Índice de Capítulo

    Após um bom tempo, Koji finalmente se dirigia ao seu destino…

    Ele estava vestido com roupas de frio, gorro na cabeça, subindo a trilha da cidade de Aurora, que ficava no pico do Monte da Serra Branca, na região central do estado de Wüst. A promessa feita a Sam, selada pelas duas cartas entregues por Ava, era a única bússola que o movia, inicialmente até mais do que enfrentar o Conclave e a Fundação.

    Citação a Aurora, Capítulo 27

    Com as mãos um pouco trêmulas, Koji começou a ler o conteúdo das duas cartas, enviadas por Sam.

    “Koji, há algo que preciso te contar, algo que guardei por muito tempo. Eu conheci seu pai, Norman Fuller, anos antes de ele… bem, antes de ele tirar a própria vida. Nós nos tornamos muito próximos, a ponto de Norman confiar em mim com um segredo sombrio, um plano que ele havia traçado, um plano suicida. Sei que isso pode ser difícil de entender, mas ele acreditava que isso era necessário, e eu, de alguma forma, compreendi seus motivos. Desde o início, eu sabia que Norman acabaria cumprindo o que prometia, e por isso me preparei para o que viria. Foi essa preparação que me permitiu aparecer tão rapidamente na noite do incidente, para cuidar de você. Eu sabia que, quando aquele momento chegasse, meu dever seria te proteger e te criar, como ele teria querido.”

    “Sei que isso é muito para absorver, mas preciso te pedir algo importante: não nutra raiva ou qualquer sentimento negativo pelo que seu pai fez. Norman tinha seus motivos honrosos. Ele lutava contra ameaças que o atormentavam profundamente, e tudo o que fez foi pensando em você. Antes de partir, ele deixou comigo informações cruciais, coisas que me pediu para guardar e revelar a você apenas agora, mais de uma década após sua morte. Agora que chegou o momento, você tem a chance de seguir o caminho que seu pai estava trilhando antes de morrer. Esse caminho, Koji, vai te levar às respostas que você tanto busca – sobre o pacto que deu errado e a verdade sobre Norman. E esse caminho te leva a um lugar: Aurora. É lá que você vai encontrar a verdade sobre seu pai e a solução para o pacto.”

    Ele havia lutado. Agora, era hora das respostas sobre seu pai. O caminho para Aurora era o caminho para saber de sua própria história.

    O vento frio da serra chicoteava seu rosto, mas Koji ignorava. Ele buscou, entre as árvores e a neve fina, a cabaninha que lhe foi descrita. A casa se destacava no topo: pintada de branco novo, distinguindo-se das demais casinhas antigas da montanha. 

    Koji chegou à porta e bateu. O som foi abafado pela madeira. Não havia ninguém. Ele hesitou por um momento, com a mão na maçaneta, chegando até a supor volta atrás, visto por não ter girado a maçaneta. Contudo, ele girou, e em seguida, empurrou a porta. A casinha era simples, mobiliada, mas a poeira e o estado interior indicavam a ausência prolongada. “Será que meus pais moraram aqui?…” Koji pensou, dando os primeiros passos incertos para dentro. O cheiro de mofo apresentava-se como um elemento parte da essência histórica da cabana, pois era impossível estar nela e não sentir-se atingido.

    Antes que Koji pudesse olhar e, por conta própria, encontrar alguma coisa, a porta se abriu atrás dele.

    — Aparentemente não será somente eu que contará algumas coisas para você, Koji. — A voz grave era de Sam, que o seguiu, entrando na casinha com um olhar sério e exausto. O homem que o resgatou da noite mais sombria de sua infância estava ali, e que o criou por cinco anos, após o suicidio de Norman Fuller.

    Koji virou-se, surpreso, abaixo da luz fraca do interior da casinha — Sam… Quem mais está aqui? 

    Outra figura surgiu na porta, vestindo o colete da Torre e o olhar sério de quem carregava um segredo pesado. Era o agente Cole, estagiário da comandante Ava.

    — Eu achava que você não viria. — disse Cole, o estagiário de Ava, o mesmo que venceu e prendeu Max, o Traidor, e que Koji já havia visto na Torre.

    — Você não é aquele novato que ordenou o castigo da comandante contra mim e o Saik lá na Torre?

    — Sim, é… sou eu. — Cole respondeu, tenso, mas inabalável.

    Primeira citação a Cole, Capítulo 25

    Cole Fuller, um jovem de aparência nervosa e um tanto desajeitada, sorriu um pouco forçado ao ver os dois se aproximando. Ao lado dele estava Nicolas, um rapaz de olhar atento e postura mais confiante, que já havia tido uma breve interação com Ava sobre o relatório militar.

    — Mas o que está fazendo aqui? Sam, o que é isso? — Koji sentia-se numa armadilha.

    — Ele chegou até mim antes de mim aqui. Eu não sei o que ele veio fazer. — Sam, visivelmente indiferente à presença de Cole, colocou as mãos para cima.

    Cole estava claramente tenso. Ele tremia discretamente. Isso foi percebido por Sam, que já estava bem ao seu lado. Sam tocou o ombro direito de Cole, e disse.

