Capítulo 92 - O Deus do Dinheiro Vs. O Ambientalista — Quem Pode Vencer a Entropia Viva?
Alex pairava novamente, ofegante, o ouro de sua armadura manchado de sangue. Ele estava esgotado pelo uso contínuo do Teletransporte Real e da Absorção Imediata. Mas mesmo diante das verdadeiras dificuldades, embora ainda não fatais, Alex gritava e zombava.
— Você está perdendo tempo, Sam! Eu leio a sua frustração! Você não tem velocidade, e sua técnica é lenta demais para o meu Capital Instantâneo! Você não vai conseguir me parar!
Ainda curvado, Sam respirava o ar úmido da floresta que ele havia deixado para trás, buscando a conexão que a cidade negava. Ele estava destruído, mas a mente, aguçada pela dor, ainda trabalhava. Levemente inquieto pela dificuldade intensa, Sam não parava de limpar o suor que caía por sua testa e rosto. Sentindo-se provocado e desconfortável, ele voltou a chamar a atenção de sua Sombra, o Vide, em uma conversa na mente entre os dois.
“Velocidade, Vide… A única forma de vencer é de fato na velocidade. E Alex está certo… Meu 100% Energia Externa não é superior ao dele, o que não me torna mais veloz. Ele é um portador de Primeira Classe, eu sou de Segunda Classe. A energia bruta dele tem uma fundação inerente maior pela técnica dele ser material e humano…”
“Concordo. Os seus atributos físicos são aprimorados, mas não o suficiente para superar a velocidade base de um portador de Primeira Classe que tem o Capital como vetor. Mas não tem nada em mente? Nada mais que possa tentar?”
“Sim, tenho… Certamente o que tenho em mente é o máximo que a minha inteligência pode chegar…”
“Estou curioso. Me diga o que tem.”
“Se eu não posso superá-lo no macro que ele controla, sendo a velocidade externa e os valores que dão a ele toda superioridade… Talvez eu deva me concentrar no macro que eu controlo.”
“Macro… O que chama de macro?”
“É um conceito humano da Alliance direcionado a portadores, mas conhecido e comprovado por nós portadores. O Macro sempre foi uma teoria humana, mas é de fato real, apesar de pouco usada pelos próprios portadores… Macro é o conjunto das leis e condições que definem o ambiente onde a batalha ou a existência ocorre. É aquilo que contém as ações, e não as ações em si. Enquanto o micro é a unidade, sendo o corpo, o golpe, a energia. E o macro é o ambiente, o tempo, o espaço e as regras que os sustentam.”
“Entendi. Mas na prática, o que seria?”
“As leis da minha própria técnica Ambiente… Não entendeu?… O que falta para a minha velocidade superar a dele?”, Os olhos cinzas de Sam brilhavam perante a ideia que estava imaginando na teoria.
“Acredite, eu não estou acompanhando. O que você está sugerindo? Forçar uma anulação temporal? É muito arriscado.”
“O Pleno Nada anula tudo. É uma habilidade de Segunda Classe, Domínio Espiritual e Absoluto. Se eu estou tendo problemas com a velocidade, é porque minha manifestação do Pleno Nada é externa, dependente da minha fala e da projeção para o alvo. É uma arma de longo alcance que estou tentando usar à queima-roupa… E se eu não usar o Pleno Nada para capturar Alex, mas usar todas as minhas outras habilidades contra mim mesmo?”
“Isso é… suicídio tático. Você não pode manter todas as suas habilidades ativas simultaneamente. Isso sobrecarregaria qualquer portador!”
“Sim. Mas o que eu acabei de concluir, Vide, é o seguinte; Se a força e a velocidade macro dele são baseadas no Valor circundante, e as minhas são baseadas na Entropia e no Ambiente, então para superá-lo, eu tenho que me tornar o meu próprio Ambiente, a minha própria Entropia, a minha própria anulação. Eu tenho que me tornar o Macro.”
“Mas o que seria o seu macro? E o macro de Alex?”
“Bom… É… A técnica de Alex é Dinheiro, então o macro dele é o campo objetivo e mensurável, o mundo físico, o tempo linear, o movimento. Ele reina dentro das leis normais da realidade, sendo distância, massa, velocidade, impacto. Enquanto a minha técnica é Ambiente, logo meu macro é entrópico, é o conceito do estado de realidade, é o “sistema operacional” do universo em que as leis acontecem.
O pensamento era de uma insanidade genial. Sam planejava invocar todas as suas habilidades, não para atacar Alex, mas para aplicá-las contra seu próprio si mesmo, criando um estado paradoxal de poder e negação. Ele seria, ao mesmo tempo, imóvel e infinitamente móvel, existente e anulado.
“Estou surpreso. Mas você é o único portador que poderia pensar em praticar algo tão autodestrutivo e pragmático. E que nunca testou antes… Estou feliz que tenha chegado a essa conclusão.”
