Capítulo 403: Encontro das Sete Igrejas [1]

“Você é afiliado à igreja de Oracleus?”  

Percebi meu erro quase imediatamente. Não tinha certeza do que estava pensando, mas as palavras simplesmente saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar direito.  

“….É isso então? Certo, vou começar—”  

“Na verdade, não é o caso.”  

“Hum?”  

O professor levantou o olhar para mim.  

“Não é o caso?”  

“Sim.”  

Acenei levemente enquanto fazia uma expressão preocupada.  

“…Essa é a igreja que minha família venera. Na realidade, sigo outro deus.”  

“Oh!”  

Uma expressão de compreensão surgiu no rosto do professor.  

“Entendo. Não precisa se preocupar. Isso acontece bastante.”  

“Sim, peço desculpas.”  

“Tudo bem, tudo bem.”  

O professor riscou o que havia escrito para mim e pressionou a caneta no clipboard.  

“Qual é o deus que você segue, então?”  

“….Sithrus.”  

“Sithrus? Faz sentido.”  

Rindo, o professor escreveu a informação relevante no papel e então me dispensou.  

“Você receberá um convite nos próximos dias. Pode ir agora. Tenha um bom dia.”  

“Ok.”  

Não fiquei mais tempo e saí logo em seguida. Leon me alcançou pouco depois, olhando para mim com a testa franzida.  

“Qual deus você escolheu?”  

“Sithrus.”  

“….”  

Os passos de Leon pararam. Percebendo a mudança sutil em seu comportamento, virei para olhá-lo.  

“O que foi?”  

“….”  

Leon ainda não respondeu.  

Ele franziu a testa com uma expressão preocupada antes de balançar a cabeça.  

“Na verdade, está tudo bem.”  

“….?”  

“A família Evenus é afiliada a Mortum.”  

Mortum…?  

Embora eu suspeitasse… ainda foi uma surpresa. Não havia muitas pistas que sugerissem isso.  

“A família tem seguido Mortum por muito tempo. Para você mudar de deus repentinamente, parecerá suspeito. No entanto, não é estranho que alguns membros da família troquem de deus. Só é raro.”  

“Você não acha que isso vai me causar problemas, certo?”  

“Hmm.”  

Leon pensou por um momento e então balançou a cabeça.  

“Por enquanto não. Você só precisa ter cuidado.”  

“….Entendo.”  

Acenei levemente.  

Se dependesse de mim, escolheria Oracleus sem pensar duas vezes. Queria entender mais sobre essas igrejas e seus seguidores.  

Já sabia que a razão pela qual eles veneravam os deuses e sabiam de sua existência era por causa do sangue.  

….Nesse caso, eles tinham mais do sangue? E o que aconteceria quando alguém consumisse o sangue?  

No caso de Mortum, eles se curavam novamente.  

Mas e no caso de Oracleus?  

‘….Ainda tenho um pouco do sangue que coletei do Cálice. Talvez eu possa experimentar mais tarde.’  

Linus, o irmão mais novo de Julien, já havia recebido o sangue antes.  

No entanto, até onde eu sabia, ele só teve um pequeno aumento de força. O mesmo valia para Julien.  

Mas…  

‘Talvez haja mais do que eu sei.’  

Em particular, lembrei de uma cena específica que testemunhei durante a terceira folha. Foi durante o momento em que Julien detonou os explosivos. No instante em que ele fez isso e fugiu, lembro distintamente de ver seu corpo ser coberto por uma estranha película preta.  

Não havia conseguido pensar muito nisso devido à situação em que me encontrei, mas pensando agora, era estranho…  

Por que eu não tinha uma habilidade assim?  

Não parecia magia de maldição. Parecia mais como uma…  

Habilidade inata.  

‘É possível que o Julien anterior tivesse uma habilidade inata diferente da minha…?’  

O pensamento pressionou meu peito.  

No entanto, rapidamente o afastei ao perceber as costas de Leon se afastando mais de mim.  

“Ei, espera. Por que está com tanta pressa?”  

“Hm? Porque estamos atrasados.”  

“Para…?”  

“Análise de Progresso.”  

“Oh, merda.”  

De repente, fechei os olhos e gemi.  

*  

Todo ano, os cadetes eram testados duas vezes para medir sua taxa de progresso. Se um cadete não alcançasse a ‘estatística’ esperada, seria retido por um ano ou até expulso.  

