Capítulo 439: Audiência Confessional [3]  

“…..”  

Cobri meu rosto com ambas as mãos. O peso da realidade estava caindo sobre mim com força. ‘O que eu faço? O que eu devo—’  

Meus pensamentos foram interrompidos abruptamente quando minhas mãos começaram a tremer incontrolavelmente. O calor estranho de antes ficou ainda mais intenso.  

Tzzz!  

Vapor subiu no ar e meu corpo continuou a esquentar.  

Eu não entendia o que estava acontecendo, mas a dor tornava difícil pensar corretamente no momento.  

E eu não queria pensar.  

Especialmente não quando notificações continuavam a piscar em minha visão.  

Eu estava pasmo com o número de notificações que apareciam na minha frente. Havia tantas que cobriam toda a minha visão, impedindo-me de ver direito.  

No entanto, foi graças a elas que percebi que havia algo por trás da dor.  

Algo…  

Eufórico.  

Contendo um gemido, segurei o braço da cadeira. Pequenas rachaduras se formaram enquanto eu apertava meus dentes com força.  

Eu podia sentir o suor escorrendo pelo lado do meu rosto.  

Mas continuei me segurando.  

Eu tinha uma vaga ideia do que estava acontecendo e, por isso, não entrei em pânico.  

‘Isso não deveria me machucar. Eu vou ficar bem.’  

Tzzz!  

Com o vapor continuando a subir do meu corpo, o quarto começou a ficar úmido. Minhas roupas e cabelo estavam molhados, mas o que mais me preocupava no momento era a possibilidade de alguém entrar no quarto agora.  

Por isso, mantive minha boca fechada.  

Não podia deixar escapar um único som.  

“….”  

Continuei suportando a dor em silêncio. Não sabia por quanto tempo teria que aguentar, mas sabia que precisava.  

Eu… só precisava.  

Tzzz!  

Sem perceber, tanto vapor havia se formado no quarto que minha visão ficou embaçada. Quase parecia que eu estava em uma sauna. Do calor à sensação sufocante que vinha com cada respiração.  

“Hu.”  

Respirei fundo e devagar, ajustando minha mente à dor, e ela gradualmente começou a se tornar suportável.  

Depois de mais algumas respirações controladas, consegui desviar minha mente da dor e focar na situação diante de mim.  

“Merda.”  

Meu coração afundou quando olhei para o corpo no chão.  

Vendo o cadáver encolhido diante de mim, eu sabia, sem sombra de dúvida, que ele estava morto.  

“Por quê?”  

Apertei meus lábios com força enquanto afastava as notificações que ainda piscavam em minha visão.  

“….Eu não deveria ser seu deus? Por que você…? Ah!”  

Um pensamento me ocorreu.  

‘Certo, tem isso!’  

Mexendo no meu anel, retirei um pequeno frasco que continha um certo líquido vermelho.  

Olhei para ele com uma expressão complicada, mas, vendo a situação em que estava, sabia que precisava usá-lo.  

‘Sim, não será um desperdício. Desde que eu consiga sair dessa situação, então…’  

“Eu não vou deixar você morrer assim.”  

Abri o frasco, inclinei-me para frente e pressionei meu dedo gentilmente sob o queixo do Papa, levantando-o enquanto derramava o sangue em sua boca.  

Imediatamente após derramar o sangue, recuei, esperando uma reação imediata, mas…  

“….”  

Nada.  

Tudo o que encontrei foi um silêncio estranho e estático.  

“O quê… por quê?”  

Por um momento, pensei que tinha dado a ele o sangue errado. No entanto, olhando para o frasco e passando meu dedo pelo interior, sabia que não era o caso.  

Eu sabia que era o sangue certo.  

‘Por que não funcionou?’  

Meu coração afundou no estômago. Sentindo um nó na garganta, olhei para o cadáver do Papa, a realidade da situação me atingindo com mais força do que antes.  

