Capítulo 47 - Rocha Matriz
O teto da casa havia desabado, e 90% das paredes já estavam completamente destruídas. O que restava do interior da bela casa estava exposto. Saik olhava para a rua em frente à casa, onde centenas de zumbis emergiam do solo, abrindo crateras no concreto como se estivessem rompendo o mundo dos mortos para retornar.
— Quem fez isso realmente se esforçou mais do que o normal… — pensou Saik, encarando o amontoado grotesco de zumbis.
De repente, o piso do quarto começou a corroer, quebrando-se gradualmente e caindo em direção a um fundo escuro que surgiu no solo do quarto. Quando uma voz chamou a atenção de Saik — O Koji tá realmente mal — disse Spherea, flutuando ao lado de Koji, que estava caído sobre uma base de esferas que o protegia.
— Ele… — Saik estava levemente preocupado e olhava para o amigo — Por que ele foi afetado por esse som?
— Não faço ideia — respondeu Spherea, com uma risadinha sarcástica — Mas olha só pra ele, tá sentindo muita dor.
Saik virou a cabeça ao ouvir o ranger vindo do corredor e notou que não era só o quarto que estava se desfazendo, mas sim todo o piso da casa estava sendo sugado para o mesmo fundo escuro, como se um imã estivesse puxando tudo para baixo.
— Já sabe o que vai fazer? — Spherea flutuava sem nenhum interesse sobre a situação.
— Não sei ainda, mas seja lá o que for isso, tá sugando a casa inteira pra dentro — Saik tirava o pé rapidamente de onde o chão começava a desaparecer — Alguém armou pra mim e pro Koji, e esse som tá vindo desse fundo.
— Bom, as esferas vão levar o Koji pra longe. Elas não querem que ele continue ouvindo isso e sofrendo.
Saik tirou um micro rádio da gola da camisa e o entregou a Spherea.
— Preciso que você entregue isso para o Koji, quando ele acordar. O rádio já está programado. Ele só precisa apertar o único botão que tem aí, esperar a comandante Ava atender, e pedir para ela enviar as forças especiais da Torre pra lidar com esses zumbis. Enquanto isso, eu vou cuidar do que está causando esse som perturbador.
— Sem problemas.
— Ah, eu me esqueci. Consegue pegar isso? Demônios em forma de sombra não são intangíveis?
— Somos intangíveis a tudo, mas tudo é tangível a nós. É quase uma autonomia nossa, meio que decidimos e não quando somos tangíveis ou não.
— Só entrega e avisa ele. Vou ficar agradecido se fizer isso — Saik jogou o pequeno aparelho para o Spherea.
— Só não vai morrer agora, hein? Seria um desperdício. Seria mais legal você morrer na frente de alguém, não acha? Morrer heroicamente sozinho é uma droga — Spherea pegou o micro rádio com a mão esquerda e zombou com o Saik.
— Tsc. Agora eu sei porque o Koji fica tão irritado — comentou Saik, com um olhar de desgosto enquanto Spherea subia, seguindo Koji.
Com a saída de Spherea, Saik ficou sozinho. O que restava da casa continuava a ser sugado pelo fundo escuro. A cama, o guarda-roupa e mais de 70% do piso já haviam desmoronado, desaparecendo naquela escuridão.
Saik olhou uma última vez para os zumbis que estavam nas ruas — A Torre vai ter um trabalhinho com essas coisas… Eu vou cuidar do som…
Então, Saik saltou em direção ao fundo escuro. Ao aterrissar no solo desconhecido, ele olhou para cima e viu que o abismo se estendia muito além do que ele havia imaginado. O fundo estava muito mais profundo do que o chão da casa.
— Cadê os zumbis que caíram aqui?
Dois corredores se estendiam diante dele, ambos levemente iluminados por uma luz inexplicável. Um corredor era para a direita e outro para a esquerda.
— Vou por aq- — Saik parou abruptamente ao ver centenas de zumbis correndo em sua direção quando virou para o corredor à direita — Aí estão eles.
Ele esticou os braços e ativou sua técnica “Elátos: Energia Maleável!”
Com um controle suave da energia brilhante, ele a lançou em direção aos zumbis — Não quero que me atrapalhem.
