Capítulo 443: Olhos do Vidente [3]

“O que… haa… que diabos aconteceu?”

Sentindo minha respiração ofegante e olhando para o corpo do padre à minha frente, eu não sabia o que fazer daquela situação.

Tique, tique—

Baixei a cabeça para olhar o cronômetro — 17:19 — e um pensamento cruzou minha mente.

‘Será que voltei no tempo?’

…Faria sentido, considerando que o tempo havia retrocedido cerca de meia hora.

Tudo que eu havia experienciado parecia tão real, desde a mão em minha garganta até a tensão que senti ao tentar sair dali.

“Não, espera.”

Foi então que finalmente entendi.

Desviando minha atenção para a janela de status, meus olhos pousaram em uma habilidade específica.

“…!”

Meus olhos se arregalaram imediatamente ao notar a habilidade aparecer em cinza: [Olhos do Vidente]. Pela cor, sabia que a habilidade estava em algum tipo de recarga. Não sabia por quanto tempo, mas pelo menos agora tinha certeza de uma coisa.

‘Então é isso.’

O que havia acontecido momentos antes foi tudo por causa da habilidade.

“Em vez de viagem no tempo, é mais como se eu tivesse vislumbrado o futuro.”

Um cenário possível que ocorreria se eu prosseguisse com meu plano original. O pensamento me fez suar frio.

‘…Estive tão perto de perder tudo.’

Brinquei com minhas mãos, andando de um lado para o outro no quarto, ajustando minha mente e me acalmando. Depois de um tempo, meu olhar pousou no padre sentado na cadeira. Considerando que ele ainda estava desacordado, não me preocupei muito com ele fazer algo e comecei a revistar seu corpo.

“Está aqui.”

Foi então que finalmente avistei um dispositivo de comunicação e o puxei.

‘Fui muito precipitado. Deveria ter pensado melhor.’

Dada a abrupta situação, não pensei no dispositivo de comunicação. Nunca havia passado por minha mente, já que meu plano era me livrar dos dois. No entanto, agora estava claro para mim que o dispositivo de comunicação era importante.

Tzzz—

Uma notificação piscou repentinamente no dispositivo.

—Está acontecendo algo? O que está demorando tanto?

Era uma mensagem do outro padre.

—…Marian?

—Vou para a sala se você não me responder logo.

“Como esperado, ele está prestes a vir.”

Tique, tique—

Eram 17:20.

Eu ainda tinha cerca de dez minutos antes que ele viesse até mim.

‘Não, nessa altura já será tarde demais.’

Sem hesitar, comecei a digitar uma mensagem no dispositivo de comunicação. No entanto, justo quando estava prestes a enviar a mensagem, parei.

“Espera, não é isso.”

Minha principal fonte de problemas não eram os dois padres.

O que me preocupava era o homem de vestes brancas. Ele era como uma fonte de ruína iminente que respirava pesadamente em meu pescoço.

Era como se ele estivesse observando cada passo que eu dava, esperando que eu escorregasse para então me levar.

“Mesmo se eu conseguir sair, parece que ele ainda virá atrás de mim.”

Se fosse assim, o que eu poderia fazer?

…Precisava encontrar uma maneira de tirá-lo do meu encalço.

“Mas como?”

Como exatamente posso fazer isso?

Cerrei.

Cerrei meus dentes, mordi meus lábios e massageei meu queixo. Todos os tipos de ideias surgiram em minha mente enquanto tentava pensar em uma saída para aquela situação.

Tinha muitas ideias, mas todas pareciam inúteis diante do Guardião.

Parecia que ele conseguia ver através de tudo.

“Como? Como posso—”

Meus passos pausaram e olhei para minha mão.

Finalmente, um pensamento cruzou minha mente e senti um nó se formar em minha garganta. Por fim, mordendo meus lábios com ainda mais força, guardei o dispositivo de comunicação.

“Isso é loucura. Isso é absolutamente loucura. Mas…”

E se?

***

Tique, taque—

Eram 17:28.

“O que está demorando tanto…?”

O padre Kyle verificou a hora e franziu a testa. Já fazia um tempo desde que Marian havia saído e ele ainda não havia entrado em contato. Havia algum problema?

“Vou esperar mais um pouco.”