Nem consegui amaldiçoar.  

O contínuo piscar de notificações também não ajudava. Elas pareciam mais uma distração, aumentando meu estresse.  

Mas eu não queria que parassem.  

Deixei que me distraíssem.  

Olhando para minha barra de experiência, que enchia rapidamente, observei meu nível subir cada vez mais com os segundos que passavam.  

As notificações só começaram a diminuir quando a barra de progresso se aproximou da marca do quinquagésimo nível — ou, mais precisamente, do portal para o quinto tier.  

A barra continuou a subir cada vez mais a cada minuto que passava, mas a desaceleração era perceptível.  

Era como se o obstáculo para o próximo tier exigisse muita mais mana.  

‘Não, mais.’  

Sentei e agarrei o braço da cadeira com toda a minha força.  

Crack!  

A essa altura, eu nem me importava mais que ele quebrasse sob a força que exerci. Tudo o que conseguia pensar era na barra de experiência.  

‘Mais, mais…’  

‘Ah, quase lá.’  

Apertei meus dentes com força, esquecendo meu entorno por um breve momento.  

‘Só mais um… Só mais um…!’  

Meu corpo inteiro formigou de antecipação.  

Eu estava tão perto de alcançar o quinto tier. Fazia tanto tempo que estava preso no quarto tier que comecei a ficar impaciente. Mesmo na situação em que estava, não conseguia esconder minha ganância, e…  

“Ahh.”  

Uma sensação fria percorreu todo o meu corpo.  

Ela combateu diretamente o calor que irradiava de dentro do meu corpo, aliviando grande parte da dor, e minha mente, que antes estava nebulosa, de repente começou a clarear.  

Tudo parecia desaparecer naquele momento.  

Tudo o que eu podia ver era a paisagem tão familiar. Era… linda.  

Da brisa suave que pairava no ar até a grama, flores e árvores. A visão era intoxicante.  

Ou pelo menos, era.  

Parado, observei enquanto a bela paisagem começava a murchar diante dos meus olhos.  

Folhas caíam no chão, as árvores começaram a murchar e a grama secou.  

Em questão de segundos, a paisagem se reduziu a nada.  

“…..”  

Observei tudo em silêncio antes que a paisagem mudasse e eu me encontrasse de volta no quarto.  

Por mais que eu quisesse observar meu domínio, sabia que não tinha muito tempo.  

Abaixando a cabeça, olhei para o corpo do Papa.  

“Como exatamente eu lido com isso?”  

Toda a empolgação se dissipou, substituída pelo peso esmagador da situação que eu enfrentava. Meu coração afundou mais uma vez, e meus lábios se pressionaram.  

Justamente quando minha mente trabalhava a todo vapor, outra notificação piscou em minha visão.  

Minha mente ficou em branco então.  

Por quê?  

“C-como isso…?”  

Porque não fazia sentido.  

***  

As Sete Igrejas estendiam sua influência por todos os Quatro Impérios e até mesmo além de suas fronteiras. Seu alcance era vasto, e alguns poderiam argumentar que seu poder rivalizava — se não superava — o de qualquer Império individual.  

Uma das principais razões para isso eram seus inúmeros devotos e seguidores, que incluíam membros de alto escalão de cada Império, e outra razão eram os Templários.  

Os Templários eram uma ordem militar ‘sagrada’ que servia para proteger as Sete Igrejas. Composta por devotos de todas as Sete Igrejas, sua icônica cruz vermelha, dividida em sete linhas vermelhas, estampada em seus peitos, simbolizava sua neutralidade entre as Sete Igrejas.  

No comando dos Templários estava o Guardião da Luz Sagrada, a unidade de elite responsável por proteger os Cardeais e Papas das sete igrejas.  

Abaixo deles estavam os Sargentos, e mais abaixo estavam os…  

Inquisidores.  

To Tok—  

“Entre.”  

