Capítulo 440: Audiência Confessional [4]
“Atlas?”
A sobrancelha de Matthias se ergueu ao ouvir o nome inesperado.
De repente, ele se lembrou do tempo que passou com ele na ala médica e franziu a testa. Ele realmente era?
“…Não tenho certeza absoluta. É apenas meu palpite com base no que consegui observar.”
Hollowe respondeu de forma neutra.
“O fato de tantos incidentes terem ocorrido quando os dois estavam no poder me faz questionar todo o sistema. Atlas é bastante conhecido por suas capacidades, enquanto Delilah é mais conhecida por sua força. Se há uma falha no sistema, é altamente provável que esteja ligada a Atlas.”
“Oh?”
Um olhar de interesse cruzou o rosto de Matthias.
“Então essa é a razão pela qual você acredita que ele provavelmente está conectado ao Céu Invertido?”
“Por enquanto, sim.”
Hollowe respondeu com um pequeno aceno. Pegando a xícara de chá, ele tomou um gole antes de cruzar as pernas.
“Tenho tentado investigá-lo nos últimos meses, mas ele é limpo como a palma da mão por fora. Ele tem a imagem perfeita, e considerando seu histórico, é um pouco difícil para mim investigá-lo completamente.”
“Você precisa da minha ajuda?”
“Isso não será necessário. Considerando o incidente mais recente, é altamente provável que ele fique quieto por agora.”
“Então você vai simplesmente esperar até que ele faça algo?”
“Não há necessidade disso.”
Hollowe tomou outro gole de seu chá.
“…Só porque não posso mirar nele, não significa que não tenha uma direção a seguir.”
“Oh?”
“Veja, há um certo aluno pelo qual estou muito curioso.”
Hollowe colocou a xícara de chá sobre a mesa, um leve sorriso surgindo em seus lábios.
“Ele é alguém de quem gosto bastante. Nossas personalidades combinam bem.”
“Combinam bem, com você?”
Uma expressão estranha apareceu no rosto de Matthias.
Ela só piorou quando Hollowe continuou a falar.
“Especialmente seu senso de humor. Isso é algo que eu—”
“Existia um monstro desses neste lugar?”
“Tsk.”
Hollowe abaixou a xícara e fez um som de desaprovação com a língua.
“…Nós dois sabemos que você é o problema.”
“Não, não sou.”
Matthias balançou a cabeça. Embora os dois tivessem papéis muito diferentes, ambos vinham do mesmo instituto dos Templários. Eles se conheciam muito bem, e Matthias estava bem familiarizado com o senso de humor de Hollowe.
Era algo que ele temia. Não apenas ele, mas todos dentro do instituto.
Para haver alguém com o mesmo senso de humor…
‘Arrepios.’
Matthias sentiu arrepios.
Tak—
Colocando a xícara sobre a mesa, Hollowe suspirou.
“Voltando ao tema em questão, acredito que conseguirei uma pista se investigá-lo mais a fundo.”
“Por que você acredita nisso?”
“Porque ele está no centro da maioria dos eventos que ocorreram.”
Hollowe respondeu firmemente.
“A maioria dos incidentes sempre parece ter alguma ligação com ele, o que já deveria ser pista suficiente. No começo, pensei que fosse porque ele era o possível portador de uma das Relíquias Sagradas, mas agora não tenho mais certeza disso.”
“…Você não tem?”
“Não.”
Hollowe balançou a cabeça.
“Temo que o motivo real possa ser diferente do que eu esperava, e isso me preocupa.”
“Poderia ser?”
Pegando as pistas nas palavras de Hollowe, o rosto de Matthias ficou sério.
“Sim.”
Hollowe fechou os olhos e recostou-se.
“Vendo o quanto ele tem interagido com Atlas, temo que ele possa estar diretamente relacionado ao próprio Céu Invertido.”
“Um espião, entendo. Qual é o nome dele?”
“Você já deve conhecê-lo bem agora.”
Com uma risada amarga, Hollowe ergueu a cabeça para olhar Matthias.
