Capítulo 91: Peça [3]
“….”
Não era como se eu não esperasse por isso. Não, na verdade… eu sabia que viria.
Embora, ao olhar em volta e ver que não havia ninguém presente, achei a situação bastante estranha.
Como ele conseguiu afastar todos daqui?
Arranha. Arranha. Arranha.
O único som que ecoava era o ruído estranho e perturbador de suas unhas arranhando.
“Você… Ah, eu preciso daquele papel.”
Ele respirava pesada e desconfortavelmente. Com apenas um olhar, pude ver que ele não estava em seu estado mental normal.
‘Um psicopata.’
Permaneci calmo.
“Você precisa do papel?”
E tentei ganhar tempo.
“O de Azarias?”
“Ah, sim… Aquele papel. Esperei por este dia por muito tempo. Um tempo extremamente longo…”
Arranha. Arranha. Arranha—!
“Isso me incomoda, me incomoda… Me controlei por tanto tempo. Tanto. Tanto. Tanto. Tanto controle! Ha! Perdi meu papel! Por sua causa! Todo aquele esforço! Como pode ser? Devehaveralgumerro!!”
Tive dificuldade em entender a última parte de sua frase, pois ele cuspiu as palavras em velocidade acelerada.
Talvez porque sua raiva estivesse aumentando, ele começou a perder a razão.
“Ah! Isso é um absurdo! Comopodemmedizerparapararquandotenhoesperadotanto!!!”
O mana começou a se aglomerar em sua direção rapidamente. Tanto que começou a ficar sufocante.
‘Como esperado, não posso vencê-lo com meu poder atual…’
Ele era simplesmente forte demais para o meu estado atual.
Swooosh—!
Sua figura ficou desfocada, e ele apareceu bem na minha frente. Reagi rápido, movendo minha mão esquerda para me proteger.
CLANK—!
Um som metálico alto ecoou enquanto faíscas voavam e eu dava vários passos para trás. Minha mão esquerda ficou dormente enquanto a corrente se espalhava.
“Ukh..!”
Senti uma doce sensação na garganta e tossi várias vezes.
“Droga.”
A diferença entre nós era grande, mas não era impossível para mim.
Bem, não que isso importasse.
Eu não estava sozinho.
“Julien E—”
Antes que ele pudesse terminar, algo o atingiu no rosto.
——!
Com um golpe poderoso, ele cambaleou para frente. Naquele instante, fechei minha mão, e fios roxos surgiram, enrolando-se em seus tornozelos e mãos.
Seu corpo inteiro começou a ter espasmos enquanto seu rosto empalidecia e seus traços se contorciam.
“Akh…! Isso!”
Uma figura surgiu do ponto atrás dele. Com um passo silencioso, Leon me olhou com uma expressão fechada.
“É isso?”
“….Por enquanto.”
Ainda não tinha certeza se ele havia deixado algo mais para mim.
“Eu cuido dele. Vá checar o palco.”
“….Entendido.”
Leon desapareceu logo em seguida. Só então voltei minha atenção para o veterano.
“Agora então.”
O que eu faria com ele?
***
Era o começo do segundo Ato.
A plateia já estava sentada, esperando o início. Durante todo o intervalo curto, nenhum dos membros da plateia disse uma palavra, aguardando a peça recomeçar.
Todos se perguntavam a mesma coisa: ‘O que ele quis dizer com “nos vemos em breve”? Há algo na loja?’
O ar estava carregado de expectativa.
Nos bastidores, Aoife respirou fundo.
Todo o barulho sumiu de seus ouvidos enquanto ela se concentrava totalmente em seu papel.
“Ah.. aH, ah, Ah…”
Massageando a garganta, ela tentou achar o tom e afinação certos. Passou a maior parte do intervalo fazendo isso e, enquanto estava ocupada, notou um certo pânico se espalhando nos bastidores.
“Onde ele está…?”
“Não consigo encontrá-lo.”
“Bati na porta dele, mas sumiu.”
“O quê? Como pode ser? Ele não teria ido embora, né?”
Quando virou a cabeça, viu toda a equipe correndo em pânico.
