Capítulo 86: Preparação para o festival [5]
Aoife teve dificuldade para processar o que estava vendo.
“….”
No início, ela achou que a diferença entre eles não seria tão grande assim. Que talvez os rumores sobre o “ator divino” fossem um exagero e tudo não passasse de estratégia de marketing para a peça.
Mas ainda assim…
‘Como eu vou competir com isso? E isso é só uma leitura de roteiro…’
Seu aperto no roteiro se intensificou.
Ela sentiu uma frustração profunda brotar dentro dela.
Mais uma vez, ela…
“Isso é…”
Aoife não foi a única que se sentiu assim. Até os atores mais experientes ficaram sem palavras diante de sua atuação. Isso foi especialmente verdade para Odette e Darius, que permaneceram em silêncio o tempo todo.
A forma como olhavam para ele mudou. De “Será que ele consegue?” para “Será que eu consigo acompanhar?”. Eles só podiam sentir alívio ao pensar que ele não tinha muitas cenas na peça.
Mas mesmo assim…
Eles estremeceram com o que ele acabara de mostrar.
“…..Ah, isso é perfeito.”
Se havia alguém que estava animado com tudo isso, era ninguém menos que Olga, que resistiu à vontade de bater palmas.
Parecia que ela estava diante do próprio Azarias. Logo antes dele se entregar aos seus desejos e loucura.
….Estava perfeito.
Ele estava perfeito.
“….”
“….”
Em algum momento, a sala de leitura ficou em silêncio, todos os olhos fixos em Julien, que lentamente fechou os olhos e voltou à sua expressão normal.
Ele saiu do personagem sem esforço, e foi então que todos os olhares se voltaram para Olga e entenderam algo.
Então é por isso que ela mudou o roteiro…
***
‘Huuu…’
Respirei fundo e deixei as emoções se dissiparem da minha mente. Entrar naquele estado mental foi bem difícil. No entanto, ao olhar ao redor e ver os olhares silenciosos que todos me dirigiam, senti que tinha me saído bem.
“….”
“….”
A sala ficou em silêncio, com todos trocando olhares estranhos.
Isso durou tempo suficiente para me fazer franzir a testa.
O que aconteceu?
Será que eu tinha errado em algum momento?
“…..Isso foi incrível.”
Assim que comecei a duvidar de mim mesmo, a escritora falou, e sua voz quebrou o silêncio que dominava o ambiente. Eu soltei um suspiro de alívio.
“Brilhante, sim.”
“Isso foi impressionante.”
“Uau, fiquei arrepiado. Você foi incrível.”
Elogios começaram a sair da boca de todos os atores presentes. Eu os aceitei sem mudar muito minha expressão. Aos poucos, meu olhar se fixou em uma figura distante que encarava o roteiro com uma expressão carrancuda.
Como se sentisse meu olhar, nossos olhos se encontraram, e eu levantei a sobrancelha como quem diz: “Você não vai me elogiar também?”.
Sua expressão se quebrou, e seus lábios tremeram.
‘Ah, não.’
Eu estava fazendo de novo.
“Todos, por favor, fiquem quietos.”
Palma—!
Uma palma quebrou o clima quando a escritora direcionou toda a atenção para si.
“Guardem os elogios para depois. Ainda temos algumas cenas para ler. Nesse ritmo, não vamos conseguir terminar a tempo.”
Só então o clima finalmente se acalmou, e a leitura continuou.
“Ato 3. Fim da Visão.”
A leitura do roteiro seguiu seu curso normal. Tinha que se admitir que todas as pessoas presentes eram atores fantásticos. Precisei de tudo que tinha para evitar mostrar admiração e espanto com o que estava vendo.
Especialmente os dois protagonistas. A atuação deles… Era fenomenal. Melhor até que a de alguns dos melhores atores que eu tinha visto na Terra.
‘….Queria que ele tivesse visto isso comigo.’
Ele provavelmente teria sido o primeiro a pular de empolgação.
Meu irmão Noel.
“Ato 7. Um mundo sem cor.”
De repente, um ato foi chamado, e toda a atenção se voltou para mim novamente.
‘Ah, é.’
Olhei para o roteiro com uma expressão vazia. Ato 7. Esse era o último ato de Azarias. Depois de tudo que aconteceu, Joseph, o protagonista, finalmente o derrota, pondo fim à sua onda de crimes.
Era para ser uma cena simples.
Mas isso tinha mudado completamente depois da reescrita.
‘Mesmo agora, eu…’
“…..Julien?”
