Capítulo 463: Bebida [1]
O que é necessário para se tornar um Monarca?
Será tão simples quanto alcançar o nono nível, ou havia algo mais profundo — algo mais sombrio?
Para o povo comum, pode parecer uma questão de talento bruto ou providência, como se o destino simplesmente selecionasse seus governantes. Mas aqueles que usavam a coroa dos verdadeiros Monarcas conheciam a verdade não dita: seus tronos não eram construídos de glória, mas de sacrifício.
Para estar no topo do mundo, sangue tinha que ser derramado. Escolhas tinham que ser feitas, escolhas que arranhavam a alma e deixavam marcas que nenhum poder poderia apagar. Para cada título, para cada reconhecimento, havia uma dívida – um custo pago não em ouro, mas em dor e angústia. Algumas dele, outras nos outros…
Ivan sabia disso melhor do que ninguém.
Os horrores que ele suportara e infligira em seu caminho para o topo eram memórias que ele não ousava recordar.
Álcool era um ótimo meio para esquecer.
Com poder suficiente, o álcool poderia fazer qualquer um esquecer. Até um Monarca não era diferente. Embora houvesse feitiços que pudessem alcançar efeitos similares, não era a mesma coisa.
Ivan costumava ser viciado em álcool.
Ele amava aquilo.
Saboreava.
Ajudava-o a esquecer a dor, e através desse ciclo, ele se encontrou no pico do mundo.
Ele havia alcançado um ponto onde podia olhar para o mundo de cima.
E foi também nesse ponto que ele decidiu parar.
Nesse estágio de sua vida, ninguém tinha autoridade para comandá-lo. Como poderiam? Ele era o mais forte. Era ele quem comandava. Ele não precisava fazer as coisas que costumava fazer.
Podia começar de novo.
…E o primeiro passo foi largar o álcool, o que ele fez.
Quase uma década se passou desde aqueles dias, e Ivan quase esquecera o gosto do álcool. Aquela familiar mistura de amargor e doçura que um dia lhe concedera um meio de escape.
Ele não precisava mais disso.
“….Faz tempo.”
Inclinando a cabeça para trás na cadeira, Ivan tamborilou os dedos na mesa de madeira. Enquanto seus pensamentos permaneciam sobre a garrafa de vinho, ele lambeu os lábios.
Estavam estranhamente secos.
“Devo estar cansado.”
Ele normalmente não ficaria tão perturbado por algo como uma garrafa de vinho.
Quando alguém alcança um certo nível, sua estabilidade mental aumenta. Era preciso muito para abalar o coração de um Monarca.
Mas se estivessem cansados…? Isso era uma história diferente.
Quanto mais cansado alguém está, mais fraca é sua força mental.
“Acho que realmente estou.”
Enviar um clone tão longe realmente consumira muita mana. Colocando dessa forma, fazia sentido. Não apenas isso, mas levando em conta o fato de que ele estava trabalhando desde o amanhecer, era natural que estivesse cansado.
Pegando sua caneta, Ivan olhou para a revisão do caso e lambeu os lábios mais uma vez.
“Vou terminar isso e descansar um pou—”
Ivan parou subitamente.
Erguendo a cabeça, seus olhos repousaram sobre uma caixa de madeira que estava no sofá à sua frente.
“O quê?”
Sua expressão começou a mudar então, enquanto seus olhos se estreitavam.
Pressionando o dispositivo de comunicação, ele rapidamente chamou Clara.
“Ei, Clara. Você esqueceu de levar o presente?”
Ele não teve que esperar muito pela resposta. Ela veio em instantes.
—Hai! Parece que esqueci! Sinto muito.
“Está tudo bem.”
Ivan afastou a mão do dispositivo de comunicação e recostou-se. Estava um pouco irritado, mas manteve a compostura.
Pegando a caneta, ele retomou sua revisão do caso.
Mas…
Tak—
Largando a caneta, Ivan recostou-se na cadeira.
‘Não consigo trabalhar assim.’
Apesar de seus melhores esforços para se concentrar, o olhar de Ivan continuava voltando para a caixa. Era como se o objeto tivesse algum tipo de fascínio inexplicável, atraindo seus olhos repetidamente, não importando o quanto ele tentasse resistir.
Isso dificultava seu foco.
Apertando a ponte do nariz, ele suspirou.
“Acho que realmente estou cansado.”
