Índice de Capítulo

    ‘Morra! Morra! Morra! Morra! Morra!’

    A primeira página do livro estava preenchida com uma única palavra, e apenas uma única palavra.

    Ela se repetia várias vezes.

    “…”

    Eu quase conseguia sentir a raiva e ódio que Julien havia derramado naquela palavra. A página estava marcada com amassados visíveis, deixados pela força de sua caneta enquanto ele pressionava com raiva.

    Mais do que raiva…

    Eu também conseguia sentir sua obsessão.

    ‘Por que não podia ser eu? De que adianta ter talento em magia de maldição?’

    ‘Eu sou o primogênito desta casa! Por que não sou um espadachim!? Eu deveria ser melhor que todos! E ainda assim…!? Tudo que tenho são talentos inúteis!’

    ‘Por quê!?’

    ‘Por quê!’

    “…”

    A caligrafia estava toda bagunçada.

    Havia algumas palavras que eu tive dificuldade para entender completamente, dado o quão mal escritas estavam. Mas a intenção por trás de cada palavra era clara.

    Era a maneira de Julien expressar seu ódio e ressentimento.

    ‘Leon… Por que aquele bastardo órfão barato ficou com o talento que deveria ser meu? Por que ele, de todas as pessoas? Ele deveria ser MEU servo! Meu! Ele deveria estar abaixo de mim!! Aquele bastardo tirou isso de mim! Meu talento…!’

    “Que absurdo…”

    Quanto mais eu lia as anotações, mais ridículas elas pareciam.

    …A obsessão de Julien com esgrima era absurda, assim como seu ódio por Leon. Certamente ele entendia que Leon não tinha nada a ver com isso, certo?

    ‘Eu… Eu mereço isso! Devo tomar aquele líquido estranho que encontrei? Talvez então eu possa…’

    “Hmm?”

    Parei na última frase que li.

    “Tomar aquele líquido estranho?”

    Do que ele estava falando…?

    Por algum motivo, senti que essa parte era extremamente importante.

    “Que líquido seria esse? Ele conseguiu algum tipo de aprimorador? Mas não acho que exista um aprimorador que aumente o talento em esgrima…”

    Enquanto franzia a testa, decidi ler mais.

    As coisas estavam começando a ficar estranhas.

    Vira—

    Virei para a próxima página.

    “Hm?”

    O que vi me surpreendeu.

    Diferente das anteriores, esta estava muito mais organizada e fácil de ler. A caligrafia ainda era um pouco difícil de entender completamente, mas já não era um desafio.

    ‘…Haha, pode funcionar! Aquele líquido..! Pode funcionar!’

    “Como esperado, algo bom aconteceu.”

    Isso refletia no papel.

    ‘Eu… injetei pequenas quantidades do líquido na comida do meu irmão. Queria testar se fazia alguma coisa. Haha, aquele idiota não percebeu nada. Não é veneno, claro. Linus também parece ter ficado um pouco mais forte. Vou tomar o líquido! Posso me tornar um espadachim!’

    Parei aí, franzindo a testa enquanto relia o conteúdo.

    “Ele usou o próprio irmão como cobaia…?”

    Que tipo de… pessoa desprezível era esse cara?

    Ele não se importava nem um pouco com o irmão? Sua obsessão com esgrima o levou ao ponto de estar disposto a sacrificar o próprio irmão?

    “Que bastardo.”

    Não era à toa que Leon e Evelyn ficavam tão reticentes sempre que falavam sobre o Julien anterior.

    Ele realmente era único.

    Mas ainda assim, me pergunto o que exatamente era aquele líquido.

    Vira—

    Virei para a próxima página.

    ‘Não! Não! Não!’

    …Mais uma vez, as palavras estavam todas bagunçadas.

    Os amassados voltaram, e as únicas palavras que eu conseguia ver eram os ‘não’ espalhados por toda parte.

    Notei lágrimas em várias partes do diário, com algumas páginas rasgadas e esfarrapadas, como se tivessem sido violentamente arrancadas em um acesso de frustração.

    Embora não esclarecesse o motivo de sua raiva, eu podia mais ou menos adivinhar.

