Capítulo 84: Preparação para o festival [3]

Quinta-feira. Alguns dias antes do festival.

Eu me sentei em um dos bancos ao redor do campus, esperando por alguém. Verifiquei a hora. Eram quase 15 horas.

Não podia ficar aqui por muito tempo. Tinha um compromisso em algumas horas.

Felizmente, não precisei esperar muito.

Ele apareceu pouco depois.

“Você veio.”

Vestindo o mesmo uniforme da academia que eu, Leon me cumprimentou com um olhar impassível.

“Esperava que eu ignorasse sua mensagem?”

“…..”

A falta de resposta dele foi tudo que eu precisava ouvir. Então ele esperava…

“O que você acha que eu sou?”

Dessa vez, pude ver uma reação nele. Nojo? E… um pouco de medo?

“O que…”

“Não, pare.”

Ele ergueu a mão na minha frente.

“Venho em paz.”

Que porra esse cara tá falando? Em paz? Em paz do quê?

“….Preciso da sua ajuda.”

Um conjunto inesperado de palavras saiu da boca dele, e eu franzi a testa.

“Você quer minha ajuda?”

“Sim.”

Ele acenou com a cabeça em silêncio enquanto se sentava na outra extremidade do banco. Ele estava se comportando de forma estranha hoje.

“Com o que você quer que eu ajude?”

“…..Você escreveu isso, certo?”

Estendendo a mão, ele me passou um pedaço de papel familiar. Dei uma olhada casual antes de entender suas intenções.

“Pessoa errada para perguntar. Eu não—”

“Eu te ensino.”

“Hm?”

Surpreso, olhei para ele.

Me ensinar?

“Por que você…?”

“Acho que você tem talento.”

“Talento?”

Quase ri. Esse cara… Ele realmente tinha perdido a cabeça. Estava prestes a me levantar e ir embora quando ele me segurou.

“Estou falando sério.”

Passei um bom momento encarando seu rosto. Estava realmente com dificuldade para levá-lo a sério, mas vendo sua expressão que parecia absolutamente séria, não tive escolha a não ser me sentar novamente.

“Então você acha que eu tenho talento?”

“Acho.”

“…..”

Talvez porque ele estivesse comigo desde o início e tivesse visto meu progresso, ele pensou que eu tinha talento. Mas o que ele sabia?

Ele não sabia nada sobre as lutas que eu tive que enfrentar para mal chegar a um nível aceitável.

Ainda estava níveis atrás desse cara, e nossa diferença só aumentava.

Se havia uma pessoa verdadeiramente talentosa, era ele.

Ainda assim, decidi ouvi-lo.

“Digamos que eu tenho talento. O que isso tem a ver com você querer me ensinar?”

“…..”

Leon franziu os lábios e olhou brevemente para baixo. Caindo em seus próprios pensamentos, ele só olhou para mim novamente depois de um tempo.

“Cheguei a um bloqueio.”

“Hm?”

“É como você disse. Tenho tentado meu melhor para consertar as partes faltantes da arte que estou praticando. Passei os últimos dois anos tentando resolver o problema. Pensei que tinha feito um bom trabalho em esconder o fato de que a técnica estava incompleta, mas…”

Ele parou ali, mas seu significado era claro.

“Você acha que eu serei capaz de pensar em um jeito de consertá-la?”

“….”

Ele não respondeu, mas sua expressão novamente me disse tudo que eu precisava saber.

Haa. Dessa vez, eu realmente quis rir. Esse cara perdeu totalmente a cabeça.

“Não estou esperando que você me pague de volta ou algo assim. Estou disposto a te ensinar a técnica de graça. Se você não conseguir aperfeiçoá-la, tudo bem também. Não vou te culpar por isso.”

Massageei minha testa.

Minha cabeça latejava.

De todas as pessoas que ele poderia ter perguntado, ele me perguntou…

‘Isso é estúpido.’

Devia haver alguma intenção por trás de suas ações. Eu me recusava a acreditar que era só porque ele achava que eu poderia completá-la.

“…..Tá bom.”

Apesar de todas as dúvidas que eu tinha, ainda aceitei a oferta.

Era óbvio que eu aceitei. Era simplesmente um acordo extremamente vantajoso para mim.

O único problema que eu tinha com essa oferta era o fato de que eu realmente não entendia de onde esse cara estava vindo.

Poderia realmente confiar nele…?

“….”

Olhei para seu rosto.

Parecia estúpido.

Como se talvez percebesse meus pensamentos, Leon franziu a testa.

“No que você está pensando?”

Fui pego de surpresa.

“O que você é?”

“….”

‘Então ele realmente leu minha mente.’