“…É Julien da Casa Evenus.”
***
[Visão do Futuro] –> [Olhos do Vidente]
Eu lutava para entender o que estava vendo.
‘Minha mente ainda está confusa por causa da experiência? Estou alucinando?’
Esfregando os olhos, olhei para a notificação que estava na minha frente. Minha expressão mudou quando percebi que não estava vendo coisas.
Minha habilidade inata…
Realmente havia evoluído.
Mas como isso era possível?
‘Esta é a primeira vez que ouço falar de habilidades inatas mudando.’
“Não, espere.”
Agora que pensava nisso, magias também não podiam ser aprimoradas. Eu era o único capaz de fazer algo assim. O fato de minha habilidade inata ter mudado não deveria realmente me surpreender.
‘Certo, por que estou surpreso?’
Talvez fosse mais provável porque eu não via nenhuma barra de experiência nas habilidades inatas, me fazendo pensar que era impossível aprimorá-las, mas parece que eu estava errado.
“Não, também não é isso…”
Abaixando a cabeça para olhar minha pele, que estava completamente vermelha, eu tinha uma vaga ideia do que realmente causou a evolução.
“É o sangue.”
O sangue estava se assimilando com meu corpo, injetando os poderes que um dia pertenceram a mim, Oracleus.
“…Espera, então isso significa que quanto mais sangue eu consumir, mais provável é que minha visão do futuro evolua?”
A compreensão veio até mim naquele momento.
Se havia uma coisa que me incomodava há algum tempo, era a vagueza da minha habilidade ‘visão do futuro’.
Não havia um momento específico para quando ela vinha, e embora eu tivesse conseguido vislumbrar seu potencial quando cheguei a este mundo, quando revi minha morte na Dimensão do Espelho, tal poder nunca se revelou novamente.
“A versão atualizada de [Visão do Futuro] é [Olhos do Vidente]. Se eu tomar mais sangue, a habilidade evoluirá ainda mais? Chegarei a um ponto em que ganharei os poderes daquele a quem todos se referem como um deus?”
O pensamento ecoou loucamente em minha mente.
Era um pensamento perigoso, mas quanto mais eu pensava nisso, mais provável parecia ser possível.
‘Agora, eu tenho um pouco do sangue de Oracleus no meu anel. Devo usá-lo?’
Hesitei por um momento antes de balançar a cabeça.
‘Não, talvez agora não seja o momento certo.’
Finalmente, desviei minha atenção para o corpo do Papa e meus ombros começaram a ficar pesados.
“O que eu faço?”
Eu tentei revivê-lo usando o sangue de Mortum, mas não funcionou. Eu não entendia o porquê, mas esse era o menor dos meus problemas.
“Como devo lidar com isso?”
Devo simplesmente sair e dizer a eles que ele morreu?
Vendo todo o sangue espalhado no chão e os cortes no pulso do Papa, eu sabia que isso não era viável. Eles começariam a me questionar imediatamente e eu não via saída para a situação.
‘Fugir?’
Eu ri amargamente com o pensamento.
De repente, lembrei-me da visão que tive há pouco tempo e entendi que fugir era inútil.
“Isso… estou fudido.”
Era uma situação desesperadora.
Uma da qual eu não conseguia encontrar uma saída.
“Vamos nos acalmar por um segundo.”
Desabando na cadeira, acalmei minhas emoções e respirei fundo e devagar. Batucando meu dedo contra minha bochecha, pensei em todos os resultados possíveis de minhas ações. Desde envolver Atlas até outras ideias mais malucas.
No entanto, não importa o quanto eu pensasse, todos terminavam com o mesmo fim em minha mente.
…Minha morte.
Uma onda de ansiedade subiu em meu peito.
Bati meu pé contra o chão e olhei ao redor do quarto vazio. Procurei por algo. Qualquer coisa que pudesse me ajudar a sair da situação, mas não importa o quanto eu pensasse, minha mente estava em branco.
Não havia saída.
Não havia…
“!”