    “O líquido… Acho que não funcionou.”

    Não deu a ele o talento que ele tanto desejava.

    Vira—

    ‘Por que não funcionou…? Deveria ter funcionado! Por que não funcionou!? Isso não faz sentido!!!’

    ‘…Minha força aumentou um pouco, mas foi tudo o que fez! Eu pensei… pensei que esta era finalmente minha chance.’

    ‘Droga!!’

    ‘Que se dane!’

    As palavras estavam riscadas várias vezes e eu conseguia ver pequenos vestígios da página seguinte devido aos pequenos furos que cobriam a página.

    Vira—

    Virei para a próxima página.

    No momento em que fiz isso, parei enquanto encarava as primeiras palavras que apareciam.

    ‘Eu vou matá-lo.’

    “Matá-lo…?”

    De quem ele estava falando?

    Prendi a respiração e olhei para baixo.

    ‘Vou matar aquele bastardo. Ele… continua sendo elogiado por um talento que deveria ser meu. Até aquela vadia Evelyn está grudada nele como cola. Ela gosta de espadachins, não é..? É por isso que está grudada naquele bastardo. Vou matá-lo, porra. Vamos ver se ela ainda consegue se apegar a ele.’

    “Hmmm.”

    Parei nessa parte.

    “Então ele tentou matar Leon…”

    Obviamente, pelo fato de Leon ainda estar vivo, seu ataque falhou.

    Ainda assim, ele parece ter tentado. O fato de ter tentado me deixou um pouco preocupado, mas como Leon estava bem, não importava muito.

    Ou pelo menos, foi o que pensei inicialmente.

    Vira—

    ‘Hahahaha! Consegui…! Matei ele!’

    Virando para a próxima página, meu rosto congelou enquanto meus olhos se arregalavam.

    ‘Leon está morto! Cortei sua cabeça! Aquele bastardo não pôde fazer nada! Hahaha. Agora que ele se foi, ninguém vai ficar no meu caminho. Hahaha!’

    “O q-quê…?”

    Lendo as palavras novamente para ter certeza de que não estava vendo errado, meu rosto congelou ao perceber que não estava.

    Ele sonhou com tudo isso…?

    Como poderia ser? Leon ainda estava vivo e bem.

    Não havia como ele tê-lo matado. Era impossível. Simplesmente impossível.

    ‘Estou tão feliz hahaha. Consigo lembrar de tudo claramente. De como usei a mesma espada que ele tinha talento para cortar sua cabeça. Foi bom..! Incrível pra caralho. Joguei um pouco de saliva de Kondlike nele para que a besta na floresta se livrasse de todas as evidências. Ele deve ter sumido completamente deste mundo agora. Nem um vestígio.’

    ‘Estou tão feliz…! Hahah! Mal posso esperar para ver a cara daquela vadia quando souber da morte daquele bastardo!’

    ‘Hahahah.’

    Havia tanta alegria embutida na escrita que quase me fez sentir como se ele realmente tivesse matado Leon.

    Mas isso não era possível.

    Eu sabia, pois Leon estava comigo.

    E como esperado…

    Vira—

    ‘Como isso é possível!?’

    ‘Ele ainda está vivo? Como isso é possível? Não faz sentido?’

    ‘Por quê? Por quê? Por quê? Por quê…?!’

    ‘Como? Como? Impossível! Isso não faz sentido?!’

    ‘Isso é impossível!’

    ‘…Eu tinha certeza de que o matei. Como ele ainda está vivo? Eu imaginei coisas? Mas eu senti. Tinha certeza.’

    A página estava novamente riscada, com vários furos aparecendo, mostrando a página seguinte.

    Eu conseguia sentir o desespero e a descrença na escrita de Julien.

    Vira—

    ‘Ele está agindo como se nada tivesse acontecido?! O que está acontecendo? Estou ficando louco? Devo tentar matá-lo de novo?’

    ‘Não, talvez não seja uma boa ideia. Parece que estou sendo observado. O que faço? Devo esperar?’

    ‘Aquele bastardo…!’

    O diário terminava aí.