Ele se lembrou de descansar depois que terminasse. Como não conseguia se concentrar, decidiu fazer uma pequena pausa para esperar Clara chegar. Fechando os olhos, decidiu tirar uma soneca.
“….”
Enquanto o ambiente ficava em silêncio, as sobrancelhas de Ivan lentamente se franziam.
Mais uma vez, a garrafa permaneceu em sua mente.
A caixa se recusava a sair de seus pensamentos, sua presença persistindo em sua mente como um inseto irritante que ele não conseguia espantar. Junto com o pesado silêncio que o envolvia, a atmosfera se tornava cada vez mais sufocante.
Cobrindo a boca, Ivan tentou desviar seus pensamentos dela.
Mas…
“….”
Ele não conseguia se conter.
Erguendo a cabeça para olhar para a caixa, ele sentiu um nó se formar em sua garganta. Por um breve momento, começou a recordar o gosto doce e amargo que pensara ter esquecido.
“….”
Ele lambeu os lábios.
Quantas vezes ele já fizera isso nos últimos segundos?
Suas mãos começaram a coçar.
Seu coração acelerou, e seus lábios se pressionaram firmemente.
To Tok—
“Estou aqui! Desculpe pela intromissão repentina.”
Entrando no escritório, Clara correu em direção à garrafa. Ela estava prestes a pegá-la quando parou.
“Senhor Ivan?”
Seu tom preocupado tirou Ivan de seus pensamentos enquanto ele erguia a cabeça para olhar para ela.
“Sim…?”
“Você está bem?”
“Por que não estaria?”
“Não, é que…”
Com alguma hesitação, ela engoliu a saliva e falou,
“Você parece um pouco pálido. Tem certeza de que está tudo bem?”
“Pálido?”
Virando a cabeça para olhar no pequeno espelho, a expressão de Ivan mudou sutilmente ao ver seu reflexo. Era como Clara dissera. Seu rosto estava pálido, e seus lábios também.
Quando isso…
“Você deve estar cansado, certo? Isso costuma acontecer.”
A voz de Clara ecoou ao fundo.
“Eu vi o quão arduamente você trabalha. Você está acordado desde cedo na última semana, saindo à noite. Acho que você deveria descansar um pouco.”
“Ah, sim. Você provavelmente está certa.”
Ivan esfregou a cabeça, desviando seu foco para a revisão do caso à sua frente.
Suas palmas estavam estranhamente suadas.
“….Deixe-me apenas terminar isso.”
“Oh, entendo.”
Clara parecia preocupada, mas pressionou os lábios e parou de falar.
“Então…”
Hesitante, olhando para a garrafa à sua frente, ela a colocou sobre a mesa.
“…Por que você não toma um pouco?”
As sobrancelhas de Ivan se franziram fortemente enquanto ele erguia a cabeça.
“Você não me ouviu antes? Eu não gosto de beber.”
Sua voz até subiu um pouco.
No entanto, Clara não se intimidou.
“Eu sei, eu sei, mas no seu estado atual, você merece beber um pouco.”
“Não! Eu não vou beber!”
A voz de Ivan ecoou pelo escritório. Dessa vez, Clara se intimidou, até dando um passo para trás.
“Ah.”
Vendo a expressão de medo em seu rosto, Ivan saiu do transe e apertou os lábios.
“Desculpe, acho que realmente estou cansado. Normalmente não sou assim.”
“Eu sei.”
Clara respondeu, sua voz um suave sussurro.
“…Eu só pensei que poderia ajudá-lo, senhor.”
“Ajudar-me? Como isso me ajudaria?”
“Porque, às vezes… É bom esquecer.”
“Uh?”
Ivan olhou na direção de Clara. Naquele momento, ela sentou-se na cadeira à sua frente enquanto colocava a caixa sobre a mesa.
“Eu não sei o que fez você decidir parar, mas às vezes, é preciso liberar todas as emoções reprimidas.”
Sua voz era calmante, agradável aos ouvidos enquanto Ivan escutava.
“….Tenho certeza que alguém como você tem muitas emoções reprimidas, certo?”
“Sim, claro que tenho.”
Ivan respondeu em um tom baixo, desviando sua atenção para os papéis da revisão do caso.
“Há muitas coisas me incomodando ultimamente, e não pensei que você entraria nisso.”
“Entendo, não quis incomodá-lo.”
