Capítulo 437: Audiência Confessional [1]
“Pftt… Kh.”
Aoife cobriu a boca, tentando não rir. Não estava indo muito bem.
“Você não estava bêbada?”
“…Estava até vomitar tudo.”
“Oh.”
Isso é possível? Não tinha certeza, pois nunca cheguei a ficar tão bêbado a ponto de vomitar em minha vida passada.
“Minha cabeça dói, porém.”
Caminhando até a mesa da sala comum, ela pegou alguns comprimidos e os engoliu.
“Isso também ajuda.”
“Certo…”
Desviei meu olhar dela para o chão, onde uma garotinha estava deitada, olhando para o teto com os olhos vazios.
Com um olhar de: a traição sempre vem de quem mais confiamos.
Sim, pois é. Havia isso… Desviei o olhar dela. Não era realmente culpa dela, pois eu podia adivinhar o que aconteceu, mas vendo os olhares que todos me davam, decidi segurar a recompensa por enquanto.
Esses malditos…
“Hm?”
Foi no meio de meus pensamentos que notei algo.
‘Onde está Delilah? Juro que ela estava aqui há pouco.’
Franzindo a testa, olhei ao redor da sala comum, mas ela não estava em lugar nenhum. Quando virei para Leon, ele apenas balançou a cabeça.
‘Não me pergunte.’
‘O quê? Eu nem…’
Espere.
Parei, dando um passo para trás.
‘Nossa comunicação ocular transcendeu para outro nível de novo?’
Ser capaz de adivinhar meus pensamentos assim…
“O quê? Por que está com essa cara, Leon? Também está bêbado? Aqui, tome uns comprimidos.”
Fechando os olhos, decidi ignorar o que estava acontecendo. Para minha saúde mental, era o melhor.
‘Já que ela saiu, vou para meu quarto.’
Embora curioso sobre o motivo de ela ter vindo comigo e saído de repente, não pensei muito nisso. Talvez algo urgente tenha surgido. Sentindo-me cansado, subi as escadas e cheguei à porta do meu quarto.
Click!
“Huam.”
Ao soltar um pequeno bocejo, avistei uma silhueta no fim do quarto.
“Ha.”
Por que não pensei nisso antes?
Parei no meio do passo, notando Delilah sentada na minha cadeira de costas para mim. Balançando a cabeça, tirei meu paletó e o pendurei.
“Então estava aqui. Não é à toa que não te encontrei.”
“….”
Estranhamente, ela não respondeu. Normalmente responderia imediatamente.
Com o que estaria tão absorta a ponto de não me notar? Tentei chamá-la de novo.
“Delilah?”
“Uht.”
Seus ombros tremeram enquanto um som estranho saía de sua boca.
Uht…?
Olhei para Delilah. Ela parecia tão inexpressiva como sempre, mas… o que foi aquele som?
Apertei os olhos.
“Delilah.”
“…Sim?”
“Pode olhar para mim?”
“Estou olhando.”
Sua cabeça virou lentamente em minha direção. Não parecia haver diferença. Então relaxei e continuei.
“Certo, você disse que queria—”
“Uht.”
Seus ombros tremeram de novo, e sua cabeça se virou. Parei antes de abrir a boca novamente.
“Então… Como eu ia—”
“Uht.”
“…dizendo…”
“Uahut.”
Uahut?
“Se quer rir, é só rir.”
“Não, está tudo bem.”
Batendo no rosto com as duas mãos, Delilah soltou o que estava segurando antes de voltar ao seu eu habitual sem expressão. Sentei ao lado dela.
“É sobre a Theresa, não é?”
“…”
Sua cabeça se virou novamente.
Certo, era tudo que eu precisava saber. Ela tinha visto tudo. Ainda assim, estava surpreso. Não achei que Delilah fosse capaz de rir. Parecia bem novo.
“Ok. Estou bem.”
Delilah pegou seu chocolate e deu uma mordida. Então me ofereceu um.
“Quer?”
“…Tudo bem.”
Estendi a mão para pegar um pedaço quando Delilah parou. Então, apertando os olhos, recuou a barra. Sua ação me surpreendeu.
Ela não estava…?
“Eh?”
“Antes disso.”
O comportamento de Delilah mudou completamente, de repente parecendo intimidadora. Minha boca ficou seca. O que aconteceu? Por que está agindo assim?
Antes que eu pudesse entender, ela estendeu a mão e falou friamente:
“Devolva.”
Devolva…? O quê—
“Devolva o que você roubou de mim.”
“Ah?”
***
Era noite quando Delilah voltou.
O clique gentil de um salto ecoou quando ela apareceu em seu escritório. Suas mãos pressionavam o estômago, e ela segurava várias embalagens. Dentro delas estavam cubos de chocolate.
Com um olhar satisfeito, Delilah deixou as embalagens na mesa.
Sim, era assim que deveria ser.
Delilah assentiu satisfeita.
Foi um pouco difícil recolher todos, mas finalmente estavam de volta. Embora os tivesse deixado para Julien naquela época, tinha ficado sem.
Como resultado, eles voltaram a ser dela novamente.