“O que está acontecendo…?”
Vendo o desespero deles, Aoife franziu a testa. Estava prestes a perguntar quando ouviu a conversa de alguns atores ao seu lado.
“Acha que ele fugiu? Como na sala de leitura?”
“Droga. Sabia… Da última vez ele saiu porque não conseguiu. Acho que a pressão o atingiu. Mas o que fazemos?”
“Ah, isso. Não acredito que está acontecendo justo agora.”
Familiarizada com os eventos da sala de leitura, Aoife entendeu do que falavam. Seu rosto ficou mais sério.
‘Ele fugiu? Julien…?’
Aoife custava a acreditar.
Lembrando da cena que vira antes, quando ele praticava sozinho na sala de aula, se esforçando até seu corpo falhar, Aoife não pensou por um segundo que ele fosse esse tipo de pessoa.
Ela sabia… porque ele era igual a ela.
“Algo deve ter acontecido.”
Era a única explicação.
Cli Cla—
As luzes do teatro se apagaram, e a peça recomeçou.
“Huu.”
Aoife respirou fundo e foi para o lado do palco. A próxima cena era sua morte.
“Façam algo!”
“Procurem por ele!”
Enquanto todos ainda se agitavam tentando encontrar Julien, ela limpou a mente e removeu pensamentos distrativos.
Se ele apareceria ou não, não importava agora.
O que ela precisava fazer era focar em seu papel.
[Esta é a loja? Parece bem bonita.]
A voz de Darius ecoou do palco, enquanto a peça continuava. Ele agora estava em frente a uma loja em forma de flor.
Sozinho, inseriu a chave na fechadura e abriu lentamente, revelando a vasta quantidade de flores dentro.
[Hm?]
Para a surpresa da plateia e de Joseph, as flores…
Eram todas…
[Rosas.]
Não, não exatamente.
[Vermelhas.]
Era uma visão estranha, que deixou a plateia questionando novamente.
[Eu sabia que ele gostava de rosas, mas quem diria que gostaria tanto a ponto de ter uma loja inteira delas?]
Com uma risada amarga, Joseph caminhou pela loja. Como na padaria, passou os dedos pelos móveis, aparentemente procurando algo.
Enquanto isso, uma voz sussurrou para Aoife:
“Prepare-se, sua parte está prestes a começar.”
“Entendido.”
Aoife assentiu com expressão séria.
Olhando em volta, viu que a equipe ainda estava em pânico. Julien… ainda não estava à vista.
“Senhora? O que fazemos…? Assim…!”
“Coloque alguém no lugar. Ugh, ah!”
Não era incomum incidentes durante peças. Por isso, “substitutos” eram usados em emergências.
Embora não fossem tão bons quanto os atores principais, ainda sabiam as falas e o que fazer.
Olhando para trás, Aoife viu um homem vestido como Julien se preparando.
Ele provavelmente seria seu substituto.
“…..”
Por algum motivo, Aoife não gostou da ideia. Na verdade, detestou, enquanto seus punhos se apertavam.
‘Não me esforcei até aqui para alguém tomar seu lugar…’
Além de fazer por si mesma, outro motivo pelo qual Aoife se esforçou tanto foi para não ser engolida por sua atuação.
Aoife admitia.
Ele era muito melhor que ela nisso. Por isso, ela se esforçou tanto.
…E ver alguém tomando seu lugar fez Aoife sentir que metade de seus esforços foram em vão.
Era frustrante.
Algo que ela precisou engolir ao sentir um empurrão nas costas.
“Vai, é sua vez.”
Assentindo, Aoife respirou fundo e entrou no palco.
***
Fraco, Alexander abriu os olhos lentamente.
Não entendia o que acontecera, pois foi tudo muito rápido. Seu corpo pendia no ar, fraco por todo lado. Olhando em volta, parecia estar em um depósito.
Alexander mal conseguia enxergar. Sua mente estava nebulosa, e sua visão, embaçada.
“Haa… Onde estou? O que…”
Tão fraco, mal conseguia falar.
“Bem na hora.”
Uma figura apareceu em sua visão.
“Eu teria que te acordar logo.”