Kyle ficou na entrada do prédio por mais alguns minutos, tentando contatar Marian nesse meio-tempo. Ele esperava receber uma resposta em breve, mas essa resposta nunca veio.

Seu coração começou a afundar lentamente.

‘Será que algo realmente aconteceu?’

Os dois estavam atualmente encarregados de uma missão muito importante.

Embora dez minutos sem comunicação parecessem nada, para uma missão tão importante quanto a deles, era muito tempo. O padre Kyle entendeu a gravidade da situação e decidiu enviar uma mensagem ao Guardião.

[O padre Marian entrou na sala confessional. Ele ainda não me respondeu. Vou verificar agora. Se você não ouvir uma resposta nos próximos minutos, algo aconteceu conosco.]

A mensagem era clara e direta. Era apenas uma precaução de segurança caso algo acontecesse lá dentro.

Se algo realmente acontecesse, seria melhor se o Guardião fosse alertado.

“Ok.”

Assim que terminou de enviar a mensagem, o padre Kyle seguiu diretamente para a sala onde o convidado especial estava hospedado.

Tak—

O corredor era longo e cada passo ecoava suavemente.

Movendo-se com passos cuidadosos e deliberados, o padre finalmente chegou à sala designada, parando diante da porta.

Tok—

“Marian?”

Ele chamou silenciosamente após bater na porta.

Um estranho silêncio seguiu após sua batida. Era um silêncio perturbador que o fez hesitar. Segurando o dispositivo de comunicação com força, ele o colocou no bolso antes de abrir a porta.

Tique, taque—

Eram 17:33.

“…!”

Os olhos de Kyle se arregalaram no momento em que ele olhou para dentro da sala. Sentado no meio da sala estava o cadete que o olhava com uma expressão calma. Aos seus pés, dois corpos. Um pertencia a Marian, enquanto o outro pertencia a Sua Santidade.

Ambos pareciam mortos.

Especialmente o Papa. Ele…

“O… o quê?”

O corpo do padre tremeu.

Alternando seu olhar entre os dois corpos e o cadete, a expressão de Kyle mudou drasticamente.

“O… o que você fez?”

Kyle sacou sua espada.

Balança!

“O que você fez!?”

Sua voz ecoou pela sala. Embora ele não fosse muito forte, deveria ser o suficiente para lidar com um cadete do segundo ano.

No entanto…

Estávamos falando do mais forte dos quatro Impérios.

‘Não, espera. Preciso avisar o—’

“Não se preocupe.”

Uma voz calma encheu a sala. A expressão de Kyle mudou enquanto ele levantava a cabeça.

“…Você estava prestes a contatar o Guardião, não é? Não se preocupe. Você não terá chance de usá-lo antes que eu o mate.”

O cadete levantou a mão e fios repentinamente dispararam pela sala.

“!”

A expressão de Kyle mudou e ele desviou. Vendo que a situação havia chegado a esse ponto, ele parou de pensar no dispositivo de comunicação e investiu contra o cadete.

‘O Guardião deve chegar logo. Só preciso resistir por dez minutos. Mesmo que não consiga derrotá-lo, devo ser capaz de resistir por esse tempo!’

Tique, taque—

Eram 17:35.

Swoosh!

Kyle inclinou-se para frente, desviando por pouco dos fios que desciam de cima. Embora extremamente finos e quase invisíveis, ele conseguiu rastreá-los, cada fio marcado por traços fracos de mana que brilhavam o suficiente para ele sentir.

Ser famoso não era exatamente uma coisa boa.

Isso permitia que as pessoas entendessem como suas habilidades funcionavam, e Kyle entendia bem as habilidades de Julien.

Foi por isso que ele não ficou surpreso com sua habilidade com fios e, na verdade, até conseguiu contorná-los e se aproximar dele.

“!”

Assim que desviou, um calafrio subiu por sua nuca. Instintivamente, Kyle firmou o pé, girou e balançou sua espada em um arco rápido atrás dele, mirando interceptar qualquer coisa que viesse de suas costas.

Clank!

Faíscas voaram pelo ar enquanto Kyle era forçado a dar vários passos para trás.

Enquanto seu peito subia e descia, ele olhou para sua espada, onde um amassado havia se formado.

