Capítulo 68 - No Coração da Megalópole
O corredor parecia mais longo do que nunca. O gás de Nullite já havia sido completamente sugado pelos sistemas de ventilação de emergência, mas o cheiro frio e mineral ainda permanecia impregnado no ar. Foram minutos arrastados até o fim do corredor principal. Por fim, chegou à entrada da sala presidencial. Ava não hesitou. Com um movimento seco, ergueu a perna esquerda e desferiu um chute poderoso contra a porta dupla.
A madeira reforçada se abriu com violência, batendo nas paredes internas.
Sentado atrás de uma mesa imensa de mogno, o presidente da Torre, Rod Sugg, ergueu lentamente os olhos do documento que fingia analisar. Ele não estava surpreso, mas sim convencido de que era inevitável acontecer. O silêncio se instalou por alguns segundos. Era, sem dúvidas, desconfortável. Rod não disse nada, apenas entrelaçou os dedos sobre a mesa, analisando cada detalhe da cena.
— Explique isso, presidente. — Ava apontou para a mulher caída. — Nós temos Koji, Saik e Tahiko trabalhando em conjunto com a Torre. Eles são portadores… Não é errado ter portadores do nosso lado, mas é errado contratar um e fazê-lo trabalhar por fora da Torre? Isso é traição interna.
Rod não respondeu de imediato. Pegou um copo de cristal à sua esquerda, serviu-se calmamente de água, tomou um gole longo e deixou o líquido escorrer em sua garganta. Em seguida, levantou-se e caminhou até a janela vasta que se estendia por quase toda a parede do fundo da sala. A vista da cidade de Brasília era limpa, um céu azul com belas nuvens.
Ele respirou fundo, fechou os olhos por alguns segundos e, só então, respondeu:
— Eu não fiz nada contra a Torre.
Ava se aproximou um passo, estreitando os olhos:
— Então o que fez?
— A Fundação sequestrou minha neta, Ava.
— Lina…? — seus olhos caíram sobre o corpo desacordado de L, e ela mostrou a fotografia de Lina Sugg. — Eu sei, Rod.
— Eles a usaram como moeda. Como sacrifício de rito. O sequestro não foi apenas pessoal. Foi político. Eles quiseram atingir a Torre por dentro, me dobrar, dissuadir qualquer operação de nossos agentes no Centro-Oeste. Se eu ousasse enviar reforços, se tentasse romper os domínios deles em Cuiabá, Campo Verde e nas demais cidades… minha neta seria lentamente destruída. Torturada.
— Não poderia me contar?
Rod virou-se para encará-la, alimentado de uma raiva contida:
— Eu não podia confiar em ninguém aqui dentro. Você mesma desconfia de infiltrados, não é? Eu também. Alguém estava vazando informações… e agora já sabemos quem era. — Um breve silêncio, pesado, caiu entre os dois. — Max.
Rod deu mais um gole de água:
— Se a Fundação descobrisse que enviei tropas oficiais, reagiria com força. Eu não podia correr esse risco. Então contratei uma portadora. Ela salvou minha neta.
— E como garante que nada foi vazado para a Fundação? Pelo menos sabe o que isso poderia causar? — Ava fechou as portas da sala presidencial.
— Se Max era o infiltrado e estava aqui por todo esse tempo, eu não descarto a possibilidade de ele ter descoberto e contado à Fundação.
A comandante, que estava encarando a L ainda inconsciente, ergueu ligeiramente o rosto, olhando para o presidente Rod Sugg com uma leve expressão de raiva:
— Como é? E o que isso significa?
Ao voltar a sentar-se na sua cadeira, ele respondeu com a mão direita apoiada na testa:
— As suspeitas de bombas em São Paulo.
O que disse Rod irritou Ava imediatamente, que levantou a voz:
— Tá falando que as bombas em São Paulo são culpa sua?
— Culpa minha? — cheio de raiva, Rod Sugg socou a mesa com a mão direita fechada. — A Fundação deve ter descoberto através do Max, antes de ele ser pego… E não porque eu falhei.
Neste momento, respirando de forma ofegante, olhando para os pés e com as mãos tremendo, Ava aproximou-se da mesa de Rod, pegou o intercomunicador e ligou para a equipe principal responsável pelas operações antibombas da Torre em São Paulo, a 20ª Unidade das Forças Especiais da Torre, liderada pelo capitão Tom.
— Na escuta, presidente Rod Sugg.
