Capítulo 377: A razão para sua mudança [3]
‘Antes de você tomar o corpo de Julien? Nós nos conhecemos antes?’
As palavras que Evelyn me disse uma vez ecoaram alto em minha mente.
Eu não entendi na época, nem quis entender. Achei que era alguma coisa sem sentido dela.
Mas… de repente, comecei a compreender.
Não poderia ser…
“O que você fez com ele!?”
A voz de Evelyn me tirou do transe.
Sua voz era um pouco diferente da atual, mas não muito, enquanto ela corria em direção a Leon, que estava caído no chão, desmaiado.
A expressão de Evelyn era de pânico enquanto ela pressionava os dedos contra o pescoço dele para verificar se ainda estava vivo. Só quando sentiu algo que soltou um suspiro de alívio.
“…Ele ainda está respirando.”
Não foi há alguns instantes…
Mas mantive a boca fechada enquanto encarava Evelyn.
Eu realmente não sabia o que fazer no momento. Sair, talvez…? Não, como ainda estava aqui, significava que o poder da terceira folha ainda estava em efeito.
Ainda havia algo que eu precisava fazer.
O sangue definitivamente funcionou, mas poderia haver complicações.
“Isso…!”
Os olhos de Evelyn se arregalaram ao notar o urso que eu matei. Uma ideia se formou em sua mente enquanto ela alternava o olhar entre o urso, Leon e eu.
Seus olhos tremeram por um breve instante antes de sua cabeça se virar abruptamente em minha direção.
“O que você fez com ele? Usou ele como escudo para poder escapar?”
Evelyn se aproximou de mim, suas sobrancelhas se franzindo de raiva.
Ela parecia já ter entrado na adolescência, mas ainda era pequena demais para eu levar a sério.
“…Por que você está fazendo isso? Odeia tanto a ideia de que ele é melhor que você com a espada? Que mal ele já te fez? Tudo que ele fez foi cumprir seu trabalho, enquanto tudo que você fez foi tratá-lo como lixo.”
O tom de Evelyn era baixo, e eu podia sentir o nojo e ódio em sua voz.
Tudo que pude fazer foi ficar em silêncio enquanto absorvia suas palavras.
‘Devo apenas agir como o Julien que eu vi…?’
Isso evitaria mal-entendidos.
Estava prestes a fazer isso quando…
“Ukh…!”
Um certo gemido me tirou dos pensamentos. Leon, que estava caído no chão o tempo todo, finalmente mostrou sinais de despertar.
“Leon!”
Evelyn finalmente desviou a atenção de mim e correu até ele.
Aos poucos, os olhos de Leon se abriram, revelando seus habituais olhos cinzentos.
“O… o que está acontecendo?”
Sua voz estava grogue, e seu rosto se contorceu de dor.
“Uekh…!”
De repente, seu rosto empalideceu significativamente, assustando Evelyn.
‘Provavelmente está relembrando a dor de quando teve a cabeça cortada.’
Qualquer um ficaria traumatizado com algo assim.
Talvez, a razão pela qual eu ainda estava aqui era para garantir que ele não sofresse efeitos duradouros.
“Leon, ei Leon! Você está bem? Leon…!”
Evelyn segurou Leon pelos ombros e o sacudiu. Ela claramente estava preocupada, mas estava fazendo mais mal do que bem.
Pressionei minha mão em seu ombro.
“Pare.”
“O que…!?”
O rosto de Evelyn congelou quando a toquei, mas não liguei e a empurrei para longe antes de me abaixar para encontrar o olhar de Leon.
Seus olhos atordoados se clarearam no momento em que meu rosto entrou em seu campo de visão, e, pouco depois, suas pupilas se contraíram enquanto ele tentava recuar apressadamente.
“Pare.”
Mas não o deixei, mantendo minha mão pressionada em seu ombro.
“Fique.”
“A-ah, você…!?”
Pude ver o terror e medo em seu olhar enquanto ele agarrava o pescoço.
‘…Isso é ruim.’
Sua respiração estava ofegante, e todo seu corpo tremia. Ele claramente estava extremamente assustado comigo, e eu temia que isso tivesse impactos duradouros.
“O que você está fazendo!? Solte-o!”
Evelyn notou o comportamento estranho de Leon e tentou me puxar, mas como poderia?