Por outro lado, Alex parou de caminhar e flutuar. Ele começou a andar no ar, como se o éter fosse um piso sólido. Seu semblante era de raiva pura, mas a leitura dos pensamentos de Sam o havia atingido como uma estaca fria.
— Ah, Sam! Você é um monstro! Eu li a sua nova ideia! Você quer se tornar o seu próprio Macro! Quer invocar o Silêncio da Matéria contra seus próprios átomos para ganhar a imobilidade absoluta e a velocidade do paradoxo, não é? — Alex caminhava no ar, o ouro de sua aura queimava em desespero e fúria. — Isso é desespero, Sam! Você não vai me vencer, mesmo que se destrua!
Nas tentativas de falar — mesmo que soasse um mudo —, em um momento, o som da voz de Sam retornou. Certamente devido ao caráter temporário da ausência de voz que, aparentemente, seu efeito havia chegado ao fim.
— Mas o que farei não me destruirá, Alex. Olha que curioso… Você leu minha mente, tudo que eu disse para minha Sombra, e ainda assim não entendeu nada. O que adianta essa sua habilidade afinal?
— Como pode ter a voz de volta e falar tanta asneira em pouco tempo? Ha!Ham!…
Embora fosse esperado, Alex não atacou, mas parou, a dez metros de distância, elevando a voz para além de um grito, para além da estratosfera. O som era o de milhares de moedas chocalhando e o som da economia em colapso.
— Você não pode me matar, Sam! Você não entendeu a regra mais importante da minha técnica! O Dinheiro não é apenas meu poder, mas além de tudo… É a minha vida e a vida de todos! — Alex berrou, e Sam, embora estivesse se preparando para o ato de seu novo plano, parou para ouvir.
— Se eu, Alex, o Deus Material, for morto… Literalmente, todo dinheiro no mundo! Seja moeda, cédula, digital, fiduciária ou não… Tudo que tenha valor de troca explodirá simultaneamente como ICBMs! Seria o fim da humanidade! Por isso que digo; Eu sou Imortal, quem simplesmente não pode fechar os olhos para sempre!
O sorriso no rosto de Alex era de triunfo final, a certeza de que Sam, por mais amoral que fosse, não podia ser o vetor da aniquilação global. Ele havia jogado a única carta que podia parar Sam; a sobrevivência da humanidade.
Contudo, Sam não demonstrou medo. Seus olhos cinzentos mal registraram a ameaça — O Capital… exige a sobrevivência… — Sam murmurou, mais para si mesmo. — Não poderia ser mais típico que isso.
Logo, Alex disparou, impulsionado por um ódio que era a antítese do dinheiro frio. A aura dourada parecia um raio em ziguezague, e a lâmina de ouro moldada em seu antebraço apontava para o coração de Sam. Entretanto, Sam não recuou, mas sim invocou: “Silêncio da Matéria!”, que ligeiramente, fez a matéria perder movimento molecular, sendo ela não aplicada a Alex. E sim, inteiramente aplicada à sua própria pele, ao próprio Sam.
E por uma fração de segundo, a pele de Sam pareceu endurecer em uma casca de pedra cinzenta. Ele se tornou imóvel, e o corpo quase não sentiu o impacto do golpe de Alex, que foi forçado a ricochetear. O ombro deslocado de Alex gritou em dor: “Porra! Não é possível que isso deu certo… mesmo?!” Alex se lamentou com raiva.
Sam continuou, com seu corpo agora como uma tela de comando: “Sopro Inexistente!”, essa habilidade, que apagava presenças energéticas, foi aplicada ao seu próprio fluxo de Energia Interna. Ele estava tentando anular as fraquezas e as vulnerabilidades de sua própria técnica, tornando-a, ironicamente, ainda mais forte. Em seguida, fez outra: “Ambiente Invertido!”, sendo essa a propriedade física, que tornava quente em frio, foi aplicada ao redor de seu esqueleto. Isso inverteu a vulnerabilidade de seus ossos. Eles não eram mais frágeis; eram anti-frágeis, ficando mais fortes a cada impacto.
Alex, furioso, percebeu que a cada habilidade que Sam ativava, a aura cinzenta ficava mais densa e o corpo de Sam ficava mais resistente aos seus golpes.
— O que você está fazendo?! Você não tem energia para isso, seu idiota! Vai se autodestruir!
Envolto por uma massa poderosa e cinzenta, quase visualmente impenetrável, Sam se encontrava no ápice do excesso de si mesmo — os tecidos de todo seu corpo se corroíam em uma transmutação energética para a atuação efetiva de suas habilidades. Era como se a carne e a energia, incapazes de coexistir na mesma forma, buscassem uma síntese impossível. A atmosfera ao redor se deformava, o som perdia sentido, e a luz, hesitante, parecia se esquecer de refletir nele. Era o instante em que Sam deixava de ser apenas o portador do Ambiente — e se tornava o próprio Ambiente.
