Capítulo 60 - A Morte da Noite
Mordendo o lábio com raiva, Leal caminhou um pouco, tocou em um veículo capotado e disse.
— Chega de lanças. Eu quero acabar logo com isso… — transformando o veículo em várias hélices grandes de ventilador com três metros de altura.
Observando atentamente o que fazia Leal, Koji colocou a mão na cabeça, percebendo algo importante, e disse para o Spherea — Ah, merda… Era isso que queria que eu entendesse?
— Tsc! Que lerdeza! Eu não sei como tu ainda tá vivo — falou Spherea, num tom broxante.
— Quando eu pedi pra você me contar da técnica do Leal, me disse que eu deveria prestar atenção e acho que eu entendi.
— Acha?
— Ele não é um portador verdadeiro, porque a técnica é emprestada e, bom, ele é bem limitado porque usa quase as mesmas coisas para atacar.
— Não percebeu mais nada?
— Claro que percebi. As mãos dele. É praticamente tudo que ele tem.
— Sabe que não precisava de tanto tempo assim pra perceber isso, né?
— É, eu sei.
Com um sorriso malicioso e as hélices cortantes de energia girando ao seu redor como letais bailarinas, Leal sorria de maneira maldosa para Koji.
Com um gesto rápido, uma das hélices, medindo três metros, foi lançada em direção ao oponente, zunindo pelo ar. Koji estreitou os olhos, concentrado, como alvo da hélice, que parecia imparável, mas, no último instante, as Esferas se materializaram ao redor de Koji, rodopiando como piranhas vorazes.
Em segundos, a hélice foi despedaçada.
— De novo essas merdas — resmungou Leal, cerrando os dentes.
Sem dar tempo para uma nova investida, e com a energia Externa, Koji usou avançou em um movimento rápido e furtivo. Mais um round na mão foi iniciado.
Koji deslizou pelo chão com um chute rasteiro, mirando as pernas de Leal, mas este saltou, rebatendo com um soco descendente que Koji bloqueou com os antebraços cruzados.
As trocas eram rápidas, quase impossíveis de acompanhar.. Koji girou o corpo em um arco perfeito, desferindo um chute que explodiu contra o abdômen de Leal com um impacto audível. O oponente cambaleou dois passos para trás, mas manteve o equilíbrio com um olhar feroz.
Leal avançou com rapidez assustadora, com seu soco energizado cortando o ar como um trovão. O impacto acertou Koji diretamente na bochecha, girando sua cabeça para o lado e rasgando a pele em um corte profundo. O sangue jorrou em um traço quente pelo rosto de Koji, e apesar disso, ele apertou os dentes e continuou posturado.
Koji reagiu, chutando o chão e avançando como um predador. Ele deslizou para baixo do braço de Leal, desviando de um novo ataque, e desferiu uma cotovelada ascendente no queixo do oponente. O golpe fez a cabeça de Leal ricochetear para trás.
Ainda que atordoado, Leal agarrou o braço de Koji no movimento de retorno, puxando-o para perto e disparando um joelho direto no estômago do jovem. Koji sentiu o ar escapar de seus pulmões, mas antes que pudesse ser derrubado, plantou os pés no chão e impulsionou seu corpo em um gancho de direita que encontrou o maxilar de Leal com precisão brutal.
Ambos estavam exaustos, com os corpos marcados por hematomas e cortes profundos. Eles ofegavam, mas nenhum deles se permitia demonstrar fraqueza.
Leal enxugou o sangue do canto da boca com o dorso da mão, sorrindo com desdém — Não é tão fácil ir na mão, né?
Koji apenas ajustou a postura, ignorando a dor que irradiava pelo corpo — Chega, Leal. Acabou. Seja lá o que você estiver tentando fazer… não vai conseguir.
— Você é patético! — Leal riu, cuspindo sangue — Olha para você! Essas esferas que tem são a única razão de ainda estar vivo. Você não tem mérito algum.
Koji enxugou o sangue que escorria de sua testa com as costas da mão — Não conseguiu me vencer na luta… e agora partiu para a ofensa? Hm! Essa estratégia não funciona comigo.
— Como pode dizer que eu não consegui te vencer, sendo que ainda não perdi? — Leal abriu um sorriso maníaco.
Antes de qualquer coisa por parte de Koji, Leal se ajoelhou, estendendo a mão direita em direção ao chão. Um lampejo de energia começou a se formar, mas, em um instante, um movimento rápido cortou o ar.
Swooish!
A mão direita de Leal foi decepada antes mesmo de completar o gesto.
— O quê? — exclamou Leal, encarando o próprio braço mutilado.
Koji também arregalou os olhos, buscando a origem do ataque. Atrás de Leal, estava Tovah, segurando uma espada manchada de sangue, com um olhar de frieza e raiva.
— Você perdeu — declarou Tovah.
Leal tentou usar a mão esquerda, mas…
Swooish!
Ela também foi decapitada antes que pudesse tocar o chão. Ele caiu de joelhos, com o sangue se espalhando em poças ao seu redor.
— Eu achei a fonte do rito, Koji — Tovah apontou para uma luz que subia aos céus como um feixe de lanterna.
