Capítulo 476: Não por causa do sangue [6]
“Recuem imediatamente. Voltem para a Academia e mantenham os cadetes seguros! Repito, mantenham os cadetes seguros!”
O Professor Lambart gritou alto no dispositivo de comunicação enquanto olhava para a janela à sua frente, sua expressão cheia de preocupação. Mesmo não estando presente para ver a situação, ele sabia tudo sobre o monstro que lentamente se elevava na projeção.
Criatura de rank Terror — Mãe de Todas as Aranhas.
Isso não era algo que os cadetes pudessem lidar.
Ele também não podia permitir que algo desse errado sob sua vigilância. Isso traria problemas desnecessários.
Já estavam ocupados o suficiente, se algo acontecesse com eles então…
‘Não posso deixar isso acontecer!’
Os lábios do Professor Lambart se separaram mais uma vez enquanto tentava se comunicar com a equipe, mas assim que as palavras estavam prestes a sair, ele percebeu algo.
“Vocês me ouvem? Eu disse para recuarem imediatamente! Voltem e segurem a Mãe para que os alunos do primeiro ano possam esc— Uh?”
Ele foi cortado.
Baixando o dispositivo de comunicação para olhá-lo melhor, o Professor o trouxe novamente perto da boca e tentou falar.
“Ei, estão me ouvindo?”
Mas…
“Vocês conseguem me ouvir? Eu disse, conseguem me ouvir?”
Foi inútil.
“Alô? Alô!?”
Ele havia sido completamente cortado.
“Conseguem me ouvir? Alô!? Alô—”
“Pare.”
Uma mão alcançou o Professor, parando-o. Quando o Professor se virou, viu o Professor Heart com uma expressão sombria.
Balando a cabeça, o Professor Heart disse:
“Receio que a comunicação tenha sido cortada, e provavelmente foi voluntário.”
“O quê…”
“Parece que Julien tem seus próprios planos.”
“Esse desgraçado…!”
Estrondo!
Fragmentos de metal voaram pelo ar quando o Professor arremessou o dispositivo de comunicação contra a parede mais próxima. Respirando pesadamente, seu rosto pálido, ele virou-se para encarar o Professor Heart com fúria.
“Eu sabia que era uma má ideia desde o início! Desde o momento que aquele arrogante assumiu a situação, tudo deu errado!”
Ele estava praticamente gritando agora.
Sua voz era tão alta que até aqueles fora da tenda podiam ouvir, mas a raiva do Professor havia chegado a um ponto onde ele não se importava mais. Desviando sua atenção para a Projeção que mostrava o rosto de Julien, seu rosto se contorceu.
“Droga!”
Ele ergueu o punho e pensou em golpear a mesa, mas parou no último momento.
“Hoo.”
Respirando fundo, ele se acalmou. Não podia deixar seus nervos assumirem o controle. Não quando a situação era tão delicada.
Cada segundo importava.
Vendo o Professor se acalmar, Joshua Heart suspirou aliviado e começou a falar:
“Não há necessidade de ser tão apressado. Embora a situação seja ruim, há dois alunos do segundo ano presentes. Ambos são os melhores entre os melhores do Império. Se pensar direito, os alunos do primeiro ano não deveriam estar em perigo. Levá-los para segurança deve ser fácil para eles. Na verdade, se os dois trabalharem juntos, derrotar a ‘Mãe’ não deve ser impossível.”
“Eu sei disso. Acha que não conheço as habilidades deles? Sei que podem derrotar a ‘Mãe’ se quiserem.”
O Professor Lambart apertou o centro das sobrancelhas, seus olhos se estreitando.
“Também sei que os dois podem levar os alunos do primeiro ano para segurança, mas…”
O Professor apontou para a projeção.
“Você realmente acha que os dois pensam assim?!”
Foi a vez do Professor Heart parecer chocado. Ao olhar para a projeção, percebeu que nem Amell e nem Julien estavam interferindo. Os dois apenas ficaram de lado assistindo os alunos do primeiro ano entrarem em pânico.
“Isso…”
Ele podia entender a falta de reação de Julien, mas a de Amell…? Espera, será que ele não se importa porque não são pessoas do seu Império?
A ansiedade começou a subir do estômago do Professor enquanto ele mordia os lábios.