A diferença em nossa força era grande demais.
“Haa…! Haa…! Haaa!”
A respiração de Leon ficava cada vez mais ofegante, e eu percebi que ele estava perto de um ataque de pânico.
Estava perdendo o controle da situação.
“Solte!”
Minha cabeça latejava.
‘Como devo lidar com isso…?’
Fiquei perdido no início, mas apenas por um breve momento.
Fechando os olhos, uma imagem apareceu em minha mente, e quando os abri novamente, encarei os olhos de Leon enquanto minha voz se sobrepunha.
“Acalme-se.”
“…”
“…”
Instantaneamente, tanto Leon quanto Evelyn pararam de falar. Suas expressões se suavizaram enquanto o medo e a raiva que sentiam eram suprimidos pela alegria que consegui trazer com minha Magia Emotiva.
‘É, acho que isso funciona.’
Suspirei aliviado ao ver isso.
Isso me deu alguns segundos a mais para pensar na situação.
Baque!
A primeira coisa que fiz foi dar um leve tapinha na cabeça de Evelyn, deixando-a inconsciente.
Ela já viu demais.
‘…O Leon atual é jovem demais para lidar com um trauma assim. Ele provavelmente sofreria se o deixasse assim.’
Embora eu o tivesse acalmado, isso estava longe de ser suficiente.
Apenas aliviara os sintomas.
Se o deixasse assim, temia que algo ruim pudesse acontecer. Ele era jovem demais para lidar com uma situação como essa.
…E como eu o revivi, sabia que também era responsável por ajudá-lo a voltar ao normal.
Se não fosse o caso, os efeitos da terceira folha já teriam desaparecido.
‘Mas como exatamente vou ajudá-lo…?’
Precisava sobrescrever seu trauma com uma nova memória.
Combinando com minha Magia Emotiva, sabia que poderia ajudá-lo.
Mas como exatamente sobrescrever aquela memória?
“Umm.”
Pensei intensamente por um bom tempo antes de voltar minha atenção para o anel em meu dedo.
Talvez…
***
A dor veio rápido.
Cortou direto pelo seu pescoço.
Ele lembrava de ver o mundo girar, o chão manchado de vermelho enquanto sua consciência começava a embaçar.
Tudo aconteceu rápido, mas Leon entendeu o que ocorrera naquela época.
Ele…
Ele morrera.
…E Julien o matara, de todas as pessoas.
Como pôde?
Tudo que Leon sentia era ressentimento.
Como Julien pôde fazer isso com ele? Ele fora tão bom com ele. Fizera tudo que lhe pedira e treinara duro para retribuir sua bondade.
E ainda assim…
Leon queria gritar, mas não conseguia.
A escuridão tomou sua visão, e sua vida terminou.
Ou assim pensou.
Ao abrir os olhos novamente, Leon viu um par de olhos avelã encarando-o. Eram os mesmos olhos que lhe arrancaram a cabeça, e ele imediatamente entrou em pânico.
‘Não, me deixe em paz!?’
Gritou em sua mente, sua respiração ficando mais ofegante e sua mente em branco.
“A-ah, você…!?”
Leon segurou o pescoço, com medo de que rolasse a qualquer segundo.
Não aconteceu, mas a cena anterior parecia tão vívida que parecia real.
Sentiu-se preso, perdido na situação enquanto lágrimas começavam a se formar e seu corpo inteiro tremia.
‘Não, não… De novo não…!’
Queria gritar, mas as palavras se recusavam a sair.
Leon estava prestes a surtar.
“Acalme-se.”
…Até que uma certa voz alcançou seus ouvidos.
Leon subitamente sentiu sua mente ficar entorpecida. Seus pensamentos pausaram, e o medo que sentia foi empurrado para longe.
Sentiu algo surgir em seu peito, mas não entendia o que era.
Estava tentando sobrescrever sua dor e medo.
‘O que está acontecendo…?’
O mundo à sua frente parecia embaçado.
Leon não entendia o que ocorria.
Tudo que sentia era essa emoção forçada crescendo em seu peito. Ele a reprimia a todo custo.
‘Vá embora…!’
E justo quando achava que estava indo bem, uma certa voz ecoou ao seu lado.
Era familiar e parecia calorosa.
