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    Sua expressão estoica mostrou rachaduras e seus lábios se curvaram levemente.  

    Naquele momento, a atmosfera na sala mudou. Era como se uma pessoa completamente diferente tivesse aparecido.  

    A postura fria e séria de Julien havia desaparecido, substituída por uma persona perturbada e louca.  

    “O-o que você está fazendo…?!”  

    Uma fala aleatória foi lançada por um dos juízes. Era para marcar o início da cena.  

    “…”  

    Julien baixou a cabeça e olhou para baixo.  

    A imagem de uma mulher surgiu em sua mente. Uma que estava no chão, em pânico. Ele logo substituiu sua imagem pela do homem no passado.  

    Sua primeira morte.  

    “…..A base de todas as obras-primas é um grande começo.”  

    As palavras saíram suavemente de sua boca. Elas saíram de forma uniforme e calma. No entanto, misturada à calma havia um certo traço de loucura. Estava sutilmente escondido, perceptível apenas pelo leve tremor em sua voz em certas palavras.  

    Era uma sutileza que tirou Olga de sua indiferença. Ela sentiu os pelos de seus braços se arrepiarem enquanto calafrios percorriam seu corpo.  

    ‘As texturas sutis de suas expressões e tom…’  

    Pela primeira vez em sua longa carreira, Olga se sentiu desconfortável. Quanto mais ela olhava, mais sentia que estava diante de Azarias.  

    Um psicopata que ansiava pela morte de suas vítimas.  

    ‘Mas… por que estou me sentindo assim?’  

    Olga não era a única que se sentia assim. O mesmo acontecia com os outros juízes, que se ajustavam continuamente em suas cadeiras.  

    Eles também estavam desconfortáveis com o homem que estava no centro do palco.  

    E ainda assim…  

    Nenhum deles conseguia desviar os olhos dele.  

    “Todos os artistas desejam criar suas próprias obras-primas. Eu não sou diferente.”  

    Julien observou a sala, seu olhar pousando nos juízes, sua expressão mutante revelando a loucura crescente em seus olhos.  

    Seu peito subiu de forma irregular, e o som de sua respiração dominou o ar que foi engolido pelo silêncio que se seguiu.  

    “Eu quero fazer uma obra-prima. Uma peça que será sinônimo do meu nome.”  

    Ele continuou a se dirigir aos juízes.  

    Seu tom começou a mudar, lentamente ficando mais tenso e rouco. Gradualmente, seu sorriso se tornou mais intenso.  

    “….E assim, o primeiro traço dessa obra-prima será nada menos que a própria vida de vocês.”  

    Toc—  

    A madeira rangeu sob seus passos enquanto ele avançava.  

    Ele parecia se dirigir aos juízes, seus olhos nunca os deixando. Sob seu olhar intenso, um calafrio percorreu seus corpos.  

    Seus instintos lhes diziam para correr.  

    Que estavam lidando com um psicopata.  

    No entanto, seus corpos se recusavam a ouvir. Eles continuaram a encará-lo enquanto ele dava outro passo.  

    Olga ficou sentada em sua cadeira, congelada. O teatro já havia desaparecido de sua visão. Um ambiente começou a se formar em sua mente.  

    Uma sala de tamanho médio que pertencia a um nobre abastado, decorada com móveis elegantes.  

    Uma figura estava estirada no chão. Sua expressão era de horror. Ela parecia querer fugir, mas seu corpo se recusava a obedecer.  

    Tudo o que ela podia fazer era olhar para o homem que se curvou lentamente para segurar sua garganta.  

    A loucura em seu olhar se intensificou enquanto suas expressões passavam por várias mudanças.  

    Um sorriso fugaz de excitação piscava, apenas para ser engolido pela loucura que dançava em seus olhos. A racionalidade lutava para se manter firme em meio à tempestade tumultuada dentro dele, enquanto traços sutis de culpa surgiam em seus traços.  

    Olga engoliu sua saliva.  

    “Ele…”  

    Havia capturado perfeitamente a essência do personagem Azarias que ela havia criado.  

    Um grito baixo ecoou. Um que foi rapidamente suprimido por uma mão. Os móveis se espalharam, e pernas e braços se debateram no ar.  

    Mas tudo foi inútil.  

    Sob a loucura. Sua loucura. Tudo o que ela podia fazer era assistir com olhos horrorizados enquanto sua vida lentamente chegava ao fim.  

    Uma cena dilacerante.  

    Uma que inevitavelmente terminava em morte.  

    “Haa… Haaa…”  

    Os pesados respiros de Azarias ecoaram enquanto ele olhava para sua mão, sentindo a mistura de culpa, loucura e excitação após seu primeiro assassinato. Tudo estava perfeitamente incorporado naquele momento.  

    A cena se gravou profundamente nas mentes dos quatro juízes, que permaneceram em silêncio o tempo todo.  

    “….Terminei.”  

    Uma voz baixa e fria os tirou de seu transe. A loucura que persistia em seus olhos, a sensação de prazer pelo assassinato e a culpa haviam desaparecido.  

    Mais uma vez, sua expressão voltou a ser como um papel em branco.  

    A apresentação terminou ali.  

    Olga e os outros juízes permaneceram sentados em suas cadeiras, sem palavras. A performance os deixou atordoados.  

    Da ampla gama de emoções que ele demonstrou às expressões que fez para refleti-las…  

    Era uma performance impecável. Não havia como negar, e Olga se viu lambendo seus lábios ressecados.  

