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    Foi uma jornada tranquila de volta à Academia.

    Permiti-me mergulhar em meus pensamentos, olhando fixamente para a paisagem que mudava do lado de fora da janela do trem em movimento.

    Antes que eu percebesse, o sol começou a se pôr, e eu finalmente estava de volta à Academia.

    Observei meus arredores antes de finalmente seguir para os dormitórios.

    A caminhada não foi muito longa. Cerca de cinco minutos. O ambiente estava quieto, e eu me deleitei com o silêncio ao meu redor.

    Parecia estranhamente pacífico.

    Isso até que…

    “…..”

    Passei por uma certa figura e senti meus passos pararem.

    Virei-me e nossos olhos se encontraram. Cabelos platinados longos, olhos vermelhos e um rosto que não se esqueceria, mesmo que tentasse.

    “O quê?”

    Kiera Mylne.

    Ela me olhou com seu habitual semblante carrancudo.

    “Tsk.”

    Então, com um clique da língua, ela bateu o cigarro na mão contra o chão.

    Tzzzz—

    “Feliz agora?”

    “…..Eu não disse nada.”

    Eu estava começando a aprender a não deixar que essas coisas me incomodassem. Embora o cheiro que pairava no ar ainda me fizesse sentir enjoado, estava começando a me acostumar.

    Eu não tinha o direito de forçar alguém a fazer algo contra sua vontade.

    “Pftt.”

    Mas Kiera não parecia pensar da mesma forma que eu.

    “Sua expressão diz tudo.”

    “Diz…?”

    E eu pensei que tinha mantido minha expressão firme.

    “…Tsk.”

    Ela clicou a língua novamente e jogou o cigarro longe.

    “Que seja, não estou mais com vontade de fumar. Você estragou o clima para isso.”

    “…..”

    Eu não disse nada a isso.

    Tudo o que fiz foi parar por um segundo, e de repente ela perdeu todo o interesse em fumar.

    Isso era problema dela, não meu.

    “Ah, certo.”

    Kiera parou de repente, como se tivesse se lembrado de algo. Revirando o bolso de sua saia, ela tirou algo e jogou para mim.

    “Aqui. Acho que isso é seu.”

    Agarrei com uma mão e olhei.

    “O que é isso?”

    Parecia ser uma proteção de ombro rasgada.

    Isso era…

    “É seu.”

    Ela parecia bastante certa disso.

    “Eu vi você quando estava voltando da expedição. Você estava sem uma proteção de ombro. Eu a encontrei em uma área onde muitos monstros foram mortos. Coisa horrível.”

    “…..”

    Fiquei quieto e desviei meu olhar da proteção de ombro de volta para ela.

    “Você sabe o que é louco?”

    “…..”

    “Os ferimentos dos monstros que encontrei coincidem com a morte daquele cara. Sabe, aquele cara Weasel?”

    Cara Weasel?

    “Wesley.”

    “Ah, certo. Sim, aquele cara.”

    Ela passou o polegar pelo pescoço.

    “Corte limpo. Nunca vi algo assim. Bem, eu vi. O ferimento parecia assustadoramente semelhante aos dos monstros onde encontrei a proteção de ombro.”

    Eu sabia então o que ela estava tentando insinuar e senti meus músculos ficarem tensos. Embora eu não mostrasse isso externamente, Kiera ainda sorriu. Era como se ela pudesse ler meus pensamentos internos.

    Eu pensei que ela ia levar as coisas adiante a partir daí, mas, surpreendentemente, ela não o fez.

    “Que seja. Não é da minha conta.”

    Bocejando, ela esticou o corpo.

    “Não é da minha porra da conta. Só estava dizendo.”

    Então, como se a conversa nunca tivesse acontecido, ela foi embora.

    “….”

    Fiquei em silêncio por um breve momento antes de olhar para a proteção de ombro em minha mão. Eu já tinha pensado nisso antes, mas ela realmente era uma…

    “Maluca do caralho.”

    ***

    Clank—

    A escuridão engoliu o quarto quando a porta se fechou. Kiera piscou duas vezes antes de alcançar o interruptor e acender a luz.

    A escuridão.

    Ela não gostava da escuridão.

    No momento em que a luz se acendeu, ela sentiu o peito aliviar.

    “…..Ah.”

    Ela olhou para seu quarto. Estava extremamente limpo. Ao contrário de sua aparência desleixada, Kiera gostava de manter as coisas organizadas. Se até a menor coisa estivesse fora do lugar, ela perderia o foco em tudo e pensaria nisso o dia todo.

    Era algo com o qual ela nasceu.

    “Uh…”

    Ela tinha acabado de entrar no quarto quando notou algo.

    Mexendo nos bolsos, ela bateu na própria cabeça.

    “Porra.”

    Sem hesitar, correu para uma das gavetas do quarto e a abriu.

    Clank—

    Mas não havia nada dentro.

    Clank—

    O mesmo aconteceu com as gavetas abaixo.

