Capítulo 89: Peça [1]
A notícia sobre a nova peça da renomada escritora Olga já havia causado rebuliço por todo o Império. Depois de muitas mudanças, o título da peça foi finalmente definido como: [O Enigma da Mansão da Meia-Noite].
Nos bastidores do teatro, Leon ficou parado enquanto observava todos os assentos começarem a se encher.
“Tem tanta gente vindo.”
Havia uma certa tensão nos bastidores do palco.
Após trabalharem na última semana para garantir que o projeto fluísse bem, toda a equipe e os cadetes aguardavam ansiosamente os resultados finais da peça.
Seu trabalho duro valeria a pena?
“Pelo que ouvi, todos os assentos foram vendidos. São mais de dois mil lugares. É loucura.”
“Meu Deus! Olhem ali! É Jayce Milner da Guilda do Cão Negro!”
“Ah! É a Clara da Guilda das Rosas de Espinho!”
“Tem mais! Tantos figurões presentes hoje…!”
A maior parte do nervosismo vinha das personalidades importantes que assistiriam à peça hoje.
Olhando ao redor, Leon pôde ver que a maioria dos membros importantes das grandes Guildas estava presente.
Por haver tantas figuras importantes, a segurança estava apertada. Não que fosse necessária, já que todos presentes podiam se defender.
Infelizmente, o que eles não sabiam era que, embora pudessem se defender, o mesmo não valia para os cadetes.
Felizmente, não parecia que alguém era alvo.
O único alvo no momento era Julien, que se preparava para começar a peça.
‘…..Ele provavelmente atacará em breve.’
Muito provavelmente logo após o segundo Ato. Embora seu alvo fosse Julien, seu objetivo real era Aoife.
Por isso, ele esperava provavelmente o momento certo para interferir.
“Preciso me preparar.”
O alvo era bastante forte. Leon não achava que conseguiria derrotá-lo sozinho. No entanto, com Julien, a situação poderia ser diferente.
De qualquer forma, ele tinha um objetivo em mente com tudo isso.
Girando o pulso, Leon verificou seu relógio. Sentindo que estava na hora, ele saiu silenciosamente do local.
Ele tinha um lugar para estar.
***
O barulho no teatro começava a diminuir, pois a peça começaria em alguns minutos. Sentados bem na frente estavam três indivíduos.
“O que vocês acham? A peça vai receber cinco estrelas?”
“Não tenho certeza, mas confio na Olga.”
“Veremos.”
Vestidos com trajes formais, eles eram os críticos responsáveis por avaliar a peça.
“Ouvi dizer que há vários cadetes inexperientes participando. Sei que é um critério proposto por Haven, mas ter tanta confiança em ser julgada hoje…”
Um dos juízes balançou a cabeça.
“Não sei se ela é corajosa ou apenas iludida.”
“Hah, quem sabe? Ouvi dizer que um dos atores é bastante talentoso.”
“De novo com essa bobagem? Você está no ramo há tanto tempo quanto eu. Sabe muito bem que é só conversa fiada para gerar publicidade. Aposto 100 Rend que ele provavelmente está só um pouco acima do medíocre. Não crie expectativas.”
“Se você diz…”
As expectativas eram mistas. Por um lado, os juízes acreditavam que a peça seria ótima, mas não tinham muita fé no “super novato” que estava em todas as notícias.
“Por favor, desconsiderem o fato de que os atores são meros cadetes ao avaliar. Se cometerem erros, registrem adequadamente.”
Era uma avaliação séria.
Eles não deixariam o fato de serem novatos afetar seu julgamento.
“…..”
Sentada algumas fileiras acima deles e ouvindo a avaliação dos críticos, Delilah inclinou levemente a cabeça.
Hoje, ela estava em sua forma habitual e, enquanto estava sentada, podia sentir os olhares de todos ao redor se voltando para ela.
“O que acha do que eles disseram? Concorda?”
