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    O helicóptero militar das Forças Especiais da Torre, que levava Koji de volta para Brasília, aproximava-se da capital, quando o piloto recebeu uma notificação no painel central e apertou o botão do rádio.

    — Comando Central informa: São Paulo está limpa. Evacuação da zona central concluída com sucesso. Colaboração de 7.120 agentes civis, policiais e de contingência confirmada. O local da Estação da Sé está seguro e isolado. A única presença confirmada é Tahiko. Repito: Tahiko é o único no perímetro.

    Koji ergueu o olhar de imediato — Espera. Tahiko?

    O agente ao lado hesitou — Sim, ele tá lá. Ele vai tirar as bombas que estão na cidade.

    Koji ficou de pé, firme, parecia não sentir o balanço da aeronave. O olhar dele estava mais claro do que nunca.

    — Então me leva pra São Paulo.

    — Impossível, senhor Koji. Nossa rota é Brasília. A ordem veio da comandante Ava e do comando central.

    — Por quê? — Koji virou o rosto, encarando-o — Por que impedir que um portador que salvou Cuiabá… não possa ajudar São Paulo? 

    Os dois agentes da Torre sentados em frente trocaram olhares rápidos. O piloto suspirou, com a respiração abafado pelo microfone do capacete.

    — Isso pode dar problema, garoto.

    — E ficar parado, enquanto Tahiko tá sozinho, não?

    — Ele é um portador. Ele pode cuidar disso sozinho.

    Quando Koji ouviu o que disse o piloto, ele balançou a cabeça, meio indignado, e respondeu — Com todo respeito, você é um piloto e eu não menosprezo você ou que fala, mas está totalmente  errado. Não é só ser um portador, que você pode literalmente lidar com tudo. A técnica do Tahiko não necessariamente é a mais eficaz diante das bombas, porque pode acontecer qualquer coisa, não é? Vocês sabem o que são as bombas? São explosivos tipo dinamite? Ou algo mais absurdo como nuclear, que foi o que aconteceu em Cuiabá? 

    — Não… não sabemos exatamente.

    — Então… — Koji abriu os braços — Percebeu? 

    — Ok. Já compreendi.

    — Que bom. O que você disse antes se assemelha a simplesmente mandar um grupo de médicos pegar em armas e combater um grupo terrorista…

    Certamente desconfortável por ter levado um sermão argumentativo, o piloto girou um dos botões, mudou a direção digital do painel e anunciou.

    — Mudando rota. Indo pra São Paulo.

    Koji se sentou novamente, respirando fundo.

    — Valeu, piloto.

    — De nada.

    Do lado de fora, o helicóptero inclinou, seguindo agora rumo à capital paulista.

    Sobre Max, o traidor. No interior do veículo blindado da Segurança Interna, Max, que estava com as mãos algemadas e com o corpo preso em um aço que saia do banco de trás da viatura, justamente para aprisionamentos nas quais não houvesse policiais suficientes para acompanhar fisicamente os prisioneiros; Ele  mantinha o rosto ensanguentado encostado na parede metálica. No banco da frente, Nicolas virava-se de tempos em tempos para encarar o prisioneiro. Cole, mais calmo, ajustava o fone de ouvido e monitorava as notificações que chegavam do rastreador central.

    — Por que fez isso, Max? — perguntou Nicolas, dirigindo.

    Max apenas sorriu. Estava claramente cansado — Pergunta difícil. Mas se eu contar, vocês me garantem o que pedi?

    Cole olhou para Nicolas. Ambos assentiram.

    — Redução de pena. Não execução sumária. E não vão me mandar pra Célula Alfa. Combinado?

    — Combinado — confirmou Cole.

    Max respirou fundo. Suas palavras seguintes saíram arrastadas.

    — Eu tenho um motivo chato. Além de eu nunca ter tido férias em ano de serviço na Torre… a Torre não protegeu minha irmã.

    Sem querer, Nicolas deu uma leve risada  — Tsi! Calma, como assim?

    — Há três anos, ela era uma civil. Portadora de baixo grau. Foi pega por um escaneamento incorreto. Achavam que ela estava escondendo algo. Ela foi levada para o Centro de Contenção de Palmas. E lá…

    — Ela morreu? — perguntou Cole, em tom mais baixo.

    — Não. Ela sobreviveu. Mas voltou… quebrada. Mentalmente. Virou outra pessoa. Esvaziaram ela por dentro.

    O silêncio dentro do carro foi pesado como chumbo.

