Índice de Capítulo

    Clank—!

    “Haaa… Haaa…”

    Senti um nó na garganta enquanto respirava ofegante. Sentia tontura e meus músculos gritavam de dor.

    Mesmo assim, me sentia satisfeito.

    “É alguma coisa…”

    Podia ver meu progresso. Ainda havia muito trabalho a fazer, e estava longe de algo concreto, mas…

    “Estou chegando lá.”

    Não sabia quando, mas sabia que aconteceria. A questão era: “Como progrido daqui?”

    Tinha o conceito em mente. O que queria alcançar e por onde começar. Mas faltava compreensão fundamental do conceito.

    Como exatamente deveria melhorar essa nova técnica que comecei a aprender?

    Passo—

    Avancei e deixei a mana fluir pelo corpo. Diferente da última vez, não invoquei as correntes, apenas movi os pés.

    Frente e esquerda…

    Foquei totalmente no fluxo de mana. Havia um padrão específico necessário para funcionar.

    Por que o fluxo era necessário?

    A resposta era simples. Para reforçar os músculos e acumular poder. Há enorme diferença entre um soco normal e um com fluxo de mana.

    Nesse caso, o fluxo era necessário para transicionar suavemente o poder entre movimentos.

    Transicionar sem fluxo normalmente causava perda de poder e momento. O fluxo supria essa falha.

    “Hmm.”

    Parei novamente.

    “…Algo não está certo.”

    Ignorando a dor nas mãos, refleti sobre o fluxo e movimento. Sentia que faltava algo.

    O problema era não conseguir identificar o quê.

    “É o movimento ou eu?”

    Não tinha certeza, mas parecia faltar algo na sequência.

    Um passo extra?

    “…É?”

    Tentei e franzi a testa. Da esquerda para direita. Fluía suavemente, mas faltava algo.

    “A transição pode melhorar…?”

    Esfreguei os cabelos.

    “Estou sendo paranoico?”

    Tentei de novo, nada mudou. Claramente não tinha habilidade para entender. Tentei mais vezes, mesmo resultado.

    No fim, só restou desistir.

    “…Vou deixar por aqui por agora.”

    Detalhes tão sutis eram para versões mais habilidosas de mim. No momento, estava longe disso.

    ‘Acho que a falha existe, mas sou fraco demais para perceber… Vou deixar assim por agora.’

    Alongando os braços, continuei praticando.

    Swoosh—!

    Só parei ao ouvir a voz do professor ecoar à distância.

    “Tempo encerrado. Todos, coloquem suas fichas de avaliação na mesa aqui. Podem recolhê-las depois que todos entregarem.”

    Olhei para minha ficha com descontentamento. Embora tivesse me esforçado, não sabia se fora suficiente.

    A ficha tinha quatro categorias: observações, pontos fortes, fraquezas e conclusão.

    O exercício não era só para autoaprendizado, mas também para entender como outros praticam e aprendem.

    Uma atividade que beneficiava todos os envolvidos.

    Tive dificuldade em preencher as fraquezas, já que era algo fora de minha expertise. Mesmo assim, relembrando seus movimentos, pude deduzir algumas coisas.

    ‘Ainda bem que observei ele…’

    Coloquei minha ficha na mesa com as demais. Havia várias.

    No fim, fiquei grato por essa sessão. Aprendi algo com ela.

    “…Acho que devo começar a observar outros também.”

    Se pude aprender com Leon, poderia aprender com outros?

    Francamente, meu orgulho não importava. Se me ajudasse a crescer, estava disposto a pedir conselhos até de quem me despreza.

    Orgulho é inútil quando se tem um objetivo.

    “Podem recolher suas fichas.”

    Quando todas foram entregues, o professor as misturou e pediu que formássemos fila para pegar as nossas.

    Entendia seu ponto em tornar anônimas as avaliações.

    Sem saber quem as escreveu, poderiam ser mais críticas e severas.

    Quanto mais severa, mais construtiva. Se levassem a sério, os cadetes poderiam melhorar muito.

    Esses eram meus pensamentos ao pegar minha ficha.

    “Essa aqui.”

    [Julien Dacre Evenus – Relatório de Observação]

    Pegando a ficha, afastei-me antes de abri-la.

    “Como esperado.”

    Era dura.

    [Observação:

    Julien parece estar praticando uma nova técnica de movimento. Pela rigidez, acredito ser sua primeira tentativa. Há falhas gritantes em quase tudo que faz…

    Continuava criticando meus movimentos desnecessários e exagerados.

    Nada que não esperasse.

    [Pontos fortes:

    — Conceito interessante.

    [Fraquezas:

    — Controle instável de mana.

    — Postura pobre e falta de conexão entre movimentos.

    — Falta de condicionamento físico para acompanhar os movimentos.

    — Muitos movimentos desperdiçados.

    [Conclusão:

    Talvez por estar experimentando nova técnica, sua manipulação de mana e forma física ficaram abaixo do esperado. Suas ações carecem de fluidez, e o fluxo de mana parece desordenado. Recomendo que priorize refinar seu controle. Uma vez que aprimore sua capacidade de concentrar o fluxo de mana e evitar sua dispersão entre ações, então…

    A nota terminava ali.

    “Hm?”

    E então?

    Virei o papel procurando continuação, mas…

    “Nada.”

    O quê?

