Capítulo 73: Ato [1]

O ‘Coletivo Chamado de Cortina’ era uma associação renomada dentro do Império.

Continuamente enchendo teatros com suas performances, ninguém desconhecia eles. Eram celebridades entre celebridades.

Todo ano, eles realizavam uma performance no festival da Academia Haven.

Com muitas figuras importantes aparecendo, não havia lugar melhor para se apresentar. Era por isso que tudo precisava ser preparado corretamente.

“Não, isso não está certo! Coloque à direita.”

“Sim! Assim… não! Um pouco para a esquerda, sim, droga, você foi muito para a esquerda de novo…!”

A organizadora do evento era uma mulher de meia-idade conhecida como Olga. Ela não era apenas a organizadora do evento, mas também a roteirista da peça.

Sua fama era a mesma, se não maior, que a dos atores principais da peça.

Por todo o Império, havia apenas sete peças que eram avaliadas com Cinco Estrelas, que era a maior e mais honrosa avaliação que uma peça poderia receber.

Os critérios para receber tal avaliação eram extremamente difíceis, tornando-a uma avaliação muito prestigiosa e cobiçada.

Olga ainda não havia recebido sua primeira Cinco Estrelas, no entanto, com várias peças de Quatro Estrelas em seu nome, ela estava prestes a ser a próxima a receber tal recompensa.

Sua peça mais recente, ‘As Feridas da Lua’, era algo em que ela vinha trabalhando nos últimos anos. Era sua obra-prima.

Por essa razão, tudo tinha que ser perfeito.

“Não! Esse não é o lugar certo!”

Desde os grandes detalhes até os pequenos.

Tudo tinha que ser perfeito.

“Madame Olga.”

“Sim, bem aí.”

“Madame Olga.”

“Não, você está—”

“Madame Olga!”

“Uh? Ah!”

Assustada, Olga virou para a esquerda, onde uma jovem de óculos estava. Com um olhar irritado, ela olhou ao redor e suspirou.

“Madame, estamos prestes a fazer o teste para os papéis extras na peça. Vários cadetes estão esperando para o teste.”

“Ah, certo. Tenho que selecionar um deles…”

A expressão de Olga desmoronou. Como uma perfeccionista, Olga odiava nada mais do que ter que manchar sua peça permitindo que atores amadores e cadetes entrassem em sua peça. Independentemente de quão pequeno fosse seu papel, Olga odiava a ideia de tê-los em sua peça.

Se não fosse pelo fato de ser forçada a fazer isso, ela teria rejeitado completamente a ideia.

“…Droga.”

Seu desgosto pela situação chegou a um ponto em que acabou xingando.

“Não acredito que tenho que permitir isso.”

A performance era extremamente importante para ela. Era porque era tão importante que ela tinha dificuldade em se controlar.

“Leve-me até eles…”

Cerrando os dentes, ela se dirigiu ao teatro principal, que atualmente estava quase completamente vazio. Esperando por ela perto do palco estavam três outras pessoas.

“Ah, madame Olga, você está aqui.”

“Madame.”

Eles eram membros importantes do Coletivo Chamado de Cortina, e julgando por suas expressões, era óbvio que eles também sentiam o mesmo que ela.

Usando um sorriso sem graça, um homem de meia-idade com uma barriga protuberante e cabelos ralos, entregou-lhe um papel.

“Vamos realizar um teste para o papel secundário de Azarias.”

“Azarias?”

Olga franziu a testa e quase xingou novamente.

Um assassino em série de uma nobreza exilada que adorava matar pessoas. Com suas tendências sanguinárias e intenções difíceis de decifrar, ele era o primeiro ‘antagonista’ da peça.

Um ‘vilão menor’ poderia-se dizer.

Mas…

“Não posso concordar com isso.”

Ele era um personagem chave. Embora fosse de fato um vilão menor, ele era alguém que impulsionava o personagem principal para o caminho que ele embarcou.

Como eles poderiam deixar qualquer um assumir tal papel?

“Não posso permitir.”

Foi por isso que Olga bateu o papel na mesa e balançou a cabeça.

“Vocês todos sabem a importância deste personagem. Não vou permitir, mesmo que me forcem.”

“Madame, mas—”

“Não, mas! Não vou permitir. Mesmo que—”

“…..Você não tem escolha a não ser permitir.”

Uma voz profunda de repente interveio, forçando Olga a calar a boca. Quando ela virou a cabeça, quase xingou.