O “macro” era a transcendência da fronteira entre o usuário e sua técnica. Quando um portador “se torna o macro da própria técnica”, ele não está necessariamente atingindo o auge da técnica, mas sim violando a separação natural entre usuário e poder. Portanto, Sam não manipulava mais a entropia — ele era a entropia, o fluxo natural da anulação. O ar, o chão, o tempo, tudo em volta se movia segundo sua pulsação interna. A aura cinzenta expandia-se até engolir o horizonte, e cada partícula vibrava com a consciência de Sam, como se o universo fosse seu próprio corpo. Nesse estado, ele não atacava nem defendia — ele existia e deixava de existir simultaneamente, tornando-se a própria lei que definia o ambiente. E bom, mesmo nesse estado, interiormente, Sam era sufocado, agonizando e sangrando.
Mas Alex não recuava em meio a esse cenário. Ele concentrou o Capital Instantâneo no punho direito — cada célula vibrava em rotação máxima — e lançou um golpe frontal capaz de devastar quilômetros de terreno. Mas, ao tocar o espaço à frente, o som desapareceu, e sua força se desfez antes mesmo de existir. O punho acompanhado de sua aura dourada atravessou o ar, e o impacto que deveria ecoar como uma tempestade foi engolido pelas poderosas camadas da Entropia. O Ambiente-Macro de Sam absorvia toda energia cinética como se o espaço fosse líquido, convertendo cada onda de choque em algo que ainda não se podia entender, nem ver, nem entender.
— Impossível… — Alex encarava as próprias mãos, sem acreditar.
Ele tentou de novo. Atração. Repulsão. Os vetores de gravidade artificial, que normalmente distorciam o campo ao redor e curvavam o espaço, simplesmente não reagiam. O Ambiente já era, por definição, a força absoluta do entorno — e dentro dele, não existia o entorno. Alex tentava projetar vetores, mas cada linha de força que gerava era neutralizada pela própria definição da realidade que Sam agora representava. A “Atração” não tinha referência de massa para puxar. A “Repulsão” não tinha distância para empurrar. O “Impacto” não tinha resistência para colidir. A cada golpe, o ar parecia se retrair, negando o movimento. E quando Alex triplicou a potência de seus socos, concentrando toda a Energia Externa a 100%, sua aura dourada começou a rachar, com pequenas fissuras de luz que se fragmentar e escapavam, impactado pela própria energia se recusar a permanecer coerente dentro daquele campo entrópico.
O dourado intenso se distorcia, tingindo-se de tons amarelados e cinzentos, enquanto a pressão em torno dele se tornava insuportável…
Mas ainda havia algo a fazer. Alex tentou uma última cartada de poder. A mais ambiciosa, a mais perigosa para um portador de Primeira Classe que tinha a arrogância do Capital. “Absorção Total de Energia!”, Alex vociferou, estendendo as duas mãos, ignorando o ombro deslocado. Essa habilidade visava corromper e tomar toda a Energia Interna de Sam aplicada nas habilidades recém-invocadas. Se funcionasse, Sam não apenas perderia as defesas, e sim ele literalmente implodiria.
Alex se esforçou. Sua testa se sulcou em esforço. O ouro de sua aura se concentrou em um feixe de atração. Mas surpreendentemente… nada aconteceu. O rosto de Alex, habitualmente dominado pela arrogância, contorceu-se em um choque negativo. Ele não absorveu sequer um pingo da Energia Interna de Sam.
— Impossível… — O sussurro descrente de Alex se uniu, tragicamente, com o olhar dele para as suas mãos. Nada… Nada havia ocorrido.
— Sua Absorção Total de Energia requer um custo interno massivo, Alex — Sam respondeu, com a voz ainda rouca, mas agora clara. Ele estava parado como uma estátua viva de entropia paradoxal. — Sua Energia Interna, que sustenta sua Técnica Dinheiro, está drenada por tudo que você usou excessivamente. Você está operando no limite do Capital que tem. Aquele recarregamento anterior que fez atacando o Banco Central, já não é tanto… Muito menos para uma habilidade tão poderosa como essa que busca usar. Sua energia interna é insuficiente para uma habilidade tão poderosa assim.
A verdade caiu sobre Alex como o peso da Serra do Mar. A Técnica Dinheiro era ilimitada, mas o portador não era. Alex havia apostado tudo na leitura dos pensamentos e no ataque rápido, negligenciando a recarga de sua própria fundação. O pânico substituiu o triunfo!
“Santos está perto daqui… Eu tenho que ir para Santos! A capital do petróleo! Lá tem mais valor! Com Santos em mãos, eu vou… Eu venço isso!” Alex pensou, e sua aura dourada, desesperada, disparou em direção ao sul.
O Deus do Dinheiro não podia simplesmente perder assim…

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