Capítulo 459: Sombra Escura [1]
Linus piscou os olhos, incapaz de abrir a boca.
Ouvindo a pergunta do irmão, ele não sabia como responder. Como ele se sentia? Claro, a resposta era simples.
Ele se sentia um lixo.
Como alguém se sentiria ao ser esbofeteado para chamar a atenção do irmão?
“E então?”
Quando Julien perguntou novamente, Linus sentiu o olhar de Jacob.
Linus subitamente se sentiu pressionado. Porém, vendo o olhar severo do irmão, algo dentro dele se quebrou e ele abriu a boca.
“Um lixo. É isso que quer que eu diga?”
Ele começou a falar com sinceridade.
“Por que eu gostaria de ser usado para chamar sua atenção?”
Virando a cabeça, Linus olhou furioso na direção de Jacob. Enquanto sua expressão se distorcia, ele pressionou o dedo contra o peito de Jacob.
“Vou dizer agora para deixar claro. Meu irmão não dá a mínima para mim. O que quer que faça comigo, só vai deixá-lo feliz. Pode me esbofetear o dia todo se quiser, mas não vai adiantar nada. Se quer desafiar ele, por que não diz diretamente?”
As palavras saíram sem esforço da boca de Linus.
Embora Linus não estivesse prestando muita atenção, ele sentiu vagamente os lábios de Julien se curvarem levemente. Ele quase parecia orgulhoso, mas como poderia ser?
Devia ser imaginação sua.
Pressionando o dedo com mais força, Linus estreitou os olhos.
“Está com tanto medo assim de pedir para lutar com ele? Por que precisa fazer isso de forma tão indireta? Você—”
“Já disse o suficiente.”
Linus sentiu a mão de Jacob agarrar seu pulso, a força tão firme que ele lutou para se soltar.
Embora a expressão de Jacob estivesse calma, Linus percebeu pelo tom de voz que ele estava furioso.
“Você está certo, eu deveria ter sido mais direto.”
O aperto de Jacob no pulso de Linus aumentou. Era forte o suficiente para fazê-lo estremecer.
“Ainda assim, tem certeza que seu irmão não fará nada se eu fizer algo com você?”
“Eh…?”
Erguendo a cabeça, Linus olhou para Jacob e engoliu suas palavras. Um mau pressentimento repentino o invadiu.
Porém, quando percebeu, já era tarde demais.
Estrondo!
Um punho voou em direção ao seu rosto.
“Ukh!”
Linus ouviu um som ‘abafado’ de algo quebrando enquanto o punho descia, forçando sua cabeça para trás. Uma dor intensa invadiu sua mente naquele momento, fazendo sua visão ficar branca.
Quando recuperou a visão, sentiu que o mundo estava de cabeça para baixo.
Movendo a cabeça, ele podia ver seu irmão olhando para ele à distância. Ele o encarava sem expressão enquanto uma sombra cobria seu corpo pouco depois.
Montando no corpo de Linus, Jacob ergueu o punho enquanto olhava para Julien.
“Você realmente não vai fazer nada?”
“….”
Nenhuma resposta.
Jacob acenou com a cabeça, e seu punho desceu com força.
Estrondo!
Linus sentiu sua cabeça recuar para a direita.
“Nada?”
Estrondo!
E então para a esquerda.
“Urkh…”
Linus sentiu sua mente ficar em branco com o impacto.
“Mesmo? Vai ficar aí parado e assistir enquanto eu—”
“Continue.”
Uma voz fria ecoou, e Linus sentiu seu corpo ficar gelado. Jacob também pareceu surpreso, seus movimentos desacelerando.
Porém, se recuperando rapidamente, ele cerrou o punho com força e desferiu outro golpe.
Estrondo!
“….!”
Linus ouviu outro ‘crack’, e sua expressão se distorceu. Ele queria revidar, mas como poderia? A diferença de força entre ele e Jacob era enorme.
Ele só podia suportar silenciosamente a surra que parecia não ter fim.
Estrondo, Estrondo—
A dor já havia se entranhado em sua mente, e parecia nunca acabar.
Linus queria que parasse, mas isso nunca acontecia.
Até que…
“O que está acontecendo aqui?!”
Ele ouviu um som distante.
Parecia ser de um dos Professores, pois ouviu passos apressados. Só então a dor parou.
Não, ainda estava lá.
…Só parou de doer tanto.
Tudo depois disso pareceu um borrão.
Exceto por uma voz familiar.
“Lembre-se dessa dor.”
Era a voz de Julien. Dentro da escuridão que nublava a visão de Linus, suas palavras penetraram profundamente em sua mente.
Eram palavras que Linus nunca esqueceria.
“…Porque só vai piorar daqui para frente.”
Porque as coisas realmente pioraram a partir daquele momento.
***
O tempo que levou para um Professor chegar depois que Linus começou a ser espancado foi cerca de um minuto e meio. A resposta foi bastante rápida.
Vendo que havia muitas testemunhas, não demorou para prenderem o responsável por espancar Linus e levá-lo embora. Ele provavelmente ficaria detido por algumas semanas.
Olhando para o corpo de Linus e vendo seu estado machucado, eu franzi os lábios.
“Por que você não fez nada?”
Mesmo enquanto Leon falava, mantive meu olhar no corpo de Linus.
“Eu queria perguntar o mesmo para você.”
“O que quer dizer?”
“Acha que não percebi que você estava aqui? Sei que estava assistindo, assim como eu.”
“….”
O silêncio de Leon dizia muito.
Eu balancei a cabeça enquanto mantinha meu olhar em Linus. Relembrei todo o evento e suspirei.
“Ele é imaturo.”
“….Você está certo.”