A poucos metros dela estava um homem alto e magro com óculos grossos e quadrados. Vestindo um colete sem o paletó, seus olhos escuros e profundos escanearam os arredores.

“As regras são as regras. Como você se inscreveu para isso, tem que ir até o fim.”

“Mas Azarias é…”

“Que outro personagem então?”

“Isso…”

Quando Olga foi incapaz de responder, o homem friamente a cortou.

“Como você não consegue decidir, fique quieta e comece o teste. Você não tem muito tempo. Há uma chance de você ter sorte e encontrar alguém que valha a pena considerar.”

Encontrar alguém que valha a pena considerar?

Olga quase zombou da afirmação. No entanto, ela não deixou transparecer e apenas cerrou os dentes.

“…..Tudo bem.”

No final, ela cedeu.

Como ela poderia discordar?

Seu nome era Adonis, e ele era o principal investidor do coletivo.

Nenhuma das peças se concretizaria sem ele. Dos atores aos adereços. Tudo era pago por ele. Seus comandos eram absolutos, deixando-a sem escolha a não ser aceitar a situação em silêncio.

‘Malditos bastardos.’

Suprimindo sua fúria, ela sentou-se em sua cadeira e olhou para o palco, onde um dos participantes estava esperando.

Olga acenou com a mão para sinalizar o início.

“Mande o primeiro cadete entrar.”

“Sim!”

Imediatamente, um cadete apareceu no palco. Com cabelos loiros curtos e olhos azuis, ele parecia bastante bonito.

“Oh, ele é bem bonito. O público pode gostar dele.”

“Ele pode compensar sua falta de habilidades com sua aparência.”

Enquanto os outros juízes estavam elogiando sua aparência, Olga não estava interessada.

A única coisa que ela se importava eram suas habilidades de atuação.

“Eu sou—”

Olga interrompeu o cadete antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.

“Você tem cinco minutos para se preparar e estudar o roteiro em suas mãos. Diga-nos quando estiver pronto para começar.”

“Ah…”

Confuso, o cadete imediatamente olhou para o papel e começou a memorizar suas falas. Olga ficou quieta e observou sua prática. Da forma como ele tentou mudar suas expressões, ao tom de sua voz.

No final, quando chegou a hora de ele se apresentar, um minuto após o início da performance, ela acenou com a mão.

“Pare.”

“Uh…?”

“Você pode sair.”

Sem se importar com a expressão do cadete, ela olhou para a assistente.

“Mande o próximo.”

“Ah, sim…!”

Um ciclo vicioso começou a partir daí. Um cadete aparecia, apenas para ser interrompido um minuto após o início de sua performance.

“Pare.”

“Próximo.”

“Mande outro.”

“Isso é uma piada?”

Olga não se importava com os sentimentos dos cadetes. Mesmo quando eles tentavam o seu melhor, ela os rejeitava no momento em que cometiam um erro, ou agiam de uma forma que não se encaixava em sua imagem de Azarias em sua mente.

Suas ações não passaram despercebidas pelos outros juízes que simplesmente balançaram a cabeça e a deixaram em paz.

“Saia.”

Isso persistiu por várias horas até que o sol começou a mostrar sinais de se pôr.

Olhando para seu relógio, Olga perguntou.

“Quantos cadetes faltam para os testes?”

“Faltam cinco.”

“Ah.”

Esfregando a cabeça, Olga suprimiu seu desejo de xingar e respirou fundo. Mais cinco? Me matem logo… Então, com um aceno de mão, ela murmurou,

“…..Deixe o próximo entrar.”

“Entendido.”

Tak—

Sua aparição instantaneamente chamou a atenção de todos presentes.

Vestido com o traje padrão usado por todos os cadetes, suas roupas pareciam se ajustar perfeitamente ao seu físico.

Movendo-se com passos deliberados e calculados, ele manteve uma expressão estoica, examinando seus arredores com indiferença fria.

No momento em que apareceu, os juízes se viram incapazes de desviar o olhar dele.

….Todos exceto Olga, que franziu a testa.

Olhando para sua aparência impecável, Olga só sentiu decepção. Seu rosto, expressões… Era como se ela estivesse olhando para um pedaço de papel em branco.

Simplesmente não havia nada…

‘Outro rosto bonito…?’

Quanto mais ela olhava, mais decepcionada ficava.

No final, ela se recostou na cadeira e fechou os olhos. Tendo visto sua parcela de performances, um julgamento se formou subconscientemente em sua mente.

‘….Outro fracasso.’

Com um aceno de mão, ela recitou as regras habituais.

