Capítulo 416: Obsessão [2]
“Haa.”
Respirei fundo e calmamente para acalmar minha mente trêmula. O choque da situação se dissipou rapidamente enquanto eu analisava tudo com calma.
‘Esse é, sem dúvida, meu celular.’
Do modelo ao plano de fundo—um simples fundo branco com uma frase no meio que dizia: “O esforço nunca te trai.”1
Era uma citação de um livro que eu particularmente gostava.
“Você sabe o que é isso?”
Sem que eu percebesse, Pedrinha subiu no meu ombro e olhou para o celular em minha mão com uma expressão curiosa.
“….É estranho. Tão brilhante.”
Pedrinha esticou a pata para tocar a tela.
“!”
Ele mostrou uma expressão surpresa no momento em que percebeu que a tela mudava com apenas um toque.
“Mudou. Que peculiar…”
“Sim.”
Afastei a pata de Pedrinha da tela e comecei a mexer no aparelho.
‘Por que meu celular está aqui? E por que, de todas as pessoas, Julien o teria?’
….Não, antes de tudo isso.
Toquei na tela novamente e abri o aplicativo de fotos.
Minhas fotos antigas estariam lá?
Eu queria vê-las.
‘Senha?’
Um teclado numérico apareceu assim que cliquei no aplicativo. Fiquei surpreso, já que nunca havia colocado uma restrição assim no meu celular antes.
…E como nunca tinha feito isso, não sabia que tipo de senha precisava inserir.
‘Isso…’
Franzindo a testa, fiquei olhando para o teclado por alguns segundos. Então, após um pouco de reflexão, decidi tentar algo.
Não tinha certeza se funcionaria, mas como essa era a senha que eu normalmente usava quando necessário, esperei que desse certo.
Click!
E deu.
“….”
Quando a tela se desbloqueou, me dando acesso ao celular, senti um breve momento de desorientação, sem saber o que fazer a seguir.
Enquanto rolava pelas fotos que não via há tanto tempo, meus lábios começaram a tremer.
“Haha.”
Tentei me manter controlado, mas não consegui.
Do rosto familiar, porém distante, aos documentos de trabalho que não via há anos, e então… o rosto do meu irmão apareceu.
Ele não se parecia em nada comigo — seu cabelo castanho claro em contraste com o meu escuro, e seu rosto tinha uma suavidade que o meu nunca teve, nada intimidante.
“…H-haha.”
Por que meu peito doía?
Apertei minhas bochechas e balancei a cabeça.
Então, direcionando minha atenção para um dos vídeos, cliquei nele.
—Você está gravando?
Uma voz familiar alcançou meus ouvidos.
Era uma que eu não ouvia há tanto tempo.
“…..”
Apertei meus lábios para parar o tremor.
—Eu… estou.
—Bom.
O vídeo estava escuro.
No entanto, eu ainda conseguia lembrar perfeitamente da cena.
Algumas chamas se acenderam na escuridão, revelando um pequeno bolo entre duas mãos sob elas.
—Parabéns pra você. Parabéns pra você. Parabéns pro Emmet. Parabéns pra você…
Uma música começou logo em seguida.
Quase me perdi na cena, me imaginando na situação.
—….
Meu peito apertou.
—O que você está fazendo? Por que não sopra as velas?
—Ah, certo.
Pensei em soprar, mas parei.
Não queria soprar.
…Soprar significaria que não o veria novamente.
Eu…
—Fuuu!
“Ah, não.”
A escuridão tomou o celular, e o vídeo terminou.
Tudo o que restou foi uma tela escura.
Mordi meus lábios, rolando para cima para ver o próximo vídeo.
—Boa noite a todos — professores, pais, amigos e, mais importante, meus queridos colegas.
“Haha.”
Olhei para a direita, para Pedrinha, apontando para a tela.
“Isso… Olha isso.”
“….”
Pedrinha permaneceu quieto.
Eu não liguei e continuei.
“Esse foi o discurso de formatura dele no ensino médio. Olha só pra ele. Ele estava todo nervoso por ter que fazer um discurso logo antes. Haha.”