    — E então você achou que ajudar o Conclave ia resolver? — retrucou Nicolas.

    — Não. Só achei que expor a Torre resolveria. Que se eles entrassem nos dados certos, nos arquivos… eles mostrariam pro mundo o que a Torre faz com quem é fraco.

    — Então não funcionou. Não sei onde sua irmã está hoje, mas não adiantou nada. Agora você vai ficar preso. 

    Após um bom tempo na estrada, eles entraram no grande complexo da Torre, onde ficava a sede, a prisão e outros prédios e departamentos. No estacionamento da Central de Contenções, a avançada prisão da Torre, Cole retirou Max, ainda algemado, do veículo e levou-o até os agentes da SICC, Segurança Interna da Central de Contenções.

    — Bom dia. Sou Cole, agente membro da equipe pessoal da comandante Ava — ele mostrou o seu distintivo de identificação da Torre.

    Um dos agentes da SICC, certamente o mais velho do grupo, aproximou-se de Cole, com um sorriso meio debochado no canto da boca.

    — Equipe particular da Ava? Da comandante? — perguntou, franzindo a testa, como quem não acreditava — Hã… um fedelho já tá na equipe particular da comandante geral da Torre? Surpreendente.

    Cole tentou entrar na brincadeira, levantando um dos ombros de forma descontraída — Meio que… caí de surpresa nisso aí.

    O agente, que cheirava a cigarro velho, se aproximou ainda mais, rindo enquanto balançava a cabeça.

    — Caiu de surpresa é? — ele riu alto, chamando atenção dos colegas — Onde exatamente, hein? A comandante curte os moleques novos então, é?

    Cole ficou visivelmente sem graça, levantou as duas mãos e negou rápido com a cabeça — Não, não, senhor. Tá louco? Não tem nada disso.

    Algemado, que até então parecia distante, Max virou o rosto para o agente — Tá louco em falar assim da comandante? Ela nunca ficaria com esse moleque aqui.

    O agente riu abafado, mas antes de retrucar, Nicolas, que havia acabado de fechar o veículo, aproximou-se ouvindo tudo.

    — Ninguém fica com ninguém.

    Ele olhou diretamente para o agente — E tu? Ainda não abriu os portões? Você presta pra isso ou só pra fofoca?

    O comentário fez os outros agentes da SICC soltarem risadinhas. Cole apenas abaixou a cabeça, e até Max soltou uma leve risada pelo nariz, tentando esconder o sorriso.

    Antes que o agente mais velho tentasse dizer qualquer coisa, Nicolas cortou de novo.

    — Abre logo os portões pra gente passar, ou quer que eu ligue pra comandante e conte tudo o que você falou dela? Acha que ela vai confiar em quem? Na minha palavra ou na tua?

    O agente, agora pálido, apenas fez um gesto para os colegas. Sem pressa, mas também sem querer arriscar mais nada, eles acionaram o painel e os grandes portões metálicos começaram a se abrir.

    Cole puxou Max para frente e passou pelo portão ao lado de Nicolas — Valeu, Nicolas — disse, em tom mais baixo.

    — Isso foi preciso. Tem uns caras aqui que ficam tempo demais trancados na Torre… acabam ficando meio idiotas da cabeça.

    Seguiram pelos corredores internos, descendo lances e andares, entrando cada vez mais fundo no subterrâneo da Central de Contenções. As paredes iam ficando mais grossas, o ar mais frio, e o silêncio, quase opressor.

    Depois de mais algumas caminhadas, chegaram na ala de traidores.

    O setor inteiro tinha iluminação baixa, câmeras em cada canto e celas reforçadas com aço de mais de vinte centímetros de espessura. Era o lugar onde eram colocados os piores desertores, traidores e infiltrados.

    Cole e Nicolas levaram Max até uma cela vazia. Cole digitou uma sequência no painel de segurança, e a porta se abriu. Empurraram Max para dentro.

    — Vai se acostumando — disse Nicolas.

    Max virou-se, ainda encostado na parede interna da cela, no momento que o Cole falou, meio hesitante.

    — Sua pena ainda está indefinida… Mas vai ser julgada pela ala judicial da Torre, junto com o STF, nas próximas semanas.

    Max não disse nada, apenas baixou a cabeça. Nicolas cruzou os braços, encarando o prisioneiro pela pequena janela da cela — Mas já vou te adiantando… Não vai sair menos que vinte anos de cadeia.

    Antes de virar as costas, Nicolas lançou a última frase — Agora pensa se valeu a pena.

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