uma resposta boa o suficiente.
“…A chuva dificultou ouvir.”
“Por quê…?”
“Eu não consigo ver, e não consigo ouvir.”
“…”
“Eu vou fazer melhor.”
“…”
“Eu quero dizer isso.”
“Você quer?”
“Sim.”
“Você não é adequado para isso.”
“…”
“Desista. Você não tem o que é preciso. Pare. Você não é adequado para isso. Você quer ser o melhor Mago Emotivo? Então por que você desligou suas emoções?”
“…”
“Não vai dizer nada? Fale. Diga.”
“…”
“Diga.”
“….”
“Repita depois de mim: eu sou um merda sem talento e sem emoções. Eu me livrei das minhas emoções porque tenho medo da dor.”
Caius cerrou os dentes, seu corpo tremendo enquanto se via incapaz de desafiar as ordens.
“….”
“Diga i—”
“Eu sou um merda sem talento e sem emoções. Eu me livrei das minhas emoções porque tenho medo da dor.”
“….”
“Diga.”
“…Eu sou um merda sem talento e sem emoções. Eu me livrei das minhas emoções porque tenho medo da dor.”
“Por que hesitou? Diga de novo.”
“…”
Tapa—!
“Diga de novo.”
“…Eu sou um merda sem talento e sem emoções.”
Tapa—!
“Você pulou a última parte. Repita.”
“Eu sou um mer—”
Tapa—!
“…Eu sou um merda sem talento e sem emoções. Eu me livrei das minhas emoções porque tenho medo da dor.”
“Bom, agora diga de novo. Repetidamente. De novo e de novo.”
“Eu sou um merda sem talento e sem emoções. Eu me livrei das minhas emoções porque tenho medo da dor.”
“De novo.”
“Eu sou um merda sem talento e sem emoções. Eu me livrei das minhas emoções porque tenho medo da dor.”
“De novo.”
“Eu sou um merda sem talento e sem emoções. Eu me livrei das minhas emoções porque tenho medo da dor.”
“De novo.”
Pinga! Pinga…!
Abrindo os olhos, o mundo branco foi substituído por um mundo sombrio.
Uma figura ficou diante de Caius.
Com suas costas voltadas para ele, a mente de Caius estremeceu.
“Eu sou um mer—!”
Caius rapidamente cobriu a boca.
“H-hu.”
Seu corpo inteiro estremeceu enquanto encarava a figura solitária diante dele. Suas costas mal o cobriam, e ainda assim, parecia tão avassalador e aterrorizante que Caius não conseguia nem mesmo respirar.
No extremo oposto, Julien não estava se saindo melhor.
“….”
Olhando para a figura que ficava diante de Caius, Julien sentiu seu corpo inteiro congelar.
Sua mente gritava, e seu corpo ficava tenso.
“….”
Em silêncio, a figura estendeu a mão para a cintura, desembainhando uma espada enorme. Um brilho aterrorizante envolveu o mundo inteiro, quebrando a escuridão que vinha do céu, e a expressão de Julien se quebrou.
Sua respiração ficou mais áspera.
Seu rosto ficou branco.
Seus olhos tremeram.
Neste momento, ele estava dominado pelo medo.
A mente de Julien estremeceu.
Esmaga! Esmaga!
Um som familiar ecoou enquanto raízes começaram a aparecer sob ele. Elas ‘esmagavam’ e subiam do chão, revelando uma árvore aterrorizante.
‘Socorro…!’
‘Me tirem daqui’
Gritos desesperados ecoaram pelo ar enquanto a árvore revelava sua forma completa. Rostos contorcidos em agonia apareciam em sua casca, suas mãos estendidas, moldadas na própria madeira. Eles choravam e imploravam por ajuda, suas vozes cheias de tristeza sem esperança.
Sua aparência colidiu diretamente com a figura encapuzada diante de Caius.
Seus robes ondulavam, assim como os robes dos cadáveres diante do dragão.
Estrondo! Estrondo!
Com um estrondo, o dragão também se levantou, seu corpo tremendo e se contorcendo enquanto seus olhos amarelos se fixavam na figura de sobretudo.
“Roooooar—”
Com um rugido aterrorizante, o Dragão revelou seu poder.
Estrondo!
O mundo tremeu, ambos os lados em extremos opostos.
Caius ficou com o rosto pálido, ficando mais pálido a cada segundo, enquanto Julien estava igual.
Como se suas mentes estivessem sincronizadas, ambos levantaram a cabeça ao mesmo tempo, travando os olhos um no outro.
Isso pareceu marcar o início de tudo.
“Roooar!”
Com um rugido aterrorizante, o dragão se elevou no ar, suas asas pesadas pressionando o chão enquanto começava a flutuar lentamente. Ao mesmo tempo, os mortos começaram a se mover e raízes começaram a avançar em direção a Caius.
Era uma visão avassaladora que abalou a mente de Caius por um breve momento, mas enquanto encarava a figura que ficava diante dele, Caius engoliu em seco e se acalmou.
Ondula—
Uma ondulação se formou sob a pessoa de sobretudo enquanto ele dava um passo à frente.