Leon disse, abaixando levemente a cabeça.
“Ele é inteligente. Provavelmente mais que você e no mesmo nível do chefe da família, mas suas emoções o limitam.”
“Sim.”
Não havia como negar que Linus era inteligente.
Ele conseguiu ficar em primeiro no exame teórico e obter os melhores votos em qualquer coisa que envolvesse teoria. Porém, o mesmo não podia ser dito sobre seus exames práticos.
Ele não era fraco, mas também não era forte.
Ele era…
Mediano.
Porém, se alguém me perguntasse quem eu temeria mais em uma luta entre Linus e Jacob, eu responderia Linus sem hesitar. Talvez não o Linus atual. Mas uma versão futura capaz de controlar suas emoções.
De certa forma, eu tinha a sensação de que ele poderia se tornar alguém como o Chefe da Família: Aldric Evenus.
Só de pensar naquele homem, arrepios percorriam minha espinha.
Linus definitivamente tinha potencial para se tornar alguém assim.
Só que ele ainda era muito imaturo. Ele deixava suas emoções guiarem seu julgamento, o que o fazia agir de forma inadequada.
“Acho que isso provavelmente vai ajudá-lo a amadurecer um pouco.”
“Mas é o suficiente?”
Sentindo o olhar de Leon, eu balancei a cabeça.
“Claro que não.”
“Então…?”
Eu encolhi os ombros.
“Mesmo não sendo seu irmão de verdade, ainda sou tecnicamente seu irmão. Não posso ficar aqui sem fazer nada.”
“Pare com isso.”
“Eh?”
Sendo interrompido por Leon de repente, eu pisquei os olhos confuso. Então, como se lesse meus pensamentos, Leon falou:
“Você só está ajudando porque quer que ele fique famoso.”
“O-o quê?”
Surpreso, minha cabeça virou na direção dele.
“O que você…?”
“Se ele ficar famoso, ninguém vai prestar atenção em nós e aquele apelido idiota vai desaparecer. Não é?”
“Eu…”
Como ele sabia?!
“Você.”
Leon balançou a cabeça, quase decepcionado.
“…Não esperava algo tão brilhante de você.”
“Eh?”
Apertando minha mão no ombro, Leon me olhou seriamente.
“Se precisar de algo, me avise. Farei o possível para ajudar.”
***
Noite, algumas horas após a entrevista.
Os eventos que ocorreram entre Julien, o Guardião e o Papa foram mantidos em sigilo pela Academia. Para não espalhar pânico, decidiram que todas as informações seriam seladas do conhecimento externo.
Havia, porém, algumas exceções.
“O Guardião matou o Papa e tentou inserir uma alma dentro do corpo de Julien?”
O rosto de Aoife ficou estranho ao ler o relatório dentro de seu quarto. Após os eventos estranhos dos últimos dias, Aoife havia pedido antecipadamente o relatório sobre a situação.
Sim, ela estava curiosa.
Mas mais do que isso, isso também fazia parte de seu trabalho.
Ela não podia simplesmente fingir que nada havia acontecido. Como poderia ignorar o desaparecimento de Julien nos últimos dias?
Isso também era parte de suas responsabilidades como Princesa.
“Mas que diabos?”
Porém, quanto mais lia o relatório, mais seu rosto mudava.
“Isso não faz sentido.”
Os olhos de Aoife se estreitaram ao pausar em uma seção específica.
“Um Papa morreu, e a igreja de Oracleus não está fazendo nada? Não, não só isso, mas um dos Guardiões tentou inserir uma alma no corpo de Julien…?”
Quanto mais Aoife lia o relatório, mais incrédula sua expressão ficava.
A série de eventos era lógica na forma como eram descritos. O Guardião matou o Papa e tentou plantar uma alma no corpo de Julien para incriminá-lo.
Isso era lógico considerando a força do Papa.
Porém, Aoife sabia que era mentira.
Porque…
Julien estava possuído mesmo antes de encontrar o Guardião.
O que isso significava?
“O Guardião não matou o Papa.”
Ele era inocente, e mesmo assim…?
“Foi incriminado.”
Por quem? Quem poderia ter feito isso? Aoife mordeu os lábios. Ela já sabia a resposta, mas ao mesmo tempo, achava difícil compreender.
Afinal, não havia como Julien matar o Papa.
Absolutamente impossível.
E mesmo assim…
O aperto de Aoife no relatório se tornou mais forte, e assim que suas mãos começaram a tremer, seus arredores mudaram.
“Eh…?”
Piscando os olhos, Aoife ergueu a cabeça e olhou ao redor.
“O que—”
Suas palavras pararam quando olhou em volta.
Uma silhueta escura estava diante dela. Ela sentiu que seus traços eram vagamente familiares, mas ao mesmo tempo, desconhecidos.
Suas costas estavam viradas para ela, e ele segurava uma espada.
Aoife se sentiu incapaz de se mover. Estava presa, colada ao chão. Não conseguia nem abrir a boca.
Tudo que sentia era um calor estranho que parecia vir dos arredores.
Crackle!
Foi então que ela percebeu.
Chamas engoliam seus arredores.
‘O quê…?’
Atordoada, Aoife olhou em volta. Só parou ao ouvir uma voz que conhecia muito bem.
“Eu… deveria ter sabido.”
Foi então que ela finalmente viu.
Deitado sob a silhueta escura estava uma figura que conhecia desde criança. Com sangue escorrendo de sua boca e seu corpo deitado nos escombros, ele olhou para cima com um meio sorriso.
O sorriso tão familiar apareceu em seu rosto pálido enquanto ele olhava para cima.
Para a figura escura.
Ele era…
‘Irmão?’
Seu irmão.

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