Capítulo 479: A terra por trás dos muros [1]
“Para esclarecer algumas coisas, esta viagem não será tranquila. Não serão férias. Na verdade, pode-se dizer que é bem perigosa. Sua tarefa não é simples. Precisamos que descubram a situação lá e relatem qualquer coisa estranha.”
“Ultimamente, os bens importados de Kasha pararam e perdemos a maior parte da comunicação com nossas fontes internas. O que precisamos que façam é descobrir o que…”
Ouvindo a Chefe do Ano falar, esfreguei a orelha. Ela estava falando há um tempo, mas o essencial era que, embora tivéssemos sido convidados para Kasha, isso foi feito em segredo.
A Casa Myron, uma instituição de médio porte dentro de Kasha, concordou em nos levar para o território como parte de algum acordo não revelado com a Academia.
Pelo que entendi, a situação lá era um tanto complexa e precisávamos prestar atenção especial à Casa Astrid — a maior e mais poderosa Casa no lado leste de Kasha, a área para onde íamos.
…Havia mais, mas perdi por ter chegado atrasado.
‘Depois pergunto ao Leon o resto.’
Pensando em Leon, meu rosto se contorceu.
Ele estava ao meu lado, mas seus olhos pareciam vazios e saliva escorria de seu queixo. Quase parecia que ele…
Tinha enlouquecido. Não, ele realmente enlouqueceu.
“Ei, acorda.”
Meus estalos de dedos não adiantaram nada.
Estalo!
“Ei.”
Estalo, Estalo.
Ele se foi.
Mas como?
Como ele enlouqueceu?
‘Ah, espera…’
Lembrando uma certa cena de antes, tudo fez sentido.
‘Provavelmente foi o que aconteceu quando cheguei. Logo quando ele estava sendo xingado por todos ao redor.’
Pensando bem, eu também ficaria bem magoado no lugar dele. Ainda bem que me mantenho longe dos problemas alheios. Enquanto minha reputação no começo era ruim devido ao discurso no primeiro dia, agora podia-se dizer que era bastante boa.
O mesmo não podia ser dito sobre Leon.
“Chega de mim. Vou preparar um portal em breve. Preparem-se para entrar. Como não podemos configurar um dispositivo de teletransporte em Kasha, vocês serão transportados para Alfina, uma cidade dentro do Império Verdant. Ficarão lá uma noite antes de partir.”
Alfina? Império Verdant?
A notícia repentina me surpreendeu e olhei instintivamente para Leon.
‘Então vamos para o Império Verdant?’
Sim, fazia sentido. Como o Império Nurs Ancifa ficava entre os outros três, a única forma de chegar a Kasha era através de um deles.
Com o Império Verdant a leste, precisaríamos passar por ele para chegar ao destino.
Mas…
‘…Há algo suspeito nisso.’
Por que precisaríamos ficar lá uma noite? Não fazia sentido, já que o tempo parecia crucial.
A menos que…
‘Eles estejam nos fazendo ficar de propósito.’
Só conseguia pensar em uma razão para isso.
E essa razão estava bem ao meu lado.
“Ei, acorda!”
Estalo, Estalo—!
“Ei!”
Estalo!
***
Felizmente, não houve problemas após o anúncio de Arianna. Preparando o portal, os cadetes se alinharam um a um e entraram lentamente. Arianna observou em tempo real enquanto os cadetes partiam.
“Certifiquem-se de estar na fila corretamente.”
“Não corte a fila.”
“…Estão me ouvindo?”
No final, Aoife assumiu o papel de líder. Parecia ser a mais confiável para a maioria.
Era a escolha indiscutível.
Quando fizeram uma votação, ela recebeu mais votos. Arianna achou que seria disputado entre ela e Leon, mas se surpreendeu ao ver que ninguém votou nele. Não sabia o motivo, mas tinha uma leve suspeita.
‘Não é porque ele é o cavaleiro de Julien, certo?’
Se sim, quão profundo era o ódio por Julien?
Num, Num.
“Hm?”
A atenção de Arianna foi logo atraída por um leve som de mastigação à sua direita. Virou a cabeça e viu uma figura de cabelos negros e traços tão perfeitos que mal pareciam humanos, ao seu lado com uma barra de chocolate na mão.
Seus olhos se arregalaram de surpresa.
‘Quando ela chegou…!?’
“Por favor, não cortem a— Ah, são vocês.”
Sua atenção parecia fixa em Julien e Leon, os próximos na fila.
Enquanto seus dentes brancos mordiam o chocolate, seu olhar não saía de Julien, que conversava com Aoife. Olhando para Leon, Aoife se aproximou dos dois. Perto o suficiente para sua cabeça ficar a centímetros de Julien enquanto checavam o estado de Leon.
“O que há com Leon?”
“Ele ficará bem.”
“Ficará…?”
“…Acho que sim.”
Por um breve momento, os olhos de Delilah se estreitaram e Aoife estremeceu. Rapidamente virou a cabeça, olhando ao redor.
“Um assassino?!”
Seu surto repentino fez a expressão de Julien mudar.
“…Você também enlouqueceu?”
“Não, eu…”
Julien acenou com a mão e subiu no dispositivo de teletransporte. Porém, antes de partir, parou e olhou para Delilah.
Seus olhos se encontraram por um instante antes que um leve sorriso surgisse em seus lábios.
Foi então que ele entrou no portal, desaparecendo da vista, deixando Aoife sozinha. Coçando a cabeça, ainda parecia confusa, mas, vendo que era a última, dirigiu-se à Chefe do Ano.
“Todos os cadetes partiram. Ninguém ficou para trás. Agora me juntarei a eles.”