Era um teste que eu já havia feito duas vezes antes e não estava exatamente ansioso, considerando como foram às vezes anteriores.  

….Mesmo assim, era obrigatório, então não tinha escolha a não ser participar.  

Salão Karlson.  

“Todos, juntem-se.”  

Não havia mudanças no professor responsável pela Análise.  

Ainda era o Professor Kelson.  

‘…Ele também está aqui.’  

O professor assistente que me causou muitos problemas no ano anterior. A visão dele não despertou muitas emoções em mim, mas ver como ele não conseguia me olhar nos olhos foi um pouco satisfatório.  

Em pouco mais de um ano, eu havia me tornado mais forte que ele.  

Eu também me sentiria envergonhado se estivesse no lugar dele.  

“A maioria de vocês já sabe como esses testes funcionam. Medimos seu progresso para ver sua taxa de evolução nos próximos anos. Também podemos determinar quais são suas áreas mais fracas e assim por diante. Em geral, esses são os testes que seus professores usam para guiá-los no caminho certo.”  

O discurso continuou por pouco mais de cinco minutos enquanto ela explicava a situação.  

Isso era principalmente para os novos alunos que não sabiam como o sistema funcionava.  

“Como de costume, vamos dividi-los em grupos de três. Os grupos será o mesmo do ano anterior, mas com novas adições.”  

Nomes começaram a ser chamados.  

“Ravenscroft Luxon, Ellert Leon, Megrail Aoife…”  

Junto com os nomes, ela apontava para um certo professor assistente.  

“Evenus Julien.”  

Não precisei ser avisado para onde ir, pois já me direcionei ao professor assistente familiar.  

Ele continuou a evitar meu olhar enquanto eu caminhava até ele. Não dificultei as coisas para ele e simplesmente fiquei em silêncio enquanto o grupo começava a se formar.  

Foi quando eu ajustava minha mentalidade para a Análise de Progresso que uma certa figura caminhou em nossa direção.  

Sua presença não era nem opressiva, nem discreta.  

Andando com passos firmes, ele se dirigiu ao grupo em silêncio, seus olhos completamente imóveis.  

Ele nem sequer olhou para mim uma vez enquanto se juntava ao grupo.  

Olhando para ele, franzi a testa.  

‘Tem algo estranho nele. Ele parece uma pessoa completamente diferente…’  

Ele costumava ser o centro das atenções.  

…Ele prosperava sendo o centro das atenções. Também era alguém que me desafiava abertamente, com um sorriso calmo em toda interação que tivemos.  

E, no entanto, ele estava completamente diferente agora.  

Ele não falava muito.  

Sempre tinha a mesma expressão.  

…E parecia uma pessoa completamente diferente.  

‘Certamente não é porque perdeu para mim, certo?’  

Até Leon não foi tão afetado. No dia seguinte, ele já parecia recuperado.  

Tive que lembrá-lo várias vezes para deixá-lo deprimido.  

….No caso de Caius, não precisei lembrá-lo de nada.  

‘Que tipo de…’  

“Preste atenção, vamos começar agora.”  

A voz do professor assistente me tirou dos meus pensamentos. Ele caminhou até a primeira área de teste, onde três orbes apareceram.  

“Esta é a Avaliação de Ressonância de Mana.”  

Sua voz era baixa e rouca.  

“Tudo que você precisa fazer é colocar a mão sobre o orbe e canalizar sua mana dentro dele. Assim, poderemos avaliar sua pureza de mana, controle e intensidade. Primeiro…”  

O professor assistente virou a cabeça em minha direção.  

“….Julien.”  

***  

“Sua pontuação final é 5.67. Parabéns.”  

Amell abriu os olhos e relaxou a mandíbula. Quando as algemas se soltaram de seus pulsos, ele se levantou da cadeira.  

Suas pernas tremeram um pouco, mas no geral ele estava bem.  

‘….Essa deve ser uma boa pontuação.’  

Ele acabara de fazer o teste mental e atualmente era o primeiro colocado em seu grupo. O mais próximo dele tinha uma pontuação de 4.02, um nível inteiro abaixo.  

Amell estava bastante acostumado com a dor.  

Ele vinha treinando incessantemente desde criança.  

…Ele não poupou esforços para se tornar tão forte quanto era agora. Sua força mental era um de seus maiores aspectos.  

Principalmente porque seu ‘Conceito’ dependia muito disso.  

‘Me pergunto quanto ele vai tirar.’  