“Seu rosto parece estúpido.”

Ah, merda.

Cobri minha boca.

“Não era para dizer isso em voz alta.”

Meus pensamentos verdadeiros escaparam.

Leon piscou, e apenas levemente, sua expressão impassível quebrou. Observei atentamente sua expressão. Iria quebrar mais…?

A resposta foi não.

Com um suspiro, ele lentamente se levantou da cadeira.

“Vou começar a te ensinar a arte devagar quando tivermos tempo. Vou indo agora.”

Com uma leve inclinação, ele se preparou para sair. Olhei para suas costas, que agora estavam viradas para mim, antes de abrir a boca para dizer um nome,

“Alexander Harrington.”

Seus passos pararam.

Eu continuei.

“…..Preste atenção nele.”

***

‘Alexander Harrington.’

Mesmo enquanto se distanciava de Julien, o nome continuou ecoando em sua mente. Ele tinha pedido esclarecimentos, mas tudo que recebeu foi um simples ‘Fique de olho para mim’ antes de sair.

O nome não lhe soava familiar, e por mais que tentasse, não conseguia se lembrar de tal nome.

Ainda assim, ele planejava descobrir.

De qualquer forma, a conversa foi melhor do que o esperado.

‘Ele aceitou.’

Honestamente, Leon não tinha muitas expectativas em sua tentativa de resolver o quebra-cabeça que o atormentava há anos.

No entanto, ele tinha chegado a um ponto onde estava começando a ficar desesperado.

A ponto de até pensar em ensinar Julien sua técnica para que ele pudesse ajudá-lo a encontrar uma resposta.

“Haa.”

Leon se viu olhando para o céu sem expressão.

O bloqueio.

Tinha aparecido no momento em que ele atingiu o Tier 3.

O bloqueio ainda não era aparente. Era leve, mas Leon podia senti-lo.

Se continuasse por esse caminho, tinha certeza de que, quando atingisse o Tier 5 e além, seu crescimento estagnaria completamente.

O fato de Julien ter conseguido identificar a falha em apenas algumas horas de observação foi o suficiente para Leon entender uma coisa.

‘Ele tem talento.’

Talvez ele mesmo não tivesse percebido, mas Leon certamente via. Se ele treinasse um pouco mais, então…

“Vale a tentativa.”

Além disso, não era como se ele fosse ensinar tudo.

Apenas a arte de movimento que era o que ele precisava.

Mas…

Leon de repente franziu a testa ao se lembrar de algo.

Quanto mais pensava nisso, mais irritado ficava. Tentou ignorar, mas as palavras continuavam a importuná-lo no fundo da mente.

A ponto de se ver parando um cadete próximo.

“Ei, você…”

“Uh, ah, eu?”

O cadete apontou para si mesmo com uma expressão perturbada.

“Sim.”

Leon acenou com um rosto sério.

Então, apontando para si mesmo, perguntou:

“…Meu rosto parece estúpido?”

***

Hoje era o primeiro dia de ensaio.

Faltavam apenas alguns dias para o festival começar, e Aoife passou os últimos dias praticando seriamente suas falas.

Não eram muitas. Apenas algumas, mas ela tinha que demonstrar medo e terror perfeitamente em sua expressão.

Do tremor nos olhos ao tom de voz.

Tudo tinha que ser perfeito.

“Huuu.”

Deixando o roteiro de lado, Aoife respirou fundo.

Ela estava atualmente em uma pequena sala de ensaio sozinha.

Logo ela iria encontrar o homem que deveria interpretar Azarias. Hoje era a primeira vez que o veria. Não só isso, mas também conheceria os outros atores da peça.

Hoje era a primeira leitura.

Um evento onde todos os atores da peça se reuniriam para se familiarizar uns com os outros.

Havia uma empolgação inegável na atriz iniciante.

Havia rumores de que ele tinha sido selecionado no momento em que foi para a audição.

Com um nível divino de atuação, o escritor o escolheu na hora.

‘Estou curiosa.’

Mas, ao mesmo tempo, Aoife também estava nervosa.

Seria que ela conseguiria acompanhar um ator assim?

A mera ideia de atuar com alguém assim a deixava nervosa. Se de alguma forma acabasse arruinando a peça, então…

“Melhor não pensar nisso.”

Aoife ficou cada vez mais nervosa quanto mais pensava nisso. Certo, quem sabe, talvez eu consiga me sustentar.

Gradualmente, sua mente começou a se acalmar e ela se sentiu menos estressada.

“Tudo bem.”

Ela bateu levemente nas próprias bochechas e se levantou com orgulho.

“….Eu consigo.”

Recuperando o fôlego, ela alcançou a porta e a abriu.

