Capítulo 79: Para crescer [3]
‘…Nunca vou me acostumar com essa visão.’
Fiquei parado, maravilhado com o que via. Era difícil desviar o olhar de seus movimentos. Eles eram perfeitos. Quase como uma obra de arte.
Como seu cavaleiro, já o havia visto treinar antes.
Apenas vislumbres, mas cada vez ficava hipnotizado.
‘Como esperado do protagonista…’
Ainda bem que seus movimentos atraíam os olhares de vários cadetes. Caso contrário, meu papel como seu analista seria descoberto.
“Fuu.”
Respirei fundo e olhei ao redor, fixando meu olhar em um boneco de treino à distância.
“Melhor começar a trabalhar.”
O objetivo do treino hoje era demonstrar nossas habilidades nos bonecos de treino espalhados. Alimentados por circuitos mágicos, podiam se mover sozinhos, esquivar e contra-atacar.
Eram os parceiros perfeitos para praticar.
Estava prestes a me dirigir a um quando parei novamente. Meu olhar voltou a Leon.
Swoosh, swoosh—!
O ar assobiava com cada golpe. Inclinando-se, o ar se partia e a espada cortava o espaço.
Um movimento instantâneo. Menos de um segundo.
Me imaginando no lado oposto, só consegui pensar:
‘…Eu morreria.’
Não havia outro resultado. A velocidade e poder de seu golpe eram incríveis. Mas não era isso que me fazia observá-lo.
Por algum motivo, não conseguia tirar os olhos de seus pés.
Mudando a cada movimento, seguiam um padrão definido.
‘Frente, esquerda, frente, esquerda, direita, frente…’
Swoosh—!
‘Frente, esquerda, frente, esquerda, direita, frente…’
Swoosh—!
O padrão era sutil, mas definitivamente existia. Tão absorto em seus movimentos que não percebi ser o único olhando para Leon.
Só notei quando ele parou e me encarou.
Nossos olhares se encontraram e olhei ao redor.
‘Ah.’
Sem mudar minha expressão, olhei para ele brevemente e perguntei:
“Acha possível eu aprender seu jogo de pés?”
“Jogo de pés…?”
Pareceu surpreso.
“Quer saber se pode copiar meus passos?”
“Sim.”
Acenei calmamente.
Então, sob seu olhar, comecei a imitar seus movimentos. Frente, esquerda, frente, esquerda, direita, frente. Meus movimentos eram desajeitados, mas continuei.
Não sabia se seriam úteis, mas sentia que estava percebendo algo.
Terminada a sequência, olhei para cima.
“…”
Leon ficou em silêncio, sobrancelhas levemente franzidas.
“Como foi?”
Não respondeu imediatamente. Organizando os pensamentos, disse calmamente:
“Está bruto.”
Como esperado…
“…Vou mostrar mais uma vez.”
“Hm?”
“Preste atenção.”
A situação me pegou de surpresa, mas não desperdicei a chance. Fiquei imóvel, observando enquanto Leon assumia sua postura.
Deu um passo à frente.
Observei atentamente cada detalhe. Do giro de seu pé à respiração e movimentos das mãos.
Embora focasse nos pés, sabia que os outros detalhes também importavam. O mesmo valia para o fluxo de mana. Mas essa parte era mais difícil de ver e sentir.
Principalmente porque não conseguia ver o fluxo. A única indicação vinha de sua respiração e do leve brilho em sua espada.
Swoosh—!
Sua espada fluía para frente. Mantendo o impulso, girou levemente e pisou à esquerda. A transição era extremamente suave. Quase imperceptível.
Continuou.
O calcanhar girou, e ele deu mais um passo.
Frente.
Seu momento nunca cessava. A cada movimento, a espada acompanhava perfeitamente, avançando e cortando o ar.
Esquerda novamente.
Estudei tudo.
Nada passou despercebido.
Senti que estava perto de compreender algo. Não fazia sentido. Isso era para usuários do tipo [Corpo], e ainda assim…
Swoosh—!
O ar assobiou e meus cabelos voaram.
“…Terminei.”
Antes que percebesse, Leon estava com a espada embainhada. Fiquei atordoado por segundos antes de fechar os olhos e acenar.
“Obrigado.”
Sem dizer mais nada, fui para um local mais isolado e fechei os olhos.
Repassei os movimentos de Leon em minha mente.
Dos pés à respiração. Tentei imitar, mas foi difícil.
Levei um bom minuto para acertar a respiração.
Só então abri os olhos e avancei.
“Frente, esquer—”
Parei no segundo passo.
Era como se minhas pernas estivessem coladas por pesos enormes. Simplesmente se recusavam a mover.
“Por quê…?”
Parei e refleti.
Algo errado no movimento? Improvável. Repeti sem mana.
Dessa vez fluiu suavemente.
“Como esperado, o problema é o fluxo de mana.”
Havia um padrão específico que só Leon conhecia.
“Hmm.”
Isso era problemático…
“…Parece que vou desistir de copiá-lo.”
Pensei em perguntar sobre o fluxo, mas seria demais. Além do mais, desnecessário.
Queria apenas imitar parcialmente seus passos, não todo o movimento.
Ele era um espadachim – seria absurdo copiá-lo completamente. Precisava entender o princípio por trás.
Como tais movimentos me beneficiariam?
“Vamos começar com três passos.”
Deixei a mana fluir em meu corpo e estendi a mão.