“Foi mesmo? Parece muito para mim que você está tentando me fazer beber. Você me acha estúpido!?”
Estrondo!
Ivan bateu o punho na mesa enquanto se levantava. Sua presença imponente instantaneamente fez Clara se levantar, e ela ergueu as mãos.
“Senhor, você está entendendo errado. Está entendendo errado. Eu realmente não—!”
“…Claro que você diria isso.”
Movendo a mão, a caixa flutuou no ar e chegou até Ivan, que a abriu e pegou a garrafa.
“Por que você quer que eu beba? Há algum tipo de veneno aqui? É isso?”
“Como poderia…?”
Plop!
Com um movimento do polegar, a rolha do vinho voou.
“Venha aqui!”
“Hiep!”
Erguendo a outra mão, o corpo de Carla foi arremessado em sua direção, sua mão apertando seu pescoço.
“O-O quê…?”
“Você quer que eu beba? Tudo bem, mas você bebe comigo.”
“!!”
Pegando a garrafa, ele a enfiou diretamente em sua boca. Os olhos de Carla se arregalaram consideravelmente enquanto seu rosto empalidecia. Ela tentou resistir ao seu aperto, mas como poderia?
Não havia como ela resistir a Ivan.
Swoosh! Swoosh!
Enquanto seus membros se debatiam fracamente, Ivan impiedosamente forçava o vinho mais fundo em sua boca. Filetes de vermelho começaram a escorrer pelos cantos de seus lábios, se acumulando abaixo, enquanto seus olhos reviravam, deixando apenas um branco arrepiante.
Eventualmente, sua resistência parou, mas Ivan estava tão fora de si que não percebeu.
“Beba! Beba! Beba!!”
Seus olhos estavam vermelhos enquanto ele enfiava a bebida garganta abaixo. Ele estava tão absorto em suas ações que não percebera que Carla já havia parado de respirar.
“Beba! Como está? O gosto—”
Levou um bom minuto para ele perceber, e só então ele parou.
Mas aí já era tarde demais.
Em seu momento de loucura passageira, ele…
Pinga! Pinga…!
O som suave e rítmico do vinho pingando no chão ecoou assustadoramente no silêncio do ambiente. Ivan ficou imóvel, sua mão tremendo enquanto encarava em branco o corpo sem vida à sua frente, seus olhos ficando turvos.
“O-o quê… o quê…”
Tudo aconteceu tão rápido que ele ainda não percebera o que ocorrera.
Quando percebeu, no entanto…
Baque!
Ele soltou o corpo de Clara e desabou em sua cadeira.
Com uma expressão vazia em seu rosto, seus olhos pousaram na garrafa sobre sua mesa.
“….O-o que aconteceu? Como…?”
***
Tr Trr—!
O som alto do despertador me acordou cedo de manhã. Esfregando os olhos, verifiquei a hora: 3:35 da manhã, e massageei o rosto.
Era bem cedo, mas esse era normalmente o horário em que eu começava a treinar.
As aulas normalmente começavam por volta das oito da manhã, mas eu gostava de passar a manhã inteira treinando antecipadamente e me preparando.
Além disso, hoje eu tinha um certo compromisso com alguém.
“Ele virá mais tarde, então vou passar as próximas horas treinando sozinho.”
Sentando, esfreguei o rosto mais uma vez antes de ir para o banho, me trocar e ir para o campo de treinamento.
O campo de treinamento não era longe.
Ficava ao lado dos dormitórios, e eu cheguei rapidamente.
Eu meio que esperava que o lugar estivesse completamente vazio, mas para minha surpresa, ouvi sons abafados vindos de dentro.
‘Uau, tem alguém tão diligente assim?’
Surpreso, estiquei a mão para a porta e a abri.
Clank! Clank—
Instantaneamente, um som explosivo alcançou meus ouvidos, quase estourando meus tímpanos enquanto duas figuras estavam no meio do campo de treinamento, lutando uma contra a outra.
Senti uma intensa pulsação de mana varrer em minha direção, forçando-me a apertar os olhos.
Ba Boom—
Até o chão vibrou com o puro impacto da força por trás dos socos.
No entanto, não foram os sons que me chocaram.
Não, isso estava bem.
O que realmente me surpreendeu foram as duas figuras que lutavam.
‘Kaelion? Caius?’
Por que eles…?

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