Capítulo 411: Reencontro [2]  

“…”  

O rosto de Evelyn passou por uma série de emoções. Seus olhos primeiro se arregalaram de choque, seu corpo tremendo enquanto ela instintivamente dava um passo para trás. Mas logo, a surpresa aguda se suavizou, lentamente dando lugar a uma aceitação silenciosa.  

Eu podia dizer pela forma como sua expressão voltou ao normal que ela já havia aceitado o fato de que eu não era mais o Julien que ela conhecia.  

Foi por isso que sua voz saiu bastante calma:  

“Deixa eu adivinhar, ele está tentando retomar o controle? Ou causando algum tipo de problema?”  

“…”  

Eu não respondi.  

Não sabia como responder.  

No entanto, meu silêncio foi suficiente para ela.  

“Você quer minha ajuda para contê-lo? Impedir que ele volte?”  

“…Você consegue fazer isso?”  

“Hmm.”  

As sobrancelhas de Evelyn se franziram enquanto ela mergulhava em pensamentos profundos. Ela provavelmente estava considerando se me ajudaria ou não.  

Eu sabia que ela podia fazer isso.  

Já a tinha visto fazer antes. Até certo ponto…  

O que realmente importava era se ela estava disposta a me ajudar — agora um estranho para ela — a selar o Julien que ela conhecia.  

Essa era a razão pela qual eu estava hesitante em pedir a ela.  

Nossa relação não era muito profunda. Por que ela me ajudaria a prejudicar alguém que conhecia muito melhor do que eu? E por quem ela já teve afeto?  

…Mas que escolha eu tinha?  

Não tinha outra opção a não ser pedir a ela, já que era a única que poderia me ajudar.  

“Tá bom.”  

Mas, ao contrário do que eu esperava, ela concordou em me ajudar.  

Fiquei um pouco surpreso com sua resposta, e como se entendesse minha confusão, ela continuou a explicar.  

“Não entenda mal. Não estou te ajudando porque confio em você. Estou te ajudando porque confio no Leon. Ele parece confiar bastante em você. Por isso vou te ajudar. E… ainda sinto que há algo estranho com você.”  

Evelyn mordeu os lábios enquanto murmurava: ‘Só não sei como explicar. Parece que já te vi antes…’  

“…”  

Permaneci em silêncio a partir daquele ponto.  

Eu sabia exatamente a que ela estava se referindo.  

‘…Estou surpreso que ela seja tão perceptiva.’  

Parecia que ela ainda se lembrava claramente dos incidentes anteriores, quando eu usei a terceira folha. Eu tinha certeza de que meu disfarce era perfeito, mas parece que minha atuação não foi tão boa assim.  

Além disso, ela era bem jovem naquela época.  

Pensar que ela ainda se lembrava de todos os detalhes…  

‘Preciso ter mais cuidado.’  

Independentemente disso, o que importava para mim era o fato de que ela estava disposta a me ajudar.  

“Estenda sua mão.”  

Segui as instruções de Evelyn e estendi minha mão. Ela a segurou e prendeu o olhar no meu.  

“Deixa eu deixar claro desde já: eu não sou uma Clériga. Meu conhecimento é limitado, então, dependendo da situação, talvez eu nem consiga ajudar. Na verdade, até há a chance de eu piorar as coisas. Só estou te avisando agora para que você esteja ciente. Tudo bem para você?”  

“Sim, eu sei.”  

Esse era um dos riscos que eu havia considerado ao entrar em contato com ela.  

Se não fosse pelo que aconteceu antes, eu teria hesitado em chamá-la. No entanto, parecia que eu realmente não tinha escolha.  

Essa era minha única saída da situação.  

“Tudo bem, então.”  

Evelyn deu de ombros, pressionando minha mão contra a dela.  

“Depois não diga que eu não avisei.”  

Seus olhos brilharam enquanto pequenos arcos de relâmpago dançavam ao redor deles. Seus cabelos se agitaram como se uma ventania tivesse surgido, enviando uma corrente elétrica percorrendo meu corpo.  

Meu corpo inteiro se contorceu com o choque, e minha mente logo ficou escura.  