    Clank—

    Estavam completamente vazias.

    “Porrrrra.”

    Ela…

    Tinha acabado com os cigarros.

    E era tarde demais para conseguir mais, pois ainda não era fim de semana.

    “….”

    Kiera se jogou na cama e olhou para o teto, sem expressão. Ela estava ferrada. Totalmente ferrada. Cigarros eram como remédio para ela… Eram o que impedia suas crises de pânico de acontecer.

    Sem eles, ela estava…

    “Porra, é culpa daquele bastardo.”

    Não, não era.

    Mas ela queria culpar alguém. Pelo menos, isso a faria se sentir melhor.

    “Haaa…”

    Julien Dacre Evenus. Ele era como um pedaço de madeira. Sua expressão era difícil de ler. Ela tinha certeza de suas acusações. Que não foi um acidente. Ele foi quem matou Weasel1.

    Por fora, ele parecia uma vítima, assim como ele, mas Kiera estava confiante em sua conjectura.

    “Mas quem sou eu para me importar…?”

    Não era da sua conta, para começar.

    Todos os nobres eram assim. Podres por dentro.

    Ela não era do tipo que dedurava pessoas assim. Especialmente porque as evidências que ela reuniu não seriam convincentes.

    Era apenas…

    Interessante.

    “….Ele é mais forte do que aparenta.”

    Certo, ele era a Estrela Negra. O número um entre os calouros. No entanto, era um consenso geral entre os calouros que ele era fraco fora de suas habilidades emotivas.

    Os resultados de sua análise de progressão provavam isso, e era uma das razões pelas quais havia dúvidas sobre seu envolvimento na morte de Weasel.

    Kiera também pensava assim.

    Mas…

    Ao se lembrar das imagens que testemunhou na dimensão do espelho, ela se viu sorrindo.

    “Que porcaria.”

    O cara era uma cobra.

    Havia mais nele do que as pessoas pensavam. Por qual razão ele estava escondendo sua força, ela não sabia.

    Nem se importava.

    Desde que ele não a envolvesse em suas merdas, ela não se importaria.

    Ainda assim, era um pensamento interessante.

    “Julien.”

    Murmurando seu nome, Kiera fechou os olhos.

    “….Você me deve uma.”

    ***

    No dia seguinte.

    Enquanto Leon esperava o professor chegar.

    “Quantos fungos conseguimos coletar?”

    “Cerca de sete.”

    Evelyn e Aoife estavam ocupadas discutindo a divisão de seus achados.

    “Sete…? Isso significaria que há um a mais.”

    “Hmmm. Teríamos sido iguais se ele…”

    Evelyn parou aí, mas o significado por trás de suas palavras era claro. Se Wesley ainda estivesse vivo, todas as partes teriam sido iguais.

    O único problema era que ele não estava.

    Aoife, enquanto olhava para os cogumelos expostos na mesa, de repente virou a cabeça e perguntou:

    “O que você acha?”

    “Não sei. Vou pensar nisso mais tarde.”

    A aula estava prestes a começar.

    “Certo.”

    Aoife franziu a testa antes de concordar com a cabeça. Então, lembrando-se de algo, perguntou baixinho:

    “Há a experiência de trabalho na próxima semana. Você já escolheu para onde quer ir?”

    “….Eu sou um cavaleiro.”

    Leon respondeu secamente.

    De todas as pessoas presentes, ele era o único que não precisava participar da experiência de trabalho obrigatória que todos tinham que fazer.

    Por quê?

    Porque ele já estava trabalhando.

    “Ah, certo.”

    Aoife virou a cabeça para olhar brevemente para a frente, onde uma figura solitária estava sentada.

    Como sempre, ele estava sozinho. Estava olhando para a frente sem expressão alguma.

    “É difícil ser o cavaleiro dele?”

    A pergunta atraiu a atenção dos que estavam por perto.

    Todos pareciam um tanto curiosos.

    Leon pensou na resposta. Se fosse antes, ele teria respondido sim sem dúvida, mas o Julien atual…

    “Sim.”

    Certo, o Julien atual era diferente.

    No entanto, os dois ainda precisavam manter sua atuação.

    “Não me surpreende.”

    Aoife suspirou deliberadamente.

    “Oh, parece que a classe está cheia~”

    Uma senhora de meia-idade entrou na sala de repente. Ela era alta e, apesar de suas características envelhecidas, ainda era bastante bonita.

    Professora Bridgette. Responsável pela aula de hoje, [Compreensão de Feitiços], os alunos a adoravam por sua personalidade animada.

    Chegando ao pódio na frente, ela colocou seus arquivos na mesa e limpou a garganta.

    “Antes de começarmos a aula, tenho um anúncio para fazer. Por favor, prestem atenção.”

    Suas palavras pareceram ter efeito, pois a classe se acalmou. Ela sorriu como resultado e continuou.

    “Como vocês devem saber, em um mês começará o Festival das Lanternas da Guilda.”