Ele me fez praticar o discurso inúmeras vezes. Ele ficava repetindo que esquecia as frases, dizendo coisas como: ‘Não lembro as linhas. Acho que esqueci. Me ajuda! Eu vou morrer!’
“H-ha.”
De repente, ficou difícil respirar.
….Cerrando os lábios, balancei a cabeça.
O vídeo tinha terminado. Não era o suficiente.
Eu queria ver mais.
E então eu fiz isso.
—Para de me gravar! Por que você está me gravando?
—Maria tinha um carneirinho~ Maria tinha um carneirinho~
—Aqui, aqui. Escuta essa piada.
—Olha aquela vaca!
—Isso é muito amargo! Arkh!
“H-hah.”
Quanto mais eu assistia, mais sufocado me sentia.
Não conseguia respirar.
Eu queria, mas não conseguia.
Era como se os vídeos estivessem me tirando o fôlego.
“Ah, merda.”
E ainda assim…
Não conseguia parar de assisti-los.
—Eu quero isso. Pode me dar?
Algo quente escorreu pela minha bochecha, traçando lentamente um caminho pela minha pele.
Meus olhos começaram a arder.
Provavelmente porque eu estava esquecendo de piscar.
Mas eu não queria piscar. Tinha… sido tanto tempo.
—Estou com medo.
De repente, pausei em um dos vídeos.
‘Por que não me lembro desse?’
O rosto de Noel estava pálido, e ele estava sentado do outro lado de uma mesa de madeira.
—Por que você teve que ir embora?
“Hã?”
Não, isso…
—O que eu devo fazer, irmão?
Sua voz estava frágil.
Fraca, quase.
Eu mal conseguia reconhecê-la.
Olhando mais de perto, seu rosto também estava pálido, e suas bochechas, encovadas.
“O q-quê? O quê? Por que ele está…?”
—P-por que você me deixou, irmão? Eu…
Lágrimas escorriam pelo rosto de Noel enquanto ele cobria o rosto com os braços.
—…Não consigo mais viver assim.
Não, o que…
—Eu quero morrer.
“….”
Perdi o fôlego.
De repente, me lembrei de uma certa visão do passado.
Não poderia ser que…?
—Mas eu não posso morrer.
“Uh?”
Olhei para a tela.
Lá, Noel pegou uma faca.
“Ah!”
Quase pulei de susto. No entanto, antes que eu pudesse fazer algo, ele esfaqueou o próprio pescoço.
—Jorra!
“…..!!!”
As palavras que eu estava prestes a gritar nunca saíram da minha boca. Senti-me completamente sem ar enquanto me levantava abruptamente.
Meu corpo inteiro ficou fraco, meus dentes batendo enquanto eu encarava a cena horrível na tela.
Noel, ele…
—…Não consigo morrer.
“Hã? O quê?”
Olhei para a tela.
Estendendo a mão, Noel tirou a faca do pescoço.
—Jorra!
Então ele se esfaqueou novamente.
“Ha!”
Meus olhos se arregalaram.
—Jorra! Jorra!
Mas ele não parou.
—Jorra! Jorra!
Ele continuou se esfaqueando repetidamente, sangue respingando na tela enquanto eu balançava a cabeça em incredulidade.
Não, o quê, pare…
As palavras se recusavam a sair da minha boca.
—Ahhhh!!
Um grito ecoou pela tela enquanto os olhos de Noel ficavam injetados de sangue.
—Morra! Porra, morra…! Morra! Deixa eu morrer, caralho!!!
Ele continuou se esfaqueando.
Meus braços tremeram, o peso do celular ficando mais pesado a cada segundo. Parecia que estava escorregando da minha mão, afundando cada vez mais enquanto eu tentava segurá-lo.
—Morra!
“A-ha.”
O frenesi de Noel não parou. Ele continuou se esfaqueando enquanto sangue respingava nele e na tela.
Meu peito apertou com força.
Mas eu não podia fazer nada.
Eu estava preso, assistindo tudo se desenrolar diante dos meus olhos.
