Índice de Capítulo

    De repente, Koji abriu os olhos e viu-se novamente na mesma situação: submerso em uma água que fervia agressivamente, segurando a menina em seus braços. A dor em seu corpo cansado mal se comparava ao alívio de vê-la ainda viva — apesar das bolhas que escapavam de seu nariz, ela ainda estava desacordada.

    “Não vou morrer aqui…” pensou Koji, levantando o olhar com dificuldade e observando a claridade do céu acima.

    Ele cerrou o punho da mão direita e desferiu um soco contra o gelo sobre sua cabeça. O impacto reverberou, causando rachaduras imediatas, até que finalmente a superfície cedeu.

    Com afobação, nervosismo e pressa, Koji emergiu da água com a garota nos braços, seu corpo inteiro estava avermelhado devido à temperatura extrema. Era impressionante — ele ainda estava vivo. Mais surpreendente ainda era o fato de a menina ainda respirar.

    — Como ele…? — Leal estava caído no chão, os olhos arregalados. Ele não conseguia acreditar no que via.

    — Koji! — Tovah, a poucos metros de distância, também parecia surpreso.

    Tremendo de dor, Koji caminhou até Tovah e entregou-lhe a menina com cuidado.

    — Cuide dela, Tovah.

    — Koji, espera… — tentou dizer Tovah, mas Koji já se dirigia até Leal.

    — Você… — começou Koji, com raiva no tom de voz.

    O mais impressionante, no entanto, foi a mudança abrupta na expressão de Leal. O sorriso cínico desapareceu, substituído por um semblante de puro desespero. Lágrimas escorreram por seu rosto pálido enquanto ele olhava para as próprias mãos mutiladas.

    — Koji… sai… saiam daqui… — balbuciou Leal, sua voz tremia bastante — Vocês… vocês precisam fugir…

    — Do que está falando?

    Leal começou a soluçar — Eu não sabia… Não sabia que ia ser assim… Eles me usaram. A Fundação… foi a Fundação que fez isso comigo.

    Koji se ajoelhou ao lado dele, agarrando o colarinho de sua roupa — Quem está por trás disso? Fala logo!

    — Era pra ser… voluntário… Eu precisava do dinheiro. Era um sonho ser um portador. Qualquer humano normal aceitaria fazer atrocidades para se tornar um. Mas… eles mudaram tudo. Eles me controlaram… e quando percebi, eu meio que não era mais eu mesmo. Só lembro de apagar… e então, me senti controlado.

    Nesse momento, um barulho estrondoso ecoou. Koji e Tovah — que segurava a menina nos braços um pouco mais atrás — olharam para cima. O domo que cercava o centro de Cuiabá começava a rachar.

    — O que está acontecendo? — murmurou Tovah.

    O domo desmoronou completamente, revelando uma visão aterradora: centenas de milhares de pessoas flutuavam acima da cidade, e seus corpos ficaram imóveis e suspensos no ar.

    — De novo isso… — Koji murmurou, com suor escorrendo pela testa.

    Leal tossiu e cuspiu sangue — Vão embora… por favor… saiam daqui antes que seja tarde.

    — E você?

    — Não tem mais nada pra mim. A Fundação me marcou. Eu sou… descartável. Se eu morrer… eu… eu viro uma bomba nuclear.

    Koji fechou os punhos com força, sentindo uma frustração ardente dentro de si.

    — Então é isso? Vai desistir de voltar a ser alguém normal?

    — Não é desistir… — Leal tentou sorrir, mas falhou. — É aceitar.

    — Aceitar? O Gawa não gostaria de ouvir isso, sabia?

    — É… eu sei… e estou chateado por isso.

    — Acho que percebeu. Gawa estava certo sobre como viver e o que buscar na vida. Até, Leal.

    Koji se levantou e virou-se para Tovah — Vamos.

    Enquanto caminhava, Koji ouviu uma voz calma e penetrante ecoar em sua mente.

    — Por que não ficaste para ver? Não confiaste no que Eu disse?

    — O que? Ficar…?


    Em Brasília

    Ava caminhava apressada pelos corredores iluminados da Central de Contenções da Torre em Brasília. Seu semblante era de preocupação, enquanto ouvia as informações recentes no fone de comunicação.

    — Ava, aqui é Nahome. Saik conseguiu reprimir com sucesso as explosões nucleares em Cuiabá, que foram efetuadas por um portador do Conclave chamado Leal. Foi por um triz. Ele está exausto, mas estável. O problema é que o inimigo ainda não foi neutralizado, pelo que sei até o momento. Mais explosões podem acontecer e, se não forem contidas, o impacto será catastrófico.

    E ele continuou,

    — Os danos podem ser irreversíveis, não só para o Brasil, mas para boa parte do continente sul-americano. O Conclave parece determinado a criar um cenário de caos absoluto. Precisamos de uma resposta imediata.

    Ava parou por um instante, respirou fundo e refletiu.

    “Explosões nucleares… Cuiabá escapou, mas por quanto tempo? E se a próxima for em São Paulo? Ou no Rio de Janeiro? O país não suportaria isso. Eles não vão parar… não enquanto nós não fizermos algo.”

    Ela tocou no fone para responder Nahome — Entendido. Providencie os relatórios detalhados para a Inteligência e monitore os outros pontos com potencial de detonação por todo país. Não podemos deixar nada escapar. Vou acionar o Protocolo Zero.

    Descendo no elevador interno, Ava seguiu até a cela de segurança máxima onde Alaric estava detido. Ele a esperava sentado em um canto, as mãos apoiadas nos joelhos, um sorriso debochado estampado no rosto.

    — Ah, a comandante… Que honra conhecer a grande e respeitada Ava! — provocou ele.

    — Não vim aqui para ouvir suas gracinhas.

    — Então veio por respostas? — Alaric inclinou a cabeça, achando divertido — Sempre tão previsível.

    — Qual a ligação do Conclave com a Fundação? — perguntou Ava, ignorando o tom provocador.

    — Ligação? Você acha que o Conclave é algo grande? Não. Somos apenas vassalos da Fundação.

    — E você? Qual o seu papel nisso?

    — Eu só queria uma chance. Prometeram-me um lugar na Fundação. Um trampolim, disseram. Mas veja só… aqui estou.

    Ava deu um passo à frente, cruzou os braços e perguntou — E Leal?

    — Leal é um tolo. Sempre foi. Acreditou nas mentiras deles como eu acreditei. A diferença é que eu sei quando estou sendo usado. Ele não. E outra… eu sou um portador de verdade. Ele, nem isso.

    — E por qual propósito a Fundação criou o Conclave?

    Tsc! Não percebeu ainda? O Conclave é apenas um grupo terrorista. O propósito é a destruição…

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota