Capítulo 65 - Todo Cuidado É Pouco
Neste momento, o relógio no canto superior da grande sala tocou, notificando que o horário da assimilação havia chegado. A comandante olhou, e ligeiramente voltou seu olhar para os agentes sentados e quem foi o primeiro a levantar?
— Comandante! Localizamos! — afirmou Cole, no fone de comunicação.
— Temos ele, comandante! — animado, Nicolas levantou da cadeira, na sala de monitoramento particular.
No exato momento, foi Max, quem levantou primeiro. Ele virou-se, na direção da saída da grande sala, mas ficou de cara com a comandante.
— Olha ela aqui! Bom dia, comandante Ava! — disse ele, com um sorriso largo que ia de um canto ao outro, demonstrando, de maneira genial, uma espontaneidade minimamente assustadora.
— Bom dia, controlador Max — Ava assentiu com a cabeça e abriu caminho para ele ir.
Sem esperar, logo quando todos estavam saindo, Ava tocou no seu fone de comunicação e perguntou — Max?
— É! ELE MESMO! — gritou Nicolas, com a sorte da sala de monitoramento ter um ótimo acústico. E Cole, também expressou reação rápida — Sim! Sim! Podemos prendê-lo?
— Claro. Ele é de vocês.
Os agentes da Comunicação, inclusive Max, que andavam pelos corredores, não imaginavam a movimentação desesperada de Cole e Nicolas, que ocorria para prenderem o infiltrado.
Logo atrás, a comandante começou a andar averiguando as salas de suporte e cooperação, que ficavam no corredor para a entrada da grande sala de Comunicação. Ainda que calma, sentia um desconforto. Ela continuou sua caminhada até o elevador, subindo para o último andar da sede da Torre, para finalmente chegar na sala presidencial, ou melhor, na sala de Rod Sugg.
Lentamente, Ava girou a maçaneta, percebendo que não estava trancada, e quando abriu-a completamente, deparou-se com Rod Sugg — sentado em sua imponente cadeira de couro.
— Eu tenho certeza… [Rod suspirou] que deixei claro sobre você não se envolver com o Conclave. Não lembra?
Séria e calada, Ava fechou a porta e escorou as costas.
— Não quer esclarecer sua teimosia? — Rod reposicionou-se na cadeira, ficando mais ereto.
— Por que escondeu isso? — Ava tirou um relatório impresso dobrado do bolso, enviado pela Brigada Militar, que havia ficado em situações extremamente complicadas, devido aos conflitos com os portadores do Conclave em Cuiabá.
— O que tem nesse papel?
— Por que não enviou reforços para a Brigada Militar, em Cuiabá?
— Está tentando me acusar de algo, Ava? — Rod cruzou os braços, o tom ríspido e inquisidor, enquanto seus olhos semicerrados encaravam os da comandante com sarcasmo e ameaça velada.
— Você sabe exatamente o que eu estou fazendo — ela retrucou firmemente — O relatório fala por si. Os reforços nunca chegaram em Cuiabá. E tem mais… claramente já se sabia há muito meses da presença do Conclave no centro-oeste do país. Este relatório não é recente.
Rod Sugg deu uma risada seca e curta — Não pode falar essas coisas sem fundamento. Aqui, você responde à hierarquia. E, por mais que ache que sua intuição seja genial… você ainda tem superiores.
— E quando os superiores usam a estrutura da Torre para financiar ações criminosas?
Rod inclinou-se para frente.
— Cuidado com suas palavras. Eu não vou repetir. Já basta o seu envolvimento direto com a questão do Conclave. Não acha que está muito desobediente para uma comandante geral? Sob minhas ordens, você não tem permissão de atuar quando quer e como quer.
Ele se levantou abruptamente, derrubando uma caneta de metal que estava sobre a mesa — Você está dançando no limite. É só eu utilizar minha caneta e pronto, você perde seu cargo. Se tem alguém maior que você aqui dentro, sou eu. A questão é, eu não quero chegar a esse ponto, entende?
Sentou-se novamente e finalizou — Quando realmente tiver algo importante para conversar comigo, por favor, venha. Só não se ache o mais forte daqui.
Ava não respondeu. Apenas recuou, olhos cravados nos dele, e saiu da sala com a mesma frieza com que havia entrado, deixando a porta entreaberta.
Enquanto isso, nos andares inferiores da Torre, a respiração de Cole estava acelerada.
— Ele saiu! Está em movimento! — gritou Cole, com o fone pressionado contra a orelha — Max está no estacionamento!
— Visualizado! Visualizado! — respondeu Nicolas, correndo em disparada pelos corredores estreitos, desviando de funcionários que mal conseguiam entender o que acontecia.
Com passos serenos, Max saiu pela porta lateral da sede. O blazer bem passado balançava ao vento enquanto ele apertava o botão do alarme. O carro preto destravou com um bip, e ele entrou calmamente. Para ele, supostamente, era mais uma segunda-feira comum.
Mas ele sabia.
Sabia que estavam em sua cola.
Acelerou.
Dois andares acima, Cole e Nicolas invadiram a garagem com o carro da Segurança Interna. Um veículo cinza escuro, adaptado para perseguições, com sistema de rastreamento e motor blindado.
— Ele tá indo pela Asa Sul! — gritou Cole, com os olhos fixos no tablet de rastreamento.
O carro de Max cruzava as avenidas largas de Brasília, desafiando semáforos, cortando veículos e freando bruscamente nas curvas. Era como se estivesse acostumado àquilo.
— Ele virou na L2! TÁ JOGANDO COISA DO CARRO! — alertou Cole, quando uma pequena explosão lateral tirou um motoqueiro da pista.
— Ele tá preparado. Essa fuga é planejada — murmurou Nicolas, engatando a quinta marcha.
No cruzamento da SQS 308, Max jogou uma pequena esfera metálica pela janela. Ao cair no asfalto, ela emitiu um sinal sonoro agudo — piiiiiiiiiii — e explodiu em uma rajada de luz e fumaça densa, cegando por segundos os retrovisores do carro perseguidor.
— Joga pra esquerda! Esquerda! — gritou Cole, enquanto Nicolas desviava por milímetros de um poste derrubado.
Tiros começaram a ser ouvidos.
Do carro de Max, uma pequena abertura na traseira revelou uma arma automática adaptada. Disparos ecoaram pela quadra comercial da 710, assustando moradores, quebrando vitrines, atingindo um carro civil que colidiu contra um hidrante.
Ligeiramente para um estagiário nerd, Cole abriu o porta-luvas e tirou uma pistola, respondendo com três disparos certeiros no pneu traseiro do veículo de Max.
— Acertei! Ele vai perder o controle!
O carro de Max derrapou, cruzando duas pistas, saltou a mureta central da W3 e capotou três vezes, até parar com as rodas para cima, fumegando.
— VAI! — gritou Cole, saindo com a pistola em punho.
Max ainda tentava se arrastar para fora, com o rosto ensanguentado e um sorriso zombeteiro.
— Vocês… demoraram, hein… — disse ele, cuspindo sangue.
Cole se ajoelhou, algemando-o — Acabou, Max.
— Acabou nada… — ele riu — Isso aqui… não. O clímax ainda não chegou…
Nicolas olhou para Cole, preocupado — Acha que ele… é o único traidor?
Cole balançou a cabeça — A essa altura? Nada mais é simples, Nic. Nada.
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