“Uh… Como…?”
Tossindo, Alexander levantou a cabeça devagar. Tentou se soltar dos fios, mas seu corpo não respondia, sem energia.
“Estava esperando você agir.”
Com um olhar indiferente, ele o encarou.
“O quê…. Como!?”
“Não importa como. Só saiba que eu sei que você me observava.”
“Como você…!”
Alexander lutou para entender. Como ele sabia que estava sendo observado? E como sabia de seus planos…!?
Seu rosto se contorceu enquanto sua coceira no pescoço piorava. Se ao menos pudesse coçar…
Ainda assim, riu forçadamente.
“Acha que acabou? Tem mais co…”
“Eu sei.”
“….?”
“Tem mais vindo, né? Eu sei.”
“Ah…”
A coceira ficou insuportável, distorcendo seu rosto.
“Isso, como você…”
Quem, no mundo.
“Como!!!”
Juntando suas últimas forças, Alexander gritou com ódio. Sua voz falhou, mostrando seu desespero.
“Isso não é problema seu.”
Mas o homem diante dele permaneceu impassível.
Então, ele se aproximou e se abaixou. Seus olhares se encontraram, e Alexander parou de gritar.
“Você é um psicopata.”
Foram as palavras que ele disse.
“…..Eu interpreto um psicopata.”
“O quê…?”
Uma sombra cobriu o rosto de Alexander quando a mão de Julien se aproximou.
“Deixe-me ver seu mundo.”1
***
Tok—
Sob as luzes brilhantes, o passo de Aoife ecoou.
Tak. Tak.
As cores ao redor desapareceram, e junto, seus passos ficaram mais rápidos.
“Haa…. Haaa…”
Seu peito subia e descia, e suas mãos formigavam.
Tak. Tak. Tak.
Era silencioso, e nesse mundo quieto, uma figura estava ao centro. Joseph. Ele olhava diretamente para ela, que corria pelos becos.
“Haaa… Haaa… Haaa…”
O palco estava em silêncio. O único som que Aoife percebia era o de seus passos e respiração acelerados. Era estranho e desconfortável.
Tak. Tak.
Seu corpo ficou fraco e mole.
Sabia que todos a observavam, mas essa sensação começou a sumir.
Aos poucos, ela mergulhava no papel.
Todas as luzes se foram, e as emoções que forçara a semana toda começaram a surgir.
Mas…
‘Ainda falta algo.’
“Haaa… Haaa…”
Aoife sentiu que entrou em um estado. Um estado de imersão que qualquer ator invejaria.
Mas não era perfeito.
Ainda faltava algo.
Mas o quê?
O que poderia ser?
Então, seus passos pararam.
“Oh, ah…”
Um muro apareceu à sua frente. A expressão de Aoife se quebrou, e o desespero a envolveu. Virou a cabeça e viu a escuridão engolindo o fim do beco.
Uma figura estava lá. Observando-a.
Aoife apertou o peito.
“O-o que você quer de mim…!”
Sua voz saiu rouca, quase um grito. O tom, a afinação. Perfeitos. Quase impecáveis.
Mas…
Ainda não era o suficiente.
Algo faltava em sua atuação.
O que era?
Tak.
Ouviu um passo suave. A sombra se aproximou.
“A-afaste-se de mim!”
Aos poucos, a figura se revelou, e Aoife prendeu a respiração.
Ali estava Julien. Igual a sempre, não…
Havia algo diferente nele.
Isso pesou no peito de Aoife.
“…..”
E tirou suas palavras. Como se ele tivesse roubado sua voz.
Foi então que Aoife entendeu o que faltava.
Medo.
Medo real.
“Haaa…. Haaa… Haa..”
E encarando a figura familiar na outra ponta, Aoife engoliu seco. Seus olhos, vazios e sem luz, mas cheios de uma certa loucura, a encaravam, gelando seu corpo.
“Ah..”
Finalmente, ela sentiu.
“Gh…!”
Medo.
Verdadeiro medo.
E sua voz voltou.
“A-afas.. Akh… Afaste-se de… mim!!”
- GÊNIO DEMAIS PQP[↩]
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