“Por que esqueletos não lutam entre si?”
Uh…?
Leon piscou os olhos, seus pensamentos se desviando da situação para a pergunta.
Era tão aleatória que ele momentaneamente baixou a guarda.
Por quê? Por que eles lutariam entre si?
“Eles não têm estômago para isso.”
“…?”
A sensação em seu peito subitamente cresceu.
“O que é laranja e soa como um papagaio?”
A voz ecoou novamente.
Leon pausou. Laranja e soa como um papagaio…? Existe algo assim?
Sem perceber, ele começou a se interessar por isso enquanto uma sensação estranha surgia em seu peito.
“Uma cenoura1.”
“…!?”
Leon segurou o peito, a sensação fervendo ainda mais.
Ele subitamente esqueceu o que acontecera antes.
Sua mente estava cheia de outros pensamentos, como…
‘Socorro…! Pare com isso!’
“Por que ovos não contam piadas?”
Não, pare com isso…
Leon sentia seu corpo tremer agora. A sensação dentro dele estava começando a transbordar, e sua mente começou a clarear.
As memórias anteriores começaram a ficar embaçadas.
“Eles se quebrariam de rir.”
“Ah!”
Leon apertou sua camisa, seu corpo inteiro tremendo.
“O que é marrom e pegajoso?”
“Não, pare…”
Leon mordeu os lábios.
Estava à beira de quebrar.
Isso tinha que parar.
Ele não podia—
“Um graveto.”
“Pfttt…!”
Um som estranho escapou dos lábios de Leon enquanto a sensação explodia em seu peito.
“Kahk!”
Apesar de suas tentativas de parar, não conseguiu. Simplesmente transbordou enquanto seu corpo tremia.
“Kahahkah…!”
Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto ele se agachava.
“Um… graveto? Khuek…!”
Ele riu.
…Leon subitamente sentiu suas preocupações desaparecerem por um breve momento.
E ele se agarrou a essa sensação.
Precisava se livrar de todos os sentimentos reprimidos, e o fez em forma de risada. Não sabia o que estava acontecendo, mas subitamente se sentiu liberado.
Neste exato momento, as memórias do que acontecera ressurgiram, mas ele não sentia mais tanto medo.
…Ele ainda estava vivo, e isso era o que importava.
“Keuk!”
Baque.
Sua risada foi interrompida por um certo som.
Ao se virar, seus olhos pousaram em um livro que aparecera atrás dele. Piscando algumas vezes, ele leu a capa:
“Piadas engraçadas que farão você rir o dia todo.”
***
Absorvido pelo livro, não notei a mudança sutil ao meu redor até ser tarde demais. O mundo pareceu ondular, me tirando dos pensamentos.
Assustado, deixei o livro cair, meu coração acelerado enquanto tentava entender o que acontecera.
Quando percebi, Leon apareceu diante de mim mais uma vez.
Desta vez…
Era o Leon que eu conhecia.
‘Voltei…?’
Pisquei para ter certeza. Mas vendo Leon de costas, perdido em seus pensamentos, sabia que havia voltado.
Senti alívio ao fechar os olhos e respirar fundo.
‘…Consegui?’
O Leon daquela época…
Parecia destruído.
Perdido.
…Temia que ele pudesse desmoronar devido ao trauma.
Hesitante, virei para ver o Leon atual, me preparando para o pior. Mas, para meu alívio, ele permanecia o mesmo, firme como sempre. Um suspiro quieto escapou, a tensão em meu peito diminuindo.
Ele apenas encarava o vazio à frente, com um olhar perdido.
Nada mudara…
‘Obrigado, Deus.’
Suspirei aliviado enquanto finalmente soltava o ombro de Leon.
Então, enquanto Leon ainda estava distraído, abri a boca.
“Ei, Leon…”
O corpo de Leon tremeu por um instante, sua cabeça virando em minha direção.
“Por que ostras não doam para caridade?”
Ele congelou no meio do caminho, estremecendo subitamente.
Sua cabeça balançou repetidamente, mas era tarde demais.
‘Sinto muito, mas isso precisa ser feito.’
“Não, não—”
“Porque elas são egoístas.”
“Pfttt—!”
- A piada em inglês é tipo: Yk what’s orange and sounds like a parrot? carrot[↩]
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