Eu não queria olhar, mas não conseguia desviar o olhar da cena. Especialmente de suas feridas, que estavam se curando a uma velocidade visível a olho nu.
“I-isso…”
—D-droga, droga…
Largando a faca, Noel cobriu o rosto com as mãos. Seu corpo tremia enquanto ele começava a chorar.
—…Não aguento mais.
Eu sei.
—Eu quero morrer, mas não posso morrer.
Meus lábios tremeram.
—V-você me disse que me salvaria.
Eu… o quê?
—Você me disse que me encontraria.
Te encontrar?
—….Fiz tudo o que você me pediu. Eu segui o jogo. Mostrei o jogo como você disse. Eu… pedi para Camille fazer os artefatos como você disse. Eu….
Os olhos de Noel se voltaram para a câmera, completamente injetados de sangue.
—Fiz tudo o que você me mandou, porra!!!
Espera, espera, espera, espera…
—Onde caralhos você está!? Hein!? Você disse que me salvaria! Onde está!? Não aguento mais isso!
O grito de Noel ecoou alto.
Atravessou a tela, me atingindo diretamente.
—…Você mentiu! Mentiu para mim! Você não está vindo me salvar. Se viesse, já teria vindo antes! Mas não veio! E ainda assim… E ainda assim…
Noel de repente mordeu os lábios, seus gritos diminuindo enquanto seu peito tremia, sua voz ficando rouca.
—Por que continuo fazendo o que você me diz?
Pinga!
Uma linha quente escorreu dos olhos de Noel enquanto ele pegava um pequeno espelho.
Movendo-se em direção ao celular, ele o pegou e aproximou o rosto.
Seu rosto agora estava marcado por lágrimas.
—….Não entendo. Você nunca me diz nada. V-você disse que isso era por mim. Por mim, mas… Estou miserável. Volta.
Mordendo os lábios, a voz de Noel tremia.
—…P-posso não conseguir morrer, mas ainda sinto dor. H-ha.
Noel engoliu seco.
—Quando eles pegam meu sangue. Eu sinto. Sou como uma ferramenta para eles. Uma ferramenta para mantê-los vivos… Você disse que me salvaria deles. P-por favor, se apresse. Eu… não aguento mais.
Fiquei paralisado, olhando para o vídeo enquanto tentava processar as palavras de Noel.
Minha mente estava em branco, mas, ao mesmo tempo, várias peças começaram a se encaixar.
—…Não sei por que você quer que eu grave esse vídeo e coloque o celular dentro do Espelho Astral, mas vou fazer. Que outra escolha eu tenho? Estou preso, e você se foi… S-só…
Sangue começou a escorrer dos lábios de Noel enquanto ele mordia com força.
—Não esqueça sua promessa. V-você precisa vir me salvar. Não consigo aguentar muito mais. Irmão.
Noel deu uma última olhada no espelho antes que ele caísse e a tela ficasse preta.
“….”
Um silêncio parado tomou conta do espaço enquanto o vídeo chegava ao fim.
“Ei.”
A voz de Pedrinha chegou até mim pela direita, mas eu não consegui prestar atenção.
Enquanto meus lábios tremiam, a compreensão veio até mim.
‘A razão pela qual estou aqui, neste mundo, e a pessoa por trás de tudo o que está acontecendo comigo é… eu mesmo.’
Oracleus.
Aquele que vê o passado, presente e futuro.
Eu tinha visto tudo naquela época.
…Tudo o que eu estava fazendo era por Noel.
Para manter a promessa.
Para salvá-lo.
“….”
Minha mente ficou em branco, e eu baixei o olhar para o celular.
De repente, tudo começou a fazer sentido.
‘Não sei por que você quer que eu grave esse vídeo e coloque o celular dentro do Espelho Astral, mas vou fazer.’
As palavras de Noel ecoaram em minha mente mais uma vez.
Eu entendi agora.
“Eu…”
O celular desligou.
“…Queria que meu eu atual visse. Para me fazer entender.”
Eu sabia…
Eu tinha planejado.
Eu…
…tinha visto.
—O Vidente.
- Uma referência a The Author’s POV[↩]
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