“Está tudo pronto?”

“Você tem o roteiro com você?”

“Sim, está aqui. Um momento, vou distribuir nas mesas.”

Aoife foi imediatamente recebida com caos. A leitura começaria em alguns minutos, e a equipe estava ocupada preparando tudo para os atores e atrizes que participariam da peça.

O local não era particularmente espaçoso, cerca de metade do tamanho do auditório. Originalmente designado para armazenamento, sua localização discreta o tornava ideal para hospedar a leitura, dada a natureza sigilosa do roteiro.

Andando por aí, Aoife conseguiu ver vários atores famosos.

Como esperado, havia uma certa aura sobre eles que se destacava do resto. Dava para ver de relance que eram os melhores dos melhores.

Mas não era como se sua própria aura ficasse para trás.

Na verdade, brilhava tão intensamente quanto, instantaneamente atraindo a atenção dos atores presentes.

“Haha, se não é nossa estrela em ascensão.”

Aoife foi cumprimentada por um homem alto e incrivelmente bonito que se apresentou como Darius Johns, o protagonista da peça.

Ele a cumprimentou com um grande sorriso.

“Está nervosa? Haha, não precisa ficar. Comigo aq—”

Aoife estava prestes a responder quando foi puxada para trás.

Uma voz clara ecoou logo em seguida.

“Tire as mãos dela. A diferença entre vocês dois é grande demais.”

“Não, eu—”

“Não!”

Antes que Aoife percebesse, estava cercada pelo elenco principal da peça.

“Fique longe da nossa novata, Darius.”

“Você não sabe com quem está falando?”

Todos começaram a repreendê-lo, enquanto ele olhava em volta, perturbado.

“Não, eu só estava tentando ser amigável…”

“Besteira!”

“Como você está?”

Enquanto isso acontecia, Aoife foi cumprimentada por uma mulher deslumbrante, cuja presença a pegou de surpresa.

“Já decorou suas falas? Se precisar de ajuda, pode pedir a nós.”

“Ah…”

Apesar de seus esforços para manter a compostura, Aoife não pôde evitar sentir uma pontada de empolgação ao ver Odette Ripley, uma atriz renomada cujas performances ela tinha admirado em inúmeras gravações e peças.

Aoife era uma grande fã de seus trabalhos, e vê-la pessoalmente quase a fez gritar.

“Odette, deixe-a. Não vê que ela está desconfortável com seu toque?”

“Não, não está.”

Odette virou para olhar Aoife.

“Não está, certo?”

“….Não.”

“Ha, viu?”

“Tsk.”

Havia uma atmosfera geralmente agradável no local. Com todos os atores familiarizados entre si, o clima era sereno.

“Ah, certo, você sabe quem é o ator que forçou aquela mulher a mudar o roteiro?”

Na pergunta repentina de Odette, o clima mudou um pouco.

Aoife inclinou a cabeça. O tópico também a interessava.

“Não sei, para ser honesta. Aquela mulher se recusa a dizer qualquer coisa. Já implorei tantas vezes, mas ela não cede.”

“É, o mesmo comigo.”

“….Mas ele é realmente bom? Quero dizer, entendo que ele conseguiu fazer aquela mulher mudar o roteiro, mas poderia ter sido algum golpe de sorte?”

“Não, impossível. Você sabe como aquela mulher é. Não tem como ela ter feito o que fez sem estar confiante.”

“Ah, sim… Acho que não. Bem, vamos ver durante a leitura. Se ele é realmente tão bom quanto dizem.”

A conversa continuou nessa direção. Aoife ouviu em silêncio, ocasionalmente acrescentando seus próprios pensamentos.

Até que alguém anunciou:

“A leitura está prestes a começar. Que todos os atores se acomodem.”

“Eh? Já?”

“Isso foi rápido.”

“Hm? Mas onde está o ator novato de quem todos falam?”

“Ah, ele chegou.”

Enquanto o assistente falava, a porta se abriu, e uma figura entrou. Quase todos viraram o rosto na direção da porta.

Aoife foi uma dessas pessoas. Ela estava curiosa. Quem era esse super novato?

Só que…

“Não, não pode ser.”

Suas expectativas foram quebradas no momento em que ele entrou, e ela piscou várias vezes para ter certeza de que não estava enxergando errado.

Piscando de novo, e vendo a mesma figura diante dela com o que parecia ser um leve sorriso nos lábios, Aoife engoliu em seco.

“Oh, não…”

O ator divino que tinha conquistado o show. A pessoa com quem ela teria que se esforçar para acompanhar, e a pessoa que ela deveria tratar como um mestre…

“Ah, não…”

Não era outro senão Julien.