    Os olhos de Leon se estreitaram ao ouvir o nome do evento.

    Seu corpo ficou levemente tenso enquanto seu olhar se voltava para Aoife, que olhava para a frente com uma expressão séria.

    ‘Parece que não há muito tempo.’

    Algo grande ia acontecer naquele dia.

    E era algo que envolvia diretamente Aoife. Ele tinha certeza disso.

    “Muitas figuras importantes virão, e devemos causar uma boa impressão.”

    O Festival das Lanternas da Guilda era um evento anual da academia, organizado pela academia a cada ano e que convidava todos os principais oficiais das quinze maiores guildas.

    Eles não eram as únicas pessoas que viriam, pois celebridades e figuras importantes também estavam programadas para comparecer.

    Era um evento “obrigatório” que não podia ser perdido.

    “Além da análise de combate que ocorrerá, discuti com os outros departamentos e temos vários eventos em que vocês podem participar para créditos extras.”

    A sala de aula imediatamente ficou agitada com isso. Para passar o primeiro ano, era necessário acumular um total de 110 créditos.

    Cada aula tinha pesos diferentes. Por exemplo, esta aula valia cerca de 8 créditos. E eles só podiam ser acumulados passando nas provas.

    Era difícil coletar créditos.

    Era também por isso que os olhos de muitas pessoas na classe brilharam ao ouvir sobre créditos possíveis.

    Até Leon sentiu suas costas se endireitarem.

    “Os eventos são os seguintes.”

    Desenrolando um pedaço de papel, a professora Bridgette começou a ler.

    “Preparação de comida. Seu trabalho será hospedar uma barraca e vender comida que você produziu.”

    Leon balançou a cabeça.

    Não estava muito interessado.

    Baque!

    “Hm?”

    Ele virou a cabeça e viu Aoife suando. Ela parecia estar olhando fixamente em uma direção específica. Seguindo seu olhar, ele ficou surpreso ao vê-la olhando para Julien.

    “Hm?”

    Por quê…?

    “Em seguida, peça teatral. O departamento de línguas está procurando pessoas adequadas para realizar uma peça em inglês.”

    Ele não prestou mais atenção enquanto a professora continuava a listar os eventos.

    Isso também não parecia muito interessante.

    Leon sentiu que seu inglês era no máximo decente.

    “Em seguida, desfile. Vocês podem ajudar os veteranos que estão planejando….”

    “Intercâmbio cultural. Criem ou tragam alguns produtos de sua cidade natal para compartilhar com…”

    “Atividades infantis. Haverá muitas crianças…”

    A lista continuou, e quanto mais Leon ouvia, mais ele balançava a cabeça.

    Desfile? Não me importo.

    Intercâmbio cultural? O Barão Evenus quase não tinha produtos culturais.

    Atividades infantis? Ele já tinha dificuldade em lidar com Julien2.

    Não havia nada que fosse adequado para ele.

    Ele franziu a testa.

    ‘Devo escolher algo fácil…?’

    Nesse ritmo, seria sua única opção.

    Ou assim ele pensava.

    “Atividade de talento. Mostre seu talento no teatro. De talentos especiais a até uma rotina de stand-up…”

    Do canto do olho, Leon avistou a figura de Julien.

    Ele tinha estado bastante calmo o tempo todo enquanto ouvia os eventos. No entanto, no momento em que a “rotina de stand-up” foi mencionada, seu corpo se contorceu.

    Era como se ele estivesse planejando algo.

    “….Não pode ser.”

    Leon murmurou essas palavras inconscientemente em voz alta.

    “Leon?”

    O suficiente para chamar a atenção de Evelyn, que estava perto dele.

    Mas ele não se importou.

    Não, ele não podia se importar.

    “É um evento organizado pelo clube de comédia, mas eles não especificaram quem pode participar. Desde que você queira participar, pode se inscrever e…”

    A cabeça de Julien se levantou novamente.

    “Oh, não…”

    Leon sentiu seu corpo ficar frio, e os cabelos da nuca se arrepiaram.

    “Se alguém estiver inte—”

    Bang—!

    “Leon!?”

    Leon se viu de pé abruptamente.

    Ele podia sentir os olhares de todos na sala de aula voltados para ele. Mas ele não se importou. Ele olhou diretamente para a professora, que inclinou a cabeça para ele.

    “A parte do comediante…”

    Leon começou a dizer lentamente, enquanto seu olhar se voltava para Julien.

    Julien usava uma expressão que parecia dizer: ‘Você? Um comediante? Que piada é essa…?’

    Leon se sentiu ainda mais seguro sobre sua decisão enquanto segurava firmemente a lateral da mesa e murmurava através dos dentes cerrados.

    “…Eu faço.”

    Pelo bem de todos presentes.

    “O stand-up. Eu faço.”

    1. Essa muié é burra só pode[]
    2. KKKKKKKKKKKKKKK[]

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