Delilah não perdeu tempo e pegou um cubo, colocando-o imediatamente na boca.
“….”
Seus olhos se estreitaram de prazer.
A textura macia e mastigável. O calor e…
“Oh.”
Abrindo os olhos, ela lembrou de algo. Indo até a mesa, sentou e abriu a gaveta, tirando um diário familiar.
Folheando-o, molhou sua caneta tinteiro e começou a escrever.
Rabisco~
Um lampejo de satisfação cruzou seus traços enquanto a caneta deslizava pelo papel.
“Pronto.”
Quando terminou, assentiu feliz.
O livro estava ficando cada vez mais completo.
[● Ele gosta de me alimentar.]
***
Os próximos dias passaram como uma brisa.
Com tudo em pausa, nada de importante aconteceu e todos puderam descansar.
Cedo da manhã.
To Tok—
Acordei com o som de alguém batendo na porta. Checando a hora, gemei. Os dias de festividades acabaram. Hoje era o dia da Audiência Confessional.
Tendo sido adiada por alguns dias, os principais membros das igrejas não estavam mais presentes.
Segundo o anúncio, seria conduzida pelos sacerdotes responsáveis.
Eu não me importava muito, então não me afetava. O mesmo não podia ser dito pelos mais religiosos.
To Tok—
Ignorando a batida, sentei e fui ao banheiro lavar o rosto.
Sentindo a água fria escorrer, minha mente despertou. Empurrando o cabelo para trás, olhei para meu anel e fechei o punho.
‘O consumo de mana não é brincadeira.’
Para manter Julien selado no anel, precisava constantemente injetar mana nele. No momento em que a mana acabasse, o efeito desapareceria e ele retomaria o controle.
Por isso não era uma solução permanente, apenas temporária.
Precisava ficar sempre atento à minha mana.
To Tok—
Continuei ignorando as batidas e comecei a me trocar.
“Saia.”
Uma voz abafada veio do outro lado da porta.
Era Leon.
“Rápido.”
Continuei no meu ritmo.
Sim, estava fazendo de propósito.
“…Desgraçado.”
Fiquei ainda mais lento.
Abotoando minha camisa de baixo para cima, passei por cada botão de cima para baixo. Sim, era tudo sobre a ordem. Não podia errar.
“Depressa.”
Inclinei-me para amarrar os sapatos.
Tentei alguns nós até ficar satisfeito.
“Vou te jogar pela—”
Clank!
Só então abri a porta. Leon estava lá, com um rosto frio e indiferente.
“Bom dia.”
Passei por ele e desci as escadas.
‘É bom ter um cavaleiro.’
Com o que aconteceu recentemente, Leon foi obrigado a ficar ao meu lado ao me acompanhar. Como era seu trabalho, não podia recusar.
Aproveitei ao máximo e o fiz me acompanhar até onde os membros da Igreja de Oracleus estavam reunidos.
“…Finalmente chegamos.”
A melhor parte era que Leon nem sequer pertencia a essa igreja.
Ele tinha que voltar para o seu lugar, do outro lado da Academia. Sentindo seu olhar, abaixei a cabeça e agradeci.
“Pode ir.”
“…..”
“Que bela manhã.”
Estiquei as costas e olhei para o grande prédio à minha frente. Embora não fosse uma igreja, por fora parecia uma catedral feita de pedra escura.
O Salão Milton.
Olhando ao redor, entrei no prédio.
“Bem-vindo.”
Alguns sacerdotes me cumprimentaram na entrada, suas vestes familiares fluindo enquanto o cheiro de incenso pairava no ar.
Atrás deles havia um grande salão com portas de madeira de cada lado.
‘É ali a audiência?’
Pelo que sabia, a audiência era uma reunião individual com um dos sacerdotes.
Cumprimentei os dois sacerdotes na entrada e entreguei meu ID de estudante, que eles verificaram rapidamente.
Suas expressões mudaram brevemente antes de apontarem para uma sala específica.
“Ali.”
“…Obrigado.”
Embora notasse seus olhares peculiares, não pensei muito nisso. Afinal, eu era bem famoso após o que aconteceu na Cúpula.
“Esta aqui?”
Chegando à porta indicada, olhei ao redor para confirmar antes de girar a maçaneta.
Clank!
Fui recebido por uma sala mal iluminada, um quarto do tamanho da minha, escassamente decorada e cheia do cheiro intenso de incenso. Enquanto as velas tremeluziam, minha atenção se voltou para a figura idosa sentada no meio.
Ele vestia uma batina branca estranha, e sua presença era peculiar.
Era…
“…O quê?”
Olhei para minhas mãos, notando um leve tremor. Minha expressão mudou, mas quando percebi que algo estava errado, a porta se fechou.
Clank!
Meu corpo congelou no lugar, e a figura virou a cabeça, revelando seu olho branco e turvo.
“Eu sabia que não estava errado.”
Sua voz ecoou pela sala, suavemente tocando meus ouvidos. Quando sua cabeça se virou, uma lágrima escorreu por sua face.
Pinga!
Estendendo as mãos em minha direção, sua voz tremeu.
“Eu sabia que te veria… Meu d-deus.”

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