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    Toc. Toc. Toc—!  

    *’…Isso é o suficiente? Ou devo colocar mais?’*  

    Era uma situação que me deixou confuso enquanto eu adicionava mais e mais barras de chocolate no balcão. Elas estavam lentamente formando uma pequena montanha.  

    “C-cadete.”  

    Minhas ações pareciam ter assustado o caixa, que me olhava com uma expressão perturbada.  

    Ignorei e coloquei mais uma barra de chocolate no balcão.  

    Toc.  

    Isso era um investimento.  

    Um investimento para o futuro. Colocando outra barra no balcão, encontrei o olhar de Kiera. Pelos olhos arregalados dela, ela também parecia confusa com o que eu estava fazendo.  

    Não estava com vontade de explicar tudo, então apenas disse algumas palavras.  

    “Suborno. Estou subornando.”  

    Não era exatamente uma mentira.  

    Eram realmente subornos. Ou talvez uma forma de ganhar favores?  

    *’Bem, tanto faz… Elas não são caras mesmo.’*  

    Cada barra custava cerca de 0,5 Rend. Dava para lidar.  

    “….Tsc. Tanto faz, vou embora.”  

    “Hm?”  

    Virei-me e vi Kiera se virar e sair. Ela não ia comprar nada…?  

    *’Será que é porque não quer esperar eu terminar de comprar tudo?’*  

    Fazia sentido, mas…  

    “Tanto faz.”  

    Toc.  

    Não era problema meu.  

    Coloquei mais uma barra no balcão. A pilha ficou maior. Mas era o suficiente…? Era uma pergunta interessante. Examinei a pilha diante de mim e balancei a cabeça.  

    *’Não o suficiente.’*  

    Estava prestes a colocar mais uma quando o caixa me interrompeu.  

    “Cadete, já está bom.”  

    Ele parecia bastante perturbado. Mais do que antes.  

    Parei então e olhei para cima.  

    “Tem algum problema?”  

    “Ah, sim…”  

    O caixa explicou.  

    “….Se você comprar tanto assim, não teremos o suficiente para os outros cadetes.”  

    “E daí?”  

    Como isso era problema meu?  

    “É política da Academia. Assim como a cadete de antes, se você comprar demais, podemos ter que proibi-lo de comprar produtos. Nossa loja foi estabelecida para o bem-estar dos cadetes, não para lucro.”  

    “Hm? Proibido?”  

    Pensei no momento em que tinha acabado de chegar à loja. Kiera realmente estava discutindo com o caixa sobre algo.  

    Não esperava que fosse por isso.  

    “Sim, você será proibido. Ela está atualmente proibida de comprar mais cigarros.”  

    Ele tentou explicar da forma mais educada possível, mas sua voz saiu um pouco severa. Como se estivesse me advertindo.  

    Não dei muita atenção às suas palavras.  

    Meus olhos se voltaram para o fundo, onde estavam os cigarros.  

    *’Então ela está proibida de comprar…’*  

    Seria bom para ela fumar menos. Independentemente do mundo, fazia mal à saúde.  

    Haveria benefícios claros nessa restrição…  

    “Se quiser parar por aqui, serão 102 Rend.”  

    A voz do caixa me tirou dos pensamentos, e eu olhei para ele. Pela expressão dele, estava claro que eu não podia comprar mais barras.  

    Olhei para a pilha diante de mim e decidi que era o suficiente.  

    *’No pior caso, compro mais quando for necessário.’*  

    Revirei meu bolso e peguei minha carteira. Dali, tirei uma nota e uma moeda. Justamente quando ia entregar ao caixa, minha mão parou.  

    “Cadete?”  

    Franzi os lábios e olhei levemente para cima.  

    Pensando bem por um tempo, cerrei os dentes levemente e suspirei.  

    “…..Tem mais uma coisa que quero comprar.”  

    Só desta vez.  

    ***  

    “Ugh…”  

    Sentada do lado de fora da loja, Kiera resmungou.  

    Foi um dia péssimo.  

    Mexendo nos bolsos, tocou a caixa vazia de cigarros.  