O olhar de Amell se voltou para Leon, que estava não muito longe dele.  

Leon franziu a testa enquanto olhava para a máquina usada para examinar as pontuações mentais. Pensando que talvez ele estivesse com medo da dor, Amell se aproximou e tentou sorrir.  

“Não é tão ruim. Tenho certeza que você já fez o teste antes. A dor é só momentânea.”  

“…Hm?”  

Quando Leon virou a cabeça, piscou os olhos algumas vezes.  

Então, percebendo o que Amell havia dito, Leon balançou a cabeça.  

“Não, eu sei disso. Só estava pensando em outra coisa.”  

“Um jeito de superar sua pontuação anterior?”  

“…Não.”  

Leon balançou a cabeça.  

Apertando os lábios, ele olhou para o lado. Em direção a outro grupo.  

“Só estou pensando em um jeito de evitá-lo depois que ele pegar sua pontuação.”  

“Ele…?”  

“Sim.”  

Leon riu amargamente.  

“A primeira vez que ele fez o teste, sua pontuação foi 5.04.”  

“…?”  

“A segunda vez que ele fez o teste, sua pontuação foi 8.23.”  

“….!?”  

Espera, o qu—  

“Esta é a terceira vez…”  

Leon segurou a cabeça, seu rosto se contorcendo.  

“…Aquele monstro. Ele vai me infernizar.”  

***  

Bremmer.  

A influência das Sete Igrejas era vasta. Não só tinham influência dentro do Império Nurs Ancifa, mas em todos os quatro principais Impérios e além.  

Igrejas enormes, construídas em devoção a seus deuses, se erguiam por toda a cidade.  

Cada igreja tinha um número considerável de devotos, com algumas igrejas sendo maiores que outras.  

Entre as sete igrejas, a Igreja de Oracleus era bastante popular. No entanto, em termos de poder e devotos, eram de longe os mais fracos.  

Atualmente, dentro da Catedral em Bremmer.  

“Está quase na hora.”  

Uma luz fina iluminou um homem vestido de branco enquanto ele ficava diante de um pequeno pódio.  

A igreja estava em silêncio enquanto sua voz ecoava suavemente.  

…A igreja estava completamente vazia, com apenas um homem além do homem de branco presente no recinto.  

Vestido com robes brancos adornados com bordados dourados intrincados, ele era o atual Cardeal da igreja.  

Cardeal Ambrose.  

“Os preparativos para o encontro foram feitos.”  

O Cardeal falou, sua voz baixa enquanto se dirigia respeitosamente ao homem de branco.  

“Eu, junto com nossos apóstolos, partiremos nos próximos dias.”  

“Mhmm.”  

O homem de branco respondeu com um aceno leve, seu olhar fixo no vitral acima dele. Em particular, seus olhos estavam presos no olho fino que o encarava.  

…O olho do Vidente.  

“O programa seguirá o mesmo que fornecemos em ocasiões anteriores, com os apóstolos palestran—”  

“Eu também irei.”  

“….!”  

O rosto do Cardeal mudou abruptamente quando o homem de branco o interrompeu. Os olhos do Cardeal se arregalaram enquanto ele tentava abrir a boca.  

No entanto, foi rapidamente interrompido antes que pudesse falar.  

“Isso não é negociável. Por favor, prepare uma carruagem para mim também. Participarei do Encontro deste ano.”  

“Mas—”  

“Não fale mais.”  

Embora suave, a voz do homem ecoou por toda a igreja, quebrando a voz do Cardeal enquanto seu rosto empalidecia.  

Dando alguns passos para trás, ele levantou a cabeça antes de abaixá-la respeitosamente.  

“Entendido.”  

Ele saiu logo em seguida.  

“….”  

O silêncio que se seguiu após sua ausência foi quebrado pelo único som de uma página sendo virada.  

Vira—  

Um livro apareceu diante do homem de branco.  

Era um livro antigo.  

…Um que parecia ter sido passado por séculos.  

O homem de branco parou em uma certa página.  

Lá, uma ilustração aparecia. Retratava um jovem com cabelos negros grossos, olhos cor de mel profundos e intensos, e traços que se destacavam à primeira vista. Era um rosto muito diferente da versão moderna retratada do ‘seu’ rosto.  

Abaixo da ilustração havia algumas palavras.  

[O segundo rosto de Oracleus — Retratado pelo Ancião de Eryndor.  

—Os Anciões que afirmam ter encontrado o próprio deus.]