Ele estava prestes a se virar e relatar a situação quando notou uma mudança na tela. Ele não foi o único.
“Uh?”
O Professor Lambart também notou a mudança e se aproximou da projeção.
“Espera, eles estão…!?”
“Ah!”
A realização logo atingiu os dois Professores, que se olharam chocados. Seus rostos empalideceram consideravelmente, mas antes que pudessem fazer algo, as comunicações foram restauradas e uma certa voz entrou em seus ouvidos.
—Use seu Cheiro de Flor, a habilidade de aggro que você usou algumas vezes antes para chamar a atenção do monstro. Use-a agora para que Sophia e Jessica possam avançar sem interferência.
Parecia estranhamente calmo, uma calma tranquilizadora que fazia quem ouvia se sentir igualmente calmo, mas se prestassem atenção, escondido sob a calma da voz havia um certo frio que fazia estremecer.
Os dois Professores se olharam mais uma vez.
‘Quem é esse?’
‘…Julien?’
Não, não era. Olhando mais de perto, os Professores perceberam que quem falava era ninguém menos que Linus, que parecia uma pessoa completamente diferente.
No meio da situação desesperadora, ele era a imagem cuspida do próprio irmão.
—Peça a Sophia para conjurar um feitiço simples de gelo no chão. Deixe um pequeno rastro que se conecte ao centro.
—Não. Mais. Está muito fino. Peça a ela para construir uma pequena rampa no centro. Cerca de meio metro de altura.
—Não pare. Continue.
Os comandos eram precisos e claros.
Não havia ambiguidade neles, mas o completo desprezo que Linus tinha por seus companheiros era arrepiante para quem assistia.
Era como se ele estivesse…
Manipulando um bando de bonecos.
Booom—!
Uma explosão se seguiu e Jacob e os outros chegaram ao local designado.
Logo atrás deles estava a enorme Mãe. Os dois Professores olharam para a cena com a respiração presa, suor se formando em suas testas enquanto olhavam para Julien e Amell, que observavam a cena à distância.
Mas mesmo em tal situação, os dois não se moveram. Os Professores esperavam que fizessem algo, mas quanto mais esperavam, mais decepcionados ficavam.
Amell parecia mais pronto para reagir, mas foi rapidamente impedido por Julien, que manteve seu olhar fixo em Linus o tempo todo.
A sequência seguinte de eventos aconteceu tão rápido que nenhum dos Professores conseguiu processar direito.
Tudo o que puderam fazer foi encarar a projeção com expressões chocadas.
“Isso…”
“Como isso é possível?”
Quando tudo acabou, um corpo enorme pairava sobre os cinco cadetes, quatro dos quais estavam caídos no chão.
Linus era o único de pé.
Encarando a criatura que poderia ter tirado suas vidas a qualquer momento, ele parecia completamente indiferente.
E foi então que os rankings mudaram.
[Parabéns. Você ganhou +84 Pontos]
Eles dispararam diretamente para o primeiro lugar.
“…..”
Um silêncio tenso encheu a tenda enquanto nenhum dos Professores conseguia proferir uma palavra. O choque da situação ainda não havia se assentado em suas mentes.
Quando se recuperaram, ambos deram um passo para trás da projeção, segurando a respiração.
Quebrando o silêncio, o Professor Lambart olhou diretamente para Linus e depois para Julien.
“Isso…”
Seu olhar alternou entre os dois enquanto lutava para se articular.
“…C-como isso é possível?”
***
“Eles… realmente conseguiram.”
Com um olhar de perplexidade, Amell alternou seu olhar entre os cadetes do primeiro ano e o cadáver da Mãe atrás deles.
Ele havia testemunhado toda a cena de perto, e mesmo sabendo exatamente o que acontecera, ainda lutava para aceitar a situação.
Embora o monstro estivesse um pouco abaixo do rank Terror, estávamos falando de cinco alunos do primeiro ano!
Conseguir derrotar um monstro quase de rank Terror durante o primeiro ano… Que tipo de situação era essa?
Nenhuma palavra poderia descrever o choque atual de Amell.
Isso era simplesmente demais para ele.
…Mas se havia um indivíduo que se destacou, era ninguém menos que o irmão mais novo de Julien.