“Prendam-nos!” A energia maleável se dividiu em uma espécie de dois grandes tentáculos energéticos, que se esticaram, prendendo os zumbis contra as paredes dos dois lados do corredor, impedindo que avançassem.
ele mandou a energia que rodeava seu braço direito e a energia em seu braço esquerdo no meio do corredor que corriam os zumbis, e logo, fez as duas partes da energia maleável lançadas se esticarem e as jogou rapidamente contra os zumbis, prendendo uma parte dos zumbis contra a parede esquerda do corredor, e prendendo também a outra metade dos zumbis na parede direita do corredor.
— Não tenho tempo pra vocês — Saik correu pelo corredor, deixando os zumbis presos.
A cada passo, o som melódico que ecoava só aumentava, indicando que ele estava se aproximando da origem do som. Após alguns segundos de corrida, ele chegou a um espaço circular.
— Que espaço… — Saik examinou o ambiente e viu que outros corredores convergiam para essa sala ampla. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi uma garotinha flutuando no centro, presa a um feixe de energia.
— Uma criança…? Mas esse som não tá vindo daqui? — Saik deu alguns passos lentos em direção ao centro, observando os arredores e tentando localizar a origem do som.
O som continuava alto, mas claramente não parecia estar saindo da sala onde ele estava — De onde isso tá vindo…? — resmungou, antes de sentir um movimento rápido no canto de sua visão.
— Ahm?
— Qual é o seu nome e a mando de quem você está aqui? — perguntou uma voz feminina, firme, enquanto uma faca afiada encostou no pescoço do Saik.
— A música não parou, mesmo comigo neutralizado — Saik pensou, respondendo ela em seguida — Pelo desespero que tá acontecendo, se você fosse do Conclave, já saberia quem sou e já teria me matado.
— Responda a pergunta — ela insistiu.
— Eu não quero — ligeiramente Saik, desviou o pescoço para longe da faca em questão de milissegundos.
Ele se virou rapidamente para ficar de frente. O que viu foi uma mulher de cabelos brancos, ondulados e curtos, caindo até o queixo. Ela tinha uma postura atlética e vestia uma roupa clara e ajustada.
— Você não é do Conclave — concluiu Saik.
— Quem te mandou aqui? — insistiu a mulher, mantendo a seriedade tanto na face quanto na voz.
— Torre. Vai me matar?
Antes que ela respondesse, o som melódico se intensificou, estremecendo tudo ao redor como um terremoto.
— Tem muitos corredores nesse subsolo. Parece um formigueiro, um labirinto — disse ela, ainda segurando a faca, mas agora olhando para a criança flutuante no centro da sala.
Saik olhou para ela com desconfiança — Por que só ela estava aqui em meio aos zumbis antes de eu chegar? — pensou.
— Eu não confio em quem não me diz o nome — Saik sabia que não deveria se aproximar tanto.
— Prefiro sigla… Me chame de L — friamente, ela rebateu.
— Ok… Eu sou o S.
De repente, ambos sentiram uma pressão esmagadora sobre seus ombros e foram puxados violentamente para baixo, afundando nos corredores subterrâneos como se fossem engolidos pela terra.
A queda foi impressionantemente curta, durando apenas dois segundos. Qualquer ser humano comum teria morrido pela falta de oxigênio, mas os portadores não sofriam as mesmas limitações. Isso fez Saik refletir sobre ela, quando ambos caíram em uma abertura retangular muito profunda.
— Ela tá bem, igual a mim… Então, é uma portadora também. Mas o estranho é que eu não consigo sentir a energia dela. É parecido com o que percebi do Alaric lá em Primavera do Leste, só que… mais intenso. A ausência da energia dela parece ser mais forte.
Inesperadamente, mãos podres, queimadas e deformadas começaram a emergir das paredes rochosas ao redor deles, nas profundezas da rocha matriz. Saik olhou com nojo ao ver as mãos estendidas em sua direção, tentando agarrá-los.
— Isso já é louco demais — apesar do horror que estava próximo, Saik estava mais surpreso, no sentido de estar vendo algo que nunca viu, ao invés de apreensivo.
— Elas vão sair por completo — alertou ela.
Ela estava à esquerda, enquanto Saik se encontrava à direita do retângulo escavado. E, de fato, as mãos continuaram a emergir, revelando lentamente as pernas e os corpos dos seres que, por fim, se mostraram inteiros.
— Isso… isso é diferente dos zumbis — Saik olhou para a mulher, com um certo desdém na voz e despreocupação.
E ela, certamente com mais calma e seriedade que Saik, disse para ele, enquanto guardava a sua faca especializada e tirava duas espadas japonesas “tanto”.
— Mais ou menos. A diferença é que esses já estão aparentemente mortos e queimando…
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