Capítulo 354: Um Ângulo Diferente [1]
“…É você, certo?”
A garotinha não parecia tão certa. Certo, seus olhos… ainda estavam vazios. Ela não podia me ver, nem estava realmente “presente”.
Parecia mais uma vontade remanescente.
Como Pedrinha1
“Eu sabia que você acabaria vindo. Você sempre vem.”
A voz da garotinha era baixa, e tive que me esforçar para ouvir. Ela pulou da cama e caminhou em minha direção.
Tak, Tak—
Seus pequenos passos ecoavam no ritmo dos meus batimentos cardíacos.
Ba… Baque! Ba… Baque!
Fiquei parado, sem dizer uma única palavra. Apenas a encarei enquanto ela se aproximava.
Sua presença era sufocante, mas mantive a cabeça fria.
Duas patas pressionaram meu ombro enquanto uma pequena cabeça espiou por trás de mim. Os olhos de Pedrinha estavam fixos na pequena criança, seu corpo tensionando em preparação para algo. Mas levantei a mão e parei qualquer coisa que ele estivesse tentando fazer.
‘Ainda não.’
Tak—
A garotinha finalmente parou.
Sua altura mal alcançava a área abaixo do meu peito, forçando-me a olhar para baixo para encontrar seus olhos, que pareciam querer me sugar a qualquer momento.
“…”
Ficou em silêncio enquanto me olhava.
Nenhum de nós falou.
Pelo menos, nos primeiros segundos, antes que a garotinha sorrisse novamente.
“…Você realmente não sabe onde Noel está? Ou isso é mais um dos seus esquemas?”
Ba… Baque! Ba… Baque!
Meu coração quase saltou do peito.
‘E-ela disse isso…’
Noel…? Ela sabia o nome… Isso basicamente confirmava tudo. Mortum… Ele não era outro senão Noel!
Minha mente tremeu.
Tive que conter o impulso de avançar e forçar a garotinha a falar.
Mas sabia que não era uma boa ideia.
Embora ela fosse apenas uma vontade remanescente — uma que não era tão poderosa quanto Pedrinha devido ao tempo que ficou pairando dentro da estátua —, eu sabia que a pessoa que deixara a vontade ainda estava viva.
Não queria ser rastreado como resultado de minhas ações.
Por isso, só pude ficar parado.
…Já estava tendo problemas suficientes com a espada.
“Que pergunta boba da minha parte. Você obviamente ainda está procurando por ele. Sua obsessão estranha por ele ainda não desapareceu depois de tanto tempo, não é?”
Havia indícios de diversão em sua voz enquanto falava.
Estremeci levemente, prendendo a respiração enquanto gravava cada palavra em minha mente.
“Eu tenho a resposta, se quiser ouvir.”
“…!”
Meu braço se contraiu.
Mais uma vez, me senti quase compelido a avançar e exigir respostas. Minha racionalidade conseguiu prevalecer no último momento.
“Ainda não está caindo na isca?”
A garotinha pareceu um pouco decepcionada enquanto abaixava a cabeça e a acariciava.
“Venha, pressione sua mão aqui e use esses poderes seus. Você será capaz de encontrar tudo o que quiser. Onde Noel está. Onde eu estou. O que tenho feito nesses últimos milênios. E todas as respostas que deseja.”
“…”
Meu braço se contraiu.
Por um breve momento, quase senti o impulso de fazer isso.
As palavras da garotinha pressionavam minha cabeça como sussurros suaves de tentação, sutilmente me empurrando a fazer exatamente o que ela queria.
Mas resisti.
Segurando meu peito, sentindo o suor escorrer pelo meu rosto, mantive minhas mãos afastadas.
‘É uma armadilha… É uma armadilha… É uma armadilha…’
“Ainda assim, nada?”
A garotinha parecia decepcionada.
Eu a encarei com a boca fechada. Meu coração estava pressionado na garganta enquanto abaixava a cabeça para olhar meu braço direito, que de repente brilhava.
Uma dor terrível varreu meu corpo enquanto eu me contorcia no lugar.