Minha cabeça se ergueu abruptamente quando meus ouvidos se aguçaram.
Sentindo movimento do outro lado da porta, meu coração deu um salto.
‘Ah, merda.’
Eu observei o quarto, sentindo um nó se formar em minha garganta. Enquanto meu corpo ficava tenso, meu rosto mudou drasticamente quando percebi a maçaneta girar.
Imediatamente me levantei do lugar, e então…
Click!
Um clique suave ecoou pelo quarto.
“Está tudo bem aqui?”
***
‘Este quarto está demorando mais do que o esperado.’
O Padre Marian parou diante de um certo quarto.
Quarto [E07].
Verificando o tempo, Marian percebeu que a audiência estava demorando mais do que o normal. Eles já estavam vários minutos além do tempo esperado.
Claro, Marian estava bem ciente de quem estava no quarto.
Ele era um dos poucos que sabia.
Ainda assim, decidiu verificar.
Levantando a mão, ele a pressionou contra a maçaneta da porta, girando-a suavemente para a direita.
Click!
Com um clique suave, ele abriu a porta e espiou para dentro.
“Está tudo bem aqui?”
“….Perdão?”
Olhando para dentro do quarto, Marian foi recebido com a visão de um quarto vazio, mas limpo. Dentro do quarto estava um jovem cadete que olhou para ele com uma expressão confusa.
“Está acontecendo algo?”
“….”
Franzindo a testa, Marian olhou ao redor.
“É só você no quarto? Onde está seu confessor?”
“Meu confessor?”
Julien piscou por um momento antes de ter um momento de compreensão.
“Ah, ele foi embora. Ele me disse para esperar aqui, então é isso que estou fazendo.”
“Ele disse para você esperar aqui?”
O franzir na testa de Marian se aprofundou. No entanto, quando ele pensou sobre quem era a pessoa em questão, suas sobrancelhas começaram a se relaxar.
‘Sim, sua santidade pode ter recebido uma mensagem urgente. Isso não é nada fora do normal.’
Além disso, o que um cadete poderia fazer ao Papa?
Sorindo, Marian estava prestes a abrir a boca quando Julien falou.
“Ele me disse para esperar aqui e que logo alguém viria substituí-lo. É você?”
“Eh?”
O rosto de Marian congelou.
“Ele disse isso?”
“…Sim. Ele disse que alguém viria mais tarde para fazer a audiência. Presumi que fosse você, já que você veio.”
“Não, mas—”
“Você não é um padre? Ótimo, vamos começar.”
Julien sentou-se e o incentivou a avançar.
“Estou pronto para confessar meus pecados.”
“Eu, ah…”
Apertando os lábios, Marian suspirou.
‘Bem, não deve demorar muito.’
Olhando para trás, ele entrou no quarto e se aproximou do cadete, que se levantou e gesticulou para a cadeira.
“Por favor.”
“…Obrigado.”
Marian sentou-se e se acomodou.
“Você sabe como isso vai prosseguir?”
“Sim, já fiz a primeira parte com o padre anterior.”
“….Certo.”
Marian fechou os olhos e recostou-se.
“Por favor, confesse seu pecado.”
“Haha, sim. Tenho vários.”
“Continue.”
“….”
Um silêncio estranho seguiu suas palavras. Era um silêncio deslocado que fez Marian franzir a testa.
“Você não vai—”
Quando ele abriu a boca, uma mão pressionou seu rosto e seus olhos se arregalaram.
O que!?
Mas era tarde demais.
Olhando para os olhos cor de avelã profundos que o encaravam por trás da mão, tudo o que ele conseguiu distinguir foi uma voz fraca, mas rouca.
“Este é meu primeiro pecado.”
Julien murmurou, seus lábios tremendo levemente enquanto o quarto ao seu redor mudava, revelando uma cena completamente diferente, com sangue espalhado por toda parte e uma figura imóvel no chão.
“!”
“…Sinto muito, Padre.”
A mente de Marian ficou em branco.
“Eu só quero viver.”

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