Uma voz suave ecoou do outro lado da porta de madeira.  

A porta se abriu, e uma figura entrou.  

“Ah, se não é um rosto familiar.”  

Segurando uma xícara de chá, um homem de cabelos escuros e olhos castanhos profundos sorriu. Vestindo um casaco marrom, o Inquisidor Hollowe colocou a xícara sobre a mesa e se levantou.  

Com um sorriso caloroso, cumprimentou o homem que acabara de entrar no quarto.  

“Faz um tempo, Guardião Matthias.”  

“…Realmente faz.”  

Entrando no apartamento, o Guardião Matthias olhou ao redor, parecendo impressionado.  

“Nada mal. Parece que seu tratamento aqui é bastante bom.”  

“Oh, sim, não é nada mal.”  

Hollowe riu enquanto se sentava novamente.  

Ele parecia bastante despreocupado.  

O Guardião Matthias não fez cerimônia e sentou-se no lado oposto. Uma xícara de chá estava pronta em seu lugar. Como se Hollowe tivesse antecipado sua chegada.  

“Não parece que ser Professor é difícil.”  

“Haha, que tal você tentar?”  

“…Estou satisfeito com meu trabalho.”  

“Eu gostaria de dizer que também estou fazendo meu trabalho agora.”  

“Bom, justo.”  

Os dois se envolveram em uma conversa casual pelos próximos minutos, suas vozes se misturando no ar. A atmosfera parecia leve e harmoniosa, como se fossem velhos amigos se reconectando após anos separados.  

Isso até o Inquisidor Hollowe colocar sua xícara de chá sobre a mesa e perguntar:  

“Então, o que o traz aqui?”  

A atmosfera mudou então.  

Ficou…  

Muito mais formal.  

“…Os outros Cardeais já partiram. Realisticamente falando, você não deveria estar na Academia. O que fez você ficar?”  

“Isso é um segredo.”  

Matthias sorriu ao responder.  

“Um segredo?”  

“Mhm.”  

Foi tudo o que ele disse.  

No entanto, isso foi suficiente para Hollowe entender a situação.  

‘….Parece que nem todos os Cardeais partiram.’  

Ou pelo menos, alguém importante ainda estava na Academia. Hollowe levou a xícara à boca e tomou um gole.  

Ele deixou o assunto de lado ali.  

“Então, há algo em que eu possa ajudá-lo, Matthias?”  

“…Há, na verdade.”  

“Oh, por favor, pergunte.”  

“Quero saber sobre suas descobertas recentes em sua estadia na Academia.”  

A mão de Hollowe parou brevemente, um lampejo de sorriso brincando nos cantos de seus lábios.  

“Certo, havia isso.”  

“….Hm?”  

Matthias levantou a sobrancelha.  

“Não me diga que você ficou tão imerso em seu trabalho como Professor que esqueceu seu trabalho principal como Inquisidor?”  

“Hahaha, claro que não.”  

Hollowe se levantou e se aproximou de uma mesa próxima. Pegou uma pequena chave, inseriu-a na gaveta e, com um ‘click’ satisfatório, a abriu para retirar um livro de couro marrom. Ele bateu na capa algumas vezes antes de voltar ao seu assento.  

“Eu não tenho negligenciado meu trabalho de forma alguma, Guardião.”  

Olhando para as páginas gastas do livro, Matthias sorriu. Ele realmente não tinha ficado ocioso durante sua estadia na Academia.  

“Isso é um alívio.”  

Recostando-se na cadeira, perguntou:  

“Diga-me o que você descobriu até agora.”  

“Será um prazer.”  

Abrindo o livro, Hollowe começou a falar.  

“É como suspeitávamos. Há muitos vestígios do Céu Invertido na Academia. Há vários incidentes relacionados a eles.”  

“Sim, estou ciente.”  

“….Aqui está a questão.”  