Ouvindo meu nome ser chamado, levantei a cabeça. Todos estavam me encarando. Eu podia ver a expectativa em seus olhares. Suas expressões… Eu podia lê-las como um livro aberto.
‘Que tipo de atuação ele vai mostrar?’
‘Mal posso esperar para vê-lo atuar essa parte.’
‘Já estou arrepiado só de pensar nisso.’
Eles me pressionavam.
Mas era realmente uma pena. Olhando para o roteiro à minha frente, soltei um suspiro silencioso e o fechei antes de colocá-lo na mesa.
“Peço desculpas.”
Me levantei em silêncio sob os olhares atônitos de todos.
“…Não consigo fazer isso.”
Ainda não.
***
Em uma área remota do campus da Academia.
“Encontrei o nome dele.”
Alexander estava de pé com um orbe de comunicação na mão. Notícias sobre a aparição de Julien como um extra e o “ator divino” que havia convencido a escritora a mudar o roteiro começaram a se espalhar.
Foi apenas por um breve momento, já que a leitura tinha acabado há pouco, mas finalmente a identidade do misterioso “cadete” havia sido revelada.
Foi por isso que Alexander conseguiu descobrir quem ele era.
Caso contrário, ele teria que gastar muito mais tempo para encontrar a identidade. Dada a forma como o coletivo tinha mantido sigilo sobre o novo roteiro, a identidade do cadete tinha sido mantida em segredo até agora.
Julien Dacre Evenus.
Esse era o nome do cadete que forçou “Olga” a mudar o roteiro.
“Ladrão…”
Resmungando baixinho, Alexander conectou o orbe de comunicação.
Uma voz familiar saiu dele.
—Já recebi as notícias.
“Ah, sim… Você deve ter.”
De fato.
“E?”
Alexander ouviu com atenção. Eles iam fazer algo a respeito? Talvez matá-lo? Mas ele era uma figura importante… Matá-lo seria um pouco problemático. Ele poderia fazer isso se permitissem.
No entanto…
—Vamos adiar a operação por enquanto.
A resposta que recebeu foi inesperada.
“Uh?”
Arranha.
“Isso…”
Ele se viu incapaz de proferir uma única palavra. Elas simplesmente se recusavam a sair de seus lábios.
“Eu ouvi errado?”
Sim, devia ser isso. Sim…
Arranha. Arranha.
—Nós vamos cuidar do assunto. Por enquanto, fique de lado e espere eu entrar em contato novamente.
“Uh, mas… Ah!”
A comunicação terminou ali.
“Não, isso…”
E a coceira começou.
Arranha. Arranha. Arranha—!
Não parava. Mesmo sentindo sangue escorrer pelo pescoço, a coceira não cessava. Ele continuou a se coçar, mordendo os lábios em silêncio.
“Não, isso… Não faz sentido. Como? O que aconteceu? Por quê?”
Andando de um lado para o outro, Alexander mordeu a unha.
Sua aparência calorosa havia desaparecido. O que a substituiu foi um olhar distorcido cheio de loucura.
“Eu não posso… Eu preciso… Eu preciso performar. Preciso. Tenho que.”
Aos poucos, seus passos pararam.
“….Sim, eu não preciso me importar.”
Em primeiro lugar, ele não tinha desejo de viver. Seu único objetivo era fazer a melhor performance possível. Ele não ligava para eles.
O que os fazia pensar que podiam impedi-lo?
“Me impedir. Não podem.”
Ele tomou sua decisão ali.
“Eu vou performar.”
Gostassem ou não, ele ia fazer isso.
Isso era claro.
Arranha, Arranhaaaa1…
Finalmente, a coceira parou, e ele respirou fundo. Tirando um pequeno frasco, ele o colocou sobre o pescoço enquanto seus ferimentos começavam a cicatrizar rapidamente.
Massageando o rosto, sua expressão voltou ao normal. Então, olhando casualmente ao redor, ele saiu do local.
Só que…
Mesmo ao sair, ele não percebeu a presença que estava não muito longe dele.
Swoosh—
***
Ao mesmo tempo.
“Huuu. Huuu…!”
Respirando fundo, pratiquei o manual de nível azul. O mana dentro do meu corpo começou a se expandir em um ritmo constante. Era mais lento que antes, mas o progresso ainda estava lá.
Respirei fundo e calmamente enquanto me concentrava em controlar meu mana.
Pinga. Pinga.
O suor começou a escorrer pelo meu corpo enquanto eu me imergia no treinamento. Ou pelo menos, nos primeiros dez minutos dele.
Um pensamento persistente ficava no fundo da minha mente, me impedindo de me concentrar totalmente.
