Índice de Capítulo

    Koji abriu os olhos repentinamente, o que foi estranho, porque ele tinha certeza de que não deveria mais estar vivo. Sua última memória era um momento de dor intensa e um silêncio avassalador que parecia sugar toda a sua existência. Ele esperava o fim — ou talvez o nada. No entanto, ali estava ele, vivo e desperto.

    Ele se ergueu lentamente e sentiu a força de um vento extremamente forte que assobiava ao seu redor. À sua frente, uma paisagem imponente se estendia. Ele estava na beira de uma montanha colossal, com um penhasco que mergulhava em um abismo tão profundo que o chão não podia ser visto. O céu estava coberto por nuvens densas e escuras, que quase transformavam o dia em noite. 

    — Onde estou? — Koji passou as mãos pelo corpo, procurando algum ferimento, mas não encontrou nada — Eu… morri? Isso é o que vem depois?

    Tentando recuperar algum controle, ele começou a caminhar, avançando contra o vento que insistia em empurrá-lo para trás. No entanto, algo chamou sua atenção.

    Um pouco mais à frente, na trilha íngreme, uma figura apareceu. Era um homem, vestido com roupas longas e brancas que esvoaçavam no vento, embora ele parecesse completamente alheio à força das rajadas.

    — Outro perdido? — pensou Koji.

    A estranha figura começou a caminhar mais devagar, como se esperasse por ele. Quando Koji finalmente se aproximou, o homem parou e virou-se lentamente, revelando um rosto sereno e olhos que pareciam brilhar internamente. Por um momento, Koji não conseguiu encontrar palavras.

    — Você parece perdido — disse o homem com uma voz calma, mas poderosa.

    Koji cruzou os braços em uma tentativa de esconder sua vulnerabilidade — Eu nem sei onde estou.

    O homem inclinou a cabeça levemente — Este lugar é o começo… ou talvez o fim. Depende de como você escolhe enxergar.

    — Certamente é o fim. Eu morri. Tenho certeza disso. Mas esse lugar, não faço ideia. Você… conhece bem aqui?

    O homem sorriu levemente, o que fez Koji, ligeiramente se apresentar antes de prosseguir — Ah, é. O nome primeiro. Eu sou Koji. Meu nome é Koji. E você?

    O homem não respondeu imediatamente. Em vez disso, deu alguns passos para mais perto, parando a uma distância que parecia quase intimidante, com olhos que hipnotizavam.

    — Meu nome é Yeshu’a. E eu estou aqui para guiá-lo.

    — Yeshu’a? — Koji sentiu seu coração disparar. O nome era familiar, mas sua mente se recusava a aceitar o que isso poderia significar — Isso deve ser uma alucinação.

    — Aceite-me como seu guia.

    — Guiar pra onde? — perguntou Koji, tentando manter um tom desafiador.

    Yeshu’a sorriu levemente, mas havia uma tristeza oculta em seu olhar — Para onde sua alma precisa ir.

    Koji riu nervosamente — Você realmente gosta de falar por enigmas, não é? Por que não fala diretamente? O que está acontecendo aqui? E por que você parece… diferente?

    Yeshu’a cruzou os braços sobre o peito, considerando as perguntas de Koji cuidadosamente.

    — Você se lembra de sua vida, Koji?

    A pergunta pegou Koji de surpresa. Ele piscou algumas vezes, sentindo um nó formar-se em sua garganta.

    — Claro que lembro. Quer dizer, acho que lembro. Era normal… até não ser mais. 

    — E agora você está aqui — disse Yeshu’a, apontando para a vastidão ao redor — Você acha que isso é acaso?

    Koji balançou a cabeça — Eu não sei o que pensar.

    Yeshu’a deu um passo para mais perto e estendeu a mão. Por um breve instante, Koji viu algo que fez seu coração parar: um furo perfeito no centro da palma do homem.

    — Você… tá ferido?

    Yeshu’a olhou para a própria mão e depois de volta para Koji — É uma marca que tenho.

    Koji recuou um passo, seu coração batia tão rápido que assustava — É uma marca de prego. Você realmente é…

    Yeshu’a não respondeu imediatamente. Ele simplesmente permaneceu parado, deixando Koji lidar com a revelação.

    — Yeshu’a… Cristo… — Koji sentiu suas pernas fraquejarem.

    — Você certamente teria compreendido isso com mais rapidez, caso eu estivesse falando em parábolas e em uma linguagem extremamente perfeita, né? — abrindo um sorriso natural e que parecia abraçar emocionalmente qualquer um, Yeshu’a riu.