“Você tem cinco minutos para olhar o roteiro. Quando terminar, por favor, comece a atuar. Não se sinta muito pressionado. É apenas um papel menor.”

***

Tudo aconteceu tão rápido que tive dificuldade em entender o que estava acontecendo.

Eu estava no meio do palco com um roteiro.

“Você tem cinco minutos para olhar o roteiro. Quando terminar, por favor, comece a atuar. Não se sinta muito pressionado. É apenas um papel menor.”

“….”

Pensei em recusar, mas quando lembrei das palavras da Professora Bridgete, todos os pensamentos de recusa desapareceram.

‘Mesmo que eu acabe me envergonhando, vale a pena tentar.’

Aqueles créditos extras… Eu certamente precisava deles.

Não estava confiante de que me sairia bem nos exames escritos e de combate. Talvez eu pudesse, mas não havia nada de errado em ter uma rede de segurança.

“O personagem que você fará o teste é um vilão menor do romance.”

Um dos ‘juízes’ disse em um tom monótono. Desde o momento em que entrei, seus olhos não me deixaram. No entanto, havia uma certa indiferença em seu olhar que parecia desconfortável.

“Seu nome é Azarias¹.”

Outro juiz começou a falar. Desde o início, ele parecia mais amigável enquanto começava a descrever o cenário para mim.

Eu ouvi quieto sem dizer uma palavra.

“Um nobre outrora, agora caído, banido de sua família por sua natureza psicótica. Desde a juventude, ele se deleitava em matar, encontrando cada vez mais emoção com cada vida tirada. Quero que você encapsule a raiva e a loucura que ele sente ao matar seu primeiro humano.”

Fiquei parado por um momento e absorvi a informação. ‘Encapsule a raiva e a loucura que ele sente ao matar seu primeiro humano.’

Ah—

Este cenário…

‘É familiar.’

A ponto de parecer assustador.

Lembrava muito a primeira vez que eu tinha matado alguém. Eu ainda podia lembrar vividamente as emoções que senti naquela época.

O estado de loucura em que eu estava. As várias expressões que fiz. Os cheiros, os sons de tudo ao meu redor… E o desespero que me levou àquele ponto.

Eu ainda podia lembrar de tudo como se tivesse sido ontem.

A ponto de me sentir confiante de que poderia invocar essas emoções novamente.

“Você entende o papel?”

A voz do juiz mais uma vez ecoou em meus ouvidos, levando-me a erguer a cabeça. Em um tom mais suave, ele continuou,

“Lembre-se, este é apenas um papel menor. Você não precisa se sentir muito sobrecarregado. Entendo que você não é um ator. Não vamos julgá-lo muito severamente.”

Ele sorriu levemente.

“Você tem cinco minutos. Por favor, use esse tempo para aprender suas falas e se adaptar às emoções que o personagem sente.”

Olhando para o roteiro, eu balancei a cabeça.

“Não há necessidade.”

“Não há necessidade…?”

As expressões dos juízes mudaram enquanto se olhavam. O mesmo aconteceu com a mulher que parecia indiferente desde o início. Na verdade, no momento em que essas palavras saíram da minha boca, sua indiferença parecia ainda mais proeminente.

“Tem certeza?”

“Sim.”

Acenei silenciosamente.

Havia apenas algumas falas no roteiro. Não havia muito que eu precisasse memorizar.

A única coisa para a qual alguém precisaria de tempo era provavelmente para o ajuste emocional, mas…

‘Eu já sei.’

Eu já tinha experimentado antes.

Por essa razão, eu não precisava dos cinco minutos fornecidos pelos juízes.

“Posso começar agora.”

Eu estava pronto para começar agora mesmo.

Olhando um para o outro, os juízes sinalizaram para eu começar.

“….Tudo bem, você pode começar.”

Observando as expressões de todos os juízes, desde a indiferença até o leve interesse, minha mente mergulhou em minhas memórias enquanto eu fechava os olhos.

Gradualmente, eu me perdi naquelas memórias do passado, e quando abri meus olhos novamente, o mundo estava vermelho.

Meu rosto se contorceu, e minha expressão mudou.

O mesmo aconteceu com os rostos dos juízes à frente enquanto eles me viam mergulhar na loucura.

Uma loucura que eu mal conseguia conter enquanto minha boca se abria gradualmente e eu recitava a primeira fala do roteiro.

“…..A base de todas as obras-primas é um grande começo.”

1. Agora que eu percebi que o nome do caba une justamente com “azar” e “rir”[↩]