A dor era algo que quase me forçou a gritar, mas por pura determinação, consegui me conter.
“Kh…”
Ocasionalmente, algum som escapou, e isso me preocupou, mas a preocupação desapareceu logo depois que vi a quarta e última folha se iluminando.
‘Isso…’
Fiquei olhando para a quarta folha, incapaz de conter minha surpresa e esquecendo momentaneamente da minha situação.
‘Por que agora, de todos os momentos…?’
Os gatilhos por trás de cada folha eram misteriosos. Elas simplesmente apareciam em momentos aleatórios, do nada.
Senti-me perdido enquanto olhava para a quarta folha.
‘O que ela faz…? O que acontecerá se eu pressioná-la?’
Perguntas começaram a inundar minha mente, mas duraram apenas um breve momento antes que eu fosse repentinamente trazido de volta à realidade sufocante em que estava, meu coração saltando quando a garotinha deu mais um passo à frente, sua mão alcançando meu braço e agarrando-o com força.
“…!”
Seu toque era frio, e meu corpo inteiro estremeceu.
Tentei me soltar, mas antes mesmo de ter a chance, sua pequena mão pressionou uma das folhas.
“…”
Nada aconteceu quando ela fez isso.
Suspirei aliviado ao ver, mas foi apenas momentâneo, pois ela agarrou minha outra mão e a levou até a folha.
“…!”
Suor frio escorreu pelas minhas costas enquanto eu tentava resistir. Tentei fechar o punho e puxar, mas tudo foi inútil.
Até tentei fazer Pedrinha agir, mas nada.
Com um aceno de sua mão, Pedrinha ficou inútil.
“Posso ser fraca, mas ainda sou mais forte do que você pode imaginar. Agora então…”
Sua voz, tingida de diversão, alcançou meus ouvidos.
“Deixe-me ver suas habilidades.”
Eu estava indefeso, e logo…
Meu dedo pressionou meu braço.
Fui subitamente consumido pela escuridão.
Baque!
Quando a luz voltou aos meus olhos, meus seios nasais começaram a entupir, e meus olhos lacrimejaram com a fumaça espessa no ar.
‘Onde estou…?’
Fechei os olhos, piscando e me ajustando ao ambiente.
Estrondo! Estrondo!
De repente, o chão sob meus pés tremeu, fazendo-me perder o equilíbrio enquanto eu cambaleava alguns passos para trás, segurando o lado de um prédio destruído para me apoiar.
“Mas o que…?!”
Erguendo o olhar, meu coração congelou ao perceber que estava em um lugar que conhecia muito bem — as ruínas da Monarquia Rilgona, exatamente como eu tinha visto na visão.
Tak.
Um passo ecoou silenciosamente ao meu lado enquanto meu corpo inteiro congelava no lugar.
“Isso é…?”
Com um olhar perdido, a garotinha olhou ao redor. Embora fosse cega, quase parecia que ela podia ver tudo.
“Esse é o futuro que você viu?”
“…”
Abri a boca, mas antes que as palavras pudessem sair, consegui avistar uma figura pelo canto do olho.
“…!”
Suas costas estavam voltadas para mim, obscurecendo seus traços, mas ao estudar seus cabelos negros e sua estrutura familiar e forte, logo percebi.
Era nenhum outro senão eu.
‘Estou revendo a primeira visão…?’
Não, não exatamente…
Senti a textura áspera do chão sob meus pés e peguei um punhado. Deixando os grãos caírem pelos vãos dos meus dedos, sabia que isso não era uma visão.
Então…?
BOOOM—!
Um prédio distante se desintegrou, e de dentro de suas ruínas emergiu uma figura em particular.
“Eu… finalmente te encontrei!”
Sua voz gritou enquanto o céu ficava escarlate.
“…”
Ela parecia mais velha, mas não havia como confundir — Aoife. Seus cabelos escarlates ondulavam ao vento, e seus olhos brilhavam como pequenos sóis, lançando sua luz sobre a terra abaixo e sobre mim, parado em sua sombra.
“É só isso que você tem a dizer para mim?”
Lá estava novamente…
Aquele olhar dela que eu tinha visto na primeira visão.
