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    Eu já fui um vendedor.

    “Uh? Nada…? Tem certeza de que não há nada?”

    Aprender a ler ou prever as ações de indivíduos sobre os quais eu não sabia nada era algo que havia sido gravado em mim desde meus dias de trabalho.

    …..Nosso trabalho consistia em fazer o que fosse possível para convencer uma parte desconhecida a comprar o produto que estávamos vendendo.

    Todos os meios para atrair vendas eram considerados utilizáveis nesse setor. Mesmo que acabássemos recorrendo a métodos desonestos no processo.

    Foi graças a esse ambiente que eu fui capaz de prever mais ou menos como alguém reagiria dadas certas circunstâncias.

    Quem diria que tal habilidade seria útil em um mundo diferente?

    “Verificamos novamente, realmente não há nada.”

    “Verifique de novo.”

    “Sim…”

    Eu observei enquanto o Chefe da Casa de Leilões batia em seu blazer e roupas com confusão.

    “….”

    Eu encarei a cena em completo silêncio enquanto engolia o osso pela garganta. Doeu um pouco, mas mantive minha expressão firme e evitei mostrar qualquer coisa exteriormente.

    Tendo sido liberado de todas as suspeitas, eu estava agora livre para pegar o osso. Eu estava esperando por essa oportunidade desde o início.

    Desde o começo…

    Tudo estava fluindo como eu havia pensado.

    A maneira como ele se comportou e reagiu… Estava alinhado com como eu imaginei que ele agiria. E fazia sentido.

    Minhas ações…

    Elas seguiram uma certa sequência que levou alguém a agir dessa maneira.

    Quais eram as chances de eu derramar a bebida sobre ele antes que os guardas chegassem para alertá-lo? Somado ao fato de que eu estava batendo em seu corpo na tentativa de ‘secar’ suas roupas, fazia sentido que ele ficasse desconfiado.

    Eu não era ingênuo o suficiente para pensar que o Chefe cairia em um truque tão simples. Seria um pouco óbvio demais.

    Por isso, eu nunca tive a intenção de que o blazer fosse meu alvo.

    Desde o início, tudo foi uma cobertura para meu verdadeiro alvo.

    Gole

    ‘…..Sua bebida.’

    Eu engoli e deixei a bebida descer pela minha garganta.

    O “osso” era do tamanho de uma pequena pedra, e embora não fosse completamente transparente, ele se misturava perfeitamente com os cubos de gelo dentro da bebida vermelha.

    A menos que alguém prestasse muita atenção, não notaria.

    ….E como o Chefe notaria isso quando ele estava ocupado investigando o roubo?

    Desviando toda minha atenção para o blazer, eu consegui deslizar o osso em sua bebida. Como eu disse antes, não havia alvo melhor do que o Chefe.

    Ele pode ter mandado o guarda revistá-lo depois de se lembrar de minhas ações, mas, ao contrário dos outros convidados, onde tudo havia sido verificado, desde bebidas até corpos, ele só teve seu corpo revistado.

    Fazia todo sentido quando se considerava que talvez ele nem tivesse notado que sua bebida havia sido tirada dele no instante em que eu derramei a bebida sobre ele.

    Comparado a quão ‘extravagante’ o ‘bater’ foi em contraste com como eu havia tirado a bebida dele, era natural que ele não levasse isso em consideração.

    Eu havia propositalmente desviado sua atenção com minhas ações para fazê-lo esquecer.

    Mais ou menos como a maioria dos mágicos engana seu público em shows.

    Só que eu não era um mágico.

    “Huuu…”

    Eu respirei fundo enquanto finalmente terminava a bebida em minha mão e a colocava de volta na mesa.

    Mesmo agora, enquanto eu a encarava, podia vê-la tremendo. O nervosismo havia sido real, e mesmo agora eu podia sentir as batidas do meu coração ecoando em minha mente.

    No final, embora o plano estivesse longe de ser perfeito, as coisas aconteceram como eu esperava.

    O osso. Finalmente estava em minha posse.

    Meu plano havia funcionado.

    Mas…

    ‘Ainda não acabou.’

    Como eu disse antes, eu queria tudo. Da missão ao osso. Até agora, só consegui alcançar duas das três coisas que eu queria.

    Havia uma coisa restante para eu fazer.

    “Haa.”

    Eu soltei um pequeno suspiro e fechei os olhos.

    ‘Desmascarar a fraude.’

    ***  

    “Você está liberada. Não há nada com você.”

    “….Obrigada.”

    Evelyn apertou os lábios e deu um passo para trás. Seus pensamentos estavam em desordem, mas ela não mostrou isso exteriormente.

    Tudo o que ela conseguia pensar no momento era Julien.

    ‘Por quê…? Por que ele fez isso?’

    Por que motivo ele se esforçou para ajudá-la? Isso não fazia sentido para ela. Não poderia ser porque ele ainda se importava com ela, certo?

    Evelyn engoliu e apertou os lábios.

    A ideia parecia impossível, e ela sabia que era impossível, e ainda assim… Por que ela continuava tendo tais pensamentos?

    Era óbvio o porquê.

    ….Era porque era isso que ela gostaria de acreditar. Que talvez ele não fosse o monstro sem coração que ela havia visto. Que talvez ainda houvesse algo em seu eu quebrado.