    Não porque ele parou de escrever, mas porque todo o resto estava rasgado. Era claro que, em sua raiva, ele arrancou todas as páginas restantes do diário.

    “…Que pena.”

    Eu queria saber mais sobre o Julien anterior.

    No entanto, uma coisa era certa: ele era insano. Sua inveja e insegurança em relação a Leon o transformaram em um indivíduo perturbado, consumido pela obsessão e completamente desprovido de moralidade.

    Ir ao ponto de testar um líquido estranho no próprio irmão…

    “Em primeiro lugar, o que o fez ficar tão inseguro?”

    Ele já teria se juntado ao Céu Invertido naquela época? Poderia ser essa a razão de sua mudança?… Também explicaria como ele conseguiu aquele ‘líquido’ estranho.

    Só eles seriam capazes de fornecer um recurso como aquele.

    Mas não era como se eu soubesse exatamente o que era aquele líquido. Não havia uma descrição real dele, nem eu sabia o que ele fazia.

    Tudo o que eu sabia era que aumentou um pouco sua força.

    “Hmm.”

    As perguntas em minha mente só aumentaram depois de ler o diário.

    Embora eu tivesse entendido melhor o processo de pensamento do Julien anterior, isso também me trouxe mais dúvidas.

    Como por exemplo…

    Ele realmente matou Leon?

    Se sim, como ele ainda estava vivo?

    “Ele reviveu…?”

    Mas como?

    “…”

    Uma ilusão de algum tipo?

    Sim, isso faria sentido. Não havia como Leon ser mais fraco que Julien. Talvez ele tenha usado uma técnica de ilusão para fingir que havia sido morto por Leon.

    Havia algumas relíquias que permitiam fazer isso.

    Mas Leon teria acesso a elas?

    “Improvável.”

    Então o que…?

    Reviver?

    “Poderia ser que ele tivesse consumido o sangue de Mortum?”

    Não, isso não fazia muito sentido. Pela forma como Julien descreveu, ele matou Leon sem nenhuma testemunha ver a cena. Leon não poderia reviver sozinho, certo?

    …E onde diabos ele conseguiria o sangue de Mortum?

    Não só isso, como ele seria capaz de se curar se estivesse morto?

    ‘Não faz sentido.’

    Até onde eu sabia, o sangue era extremamente difícil de conseguir, e aqueles que conseguissem e fossem descobertos seriam perseguidos pelos colecionadores.

    Eu tinha alguns frascos no meu anel, mas não podia realmente tirá-los, pois tinha medo de ser descoberto.

    Na verdade, eu tinha medo que Atlas já soubesse e estivesse apenas fingindo não ver.

    …Só ele sabia a verdade.

    “Então…?”

    Tok—

    Meus pensamentos foram subitamente interrompidos por uma batida suave na porta, tirando-me de minhas reflexões.

    Quando virei a cabeça para a porta, ela rangiu ao abrir, revelando um par de olhos cinzentos. Leon parou, seu olhar se fixando em mim — ou mais precisamente, no livro em minha mão.

    “Aquele…”

    Seus olhos se arregalaram levemente, parecendo surpreso.

    Não me incomodei em esconder e o coloquei sobre a mesa.

    “Sim.”

    Acenei calmamente, folheando as páginas do livro mais uma vez.

    “É o diário de Julien.”

    Antes que Leon pudesse dizer qualquer outra coisa, pressionei meu dedo sobre algumas palavras escritas em uma das páginas.

    ‘Hahahaha! Consegui…! Matei ele!’

    Então comecei a ler as linhas em voz alta.

    ‘Estou tão feliz hahaha. Consigo lembrar de tudo claramente. De como usei a mesma espada que ele tinha talento para cortar sua cabeça. Foi bom..!’

    Certifiquei-me de ler devagar para que Leon ouvisse tudo.

    Ele ficou paralisado enquanto eu lia cada palavra. Observei sua reação, e meu coração afundou ao fazer isso.

    Tirando meus olhos do diário, olhei para ele.

    “…Isso realmente aconteceu, não foi?”

    Engoli seco, forçando as palavras a saírem de minha boca.

    “Você, você morreu antes.”

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