Seu olhar continha algo que eu não conseguia entender. Mas, diferente da última vez, estava um pouco mais claro. Não era luto nem saudade. Era mais parecido com…
‘Decepção.’
Mas por quê…?
Queria me aproximar, mas a pressão me segurou.
Por outro lado, a garotinha assistia a tudo em silêncio, sua expressão difícil de ler. Diferente de mim, ela parecia completamente imune à situação.
Cracka! Cracka!
Assim como na visão, relâmpagos começaram a crepitar sobre a terra. Prédios se estilhaçaram enquanto as nuvens se separavam, revelando Evelyn em toda sua glória. Seus traços eram tão hipnotizantes quanto eu lembrava, enquanto ela ficava no céu, suas roupas ondulando sob seu poder imenso.
“Então… você finalmente chegou também.”
‘Hm?’
Não tinha percebido antes, mas agora que prestava atenção, minha voz… não era tão fria quanto eu lembrava.
Quando ‘eu’ me dirigia a Evelyn, parecia haver algo a mais na voz.
Mas o que exatamente?
Não me demorei nisso por muito tempo, pois o mundo mudou.
De vermelho para roxo… para preto.
Uma cúpula negra logo apareceu, envolvendo a maior parte do entorno. Senti minhas roupas e cabelos ondularem ao ver, e perdi a noção do que estava acontecendo dentro da cúpula. A pressão também — era aterrorizante.
Que tipo de situação era essa…?
Farfalha!
Um som repentino de folhas me tirou dos meus pensamentos quando outra figura apareceu do lado de fora da cúpula.
‘Ele está aqui…’
Ele estava exatamente como na visão, seus olhos cinza profundos brilhando ameaçadoramente contra o céu escuro e o entorno cinza. Erguendo-se alto com seus cabelos chicoteando ao vento, seus traços pareciam mais desgastados e maduros do que o rosto ao qual eu estava acostumado.
Ele ainda era Leon, mas havia algo diferente nele…
‘…Seu comportamento é diferente de quando o vi na visão.’
Ele parecia um pouco menos decidido.
Mas, novamente, nunca tive a chance de testemunhar essa parte da primeira visão.
Em sua mão, havia uma espada fina e longa. Ela brilhava sob o sol branco que pairava no céu—
“Uh?”
Pisquei os olhos, esfregando-os algumas vezes enquanto olhava para a espada novamente.
“Isso…”
Meu coração parou abruptamente, e um choque frio e paralisante agarrou meu corpo inteiro. Meus olhos estavam travados em Leon, parado do lado de fora da cúpula negra, e lutei para entender a realidade apresentada diante de mim.
“E-espera, mas…?”
Lutei para compreender a visão diante de mim enquanto me arrastava um pouco para trás.
“Não consigo fazer isso.”
Clank! Clank.
“…!”
Perdi minha voz.
Cobrindo minha boca em descrença, assisti enquanto o aperto de Leon em sua espada falhava e a arma caía no chão. Seus braços começaram a tremer incontrolavelmente, e enquanto ele olhava para a cúpula escura diante dele, seus olhos tremiam de dor.
“Eu… não consigo fazer isso.”
Ele repetiu, pressionando os lábios.
“Eu…”
‘Impossível…’
Gradualmente, levantei-me do meu lugar.
Olhei para a cena à distância em descrença.
‘…O que é isso? É uma realidade diferente? Um futuro diferente? O futuro poderia ter mudado por causa das ações que tomei? Será que—’
Uma mão pressionou meu ombro, e eu parei.
Virando a cabeça lentamente, um par de olhos encontrou meu olhar.
“…Ah.”
Minha boca abriu e fechou repetidamente, encarando o par de olhos cor de avelã tão familiar.
‘C-como? Ele não estava apenas…?’
Alternava meu olhar entre a cúpula negra e a figura diante de mim, como se fosse um ‘boneco’ quebrado.
‘O que… O quê?’
Por que havia outro eu?
- Fiquei tanto tempo sem pegar esse texto e comecei a refletir o que era Pedrinha no original…[↩]
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