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    Se havia uma coisa que eu aprendi após entrar na mente de Alexander, era que a percepção da realidade de cada um era diferente.

    Era um conceito simples.

    Todos percebiam as coisas de forma diferente.

    Na sociedade, indivíduos que compartilhavam percepções semelhantes tinham maior probabilidade de formar conexões e se darem bem.

    Mas…

    Havia exceções.

    Pessoas cuja percepção da realidade era tão diferente que não conseguiam se encaixar em lugar nenhum.

    Alexander era uma dessas pessoas. Seu mundo…

    Era entediante.

    Completamente vazio. Normalmente, eu seria capaz de perceber as emoções da pessoa contra quem usei a habilidade, mas no momento em que entrei em sua mente, tudo que percebi foi vazio.

    Era uma sensação estranha.

    Mas, ao mesmo tempo, perigosa. Quase viciante. Assim que vi como um mundo sem emoções era pacífico, comecei a perder meu senso de realidade. Eu só queria me deleitar em um mundo assim pelo maior tempo possível.

    Mas…

    Um mundo tão pacífico não existia de verdade.

    Era apenas uma falsa sensação de tranquilidade. Um mundo sem emoções era um mundo sem graça.

    A percepção de emoções de Alexander era muito menor que a de uma pessoa normal. Era por isso que ele buscava senti-las.

    Era para…

    Não se sentir tão sozinho.

    Foi esse entendimento fundamental de sua mente que me fez mergulhar na mente de Azarias.

    Sua história não era muito diferente da de Alexander.

    Ele era um homem que vivia em um mundo sem cor — alguém cujo mundo era completamente pintado de cinza.

    …..Era difícil para mim entender um mundo assim.

    Mas agora eu entendia.

    Piscando os olhos, olhei ao redor. Tudo era cinza e monocromático. Quanto mais eu me imergia nas emoções de Alexander, mais eu percebia como seu mundo era sem graça.

    Comecei a me sentir insignificante.

    Mas dentro dessa insignificância, eu avistei algo.

    ‘Vermelho.’

    Uma única rosa que ficava perto da janela do quarto.

    Era vermelha.

    E eu podia vê-la, contrastando fortemente com o mundo monocromático ao meu redor.

    “….”

    Meus lábios tremeram. Eu queria ver mais dela. Eu queria me livrar do cinza que me cercava.

    “Haa… Haaa…”

    Senti minha respiração acelerar no momento em que o pensamento entrou em minha mente.

    Olhando ao redor, encontrei um pincel. Passei meu dedo sobre ele, sentindo sua textura na ponta dos dedos.

    Comecei a pintar as paredes.

    Traço. Traço—

    Minhas mãos se moveram sozinhas. Elas dançaram pelas paredes cinzas, espalhando a nova cor pelas paredes.

    Era uma sensação refrescante.

    Eu não me sentia mais tão sozinho.

     

    ∎| Nvl 1. [Alegria] EXP + 0.2%

     

    Notificações apareceram em minha visão. Eu não lhes dei atenção e me deleitei com a sensação que o vermelho me trazia.

    “Haa… Haaa…”

    O vermelho tinha diferentes tons.

     

    ∎| Nvl 1. [Alegria] EXP + 0.05%

     

    Das texturas aos tons, eu queria ver mais.

    Traço. Traço—

    Como se estivesse possuído, comecei a me mover enquanto pintava as paredes sozinho. Eu era rápido, fluente e livre…

    “Haa.”

    Mas…

    Essa fugaz sensação de alegria não durou muito tempo, pois parei minha mão.

    “….Preciso de mais.”

    Eu tinha acabado o vermelho.

    Arranha. Arranha.

    Meu pescoço de repente coçava. Senti-me ficar frenético, como se uma parte de mim estivesse sendo arrancada e jogada fora.

    “Não, não, não…”

    Arranha. Arranha. Arranha.

    Eu precisava terminar isso. Eu precisava me sentir vivo novamente.

    Eu precisava…

    “Ah.”

    Então eu lembrei.

    Havia mais alguém aqui. Fora do quarto. Era o assistente do detetive.

    “Certo, isso serve.”

    Os arranhões pararam, e eu fui em direção à porta. Em minha mão, segurava uma adaga. Uma que usei no momento em que abri a porta.

    “Ei, o-“

    Puchi!

    “Haaa…”

    Meus lábios tremeram com todo o vermelho que tingiu meu mundo. Parecia orgásmico. E eu não queria nada além de me deleitar com tal sensação.

     

    ∎| Nvl 1. [Alegria] EXP + 0.05%

     

    Lentamente, mas seguramente, eu podia sentir.

    Eu estava lentamente começando a me perder no prazer.

    Traço. Traço—

    Meu pulso se movia enquanto o pincel dançava pela parede. Com a certeza de que não precisaria mais encontrar mais vermelho, concentrei toda minha atenção na obra-prima que se desenrolava diante de mim.

    “Ah, sim!!”

    Naquele momento, eu perdi de vista a mim mesmo.

    Eu… deixei Alexander tomar conta de uma parte de mim, e apenas me deleitei na alegria e empolgação que estava sentindo. Era uma sensação tão viciante.

    Alegria.

    Quando foi a última vez que eu me senti tão feliz?

    Eu queria mais.

    Me deleitar mais. Eu só queria saborear a felicidade, mesmo que fugaz.

    Traço. Traço—

    Essa sensação inevitavelmente chegou ao fim quando pintei o último traço.

    “…..”

    No silêncio que tomou conta do meu mundo, eu olhei para cima.

    Olhei para a obra-prima na parede.

    Era perfeita. Em quase tudo. Mas ainda havia algo nela que parecia faltar. Eu não tinha certeza do quê.