Tak—  

Quando recuperei a consciência, estava cercado por escuridão.  

Ela envolvia cada parte do meu corpo enquanto eu olhava ao redor.  

‘Não há nada.’  

…Não era muito diferente do mundo dentro do Anjo da Tristeza. E quando virei a cabeça, Evelyn apareceu ao meu lado.  

Sua expressão estava um pouco pálida.  

“Você está—”  

“Estou bem.”  

Evelyn me interrompeu, levantando a mão sutilmente e fixando os olhos em uma certa direção enquanto sua expressão ficava tensa.  

“Consigo sentir. Ele não está longe daqui.”  

Evelyn se moveu sozinha, dando um passo em direção à escuridão.  

“…”  

Olhei para suas costas antes de segui-la.  

Tak, tak—  

Dentro da escuridão, o som de nossos passos ecoava silenciosamente enquanto caminhávamos em silêncio, nenhum de nós dizendo uma palavra. Evelyn parecia hipnotizada por algo, movendo-se em transe. Não sabia por quanto tempo caminhamos, mas logo uma luz fraca apareceu à distância.  

Era fraca, mas dentro da escuridão que nos cercava, parecia cegante.  

“Ele está lá.”  

Os passos de Evelyn desaceleraram por alguns segundos antes de se apressarem novamente.  

Eu também acelerei e a segui por trás.  

À medida que nos aproximávamos da luz, sua fonte começou a tomar forma. Não demorou muito para que uma imagem clara surgisse diante de nós, e ambos paramos ao mesmo tempo.  

“Ah.”  

“Isso…”  

Um espelho quebrado.  

O que aparecia diante de nós era um espelho cheio de incontáveis rachaduras.  

Ele ficava dentro da escuridão, apontado diretamente para nós, revelando nosso reflexo.  

Pelo menos, era assim que parecia inicialmente. Logo depois, um sorriso se espalhou pelo meu reflexo enquanto ele levantava um braço, envolvendo o reflexo de Evelyn.  

“Você veio.”  

Uma voz fria reverberou pela escuridão.  

Quando o olhar do meu reflexo se voltou para o de Evelyn, o sorriso lentamente desapareceu do meu reflexo.  

“…Faz tempo, Evelyn. Você não esqueceu de mim, né?”  

“Hee.”  

Instintivamente, Evelyn deu um passo para trás enquanto seu rosto ficava pálido.  

Sua reação fez meu reflexo sorrir enquanto ele soltava o reflexo de Evelyn e calmamente avançava.  

Evelyn deu mais um passo para trás.  

Estrondo!

Ele bateu o punho no espelho, fazendo Evelyn se encolher.  

“Me tira daqui, sua vadia!”  

Ele gritou, seu rosto se contorcendo e seu grito rompendo o silêncio.  

“Me tira daqui agora antes que eu te mate!”  

***  

“Khh…! Kh!”  

Ao contrário das expectativas de Leon, a dor em seu peito só piorou com o tempo. Ele pensou que conseguiria aguentar, mas estava enganado.  

“Haaa… Haa…”  

A dor vinha em ondas, cada vez mais forte.  

‘Não vou conseguir aguentar assim.’  

Leon entendia a gravidade de sua situação.  

Sem hesitar, ele olhou em volta e decidiu sair do local, correndo em direção aos dormitórios, que não estavam longe dali.  

“Ukeh!”  

Seu peito latejou novamente, parando-o no lugar.  

“Haa.. Haa…”  

Sem perceber, quando olhou para baixo, ele viu um fio prateado descendo de sua boca. Isso… Enxugando a boca, Leon correu para frente mais uma vez.  

Levou um total de três minutos para chegar ao dormitório, onde imediatamente subiu as escadas e correu para seu quarto, fechando a porta atrás de si.  

Clank!  

“Arkgh…!”  

Um grito escapou de seus lábios assim que ele entrou no quarto.  

‘Quente, quente, quente…!’  

Leon sentiu uma coceira repentina se espalhando por seu corpo. Ele começou a tirar as roupas, ficando apenas de cueca.  

Chiado~ Chiado~

Vapor começou a sair de seu corpo logo depois.  

