Capítulo 64 - Dia de Assimilação
Em Brasília, na sede da Torre, os corredores estavam cheios, e o relógio ainda marcava 5h27 da manhã. Os estagiários, Cole e Nicolas, entraram na sala de reuniões, e a comandante Ava, estava lá.
Ela estava inquieta, com passos para direita, para esquerda e com a cabeça baixa. Algo na forma como seus dedos tamborilavam discretamente no braço esquerdo mostrava que ela estava desconfortável ou ansiosa. Enquanto isso, na TV, o jornal da manhã exibia os pronunciamentos conjuntos do presidente da República Federativa do Brasil, Luís Inácio, e do presidente da Torre, Rod Sugg, no Palácio do Planalto, na capital brasileira. O risco de ataques terroristas em São Paulo já era assunto nacional.
— Meus amigos e minhas amigas, o Brasil enfrenta um momento delicado. As forças de segurança identificaram uma ameaça concreta de ataques terroristas na cidade de São Paulo. Não é hora de pânico, mas de responsabilidade e vigilância. Quero deixar bem claro para todos os brasileiros e brasileiras: nosso governo não vai tolerar nenhuma ação que ameace a paz e a segurança do nosso povo — discursou o presidente do país.
E em seguida, foi a vez da maior liderança da Torre, se pronunciar, Rod Sugg — Senhores e senhoras, o Brasil enfrenta uma ameaça real. Nas últimas horas, nossa Inteligência confirmou movimentações de alto risco associadas ao grupo conhecido como Conclave. São Paulo é, neste momento, o epicentro dessa preocupação. Fontes indicam que células do Conclave podem estar se preparando para ataques coordenados dentro da cidade. Não subestimamos a capacidade desse grupo. Eles são organizados, possuem infiltrações e não hesitam em usar violência para alcançar seus objetivos.
Na sala de reuniões, Nicolas quebrou o silêncio.
— O nosso plano foi totalmente ferrado, né?
— Claro que não — Cole fechou e trancou a porta da sala, evitando que alguém não convidado entrasse.
— Como não? A sede tá lotada de gente.
— O Tahiko já foi enviado para São Paulo? — a comandante levantou olhar na direção dos jovens, com seriedade.
— Acho que sim — Nicolas puxou e sentou numa das cadeiras ao redor da mesa de reunião.
— Uns vinte, vinte e cinco minutos atrás, talvez — Cole completou.
Ava respirou fundo e pediu atenção — Me ouçam. O nosso plano não acabou. Me ouçam com cuidado.
Com atenção dos estagiários agora, ela disse.
— Hoje é dia de assimilação. Vocês não devem saber o que é, porque são estagiários, e isso não é informado amplamente. O dia de assimilação acontece uma vez por semana e dura dez minutos, no máximo. É um procedimento onde todas as informações da Inteligência e da Central de Comunicação passam por revisão e reestruturação.
— E qual é o plano? — Nicolas franziu a testa, com certo interesse.
— O plano é observação e cautela. Durante esses dez minutos, todos os operadores da Inteligência e da Comunicação deixam seus postos. A pessoa que está ajudando o Conclave, infiltrado em um desses setores, vai precisar desabilitar o rastreamento dos seus códigos.
Cole entendeu na hora — Ou seja, ele vai fazer isso num momento que não deveria.
— Exatamente, Cole.
Nicolas piscou algumas vezes — Mas o que significa desabilitar o rastreamento de códigos? E o que é movimentação geral?
Ava manteve o tom didático, mas a impaciência estava ali, no jeito que apertava os braços.
— Todos os operadores da Inteligência e da Comunicação são rastreáveis em tempo integral. Celulares, notebooks, dados pessoais, localização, tudo. O sistema de defesa da Torre monitora cada movimentação. E a movimentação geral? É simplesmente tudo. Só é permitido desativar esse rastreamento em horários pré-aprovados.
Cole passou a mão pelo queixo — Então o infiltrado vai ter que desabilitar o rastreamento dele, para que não seja pego passando informações pro Conclave.
— Exato — Ava confirmou — E agora, com a iminente decretação de atitudes terroristas do Conclave, ele vai precisar enviar as últimas informações antes de cortar os laços com eles. Porque depois de hoje, se ele não for pego, ele vai sumir.
— Então hoje é o dia perfeito tanto pra ele escapar quanto pra gente pegar ele — Nicolas esfregou as mãos, tomado pela ansiedade.