Linus Evenus.
A opinião de Amell sobre Linus não era boa no início. Ele o viu errar tantas vezes no começo, achando que estava segurando o time e que a única razão para ser capitão era o favoritismo de Julien.
Mas ele estava errado.
Ele foi provado errado.
Linus…
Desde o momento que a ‘Mãe’ apareceu, ele mudou. Era quase como se tivesse se tornado uma pessoa completamente diferente.
Era quase como se ele tivesse se tornado…
Amell segurou a respiração e olhou na direção de Julien. Ele estava ao seu lado, encarando a ‘Mãe’ com um olhar neutro. Não parecia particularmente animado com o resultado da situação. Na verdade, parecia que ele esperava tal resultado.
Isso…
Ele tinha tanta fé no próprio irmão?
Amell engoliu discretamente sua própria saliva e olhou na direção de Linus. Quanto mais olhava para Linus, mais ele começava a se parecer com Julien.
O pensamento fez Amell franzir a testa.
Ele subitamente se lembrou de todas as situações estranhas dos últimos meses na Academia e seu rosto se apertou.
‘Se ele realmente é como Julien então…’
Um olhar de pena cruzou o rosto de Amell enquanto olhava para os alunos do primeiro ano.
‘…Estou começando a sentir pena deles.’
Eles estavam prestes a ter um ano de sofrimento.
***
‘Eu… consegui? Eu realmente consegui?’
Ainda atordoado, Linus baixou o olhar para suas mãos. Ele as abriu e fechou repetidamente, como se testando para ver se era um sonho. Mas a tensão em seus antebraços a cada aperto lhe dizia que isso era inegavelmente real.
Ele realmente havia conseguido derrotar a ‘Mãe’.
‘…Inacreditável.’
Linus se sentia embriagado pela situação.
Ele ainda conseguia se lembrar da sensação clara e calma que sentira nos últimos momentos e queria saboreá-la.
Nunca antes ele sentira sua mente tão clara.
Ele queria experimentar aquela sensação novamente, mas quando tentou, percebeu que não conseguia.
Espera, por que não conseguia?
Estava cansado, ou foi um acaso?
“Você só experimentará essa clareza quando sentir medo novamente.”
Uma voz fria subitamente ecoou por trás, enviando um calafrio pela espinha de Linus. Sua cabeça virou, e diante dele estava ninguém menos que Julien.
Com um olhar indiferente, seus olhos cor de avelã pressionaram Linus.
Isso fez o Linus atual se sentir sufocado.
“O quê… O que você quer dizer?”
“Essa clareza que você sentiu em sua mente, você só a sentirá novamente quando experimentar o medo mais uma vez.”
“O que você…?”
Julien pressionou o dedo contra a própria têmpora.
“Emoções são sua fraqueza. Você as deixa controlar você. Aprenda a senti-las profundamente o suficiente para se tornar imune à sua influência.”
Linus piscou os olhos.
Embora não entendesse completamente o significado por trás das palavras de Julien, ele começava a perceber algo mais.
Julien…
Ele estava tentando ajudá-lo?
…Ele era a razão por trás de sua clareza? Ele sabia de sua fraqueza e propositalmente o torturou para torná-lo mais imune a ela?
Não, mas…
‘Estamos falando de Julien. Um monstro. Isso é falso. Não posso cair nessa—’
“Nada mal.”
“…!”
A cabeça de Linus ergueu-se, mas quando o fez, Julien já havia ido embora. Quando ele…? Não, isso não importava. Ele ouvira as palavras de Julien. Ele…
“Você deve estar bem feliz com o que fez.”
Uma voz rouca e cansada tirou Linus de seus pensamentos. Ele se virou e viu Jacob encostado pesadamente em uma árvore próxima, segurando o braço com força. Estava quebrado?
Linus estava prestes a responder quando Jacob falou.
“Vendo que você está sorrindo, acho que sim. Não te culpo. Acho que eu também estaria se estivesse no seu lugar…”
“Eh?”
Piscando os olhos, Linus repetiu as palavras de Jacob em sua mente e tocou sua boca apressadamente.
Sorrindo? Eu?
Por quê?
Não?
Sentindo seus lábios, seu rosto congelou.
Ele…
Realmente estava sorrindo.

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