Sentado ao seu lado estava um homem bonito, com traços bem definidos e olhos verdes. Ele era o vice-líder da [Ordem dos Serafins de Prata], uma das quinze maiores Guildas.
Ele tinha mais ou menos a idade dela e, embora não fosse tão poderoso, era alguém muito respeitado.
Olhando para ele, Delilah balançou a cabeça sem dizer nada.
“Haha? Então acha que as atuações dos novatos serão boas?”
“….”
Delilah não disse nada novamente.
Para ser sincera, ela não sabia. Julien seria um grande ator? Claro, ele era um mago emotivo, mas expressar emoções era diferente de influenciá-las…
Havia também Aoife.
Sua atuação seria boa? Olhando para o lado, onde uma figura familiar de olhos amarelos estava sentada, ela recostou-se na cadeira.
Atlas Megrail.
Era raro vê-lo em eventos assim. No entanto, como sua sobrinha Aoife estava atuando, talvez ele tenha decidido assistir.
Delilah não tinha certeza.
Ele era difícil de ler.
“Pessoalmente, concordo com eles. Estamos falando de alguns dos melhores atores do Império. Como meros cadetes poderiam competir? Acho que serão carregados por—”
Suas palavras cessaram abruptamente quando as luzes do teatro se apagaram, mergulhando o ambiente na escuridão.
“Está começando.”
“Silêncio.”
Swooosh——!
As cortinas se abriram, e as luzes do palco se acenderam, revelando o interior de uma padaria.
Tok—
Um único passo quebrou o silêncio que envolvia o ambiente quando uma figura vestida com um casaco marrom e cartola entrou.
Logo atrás dele estava um homem usando um colete cinza e óculos de armação quadrada.
Joseph e seu assistente haviam aparecido.
[Huaam.]
Bocejando, Joseph, interpretado por Darius, olhou ao redor. Sua voz era clara e audível para todos.
[Uh… É aqui que ela trabalhava, correto?]
[Sim, esta é a padaria.]
Não havia muito diálogo no início, mas o público já estava cativado. Havia algo na atuação e na atmosfera sombria da padaria que fazia todos se perguntarem o que estava acontecendo.
[Emily Stein.]
Ajustando os óculos, o assistente desdobrou um pedaço de papel do bolso do peito enquanto inclinava a cabeça para trás para ler melhor.
[A filha do dono. Segundo os detalhes, ela parece ter desaparecido ontem.]
[Ah, uh, sim… Entendo.]
Com um aceno sutil, Joseph inspecionou o local, passando o dedo pela superfície da padaria enquanto observava.
Com uma expressão cansada, ele mexeu no cabelo antes de semi-fechar os olhos.
[O lugar parece limpo…]
Talvez acostumado com o que via, o assistente olhou ao redor antes de murmurar seriamente:
[Não parece haver nada de errado aqui. O crime provavelmente ocorreu fora da padaria. Devemos…]
[Me dê um segundo.]
Cobrindo a boca e bocejando novamente, Joseph puxou uma das cadeiras de madeira e sentou.
[…..Huu, estou ficando velho para isso. Elbert, que tal você procurar evidências enquanto eu tiro um so… Ehhh, recupero minhas energias.]
[….]
Ajustando os óculos, Elbert abriu a boca, mas segurou as palavras e acenou. Ele saiu do palco, deixando Joseph sozinho.
De costas para a plateia, ele encarava à frente.
Ninguém podia ver sua expressão. Estava escondida de todos.
[Emily Stein.]
A única coisa que podiam perceber era sua voz. Uma mudança ocorreu na plateia quando ele falou. Seu tom já não soava cansado, mas extremamente sério e rouco.
Isso criava tensão enquanto as luzes do palco piscavam e a escuridão envolvia o ambiente.
Cli Cla—!
[Desapareceu ontem.]
Na escuridão, a voz de Joseph continuou a ecoar.
[Filha do padeiro. Estava procurando equipamentos desaparecidos.]