Ao chegar ao local, Koji viu a garotinha, irmã do menino Davi, submersa em água cristalina, boiando inconsciente em um buraco coberto por uma camada de gelo. Ele socou o gelo com todas as suas forças.
— Merda! Quebra! Quebra logo! — gritou ele, socando até que o gelo finalmente cedeu.
Ele pulou na água, logo segurando a menina no colo. Mas, ao tentar sair, encontrou uma barreira invisível bloqueando sua saída.
— Que droga é essa? — esbravejou, socando a barreira repetidamente.
Na superfície, o barulho dos socos do Koji no gelo fez Tovah virar a cabeça na direção do ruído e, sem hesitar, agarrou a gola da camisa de Leal, puxando-o com força.
Arrastou o homem até a beira do buraco, onde os golpes incessantes de Koji ressoavam com certo desespero — O que tá acontecendo, Koji? — Tovah gritou, inclinando-se para observar.
Lá embaixo, Koji estava com o braço esquerdo firmemente ao redor da garotinha, enquanto o punho direito socava, ininterrupto, algo invisível. Seus golpes até eram fortes, mas não surtiam efeito.
Sem perder tempo, Tovah começou a pisar no bloqueio que impedia a saída, e depois, ao ver que pisando não surtia efeito, ele golpeou a barreira invisível com a lâmina de sua espada repetidas vezes. Porém, cada tentativa falhava miseravelmente. Ele lançou um olhar urgente para Koji, que, com o rosto suado e olhos arregalados, gesticulou freneticamente para que fosse atrás de Leal.
— Ei, desgraçado! Por que o Koji não tá conseguindo sair? — Tovah vociferou, ardendo de raiva.
Leal tentou responder, mas sua voz saiu vacilante — Eu não…
— Fala logo, porra! Ele não tá saindo! O que tá havendo?
Leal apenas começou a rir, um riso maníaco que fazia seu corpo tremer. A expressão de Tovah se contorceu em puro desprezo. Sem pensar duas vezes, desferiu um chute brutal no estômago de Leal, que caiu de lado, ainda rindo.
— TIRA ELES DE LÁ! — gritou Tovah, inclinando-se sobre Leal e agarrando a gola de sua camisa.
— Eu não posso… — balbuciou Leal, levemente ofegante.
— Não pode? É claro que pode! O que tá acontecendo? — Tovah o sacudia como se tentasse arrancar a verdade à força.
Mas Leal apenas gargalhava. Como estava furioso, Tovah largou o homem e voltou até o buraco — ELE NÃO CONTA NADA! — gritou para Koji.
Koji ouviu, mas não teve tempo de reagir. A água cristalina que antes alcançava seu quadril começava a subir, de forma lenta e aterradora. Ele percebeu, em choque, que a temperatura da água também estava mudando.
— Tá subindo… — murmurou, com os olhos arregalados.
Então, a água começou a ferver. O calor aumentava rapidamente, transformando o ambiente frio em um forno sufocante. Koji grunhiu ao sentir a dor que a água fervente provocava em sua pele.
— Ahm? Tá esquentando? E eu… tô sentindo dor? Por que eu tô sentindo dor? — perguntou a si mesmo, com a voz trêmula de agonia.
Ele voltou a golpear a barreira com mais força, gritando — MERDA! VAI! VAI! VAI!
Seu punho sangrava a cada soco que atingia e banhava a barreira invisível de vermelho. A água já alcançava seu peito, dificultando a respiração.
— SPHEREA! SPHEREA! ESFERAS! — Koji gritou, com lágrimas escorrendo de seus olhos — CADÊ AS ESFERAS? ME AJUDEM AGORA!
Uma voz serena, quase indiferente, ecoou em sua mente — A natureza desse rito é de Repulsa a Energia Viva e Morta. As Esferas não vão aparecer para te salvar dessa vez, Koji.
— Spherea? Então me tira daqui, você! Eu sei que pode! — implorou Koji.
— Não, eu não posso e nem consigo. E mesmo se pudesse… talvez eu não te ajudaria.
— Por quê? — Koji murmurou, com a cabeça baixa e os punhos ensanguentados caindo ao lado do corpo. A dor parecia insuportável.
Na superfície, Tovah voltou até Leal, que agora estava deitado, rindo de forma descontrolada. Ele se agachou ao lado do homem e perguntou, com frieza.
— Como tira o Koji e a garota de lá?
— Eu já disse que não sei.
Sem hesitar, Tovah segurou o braço esquerdo de Leal e, com um movimento rápido e preciso, decepou o antebraço dele com sua espada — Vai contar agora?
Leal soltou um grito ensurdecedor de dor, mas permaneceu em silêncio.
No fundo do buraco, Koji tentou erguer o punho novamente, mas o calor e a exaustão o dominaram.
A água já alcançava seu pescoço. Ele apertou os dentes e, com um último resquício de energia, gritou “Externar: 100%!”
Por um breve instante, sua energia externa até explodiu em um brilho intenso, mas foi rapidamente suprimida.
O corpo de Koji congelou, e os seus olhos assumiram a ausência de reação, olhando para o céu que começava a clarear, com o nascer do sol e dia.
E então, Koji caiu. Junto com a morte da noite, veio a morte de Koji.
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