    Revirei novamente, mas não havia mais nada. Pensei em reclamar ao professor, mas desisti.

    “…Estão implicando que quando resolver esse problema será algo bom?”

    Talvez fosse isso. De qualquer forma, agora sabia o que fazer.

    “Praticar meu fluxo e controle de mana.”

    Eu também percebi durante a prática. Não conseguia identificar exatamente o que dificultava conectar as formas, mas a ficha esclareceu.

    “Huu.”

    Respirei fundo, guardei a ficha e olhei à distância.

    Lá estava Leon.

    Encara a ficha em suas mãos com uma expressão fechada.

    “Hah.”

    Quase ri ao lembrar o que escrevi. ‘Acha que estou falando besteira…?’ Poderia muito bem ser. Não o culparia.

    Mas senti que precisava escrever.

    Talvez houvesse verdade no que escrevi…

    “Talvez ele me agradeça depois, ou talvez ignore completamente.”

    Cabia a ele interpretar.

    ***

    Leon olhou para a ficha em suas mãos, lendo cuidadosamente. Embora não soubesse quem a escreveu, tinha uma ideia.

    Estava curioso sobre o que diriam.

    [Leon Ellert – Relatório de Observação]

    [Observação:

    Leon pratica uma técnica sofisticada caracterizada por fluxo contínuo e movimentos interconectados focados em pequenos movimentos e baixo gasto de mana. É…

    O relatório era longo e detalhado. Leon ficou surpreso. Mas era só o básico.

    Nada de novo.

    [Pontos fortes:

    — Transição suave.

    — Bem praticada. É evidente que o cadete praticou o movimento milhares de vezes.

    [Fraquezas:

    — Nenhuma que eu tenha visto ou seja capaz de ver.

    Leon pausou aqui.

    “…Não posso culpá-lo por isso.”

    A técnica que praticava chamava-se [A Dança do Redemoinho]. Diferente de magos que aprendem feitiços classificados de iniciante a perfeito, usuários do tipo [Corpo] aprendem ‘Técnicas’ ou ‘Artes’.

    Elas também têm classificações. De uma a cinco estrelas.

    E diferentemente de feitiços, não exigem nível mínimo de força para praticá-las.

    [A Dança do Redemoinho] era uma arte secreta que encontrara por acaso.

    Sua classificação era desconhecida, mas Leon sabia que era alta.

    Seria estranho se Julien visse falhas nela.

    Não impossível, mas improvável.

    Continuou lendo.

    [Conclusão:

    Não há muito o que elaborar. Parece impecável em todos os aspectos. Podem ser minhas limitações me impedindo de identificar falhas ou dar feedback construtivo. No entanto, percebo um problema oculto no movimento – parece faltar um segmento na progressão do passo esquerdo para o direito. Embora haja tentativas de remediar, ainda parece haver uma defasagem…

    “Uh?”

    Os olhos de Leon pararam nas últimas palavras.

    Seu corpo inteiro estremeceu.

    “Falha…? Passo esquerdo para direito?”

    Teve dificuldade em processar. Não porque estivesse errado, mas porque… estava certo.

    “Como ele sabia?”

    Leon lembrava que ele só o observara por dez minutos.

    Teriam percebido algo nesse tempo?

    …Ou havia algo mais?

    “Isso não faz sentido.”

    Leon não ficou chocado por desconhecer a falha. Ele sabia dela. A ‘Arte’ estava incompleta, faltavam páginas. Já fizera o possível para corrigir.

    Dito isso…

    “Como ele percebeu?”

    Não era algo que se percebia com pouca observação.

    Uma ideia repentina atingiu Leon.

    “Será que ele…?”

    Parou ali e respirou fundo. Não saltou para conclusões. Mas não pôde evitar a respiração acelerada.

    Talvez…

    ***

    22 horas.

    Cheguei à entrada da Academia, onde só me esperava a vasta floresta ao redor. Uma figura vestida de preto se fundia com a escuridão.

    “Trouxe?”

    “Trouxe os produtos.”

    Entreguei uma barra a ela.

    Ela acenou satisfeita.

    Espere… Por que isso soa tão errado?

    “Venha. Levarei você a um lugar.”

    “Onde f—”

    Antes que terminasse, ela colocou a mão em meu ombro e a paisagem mudou.

    Swoosh! Swoosh—!

    O som de água corrente encheu meus ouvidos enquanto uma grande cachoeira surgia em meu campo de visão.

    “Onde…”

    “Aqui você treinará.”

    Delilah falou monotonamente.

    Olhei para ela, confuso. Estávamos no topo de uma colina, com uma bacia d’água abaixo. A cachoeira caía nela, seu rugido ecoando ao redor.

    “Você disse que queria crescer rápido, correto?”

    Engoli em seco e acenei.

    Rachaduras apareceram em sua expressão impassível ao apontar para a cachoeira.

    “Há algo além dela. Será o que procura. Porém…”

    Pausou e me encarou.

    Um sorriso fino surgiu.

    “Isso o levará ao seu limite. Pode ser perigoso. Tem certeza? Não o forçarei. A decisão é sua.”

    “Sim, vou.”

    Não hesitei. Era óbvio para mim.

    Delilah acenou.

    “Certo.”

    E indicou a cachoeira com o queixo.

    “Vá.”

    Acenei silenciosamente.

    Sem hesitar, pulei do pequeno penhasco.

    Respingo—!

    …Para crescer.

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