    Um público, talvez…?

    “Ah, deve ser isso.”

    Felizmente, não precisei esperar muito para o público chegar.

    Clank—!

    A porta se abriu e um homem familiar entrou no quarto. Eu olhei para sua expressão chocada e uma nova onda de empolgação me invadiu.

     

    ∎| Nvl 1. [Alegria] EXP + 0.1%

     

    Sim, provavelmente era isso.

    Ele não era o único para quem eu olhei.

    “Ah…”

    Em sua direção. Logo atrás dele, eu podia ver milhares de rostos diferentes. Todos eles me encarando.

    Era uma visão para se contemplar.

    Suas expressões. Eram tão vívidas e reais que senti minhas pernas tremerem enquanto meus lábios se torciam.

    “….Finalmente chegaram.”

    Meu público.

    Bem-vindos ao meu mundo.

    ***

    A atmosfera no teatro era indescritível. O silêncio envolvia o espaço enquanto todos os olhos permaneciam fixos no homem em seu centro. Apenas com sua presença, ele sugava a atenção de todos que o observavam.

    Seus lábios se torceram em um sorriso, sua expressão cheia de nada além de prazer enquanto ele os encarava.

    Era nauseante.

    “Ele é um psicopata…”

    “Ele não o matou de verdade, certo? Isso é atuação, certo?”

    Ninguém do público conseguia encontrar as palavras certas para descrever a cena que acabara de testemunhar.

    Era brutal e difícil de digerir.

    Eles olharam ao redor do quarto e seguraram seus estômagos. O mundo antes cinza agora sangrava vermelho, saturando quase todos os cantos.

    [Eu… O que você fez?]

    Foi a voz de Joseph que quebrou o silêncio. Mais uma vez, ele havia sido esquecido pelo público, que estava tão absorto no homem em frente a ele.

    Voltando sua atenção para Joseph, eles podiam ver seus ombros tremendo.

    Seu olhar estava direcionado para seu assistente, cujos olhos estavam fechados.

    [Você…]

    [Você gosta do que eu desenhei?]

    A voz de Azarias tremia levemente enquanto seus olhos fitavam o público. Por algum motivo, parecia que ele estava olhando para cada um individualmente.

    Isso fez alguns membros do público estremecerem, fazendo-os engolir em nervosismo.

    [V-você é louco. Um monstro.]

    As palavras de Joseph ecoavam os pensamentos de todos que assistiam.

    Sua voz era suave, e o público podia ver as emoções contidas em seu tom. Da raiva à tristeza.

    Era tudo tão vívido.

    Se ao menos eles soubessem…

    Tais eram as verdadeiras emoções que Darius sentia enquanto encarava o cadete diante dele. Ele era simplesmente avassalador.

    Estava exigindo toda a sua experiência para acompanhar.

    [Um monstro]

    Azarias inclinou a cabeça com curiosidade enquanto alternava seu olhar entre ele e a pintura na parede.

    [Você não gosta? Está faltando algo?]

    [….]

    [Diga-me.]

    Gradualmente, o rosto de Azarias começou a se contorcer.

    [Está faltando algo?! Diga-me!]

    Sua voz poderosa ecoou por todo o teatro enquanto alguns membros do público se encolheram com a mudança inesperada.

    Sua desesperança ficou clara para o público.

    Arranha. Arranha.

    [O que está faltando? O quê? Eu fiz bem. Está bom. Não há-]

    Estrondo.

    A voz de Azarias parou.

    Olhando para baixo, ele encarou suas roupas, onde um pequeno buraco apareceu. Gradualmente, vermelho começou a manchar suas roupas.

    [Ah…]

    No silêncio que subitamente tomou conta, ele olhou para cima.

    Joseph encontrou seu olhar.

    Sua expressão estava distorcida enquanto seu corpo tremia. Apontado para ele estava o cano de uma pequena arma.

    […]

    Com lábios trêmulos, Joseph encarou Azarias. Sua expressão se contorceu enquanto seu rosto mostrava nada além de ódio e nojo.

    Baque—

    O corpo de Azarias caiu pouco depois.

    No mundo cinza, ele encarou vazio o teto enquanto o vermelho começava a manchar sua camisa, formando uma poça ao seu redor e se espalhando em direção à parede onde ele havia pintado.

    A figura de Joseph desapareceu da cena, e tudo o que restou foi Azarias e a pintura na parede.

    Gradualmente, o vermelho vindo de seu corpo se conectou com a parede.

    Nos últimos momentos, Azarias olhou para a parede. Sua expressão antes extasiada mudou.

    “…..”

    O que a substituiu foi um olhar vazio. Era como se seu fôlego estivesse sendo tirado dele.

    O público tinha expressões semelhantes enquanto encarava a pintura na parede.

    Era uma rosa.

    Uma rosa espinhosa.

    Uma que lentamente se conectava com Azarias, que estava do outro lado. A rosa agora tinha um caule, simbolizando sua integração à pintura.

    Tudo fez sentido então.

    [E-então era isso que faltava…]

    Havia algo poético na rosa que o público tinha dificuldade em descrever.

    Especialmente dentro do mundo monocromático. Ela se destacava e quase parecia cegante, fazendo com que não se conseguisse desviar o olhar dela.

    E então…

    Pinga.

    Enquanto algo escorria do canto dos olhos de Azarias, sua voz quieta ainda conseguiu alcançar os ouvidos de todos os presentes.

    [É… tão linda.]

    Na morte, ele se deleitou na única cor que deu significado à sua vida.

    Era…

    Uma obra-prima.

    Sua obra-prima.

    Cli Cla—

    As luzes se apagaram.

    Um Mundo Sem Cor.

    Esse era o nome de seu Ato final.

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