Segurando a espada, um brilho fraco se manifestou sobre seu corpo enquanto seu clarão engolia o mundo inteiro.
“V-vá…”
Caius murmurou baixinho, seus olhos ficando injetados de sangue.
Olhando para o exército que se aproximava, Caius fixou sua atenção na figura de sobretudo diante dele.
“O que significa ser o melhor?”
Caius murmurou, repetindo as mesmas palavras que o homem uma vez lhe dissera.
“…Estar acima dos outros.”
Seu coração apertado, a raiva profundamente condensada dentro de seu corpo transmitiu-se para o homem de sobretudo enquanto o brilho de sua espada se intensificava, sua presença dobrando.
Esmaga! Esmaga!
Um som de algo esmagando logo alcançou os ouvidos de Caius.
Levantando a cabeça, seu coração apertou enquanto raízes aterrorizantes se estendiam para ele, cercando-o por todos os lados.
Pavor encheu seu coração.
Mas o mais aterrorizante de tudo era…
“Roooar—”
O Dragão de Pedra que pairou atrás, seu rugido abalando os próprios alicerces do mundo em que os dois estavam.
Era uma visão aterrorizante, e ainda assim…
Ondula~
Caius não desesperou.
Com olhos injetados de sangue, ele encarou o homem de sobretudo diante dele.
O exército se aproximou, e o dragão também.
Estavam agora a um braço de distância.
O coração de Caius estremeceu enquanto olhava para o homem de sobretudo diante dele, suas pupilas tremendo loucamente enquanto murmurava:
“Faça.”
O homem finalmente se moveu.
SHIIING!
Uma luz brilhou.
O mundo ficou em silêncio.
Tudo congelou no lugar.
O homem de sobretudo congelou, o dragão congelou, a árvore congelou e os mortos congelaram.
Tudo parou com o único pulso de luz que brilhou da espada do homem.
Caius e Julien igualmente congelaram, seus olhos travados um no outro enquanto ficavam imóveis no lugar.
No silêncio, nenhum dos dois se moveu.
Até que…
“Ukeh…!”
O rosto de Julien empalideceu e sangue jorrou de sua boca.
Respinga—
Sua figura cambaleou alguns passos para trás antes de cair completamente, seu rosto ficando ainda mais pálido que antes.
Cra Crack—
Pouco depois, rachaduras começaram a se formar nas figuras que protegiam Julien.
Seja o dragão, a árvore e os mortos.
Todos racharam até…
Colide!
Todos se despedaçaram em nada.
Caius encarou a cena por um breve momento, seus olhos piscando lentamente antes de ficarem injetados de sangue.
“Hehe.”
Seus ombros começaram a tremer.
“Hehehehe.”
Sangue vazou de seus lábios enquanto o tremor se tornava mais proeminente, e logo ele não conseguiu mais segurar, explodindo em risadas.
“Hahahahahahaha.”
Sua risada ecoou alto dentro do mundo branco, ressoando por todo o espaço enquanto ele se via incapaz de esconder sua alegria.
“Eu… consegui! Hahah.”
Caius riu, sua expressão distorcida.
“Eu consegui, porra…! Eu sou o melhor. Você disse isso, seu bastardo!? E-eu… eu sou o—”
Beeep. Beeep—
Caius sentiu sua voz ser arrancada de sua boca.
‘O quê?’
Caius lentamente virou a cabeça para a distância, onde uma figura estava deitada no chão com o braço cobrindo os olhos.
“E-eu não queria fazer isso…”
Lágrimas escorriam do canto de seus olhos enquanto seu corpo começava a murchar.
Caius deu um passo para trás, suas costas subitamente encharcadas de suor.
‘O que está acontecendo…? Não, não…’
Beeep. Beeep. Beeep—
“…Eu te disse que não queria.”
Fios brotaram do chão, penetrando em seu corpo enquanto suas roupas mudavam, e seu corpo se elevava enquanto uma cama estranhamente moldada aparecia debaixo dele.
‘O quê…?’
Os olhos de Caius tremeram, incapazes de entender o que estava acontecendo.
No entanto, se havia uma coisa que ele entendia, era o fato de que algo dentro de seu corpo estava lentamente começando a desaparecer.
‘Não, não…’
Beeep. Beeep. Beeep. Beeep—
“Eu…”
Julien abaixou o braço dos olhos, revelando um rosto murcho, encovado, com olhos vazios e apenas alguns fios de cabelo grudados em seu couro cabeludo.
Piscando lentamente, Julien olhou para Caius.
“…q-quero vencer.”
Caius balançou a cabeça.
Mas era tarde demais.
“Eu sinto muito.”
Beeeeeeeeep!
A mente de Caius escureceu, e a partida terminou.
O Vencedor: Julien Dacre Evenus.
Essa partida marcou a ascensão de Julien para as finais.
Mas, ao mesmo tempo, marcou o dia em que Caius perdeu suas emoções.
Ele…
Falhou em se tornar o melhor.
O que significa ser o melhor?
…Vencer.
——Julien Dacre Evenus.
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