— Não é o presidente Rod Sugg que está falando. — Logo, o capitão Tom reconheceu a voz de Ava. — Ah, comandante, estou na escuta! O que ocorreu com o presidente?
— Me responda sobre Tahiko… Ele já está em São Paulo, correto?
— Sim, senhora. Ele já está conosco. — Tahiko estava parado frente à escadaria para descer dentro da Estação da Sé, olhando para a iluminação baixa no interior do local.
E a comandante Ava lhe ordenou:
— Então avise-o que a comandante Ava o ordenou a adentrar a Estação da Sé e retirar as bombas de alguma forma… Deseje boa sorte a ele por mim…
Em São Paulo
Toda a região central e adjacências estava completamente evacuada, sem nenhum civil — ou melhor, aqueles que ainda permaneciam nesta região com certeza estavam em fuga. Somente inúmeras equipes especiais da Torre estavam no local. Após ser informado do imediatismo da comandante, o capitão Tom pegou o megafone da mão do policial ao seu lado e falou para os soldados das Forças Especiais da Torre e para Tahiko, que estavam do outro lado, frente à entrada subterrânea da Estação da Sé:
— AO MEU COMANDO, VOCÊS VÃO ENTRAR NA ESTAÇÃO E DAR UM FIM ÀS BOMBAS, ENTENDERAM?
Com exceção de Tahiko, que apenas olhou com sua típica cara de raiva, os soldados balançaram a cabeça afirmativamente. Contudo, antes que o capitão desse a ordem, uma atualização chegou até ele.
— Senhor capitão! Capitão! — desesperado, um agente se aproximou, tocando o ombro direito de Tom e mostrando-lhe algo nas localizações das bombas espalhadas por São Paulo.
— O que aconteceu? — ele olhou e se deparou com a mudança.
Antes, havia dois locais diferentes com presença de bombas: Estação da Sé e Estação da Luz. Entretanto, o painel de radar da Torre mostrava que não havia mais presença de bombas na Estação da Luz, e sim todas concentradas unicamente na Sé.
— Alguém as mudou de localização, senhor!
Temendo que a perda de tempo interferisse diretamente em algo negativo — e certamente interferiria — o capitão Tom logo gritou no megafone para Tahiko e os soldados:
— HOUVE MUDANÇAS! TODAS AS BOMBAS AGORA ESTÃO NESTE LOCAL! TAHIKO E GUERREIROS, APROXIMADAMENTE SEIS BOMBAS DE LONGO ALCANCE ESTÃO À MERCÊ DO SUCESSO OU DO FRACASSO DE VOCÊS! DESCAM E SALVEM ESTA CIDADE INTEIRA!
Foi diante dessa pressão e do peso de salvar a maior cidade do país da destruição que Tahiko deu o primeiro passo — o direito — descendo a escadaria de entrada para a Estação, acompanhado pelo caminhar seguro e atento das centenas de soldados e agentes especiais da Torre. A iluminação baixa, piscando nervosamente a ponto de enlouquecer quem olhasse por alguns segundos, deixava o clima do local quase fúnebre — e esse clima se tornaria ainda mais pesado em caso de fracasso.
Tahiko não demonstrava insegurança, medo ou hesitação, a tal ponto que sua postura ereta escancarava isso, e seus passos se distanciavam dos soldados.
E, para a surpresa de Tahiko e dos demais, ao pisarem enfim no subterrâneo da Estação da Sé, mesmo com o piscar das luzes e a iluminação perturbadora, ainda assim foi possível enxergar, a poucos metros à frente deles, alguém de pé, tranquilo, sereno, com três bombas ao lado esquerdo e três bombas ao lado direito.
O rosto da pessoa ainda não era tão visível. Tahiko, curioso e nada aterrorizado — ao contrário dos soldados —, deu dois passos para frente, tentando enxergar melhor. E em um momento, ele conseguiu entender diante do feixe de luz perfeito que recaiu sobre o rosto, revelando quem era.
— Você… seu desgraçado! — Tahiko se encheu de raiva, pressionando os dentes e cerrando os punhos.
Hideki. O portador da Fundação. O mesmo que seguiu a ordem de Zarek em Dynami, matando centenas de civis, matando o capitão Williams, capturando o garoto Riley… O mesmo que não só venceu, mas humilhou Tahiko.
E, orgulhoso e expressivo como era, Tahiko estava pronto para se vingar…

Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.