“….Haaa.”
Meus olhos se abriram, e eu respirei fundo.
“Não consigo me concentrar.”
Virando a cabeça, meus olhos pousaram no roteiro que estava a alguns metros de mim. Os eventos de antes se repetiram em minha mente.
Tendo saído da leitura de roteiro mais cedo, voltei para meu dormitório e retomei meu treinamento.
Era uma pena, mas eu não tive escolha.
A última parte do roteiro…
Eu não consegui fazer.
Não importava quantas vezes eu tentasse me imaginar naquela situação, minha mente simplesmente ficava em branco.
Eu simplesmente… não conseguia replicar o que o personagem, Azarias, sentia em seus últimos momentos. Era demais para mim.
Pensei que, na semana em que recebi o roteiro, conseguiria pensar em algo, mas nada. Minha mente ficava em branco.
Quanto mais eu tentava mergulhar no personagem, mais difícil ficava me visualizar nele.
“Que incômodo.”
“O que é?”
Uma voz de repente ecoou não muito longe de onde eu estava. Surpreso, virei a cabeça e vi Leon sentado em um dos meus sofás.
Como sempre, ele tinha uma expressão impassível.
“Quando você chegou aqui?”
“Alguns minutos atrás.”
Alguns minutos atrás?
“Você não podia ter batido?”
“Poderia.”
“E…?”
“Eu tenho um rosto estúpido, então…”
Eu levantei a sobrancelha. Então ele ainda estava remoendo aquilo.
Eu concordei.
“Justo.”
“…..”
“O quê?”
“…..”
Vendo que ele se recusava a falar, peguei uma toalha e enxuguei minha testa. Eu mais ou menos entendia por que ele estava aqui.
“Você esteve investigando ele, não é?”
“….”
“O que você descobriu?”
Sentei na outra ponta do sofá e me recostei. Apesar da falta de palavras, eu sabia que ele tinha algo para me dizer.
Fui confirmado momentos depois, quando ele finalmente abriu a boca para falar.
“Ele está planejando fazer algo durante a peça.”
“Imaginei isso.”
“….O alvo dele parece ser Aoife.”
“Oh.”
Sabia disso também.
“Você não parece muito surpreso?”
Eu olhei para ele sem expressão.
“Eu meio que já sabia.”
“Entendo.”
Leon acenou antes de adicionar de repente:
“Ele não está agindo sozinho. Não consegui ouvir muito, mas ele estava falando com alguém por um dispositivo de comunicação. Acredito que há alguém por trás dele.”
“Oh.”
Sim, sabia disso também.
Até agora, nada me surpreendeu. Mais ou menos seguiu o caminho que eu tinha previsto.
Ou assim eu pensava.
“Havia algo estranho na situação. Embora eu não tenha me aproximado dele por medo de ser descoberto, consegui ouvir um pouco da conversa. Algo sobre eles tomarem o assunto em suas próprias mãos.”
“….Ah.”
Isso era uma informação nova. Levei alguns momentos para entender o que estava acontecendo.
‘Eles estão vindo atrás de mim.’
Por que mais eles mudariam seus planos de repente?
“…..O que você vai fazer?”
À pergunta de Leon, ponderei por um momento antes de perguntar:
“Quão forte ele é? Ou… quão forte você acha que ele é?”
Franzindo levemente a testa, Leon respondeu após alguns segundos de reflexão.
“Ele é mais ou menos do meu nível. Tier 3.”
“Você acha que consegue lidar com ele?”
“…..Você está me pedindo para matá-lo.”
“Não, ainda não.”
Como eu tinha dito antes, matá-lo agora não nos ajudaria. Na verdade, provavelmente me colocaria em uma situação difícil.
“Então?”
Imaginando como as coisas se desenrolariam, compartilhei meus pensamentos.
“Durante a peça. Ele vai tentar algo. O alvo provavelmente serei eu. O objetivo dele é provavelmente tomar meu lugar como Azarias. Essa é a hora em que podemos agir.”
Eu disse “nós” porque não estava confiante de que conseguiria lidar com ele sozinho. Felizmente, Leon parecia disposto a ajudar nisso, pois acenou silenciosamente com a cabeça.
“Isso parece razoável. Mas e os que estão por trás dele? Tenho certeza de que vão tentar algo. Se for esse o caso, então—”
“Você não precisa se preocupar com isso.”
Eu o interrompi antes que ele pudesse continuar.
“Eu cuido deles.”
Quanto a isso, eu estava confiante.
Porque…
Eles estavam vindo atrás de mim.
- Culpem o Entrail por essa barbárie[↩]
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