    Algo que ainda pudesse ser salvo.

    “Evelyn?”

    Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz calma. Quando ela se virou, Leon apareceu, parado ao seu lado.

    Ele ficou em silêncio, com o olhar fixo nela.

    “…..Você está bem?”

    “….”

    Evelyn abriu a boca, mas se viu incapaz de dizer qualquer coisa. Ela finalmente abaixou a cabeça e acenou.

    ‘Eu estou bem.’

    Era o que ela estava tentando transmitir com suas ações.

    Seu comportamento estranho não passou despercebido por Leon, que franziu a testa ao vê-la e inclinou a cabeça para frente.

    “O que aconteceu…?”

    “Não, é—”

    “O que aconteceu.”

    Ele a interrompeu decisivamente, deixando-a sem espaço para dizer mais nada. Foi nesse momento que Evelyn percebeu que não poderia enganá-lo e sorriu amargamente.

    “É o Julien…”

    Ela falou devagar, mantendo a cabeça baixa.

    “Você acha que ele pode ser salvo?”

    “….”

    Sua resposta foi recebida com silêncio. Quando ela olhou para cima, ficou surpresa ao ver Leon encarando-a com uma expressão complicada.

    Então, com um longo suspiro, ele balançou a cabeça.

    “Não.”

    Ele disse decisivamente. Quase de forma muito decisiva.

    “…..Ele não pode mais ser salvo.”

    “Ah.”

    Evelyn sentiu uma pequena parte dela se partir. Especialmente quando notou a expressão tensa no rosto de Leon enquanto ele falava sobre ele.

    “….É tarde demais para isso. O Julien que você lembra. Que nós lembramos. Ele não está mais neste mundo.”

    Ele fez uma pausa antes de acrescentar.

    “Pense nele como um estranho.”

    ***  

    Depois que mais meia hora se passou e a paciência dos convidados se esgotou, o Chefe decidiu interromper a investigação.

    “Parece que os detivemos por muito tempo. Minhas desculpas pelo inconveniente. Infelizmente, não conseguimos identificar o culpado.”

    Ele anunciou, mantendo sua postura profissional.

    Com uma leve reverência, ele continuou:

    “Como um gesto de desculpas, para todos os convidados que foram incomodados por nossas ações, o leilão oferecerá um desconto de 10% em qualquer um dos produtos disponíveis.”

    Só então as pessoas no salão se acalmaram. Tinha que ser notado que um desconto de dez por cento era uma grande quantia de dinheiro, considerando o quão caros alguns dos itens listados na casa de leilões eram.

    Tal recompensa foi suficiente para lavar todo o ressentimento acumulado.

    Era um pequeno preço que o Chefe estava disposto a pagar para manter as pessoas no salão felizes. Um sorriso marcou seus traços quando ele viu as expressões satisfeitas dos convidados, e só então ele finalmente permitiu que os convidados fossem escoltados para fora do local.

    “Apesar das circunstâncias terem tornado a noite azeda, espero que todos tenham se divertido. Mais uma vez, pedimos desculpas por qualquer inconveniente.”

    Um por um, os convidados começaram a sair em uma fila ordenada.

    Enquanto os convidados partiam em uma procissão ordenada, um homem vestido com um uniforme de mordomo se juntou à fila, então discretamente se desviou para um corredor escuro.

    Tok Tok—

    Seus passos ecoaram pelo corredor, de outra forma silencioso, enquanto sua expressão calma mudava.

    “…..Falhou.”

    O plano havia falhado.

    A expressão do mordomo se distorceu com o pensamento. Como o plano no qual eles estavam trabalhando há tanto tempo poderia falhar assim…?

    Tudo havia fluído suavemente até o último momento.

    Embora ele não tivesse certeza do que havia acontecido, já que não conseguiu ver, ele mais ou menos tinha uma ideia.

    Julien Dacre Evenus.

    A Estrela Negra.

    Ele havia interferido em seus planos. Só poderia ter sido ele.

    ‘….Eu tenho que relatar isso.’

    A situação era séria. Como ele descobriu sobre o plano? Por que ele interferiu? O quanto ele sabe…?

    Tok Tok—

    Perguntas continuaram a inundar a mente do mordomo enquanto ele continuava a se mover pelo corredor silencioso.

    O plano…

    Era para ser perfeito.

    Para a Estrela Negra interferir no assunto sugeria que havia uma chance de ele saber algo sobre eles. E mesmo que ele não soubesse e tivesse agido por impulso, o que parecia improvável dada a investigação deles sobre ele e seu relacionamento com ela… Era vital que ele relatasse a situação para os superiores.

    Eles não podiam permitir que variáveis desconhecidas interferissem em seus planos.

    Não quando estavam tão perto de alcançar seus objetivos.

    “Não a—Uh?”

    No meio do caminho, o chão sob ele mudou abruptamente, e mãos invisíveis surgiram de baixo, agarrando seus tornozelos com força.

    “Ukh…!”

    Em um instante, uma onda de fraqueza varreu seu corpo, fazendo com que seu equilíbrio vacilasse.

    “O que…”

    Tok—

    Um único passo quebrou o silêncio enquanto uma voz seca cortou de trás dele.

    “….Onde você pensa que está indo?”

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