    “Qual é o seu nome?”  

    Ela se pegou perguntando o nome do cadete.  

    Inclinando a cabeça, o cadete virou-se para encará-la. Assim como quando entrou, sua expressão mal mostrava mudanças. Observando-a por um breve momento, ele finalmente respondeu.  

    “Julien.”  

    “Julien…”  

    O nome soou bem em sua língua.  

    Levantando-se de sua cadeira, ela caminhou cuidadosamente em sua direção, parando apenas quando estava a alguns passos dele. Olhando mais de perto e gostando do que via, ela acabou acenando com a cabeça.  

    Quanto mais ela olhava para ele, mais sentia que estava olhando para Azarias.  

    ‘É como se ele estivesse bem diante de mim… Como alguém pode retratar a essência do que eu queria tão bem? Foi além de apenas copiar o personagem. É como se ele tivesse se tornado o próprio personagem…’  

    Se havia um problema que ela tinha com a performance, era que…  

    ‘É muito curta.’  

    Parecia quase uma pena que um personagem tão grande tivesse apenas algumas cenas.  

    O problema era que o roteiro já estava perfeito em sua mente. Não havia como estender seu papel, certo…?  

    “Hmm”  

    Suas sobrancelhas se franziram enquanto ela olhava para Julien novamente.  

    Lentamente, ela estendeu a mão para ele e disse.  

    “Parabéns por passar. Vou inscrever seu nome para a peça. Por enquanto, vou ajustar algumas coisas no roteiro. Enviarei a versão finalizada amanhã.”  

    ***  

    “Por favor, venham por aqui. Há muitas coisas para mover.”  

    Aoife, Leon, Evelyn e vários outros cadetes foram levados para o Salão Leoni, onde foram imediatamente colocados para trabalhar.  

    Como suas inscrições haviam sido rejeitadas, eles foram designados para os preparativos da peça.  

    “Certifiquem-se de alinhar as luzes corretamente.”  

    “Cadete, cuidado com isso. É muito caro. Você será responsável por qualquer dano.”  

    A situação era caótica, mas Aoife não se importou e seguiu as instruções diligentemente.  

    ‘….Não consegui o papel.’  

    Sua mente ainda pensava no papel que não conseguiu.  

    “Como?”  

    Realisticamente falando, ela era a mais merecedora do papel. Não apenas era uma figura extremamente conhecida devido ao seu sobrenome, mas também estava bem familiarizada com a maioria dos membros presentes.  

    Ela sabia seus gostos e desgostos.  

    Não havia ninguém mais perfeito do que ela para atender às suas necessidades.  

    Então por quê…?  

    Por que ela não foi selecionada?  

    No entanto, Aoife não ficou desencorajada por muito tempo. Olhando ao redor, ela percebeu que aquela era outra oportunidade para ela.  

    ‘Se eu conseguir entrar na peça, posso ganhar créditos extras…’  

    Sua atuação era bastante boa. Tendo participado de várias peças no passado, ela estava confiante em suas habilidades.  

    Além disso, ela conhecia bem os membros do coletivo.  

    Se tudo corresse bem, havia uma chance de ela ser selecionada.  

    Aoife estava tão imersa em seus pensamentos que não percebeu que alguém estava à sua frente.  

    “Ah, cuidado!”  

    Uma voz a avisou à distância, parecia ser a de Evelyn, e antes que percebesse, ela esbarrou em algo duro.  

    Estrondo—!  

    Apesar de seus reflexos rápidos, Aoife não conseguiu evitar completamente o choque e caiu de bunda no chão.  

    “Uh..!”  

    Felizmente, ela conseguiu evitar que os objetos que carregava caíssem.  

    Mas isso teve um preço.  

    ‘….Isso doeu.’  

    Sentindo a dor em sua bunda, Aoife tentou ao máximo não mostrar em seu rosto. Ela se preparou para levantar a cabeça e se desculpar, mas quando o fez, sua expressão congelou.  

    Uma figura estava diante dela.  

    Com a mesma expressão inalterada, ele olhou para ela.  

    Aoife esperava que ele dissesse algo como “O que você estava fazendo?” ou “Olhe por onde anda”, mas, contrariando suas expectativas, ele estendeu a mão para ela.  

    “Uh…?”  

    A cena foi chocante para ela.  

    ‘Ele está tentando me ajudar?’  

    Ela quase não conseguia acreditar.  

    E ainda assim, olhando para aquela mão, a cena inacreditável se desenrolava diante de seus olhos.  

    Ainda assim…  

    “Eu consigo me levantar sozinha.”  

    Aoife recusou a oferta e se levantou sozinha. Não que ela não apreciasse o gesto, mas se sentia desconfortável com a ideia de tocar a mão de outro homem.  

    “…Agradeço a—”  

    “Não. Você está entendendo mal minhas intenções.”  

    Suas palavras foram cortadas por sua voz fria.  

    Virando-se, ela o viu pegar um pedaço de papel que havia caído no chão.  

    Pegando-o, ele a olhou brevemente.  

    “…..Eu só queria isso.”  

    “Ah, uh…”  

    Sons estranhos saíram de sua boca de repente enquanto seus olhos permaneciam no papel em sua mão.  

    “…Eh?”  

    Pela primeira vez em sua vida, Aoife sentiu seu rosto queimar. 

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