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    Nas bases militares ao sul de Dynami.

    O sol, que parecia querer iluminar a cidade contra o clima nublado, desapareceu, e as nuvens continuaram a escurecer e esfriar a metrópole. As três bases militares contavam com a presença de apenas doze combatentes, liderados pelo resoluto capitão Williams.

    A insuficiência das Forças Armadas era desoladora, com poucas armas, equipamentos médicos escassos e veículos em estado precário. O número de civis acampados nas grandes cabanas de resgate ultrapassava setenta, e a carência de alimentos era um problema constante.

    — Cadê ele? — andava apressadamente o Capitão Williams à procura de Tahiko.

    Tahiko era o único portador presente nas bases. Koji ainda não havia chegado, e de Saik, nem sinal. No entanto, os grupos de sobreviventes de Koji e Saik conseguiram, em sua maioria, chegar às bases no sul da cidade, incluindo Williams, que guiou o grupo de Saik até lá.

    A atmosfera nas bases era tensa. Os poucos soldados estavam constantemente em alerta, conscientes de que a qualquer momento poderiam ser atacados. Os civis, exaustos e famintos, buscavam qualquer sinal de esperança.

    — O que aconteceu lá? Como foi parar naquele carro? — perguntou Tahiko ao garotinho que ele resgatou na Avenida da Universidade, enquanto os dois jogavam uma partida de xadrez que estava chegando ao fim. 

    O menino, concentrado no tabuleiro, respondeu serenamente.

    — Eu me perdi da minha mãe.

    — Faz muito tempo?

    — Foi no começo.

    Era evidente que o garotinho não estava pronto para conversar sobre o ocorrido e, talvez, nem soubesse como expressar o que sentia, pois não entendia como tudo tinha chegado àquele ponto.

    — E seu pai? Sabe onde ele está? — indagou Tahiko.

    — Ele… está dentro daqueles bichos — respondeu Riley com uma voz calma e distante.

    Com o pescoço levemente inclinado para baixo, Tahiko observava atentamente as expressões de Riley. A resposta assertiva do garoto e a maneira como sua atenção se perdia nas peças de xadrez fizeram Tahiko perceber que as chances de o menino não ter mais família eram bastante grandes, e que no fim, isso não podia mais importar para ele.

    — Estava se escondendo?

    Perguntou o capitão ao encontrar finalmente Tahiko, entretido na partida de xadrez com Riley.

    No tabuleiro, Tahiko possuía quatro peças: um cavalo na penúltima casa à esquerda com a rainha próxima, uma torre mais à direita protegendo o rei. 

    O garoto, por sua vez, mantinha seu rei estrategicamente posicionado atrás de uma torre, espelhando a defesa de Tahiko, com uma dama e um cavalo próximos, ameaçando a proteção do rei de Tahiko.

    — Tahiko, temos algumas coisas importantes para resol- — disse Williams, sendo interrompido pela movimentação do portador na partida.

    Poc!

    — Agora eu dei uma arriscada — falou Tahiko, sua leveza e alegria na voz mostrava que ele estava tranquilo, apesar da situação.

    Ele havia movido o cavalo para frente da rainha, saindo dos cantos e indo para o centro do tabuleiro. O garoto, com um sorriso discreto, estava se divertindo com a partida e com a breve amizade com o portador. 

    — Não estamos com tempo para isso.

    Williams insistia, mas a atenção de Tahiko estava em uma única coisa que era a partida.

    Poc!

    O menino respondeu lançando sua torre para capturar o cavalo de Tahiko que estava à frente da rainha. Sem hesitar, Tahiko moveu sua única torre, que servia como defesa do rei, para capturar a torre do garoto, mesmo sendo uma jogada arriscadíssima.

    — Parece que alguém aqui quer ganhar muito, hein? — disse Tahiko, aproximando-se do garoto e gesticulando com as mãos como se estivesse com medo — Aaah, eu não vou ganhar.

    Com os braços cruzados e olhando para o tabuleiro, o capitão acabou com a esperança do Tahiko de forma vexatória.

    — Não percebeu? O garoto já ganhou.

    — O quê? — Tahiko abriu os braços em um gesto de incompreensão, pois não conseguia ver onde estava o seu erro.

    — Quando movimentei minha única torre, deixando meu rei sem defesa e capturando seu cavalo, deixei minha torre na mira da sua torre que protegia seu rei — explicou o garotinho, calmamente, apontando para as peças.

    Tahiko observava atentamente enquanto o menino continuava.

    — Como o meu cavalo não era usado há muito tempo, você esqueceria dele. Minha dama parecia mais ameaçadora, e a movimentação que fiz com minha torre foi a jogada mais arriscada. 

    — Basicamente, sacrifiquei ela. Assim, você moveu sua torre importante para capturar a minha, deixando seu rei desprotegido e dentro da mira do meu cavalo.

    O capitão bateu no ombro direito de Tahiko repetidas vezes, dizendo.

    — Ele te venceu com sobras.

    — Jogou de maneira conservadora a partida toda, para no final fazer uma jogada arriscada que me deu a sensação de que eu deveria atacar imediatamente, assim deixei meu rei indefeso — disse Tahiko, levantando-se com o corpo meio molenga devido à calmaria nas bases.

    — Mas você ser iniciante em xadrez me ajudou muito.

    Genuinamente contente pela partida divertida, Riley começou a juntar as peças para guardá-las.

    — O Riley pode ir? — Tahiko perguntou ao capitão, que respondeu de maneira descontraída.

    — Deixa ele um pouco aí. Precisamos falar sobre algo sério.

    Antes de virar as costas, Tahiko gesticulou e gritou para o menino, indicando que voltaria em breve. 

    — Eu volto já, Riley!

    Tahiko e Williams percorreram as fileiras de civis e soldados, oferecendo pequenas expressões de consolo e força. Apesar do ceticismo das pessoas, Tahiko sabia que precisava ser um farol de esperança para aqueles que dependiam dele. 

    Williams queria conversar sobre algo realmente importante para o momento atual, então levou Tahiko para a entrada da área das bases militares. A visão do lado de fora das bases era de abandono e destruição indescritível. 

    A localização onde estavam ficava próxima da fronteira da região sul de Dynami com a entrada da cidade de Maka. As aparências e contrastes mostravam Dynami em pedaços e totalmente isolada, uma visão aflitiva que ressaltava a gravidade da situação.

    — Não percebeu, Tahiko? 

    A pergunta do capitão fisgou o portador, que não teve vergonha de responder honestamente.

    — Perceber o quê?

    Williams involuntariamente soltou uma breve e contida risada.

    — Koji e Saik ainda não chegaram, eles ainda estão nas avenidas… não acha isso preocupante? — disse ele.

     A aura de segurança, orgulho e confiança emanava a todo momento de Tahiko. Seu grande sorriso e suas expressões exageradas transmitiam isso. 

    — Eu sei que eles vão chegar, e se caso ainda não chegaram, é porque certamente estão matando Gyakus e salvando vidas.

    Sim, Tahiko era enormemente destemido e confiava em quem se responsabilizava por salvar vidas, pois para ele, o ato de salvar alguém era reconfortante e representava o máximo da empatia.

    — E outra, capitão, pode deixar que por todas essas pessoas, eu posso ser o responsável.

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