Suas palavras, embora suaves, atingiam os ouvidos do público enquanto uma tensão estranha tomava conta do ambiente.
[Que cenário problemático.]
Cli Cla—!
A luz voltou, e todos prenderam a respiração com o que viram.
Ainda sentado na cadeira de madeira, de costas para a plateia, todo o cenário havia mudado. Ele não estava mais na padaria. Parecia estar no meio de um beco.
Mas o mais marcante era que…
“Cinza.”
Tudo estava cinza.
Delilah se viu imersa na peça.
E se isso não bastasse, em pé diante de Joseph estava outro homem. Também de costas para a plateia, ele estava ereto, encarando o fim do beco.
Lá, uma figura apareceu.
Vestindo roupas simples e um avental, sua beleza não podia ser escondida, capturando instantaneamente a atenção de todos.
Sua expressão era de desamparo enquanto se aproximava de Joseph e do homem diante dele.
Por algum motivo, o público se viu franzindo a testa…
‘Não, você não deveria ir até ele.’
‘Ele é perigoso.’
Mesmo sem ter feito nada, apenas ficando parado o tempo todo, o público sentia uma tensão estranha vindo dele enquanto Aoife se aproximava.
Sem perceber, Delilah se inclinou um pouco para frente.
Ela queria ver melhor a cena.
[Ah, com licença! Por acaso sabe se há alguma loja aberta onde eu possa comprar peças para um misturador quebrado?]
No momento em que ela falou, todos prenderam a respiração.
Por algum motivo, havia algo em sua voz e tom que fazia todos esquecerem sua aparência. Ela realmente parecia ter incorporado seu personagem.
[….]
O som de respiração pesada ecoou enquanto alguns membros da plateia engoliam seco sob a tensão que tomava o auditório, todos olhando para a figura misteriosa.
Cada segundo que passava era sufocante. Quase como se alguém estivesse tentando apertar suas gargantas.
Até que ele finalmente falou.
[…. Você está procurando uma peça?]
Apesar de não poderem ver seu rosto, apenas pelo som de sua voz, o público se viu prendendo a respiração.
Que expressão ele tinha? Como ele era? Ele a mata?
Com apenas algumas palavras, ele conseguiu trazer muitas perguntas à mente do público.
A peça continuou.
[Sim, estou.]
Aoife acenou ingenuamente com um brilho estranho nos olhos. Um brilho que continha excitação e esperança.
Uma cena tão inocente…
[Eu sei, sim… Conheço um lugar.]
Isso só aumentava a tensão que o personagem misterioso trazia.
[Você conhece…?!]
[Sim, siga em frente. Se continuar, você encontrará.]
[Muito obrigada!]
De frente para a plateia, Aoife passou pelo homem e por Joseph antes de desaparecer.
[….]
Novamente, o silêncio tomou conta do ambiente enquanto todos os olhos se voltavam para o homem misterioso. Nesse momento, todos se perguntavam a mesma coisa.
Que expressão ele estava fazendo?
Eles não precisaram esperar muito para descobrir. Aos poucos, ele virou a cabeça para a plateia, revelando seus traços.
“…..!”
Muitos prenderam a respiração com o que viram. Sua aparência beirava a perfeição, com um queixo definido e cabelo bem cuidado. Seus olhos cor de mel brilhavam com uma intensidade estranha que atraía o olhar de todos, criando uma atmosfera sufocante.
E ainda assim…
Apesar de sua aparência impecável, ninguém na plateia conseguia admirá-la.
Com um olhar vago e lábios que tremeluziam entre um sorriso e neutralidade, vários membros da plateia sentiram um calafrio.
“…..”
Se algo, sua aparência só aumentava o arrepio que seu olhar causava.
[V-vermelho…]
Ele murmurou baixinho enquanto abaixava a cabeça para encontrar o olhar de Joseph, que ergueu o rosto para encará-lo.
[….Eu quero ver.]
Cli Cla—!
O ambiente mergulhou na escuridão.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.