    “…Odeio esse vício do caralho.”  

    Mais do que fumar por prazer, ela fumava por necessidade. Por isso, a ideia de não poder fumar já estava começando a desencadear seus sintomas, e ela tinha fumado apenas uma hora atrás.  

    “Droga, que besteira… Não é nada de mais. Qual o problema de eu comprar tudo? Não estou dando lucro a vocês? Além disso, e as pontas de cigarro? Não pago o suficiente para a Academia limpar depois de mim?”  

    Os resmungos de Kiera continuaram por vários minutos.  

    Era bom que não houvesse outros cadetes por perto para vê-la. No humor atual, ela certamente bateria em qualquer um que tentasse chegar nela.  

    Era algo que acontecia diariamente.  

    “Além disso, se vamos falar de alguém comprando demais a mesma coisa, aquele idiota levou mais de cem barras de chocolate…”  

    Em meio aos resmungos, Kiera pensou em Julien.  

    Ele entrou na loja com sua expressão habitual impassível e acabou levando todas as barras de chocolate disponíveis.  

    Na verdade, ele ainda estava pegando mais.  

    Era uma cena que deixou Kiera perplexa.  

    “….Ele tem algum vício em chocolate?”  

    Ou seria açúcar?  

    “Tanto faz, não me importo.”  

    Arrepiando o cabelo, Kiera olhou para o céu e fez uma careta.  

    Havia problemas maiores para lidar. Olhando para sua mão, já podia ver que ela começava a tremer.  

    “Consigo aguentar uma semana…?”  

    Ela já sabia a resposta no fundo. O pensamento a fez suspirar, e seu corpo se inclinou para trás.  

    Ding—!  

    O sino da porta tocou, e uma figura saiu. Kiera olhou brevemente para ele antes de voltar sua atenção para o céu.  

    Não havia nada que ela precisasse dizer para ele.  

    Ou assim pensava.  

    “Aqui.”  

    “….Hm?”  

    Kiera levantou a mão e pegou algo. Quando olhou para baixo, seus olhos se arregalaram com o que viu.  

    “Mas o que…”  

    “Não vou te dar mais. Faça com o que tem.”  

    Ele foi embora após dizer essas palavras.  

    Kiera olhou para as costas dele, perplexa. Sua boca se abriu e fechou repetidamente. Havia muitas coisas que queria dizer, mas não encontrava as palavras.  

    *’Não foi você quem me olhou com nojo da última vez que eu estava fumando? Não foi você quem me disse para parar?’*  

    Mexendo no maço em sua mão, Kiera colocou um cigarro na boca com cuidado. Não o acendeu, apenas saboreou o gosto.  

    Olhando para a distância, sua expressão mudou um pouco.  

    Quanto mais ela achava que o entendia, mais camadas descobria. Era estranho. Ele era estranho.  

    Mordiscando o cigarro, murmurou:  

    “Por que você…?”  

    ***  

    *’Tomei a decisão certa…?’*  

    Fiquei um pouco conflitado com minhas ações. Por um lado, achei bastante hipócrita da minha parte, considerando como agi antes. Por outro, conhecendo as dificuldades do vício, cedi e decidi ajudá-la.  

    Fumar era como uma terapia para algumas pessoas.  

    Alguns fumavam por prazer, enquanto outros fumavam para esquecer ou amortecer alguma dor.  

    ….Eu não sabia das circunstâncias dela, mas, por ela fumar tanto, mais do que vício, senti que ela estava tentando aliviar algo.  

    De certa forma, vi meu eu passado nela.  

    “Será a única vez que farei isso.”  

    Considere como uma forma de pedir desculpas pelo modo como agi da primeira vez.  

    “Ufff…”  

    Respirei fundo e olhei para o céu.  

    Sem nuvens no céu, era um dia claro. Uma visão à qual eu estava começando a me acostumar.  

    Segurando a sacola cheia de barras, coloquei-a no meu blazer e fui em direção a um certo destino.  

    “Subornos…”  

    De fato, eu não tinha comprado todas aquelas barras à toa.  

    Eu tinha um objetivo em mente hoje.  