“…Ah, sim. Fiquem seguros.”
“Obrigada.”
Após a breve troca, Aoife entrou no portal.
Um silêncio curto e perturbador seguiu após seu desaparecimento. Arianna pensou em dizer algo à Chanceler, mas se conteve.
Lembrou-se dos eventos que testemunhou momentos antes e massageou a cabeça.
“Eles ficarão bem…?”
Eles realmente se comportariam?
O estômago de Arianna embrulhou com o pensamento. Antes estava confiante, mas essa confiança já se fora.
Não tinha mais certeza.
“Talvez.”
“Hm?”
Arianna inclinou a cabeça para a Chanceler.
“Talvez? Você também acha que não ficarão bem?”
“…Não.”
“Mas—”
“Estou falando dos nativos de lá.”
Colocando o chocolate na boca, Delilah mastigou rápido e engoliu.
“…Talvez eles fiquem bem.”
Ou talvez não.
Delilah já sentia pena deles.
“O quê…”
Antes que a Chefe do Ano pudesse falar, Delilah desapareceu, deixando-a sozinha.
Com o olhar fixo no local onde Delilah estava, a Chefe do Ano piscou.
“Espera, o quê?”
O que ela quis dizer com isso?
Por que eles deveriam sentir pena dos nativos?
***
Ao mesmo tempo, Condado Evenus.
“Parabéns, Conde, são só boas notícias atrás de boas notícias.”
Diante do Conde estava seu servo pessoal. Com um gesto casual, o servo jogou um pequeno papel na mesa do Conde. Seu rosto enrugado mudou, formando um sorriso largo.
“…Quem diria que o segundo jovem mestre era tão talentoso? São boas notícias para o Condado. Não só temos Julien, vencedor do Summit, mas também Leon, o vice-campeão. Agora com Linus…?”
O servo parou ali, mas suas palavras eram claras.
Com o rumo que as coisas estavam tomando para o Condado Evenus, sua ascensão era inevitável. Estavam destinados a crescer ainda mais. Talvez em alguns anos pudessem subir de patente novamente.
Qualquer pessoa normal ficaria feliz, mas a reação de Aldric pareceu mais branda.
…Na verdade, quase parecia que ele estava descontente com os eventos.
Isso surpreendeu o mordomo.
“Conde? Por que voc—”
“Ainda não consolidamos nossos ganhos. Só se passaram alguns meses desde que conquistamos novas terras. Nossos soldados estão espalhados e os recrutas ainda precisam de treinamento.”
“Sim, eu sei. Mas isso—”
“Julien e Leon já deixaram as pessoas em nossos territórios desconfiadas. Agora que um terceiro apareceu, qual será a reação deles?”
“Isso…”
“Se eu fosse eles, faria duas coisas.”
Aldric ergueu dois dedos.
“Enviaria uma carta de aliança formal, ou…”
Um de seus dedos abaixou.
“…Criaria uma aliança para suprimir o crescimento do Condado.”
“Ah, sim, verdade.”
O servo olhou para a mesa, onde uma pilha de cartas apareceu.
“Mas, pelas várias cartas em sua mesa, parece que a maioria escolheu a primeira opção.”
“Não, não escolheram.”
Deslizando a mão pela mesa, as cartas caíram no lixo ao lado.
“Uma aliança baseada em confiança cega é fantasia. Cada parte tem seus próprios interesses. Uma aliança mais confiável seria selada pelo casamento de duas linhagens, mas, infelizmente, só tenho dois filhos.”
“Certo.”
Entendendo as palavras do Conde, o rosto do mordomo ficou sério. O que antes parecia boa notícia agora parecia ruim, e ele percebeu o quão complicada era a política da casa.
Felizmente, o Conde ainda parecia calmo.
“A situação é problemática, mas posso lidar.”
O servo se sentiu aliviado.
Pelo menos até as próximas palavras.
“Podemos não absorver novos territórios, mas outros podem.”
“Eh?”
“Farei com que absorvam os territórios por mim. Quando chegarem ao nosso estágio atual, já teremos consolidado tudo. Então atacaremos.”
“….!”
Ouvindo as palavras do Conde, o servo sentiu um frio pelo corpo, estremecendo no lugar. Isso…!
Embora achasse que estava acostumado com os planos do Conde, ouvir isso só o fez tremer. Parecia que, sob esse homem, a Casa Evenus estava destinada a alcançar alturas inimagináveis.
Que tipo de ganância se escondia nele?
…E o que o levou a tal nível?
Por que ele—
“É algo a se pensar. Por agora, se me dão licença. Tenho coisas a resolver.”
Aldric mostrou uma pequena carta com o emblema da Academia Haven.
“Sim, entendido.”
Entendendo que o Conde queria ficar sozinho, o servo se retirou. Quando saiu, o silêncio tomou o aposento.
Rasgando a carta, Evenus leu seu conteúdo.
“Hm.”
Seus olhos se estreitaram.
“…Estão enviando ele para Kasha?”
O tom de Aldric era frio, e era difícil ler seus pensamentos. Por fim, seu olhar caiu em outra linha do papel.
Consentimento dos pais –>
Eu …. e … por meio deste consentimos que nosso filho, [Julien Dacre Evenus], participe da expedição planejada pela Academia.
“….”
Olhando para os dois espaços vazios no início da carta, a expressão de Aldric mudou sutilmente.
“E…”
Uma figura surgiu em sua visão. Uma mulher linda, de cabelos castanhos e olhos marrons.
Pensando nela, seus olhos ficaram vazios.
‘Se você o visse agora, seria capaz de dizer que ele não é nosso filho?’
Se sim…
Ela o mataria ou o amaria?

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