    Koji tentou organizar seus pensamentos — Eu… eu não sou religioso. Eu não sou um humano. Não sou alguém comum que morreu…

    — Não se preocupe. Se você está aqui, agora, é porque tinha que estar aqui — Ele fez uma pausa e finalizou — Eu te escolhi.

    — Me escolheu? Eu sou um portador! Minha alma tá presa a um demônio. Eu tenho um pacto!

    — Eu conheço o peso dos pecados que carrega, Koji. Mas escute bem: o sacrifício que fiz foi para todos. Não importa quem você era ou o que fez. Minha graça é suficiente para libertar até o mais perdido.

    — Mas eu tenho um pacto e usei isso pra lutar.

    — Porque eu não vejo você como as trevas o moldaram. Não foi você que escolheu ter o pacto ou entregar sua alma ao mal, mas sim seu pai. Eu vejo o propósito para o qual foi criado. Cada batalha que enfrentou, cada escolha que fez, levou você a este momento. Você não entendeu ainda?

    Koji engoliu em seco, o peso das palavras de Yeshu’a caia sobre ele como uma avalanche.

    — Eu… não entendo. Como? Eu sou um portador. Minha alma tá condenada… desde o dia que meu pai fez meu pacto…

    — Eu te conheço. Conheço sua dor. Não precisa se culpar por algo que não fez, pois até nos dias escuros, eu estive com você todos os dias.

    Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

    Mateus 28:20

    — Não…

    Yeshu’a levantou uma mão, e o vento que antes parecia ameaçar engolir tudo ao redor cessou instantaneamente.

    — Koji, você não é perfeito. Isso não é um absurdo, mas ainda há tempo para sua redenção. Ela vem do reconhecimento de quem você é e do desejo de ser o oposto do mal que carrega. Você foi escolhido, não porque é perfeito, mas porque é capaz de carregar a minha luz mesmo nas trevas mais profundas.

    Koji sentiu suas pernas vacilarem, mas permaneceu de pé, encarando Yeshu’a com olhos cheios de confusão e medo — Você fala como se eu tivesse escolha. Mas eu não tenho. O pacto… ele é eterno. Não há como escapar.

    Yeshu’a ergueu a mão marcada pelo furo na palma e tocou o peito de Koji.

    — O pacto que você carrega é pesado, sim. Mas o meu sacrifício é maior. Não há pacto, trevas ou corrente que não possa ser quebrada por aquilo que fiz por todos vocês.

    Koji sentiu um calor intenso irradiar do ponto onde a mão de Yeshu’a tocava. Era uma sensação estranha, como se algo dentro dele estivesse sendo desfeito e reconstruído ao mesmo tempo. 

    Ele ofegou e sua visão embaçou por um momento — Isso é doloroso…

    — É a dor de ser liberto, Koji. As correntes que te prendiam estão se rompendo, mas isso exige que você abandone aquilo que conhecia como verdade.

    Koji caiu de joelhos — Eu não sei como fazer isso…

    Yeshu’a sorriu — É por isso que estou aqui. Eu sou a luz do mundo. Eu venci o mundo.

    “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”.

    João 8:12

    “Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”

    João 16:33

    — E o que você quer que eu faça? O que significa ser escolhido?

    Yeshu’a estendeu a mão para ajudar Koji a se erguer.

    — Significa que você será um mensageiro. Alguém que leva a esperança onde só há desespero. Que luta não por si mesmo, mas pelos outros, justos e injustos. Que nega a si mesmo para que os outros possam ver a minha luz que irá radiar de você, para aqueles que me buscam me encontrarem, especialmente em você, Koji.

    Com um suspiro pesado, Koji agarrou a mão de Yeshu’a e se levantou — E como eu faço isso? Como eu carrego essa responsabilidade?

    Yeshu’a colocou uma mão no ombro de Koji e falou.

    — Aceite que sua vida não é mais sua, mas sim minha, seu Senhor e Salvador. Que sua luta agora é por um propósito maior.

    E continuou.

    — Você é o mensageiro da luz que virá ao mundo pela segunda vez. Que você seja a minha luz para aqueles que estão nas trevas, uma ponte entre os mundos, e um guerreiro da paz, mesmo entre os que não a merecem.

    Não era um peso físico, mas uma responsabilidade que parecia moldar sua alma. Ele olhou para Yeshu’a, sem palavras, mas com uma determinação que começava a surgir em seu olhar.

    Yeshu’a deu um passo para trás, sorrindo tranquilamente para Koji.

    — Acorde e quebre o gelo, pois você e a garota estão salvos.

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