    Embora não tivesse certeza se conseguiria, achei que valeria a pena tentar.  

    “O pior que pode acontecer é ela recusar.”  

    Eu lidaria com a rejeição.  

    No mínimo, significava que eu tentei.  

    Certificando-me de que as barras estavam seguras comigo, respirei mais uma vez e fui em direção ao meu destino.  

    “Para crescer.”  

    Murmurei baixinho para mim mesmo.  

    “….Tudo isso é para crescer.”  

    ***  

    Delilah estava sentada calmamente em sua cadeira. Ignorando a bagunça acumulada ao redor, seu foco estava no papel à sua frente.  

    Era um convite.  

    [Gostaríamos de estender nosso convite para você….]  

    O convite era para o Gala Arcanum. Um festival anual que envolvia todas as figuras importantes do Império. Era um grande evento que aconteceria em três meses.  

    Havia apenas um problema com o convite.  

    “…..Não quero ir.”  

    Pensando em todos os olhares que receberia e em todas as pessoas que teria que entreter, o humor de Delilah despencou.  

    Ela preferia ficar aqui e cuidar dos cadetes.  

    Até isso era menos incômodo do que o Gala Arcanum.  

    Toc Toc—  

    De repente, alguém bateu na porta, e Delilah desviou o olhar da carta. Ela nem precisava ver para saber quem era, e seus lábios se abriram levemente para dizer:  

    “Entre.”  

    “Com licença.”  

    Uma figura entrou.  

    Alto, com traços impecáveis, não era outro senão seu pequeno assistente.  

    Julien Dacre Evenus.  

    “….O que te traz aqui? Não lembro de ter te chamado.”  

    “Não, não é isso.”  

    Balançando a cabeça, seus passos pararam no final da mesa. Enquanto seu olhar a encarava, Delilah o encarou de volta e franziu a testa.  

    Havia algo estranho nele hoje.  

    Ele colocou a mão no bolso e lentamente tirou algo.  

    Os olhos de Delilah se arregalaram levemente.  

    Toc.  

    “Uma barra de chocolate…?”  

    Seus olhos piscaram levemente. Então, lembrando da conversa que tivera não muito tempo atrás, ela entendeu e esticou a mão.  

    “Você não precisava.”  

    “Não.”  

    Ele a impediu antes que sua mão alcançasse a barra.  

    “Hm?”  

    “….Isso não é para você.”  

    A voz fria de Julien fez Delilah franzir a testa.  

    “Não é para mim? Então…”  

    “Ainda não.”  

    “….?”  

    Toc.  

    Ele colocou outra barra na mesa, e Delilah lambeu os lábios. Ela olhou para ele. Antes que pudesse dizer algo, ele a interrompeu.  

    “Preciso de ajuda com algo.”  

    “Ah.”  

    Foi então que ela entendeu.  

    Seu nariz se contraiu.  

    “….Você está tentando me subornar?”  

    Seus olhos se desviaram levemente.  

    Esse cara…  

    “Eu não sou alguém que pode ser sub—”  

    Toc.  

    Delilah engoliu em seco.  

    “Isso não vai funcio—”  

    Toc.  

    Quantas ele…  

    “….”  

    Toc.  

    “Eu—”  

    Toc.  

    Delilah engoliu em seco.  

    Havia um total de cinco barras diante dela. Cinco barras…  

    “Acha que não posso comprar com meu própr—”  

    Toc.  

    Seus lábios se apertaram.  

    Esse cara…  

    Delilah desviou o olhar das barras e de volta para ele. Seu rosto permaneceu impassível, quase sem mudanças.  

    “O que você quer?”  

    No entanto, sua voz traiu a agitação de emoções.  

    “…..Primeiro vou ouvir.”  

    Só então ele sorriu. Delilah olhou para seu sorriso por um momento, sua mente incapaz de processá-lo. Ele parecia… estranho? O sorriso. Não parecia muito natural.  

    Por quê?  

    “Mais rápido.”  

    Ele disse secamente.  

    “…..Quero um jeito mais rápido de ficar mais forte.”  

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