“Isso…”

Ele mal conseguia conter sua surpresa. Vale notar que sua espada, embora não fosse exatamente uma relíquia poderosa, ainda era bastante resistente. Feita de um metal relativamente raro e osso de monstro, seria necessária muita força para amassá-la.

Para o cadete amassar sua espada com seus fios…

‘Isso é ruim.’

Suor escorria pelo rosto de Kyle.

Suas palmas estavam suadas e o pânico começou a se instalar em sua mente.

‘Será que consigo durar dez minutos…?’

No ritmo em que a luta estava indo, ele não tinha tanta certeza de que conseguiria durar tanto tempo. No entanto, ele não teve muito tempo para refletir sobre sua situação. Sentindo um leve traço de movimento de mana à frente, sua expressão ficou tensa e ele rapidamente pulou para o lado direito.

Xiu! Xiu!

Pequenos buracos se formaram no chão onde ele estava antes, enquanto fios apareciam do nada.

‘Tão rápido!’

A expressão de Kyle mudou, seus olhos analisando cada canto da sala.

Ele estava tentando virar a situação a seu favor.

A vontade de fugir quase o dominou, mas ele resistiu, percebendo que correr para a saída provavelmente jogaria exatamente no que o cadete queria. Em vez disso, ele se firmou, e sua mente correu com todas as possibilidades.

Eventualmente, uma ideia se formou em sua mente.

Uma ideia ousada e imprudente, mas o que mais ele poderia fazer?

Cerrando os dentes, Kyle desviou sua atenção pela sala antes que o lado direito de seu peito começasse a brilhar.

Habilidade do osso: [Brilho do Sol].

Uma luz brilhante iluminou instantaneamente a sala, cegando sua visão. Fechando os olhos rapidamente, Kyle correu para frente. Em direção a onde o cadete estava.

Ele havia memorizado o layout da sala com antecedência, então sabia para onde ir.

“Haa!”

Sua velocidade era rápida. Em momentos, ele chegou diante de onde o cadete estava e, sem perder fôlego, desferiu um golpe.

Jorra!

Sua lâmina atingiu algo sólido, seguido por um respingo úmido e doentio em suas roupas. Um cheiro metálico de sangue encheu o ar, grudando nele.

‘Consegui?!’

Euforia encheu o padre, que piscou os olhos algumas vezes para recuperar a visão e, quando o fez, olhou para baixo para ver o resultado de suas ações.

“…!”

Apenas para seu fôlego deixar seu corpo momentos depois.

“O… o quê?”

Ele deu um passo para trás, suas mãos tremendo enquanto encarava a cena à frente. O padre Marian deitado na cadeira com um corte profundo em seu corpo.

“…C-como, como?”

O cadete não estava ali? Como isso…?

“Pftt.”

Uma certa risada encheu a sala e a cabeça de Kyle se virou para onde o corpo de Marian estava. Foi então que ele finalmente percebeu que havia sido enganado, enquanto Julien aparecia no chão, um sorriso zombeteiro em seus traços.

Tique, taque—

O relógio tique-taqueava.

“Você!”

Os olhos de Kyle ficaram injetados de sangue.

Uma raiva incontrolável que o fez perder a calma. Sem pensar, ele levantou sua espada e desferiu um golpe direto em Julien.

Swoosh!

Sua espada desenhou um arco reto para baixo, diretamente em direção ao pescoço de Julien.

O olhar de Julien permaneceu fixo na lâmina, assustadoramente calmo, sem nem mesmo um piscar de olhos em seu rosto.

Naquele momento tenso, enquanto a ponta da espada pairou a meros centímetros de seu pescoço, uma força repentinamente puxou o corpo de Kyle para o lado, arremessando-o contra a parede próxima.

Estrondo!

“Uekh!”

Enquanto a parede cedia, sangue jorrou do corpo do padre.

Baque!

Deslizando pela parede, a clareza retornou à mente do padre enquanto ele levantava a cabeça.

“Cough…! Cough!”

‘O… o que diabos aconteceu?’

Levantando a cabeça, ele olhou para cima e viu uma figura vestida de branco parada na entrada da porta. Seus olhos se arregalaram ao vê-lo.

“O que temos aqui?”

Tique, taque—

Eram 17:41.