Colocando o livro sobre a mesa, Hollowe inclinou-se para frente, seu sorriso desaparecendo.  

“O número de incidentes que ocorrem nesta Academia é anormal, mesmo para o Céu Invertido. Tenho motivos para acreditar que eles têm algum motivo para estar aqui, e tenho duas hipóteses para isso.”  

“Oh?”  

“Primeiro, a Academia abriga muitos alunos talentosos. Talvez queiram recrutar alunos para sua organização ou matar os mais promissores.”  

Matthias concordou. No entanto, no segundo seguinte, ele parou.  

“Isso realmente parece algo que eles fari—”  

“É por isso que não é isso.”  

“O quê?”  

“…Seria um pouco óbvio demais na minha opinião. Olhando para o padrão dos eventos, todos parecem estar centrados nos alunos do primeiro, agora segundo ano. É diferente em comparação com seus veteranos, que passam pelos dias na Academia ilesos.”  

Entre as observações mais óbvias que Hollowe fez durante sua estadia na Academia estava como os agora alunos do segundo ano estavam sempre no centro da maioria dos problemas.  

Uma ou duas vezes poderia ser coincidência.  

Mas três? Quatro…?  

Hollowe não era tolo.  

“Poderia ser coincidência? Os alunos do segundo ano são bastante talentosos.”  

“Provavelmente, mas os incidentes começaram antes mesmo de ficarem famosos. É por isso que estou quase certo disso.”  

Hollowe tamborilou os dedos sobre o livro.  

“…Eles estão propositalmente mirando alguns alunos do segundo ano porque devem querer algo deles. Algo precioso. Precioso o suficiente para atrair a atenção do Céu Invertido.”  

“Poderia ser…?”  

A expressão do Guardião mudou.  

“Eu não sei.”  

Hollow encolheu os ombros e recostou-se.  

“Pode ou não ser o caso. No entanto, dado o padrão que estou vendo, realmente parece ser o caso.”  

Lambendo os lábios, Hollow pressionou a mesa.  

“Um dos cadetes do segundo ano está em posse de uma das Relíquias Sagradas, e dado o incidente mais recente — Por favor, espere.”  

Hollowe levantou a mão para impedir o Guardião, que estava prestes a se levantar. Felizmente, Matthias era mais calmo do que ele esperava e se conteve.  

Sentado, sua presença quase parecia sufocante.  

Hollowe continuou:  

“Há algo mais que tenho me perguntado sobre os incidentes.”  

“….Como?”  

“Como é possível que tantos incidentes ocorram? Claro, o Céu Invertido é muito mais poderoso do que uma simples Academia, mas devo lembrá-lo quem atualmente vive nesta Academia?”  

“Você não precisa.”  

Uma figura apareceu na mente de Matthias enquanto ele balançava a cabeça. Ele não conseguiria esquecer sua presença sufocante mesmo se quisesse.  

“Espere.”  

Franzindo a testa, Matthias levantou a cabeça.  

“Você está sugerindo que—”  

“Não, ela é inocente. Tenho certeza.”  

Hollow virou as páginas do livro à sua frente.  

“Há uma chance maior de ela destruir o mundo do que ajudar o Céu Invertido.”  

“Então…?”  

“Aqui.”  

Hollowe virou o livro para o outro lado e pressionou seu dedo sobre a página onde uma imagem aparecia.  

A expressão de Matthias imediatamente ficou severa.  

“Quão certo disso você está?”  

“….Não muito, mas ele parece o candidato mais provável. Do fato de que ele tem poder e influência suficientes para fazer isso acontecer ao que consegui observar nos últimos meses.”  

Hollowe virou o livro de volta para seu lado e olhou para a imagem exibida—um homem atraente com cabelos loiros longos e olhos que pareciam sugar quem os olhasse.  

“Atlas Megrail.”  

Hollowe refletiu, encarando a imagem atentamente.  

“Ele é o espião mais provável do Céu Invertido.”