— A gente precisa monitorar tanto a sala da Inteligência quanto a da Comunicação, então. Ver se alguém desativa o rastreamento — Cole concluiu.
Ava olhou para os dois — Sim. Eu, como comandante geral da Torre, tenho permissão para alterações emergenciais no monitoramento. Considerando o momento em que estamos, com risco de ataque terrorista no país, tenho permissão concedida. Colocarei vocês dois nas salas de rastreamento particular para monitorarem detalhadamente as movimentações.
— E se encontrarmos o cara? Vamos quebrar ele?
Ava descruzou os braços e respondeu — Claro que não, Nicolas. Vamos escondê-lo dos demais e exigir que nos conte tudo. Até mesmo se Rod Sugg estiver metido nisso.
Alguns minutos depois, os dois estagiários estavam em seus postos.
— Eu não preciso apertar em nada, né? — foi o que Cole perguntou para a comandante Ava, tocando no fone em seu ouvido esquerdo, quando já estava dentro de uma sala pouco iluminada de 50 m² para monitoramento amplo da Torre. Genuinamente assustado, ele encarava as tantas telas detalhadamente informativas, redes de inteligência secreta, computadores e bases enormes de armazenamento e processamento de dados e informações.
— Cara, eu nunca tinha visto isso de tão perto. Acho que cheguei no ápice — Nicolas demonstrava sua ansiedade e animação. Ele estava em outra sala idêntica ao que Cole encontrava-se, afinal eram salas de rastreamento particular.
— Quero que os dois tenham seriedade. Vocês não vão precisar fazer nada além de observar os rastreadores completos dos agentes da Inteligência e da Comunicação, entendido? — Ava estava parada no corredor para a Central de Comunicação.
— Entendido — os dois assentiram.
Com isso, Ava caminhou até a grande porta da Central de Comunicação, onde trabalham todos os comunicadores e controladores nacionais da Torre. Quando ela entrou, logo disse.
— Como está a ocupação de nossas Forças Especiais em Cuiabá?
— Está como esperávamos, comandante! — afirmou um jovem controlador, virando-se na cadeira, levantando o braço direito, e que certamente estava se esforçando mais do que os outros. Prontamente, ele recebeu a séria resposta dela — Entendido.
— Mas além disso, comuniquem as unidades das Forças Especiais, que devem colocar 50 mil soldados dentro de São Paulo, ainda hoje.
Apesar da imposição segura da comandante, a atitude de outra pessoa chamou sua atenção; a de Max, o controlador que quando tinha chance, sempre, sempre mesmo, era o primeiro dentre todos os controladores a virar-se na cadeira e falar com a comandante. Contudo, dessa vez, ele não havia se virado, ou melhor, não foi o primeiro a se virar, como era de costume.
Max sorriu, sempre com seu jeito galanteador.
— Finalmente a mulher mais poderosa dessa bagaça aparece! — disse ele, com um tom brincalhão. — Eles já chegaram à próxima cidade, Campo Verde.
Primeira aparição de Max, Cap 45
Neste momento, o relógio no canto superior da grande sala tocou, notificando que o horário da assimilação havia chegado. A comandante olhou, e ligeiramente voltou seu olhar para os agentes sentados e quem foi o primeiro a levantar?
— Comandante! Localizamos! — afirmou Cole, no fone de comunicação.
— Temos ele, comandante! — animado, Nicolas levantou da cadeira, na sala de monitoramento particular.
No exato momento, foi Max, quem levantou primeiro. Ele virou-se, na direção da saída da grande sala, mas ficou de cara com a comandante.
— Olha ela aqui! Bom dia, comandante Ava! — disse ele, com um sorriso largo que ia de um canto ao outro, demonstrando, de maneira genial, uma espontaneidade minimamente assustadora.
— Bom dia, controlador Max — Ava assentiu com a cabeça e abriu caminho para ele ir.
Sem esperar, logo quando todos estavam saindo, Ava tocou no seu fone de comunicação e perguntou — Max?
— É! ELE MESMO! — gritou Nicolas, com a sorte da sala de monitoramento ter um ótimo acústico. E Cole, também expressou reação rápida — Sim! Sim! Podemos prendê-lo?
— Claro. Ele é de vocês.
Os agentes da Comunicação, inclusive Max, que andavam pelos corredores, não imaginavam a movimentação desesperada de Cole e Nicolas, que ocorria para prenderem o infiltrado.
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