Clank, clank, clank—!
Correntes surgiram em minhas mãos, e dei um passo à frente. Balancei o braço simultaneamente.
Swoosh—
O ar assobiou.
“Ukh…!”
Estava prestes a continuar quando meu braço travou e o impulso me jogou para frente.
Clank!
As correntes caíram no chão.
“Haa…”
Respirei fundo.
“Fui rápido demais.”
As correntes no chão se dissiparam, reaparecendo em minhas mãos. Antes de repetir, fechei os olhos e visualizei o caminho dos pés.
E o fluxo de mana.
“…”
Não sei quanto tempo passou, mas ao abrir os olhos, avancei novamente. Pernas tensas, balancei o braço direito.
Swoosh—
Padrão similar à primeira tentativa.
Porém…
“Dissipe.”
Quando a corrente estava na altura do peito, a dissipei, pisando imediatamente à esquerda enquanto uma nova corrente surgia em minha mão.
“Haa…”
Meus músculos gritavam de tensão, mas ignorei a dor e continuei.
CLANK!
Um som metálico alto ecoou, e caí de bunda.
“Haaa… Haaa….”
Respiração ofegante, suor escorrendo. Olhando para minhas mãos, vi bolhas e sangue. Como se tivesse tocado fogo.
“Haaa…”
Mas ao invés de me importar, senti vontade de sorrir.
“…Consegui.”
Ainda muito bruto, mas havia encontrado uma forma de melhorar minha técnica.
Cerrei as mãos, sentindo a dor. Deixei alguns segundos para me acostumar antes de me levantar.
“De novo.”
Planejava dominar pelo menos três movimentos antes de testar contra um boneco.
‘Provavelmente levará meses para dominar, mas…’
Valia a pena praticar.
Disso, eu tinha certeza.
***
“Hmm~ Quem você pegou? Fala aí. Por favorzinho…?”
Josephine apoiava o queixo no ombro de Evelyn, sussurrando em seu ouvido.
“Ei… Sei que me ouve. Minha voz faz cócegas?”
“…”
Apesar dos esforços, Evelyn continuava ignorando-a.
Sua atenção estava voltada para uma figura à distância. Cabelos platinados longos e olhos vermelhos, ela treinava sozinha.
Clank—!
Sua arma eram os punhos. Ou melhor, seu corpo?
Esquivando com habilidade dos golpes do boneco, Kiera parecia entediada. Deu um tapa casual na cabeça do boneco.
Evelyn captou um breve sorriso, mas fingiu não ver.
“Hmm, então é ela que você analisa?”
Josephine sussurrou novamente, fazendo Evelyn franzir a testa.
“Já terminou?”
Evelyn afastou o rosto de Josephine.
“O que está fazendo aqui? Por que não está trabalhando?”
“Hmmm.”
Josephine deixou os ombros caírem.
“Tentei, mas ele…”
Suspirou.
“…Estava tão ocupado olhando Leon que perdi dez minutos à toa.”
“Hm?”
Evelyn piscou.
“Seu parceiro é o Juli—”
“Ei!”
Josephine tapou sua boca.
“É segredo!”
‘Mas você acabou de dizer o meu…’
Evelyn quis dizer, mas não pôde. Ainda assim, passou a mensagem com o olhar.
Com um suspiro exagerado, Josephine acenou.
“Tá bom… tá bom…”
E saiu.
“…Nem vou ver muita coisa.”
Resmungou pelo caminho.
Era fato conhecido que Julien era fraco. Não, era forte e fraco… Bipolar.
“Não, não é assim que funciona…”
Enfim.
Ele não era forte.
“Cadê ele?”
Olhando ao redor, Josephine apertou os olhos. Se sentia sem energia. Viu sua figura à distância, desafiando um boneco.
“Oh.”
Seus olhos brilharam.
Isso seria interessante…
“Será que perde?”
Seria engraçado.
Com novo ânimo, posicionou-se para observar melhor. Mal chegou quando ele começou.
“Oh.”
Seus olhos focaram em Julien.
‘Tão bonito…’
“Aham.”
Limparam a garganta, assumindo expressão séria.
‘Certo, certo… Não estou aqui para admirar. Posso fazer isso depois.’
Josephine geralmente levava as coisas na leveza. Era seu jeito. Nunca levava nada a sério.
Além disso, com seu pai sendo um cavaleiro renomado da família Megrail, estava acostumada com essas situações. Depois de ver movimentos característicos do tipo [Corpo] e artes marciais, tudo ao redor parecia entediante – exceto Leon, que se destacava.
Sua esgrima era única.
‘Onde será que aprendeu…?’
Parecia tão avançada quanto a de sua família.
Seus pensamentos continuaram assim por alguns segundos, até que…
“Oh…?”
Seu rosto mudou, boca entreaberta.
Clank, clank, clank—
Era rápido. Quase sem falhas. Muitos movimentos desperdiçados, mas ficando cada vez mais rápido.
Um calafrio percorreu sua espinha…
Que se intensificou com um som metálico alto, fazendo-a estremecer.
CLANK!
O boneco ainda estava intacto, e a figura parecia exausta. Mãos sangrando, rosto encharcado de suor – uma cena patética.
Mas para a única espectadora, não havia nada patético.
Especialmente depois do que vira.
“Isso…”
A situação a deixou perplexa.
“Como vou avaliar isso…?”
O que era aquilo?
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