Ba… Baque! Ba… Baque!  

Um ruído estranho de pulsação seguiu, perfeitamente sincronizado com as batidas de seu coração. Leon olhou para baixo e notou que todas as veias de seu corpo haviam ficado visíveis, destacando-se sob sua pele.  

As veias brilhavam com um tom azulado, todas convergindo para seu coração, onde um Cálice sombrio parecia repousar em seu centro.  

Seu rosto mudou.  

“Isso…”  

Ele já tinha visto essa cena antes — mais de uma vez, na verdade.  

Ele entendia o significado por trás disso muito bem, e foi por isso que a visão diante dele agora o deixou tão chocado.  

“O vinho…”  

Leon murmurou, incapaz de esconder seu choque.  

“…Realmente continha sangue verdadeiro.”  

Sangue de Mortum.  

“Isso…”  

A expressão inteira de Leon mudou. Era a primeira vez que algo assim acontecia em um evento como aquele, e ele não conseguia entender o que estava acontecendo.  

‘Sangue real?’  

Mas como poderia ser?  

Leon já tinha participado de vários eventos assim no passado e nunca tinha experimentado uma situação como essa.  

Algo estava errado.  

Como eles poderiam servir sangue real?  

…E qual era a razão do Cálice ter explodido de repente?  

Leon tinha tantas perguntas e nenhuma resposta. Para piorar, a dor voltou novamente. Leon não teve escolha a não ser se concentrar em suportar a dor, respirando fundo e devagar.  

Chiado~ Chiado~  

Vapor continuou a sair de seu corpo durante todo o processo.  

Gradualmente, a dor começou a diminuir, e o brilho no corpo de Leon também se esvaiu. O processo durou apenas alguns minutos antes que tudo finalmente se acalmasse.  

“Hoo.”  

Leon finalmente conseguiu respirar enquanto caía no chão.  

Embora sua respiração tivesse se estabilizado, ainda estava relativamente pesada. Ele precisou de alguns minutos para se recuperar completamente.  

Quando finalmente se recuperou, uma sensação fria percorreu seu corpo enquanto ele pressionava a mão contra o peito e libertava o Cálice.  

“Como esperado…”  

Ele olhou para o líquido contido dentro do Cálice e engoliu em seco.  

“…Era realmente o sangue de Mortum.”  

O Cálice tinha um poder especial.  

Embora Leon ainda não soubesse exatamente como ele funcionava, ele sabia que ele desencadeava uma “reação” única sempre que ele consumia o sangue de Mortum. Criava um líquido especial que podia ser consumido.  

Ele o chamava de “Néctar”, e cada vez que o ingeria, sua força aumentava tremendamente.  

‘…Será que terá um efeito diferente se eu consumir um sangue diferente?’  

O pensamento deixou Leon desconfortável por um segundo antes que ele desse de ombros e bebesse o néctar.  

Swoosh!  

Suas roupas se agitaram enquanto o poder percorria seu corpo.  

Os músculos de Leon se inflaram, e ele sentiu sua força aumentando rapidamente.  

Era uma sensação eufórica que o deixou sem fôlego, mas desapareceu rapidamente, e seu corpo logo voltou ao normal.  

“Huu.”  

Respirando fundo novamente, Leon se preparou para se levantar.  

No entanto, assim que o fez, seu corpo congelou.  

“…!”  

Sua intuição formigou, enviando calafrios por sua espinha enquanto o suor começava a escorrer pelo seu rosto.  

Sua respiração ficou pesada enquanto ele levantava a cabeça para olhar pela janela.  

“Oh, não…”  

Ele desviou o olhar e rapidamente se levantou.  

De repente, ele teve um horrível pressentimento.  

E…  

Ele tinha certeza de que não era sobre ele.  

“Vou, tenho que ir.”  

Leon não perdeu tempo, se vestindo rapidamente antes de sair correndo do quarto. Mesmo depois de sair, sua intuição continuou a gritar, alertando-o sobre uma crise iminente.  

Ele não sabia o que era, mas Leon tinha certeza.  

Julien…  

Algo ruim estava prestes a acontecer com ele.