    — Por que não sai de perto da porta? Está frio lá fora. — E guiou Cole, mais para o interior da casa, e frente a porta que deixava um fecho aberto, Sam ficou parado sentindo todo o frio.

    Sam permaneceu na fresta da porta, sentindo o ar cortante da montanha, mas seus olhos estavam fixos em Cole. Ele percebeu o tremor discreto do estagiário, um sinal de que a verdade iminente era demais para ser apenas falada. Sam entendeu que as palavras de Cole seriam interrompidas pela sua própria dor antes que Koji pudesse compreender a profundidade do que acontecera naquela cabana.

    — Por que não sai de perto da porta? Está frio lá fora. — Sam havia guiado Cole para o interior, mas agora se postava no lugar dele, absorvendo o frio e a tensão. Ele olhou para Koji, que o encarava com a impaciência gélida de quem buscava uma verdade não negociável.

    Cole, com a voz embargada, tentou iniciar — Koji, eu… eu preciso que você entenda que eu não…

    Sam o interrompeu, com a voz grave e definitiva, sem espaço para fraquezas — Infelizmente, terei eu que começar. — Sam deu um passo adiante, deixando o frio entrar na cabana. Koji não reagiu, apenas esperava.

    — Diga logo. — Koji ordenou.

    Sam o olhou, entendendo que a fúria em Koji precisava de mais do que palavras; precisava de uma prova inegável, de um trauma visual.

    — Não acho que será bom somente por fala, e sim será melhor você também ver.

    Um brilho metálico surgiu nos olhos de Sam, com ele dizendo: “Vide: Ambiente”, era a materialização de seu domínio sobre o espaço circundante, uma ferramenta de manipulação que ia além do terreno ou do clima. Sam era um criador de palcos.

    A Técnica “Ambiente” de Sam, Citação do Capítulo 18

    Essa técnica “Ambiente” permitia ao usuário manipular e controlar o ambiente ao seu redor de diversas maneiras. Esta técnica conferia ao portador a capacidade de alterar as condições ambientais para criar vantagens estratégicas em combate, defesa e outras situações. As habilidades vertentes de “Ambiente” incluíam a manipulação do clima, terreno, e a criação de ilusões ambientais.

    O ar da cabana, antes mofado e parado, estremeceu. O piso podre, as paredes rachadas, o sofá velho — tudo se desintegrou em uma luz bruxuleante e cinzenta. Koji sentiu a realidade se torcer, e ele, Cole e Sam foram transportados para um vazio opaco, onde a única coisa que existia era a projeção forçada da memória. Eles estavam agora olhando de fora, testemunhas involuntárias de um palco que Sam havia criado com sua técnica, manipulando a luz, o terreno e criando uma ilusão ambiental perfeita.

    — Eu te trouxe aqui, Koji, para cumprir o pedido de Norman. Mas a verdade que você vai ouvir e ver agora vai pulverizar a imagem que você tinha deles. — Sam começou a narrar.

    A primeira imagem se formou no centro da ilusão: uma mulher, Jenna Fuller, a mãe de Koji, grávida, deitada em um altar improvisado no que parecia ser a sala de uma casa mais nova. Um homem, Norman Fuller, o pai de Koji, pairava sobre ela, seu cabelo branco, liso e curto, molhado no gel penteado para trás, e aquelas três mechas caídas na testa brilhando sob uma luz infernal. Ele estava entoando palavras num idioma sombrio, gesticulando com as mãos.

    — Norman Fuller e sua esposa tiveram muitos filhos antes de você. — Sam disparou, sem tirar os olhos da cena. — Todos eles, Koji, foram assassinados por seus pais. Por Norman e por Jenna. Ela o apoiava…

    O cenário mudou. A luz voltou, mas agora mostrava um corpo pequeno e sem vida sendo descartado em uma lareira. Koji cambaleou, o choque paralisando-o.

    — Assassinados? Que tipo de absurdo é esse?! — A voz de Koji era um silvo gutural de descrença.

    — Norman queria um filho Portador… — Sam continuou, metodicamente, descrevendo o que as cenas passavam em um ritmo cruel. — Alguém capaz de suportar o ritual que ele executava, um ritual para forjar uma arma. Ele os eliminava quando percebia que não resistiriam ao fardo, ou que nasciam com imperfeições após a negociação com as forças.

    O palco de ilusão de Sam intensificou-se. A voz de Sam tornou-se a narração brutal do processo de Norman Fuller, enquanto as cenas mostravam o horror.

    — Norman Fuller era um homem obcecado pelo poder e pela anulação de suas ameaças. A fachada dele era a de um homem que via seus filhos como meros experimentos descartáveis. — A cena mostrava Norman, com um sorriso frio e doentio, avaliando um bebê por apenas alguns segundos antes de sua expressão se fechar em repulsa e um movimento violento. — Ele os submetia ao ritual, invocando forças sombrias, buscando um acordo para criar um portador perfeito. Quando percebia que a criança não seria o instrumento que ele desejava — por ser fraca, por rejeitar o poder, ou por apresentar o defeito que ele temia — ele a matava. As crianças eram vistas como falhas de laboratório, não como vidas. Jenna Fuller estava ao lado dele, cúmplice silenciosa ou ativa, aceitando o sacrifício de sua prole em nome do objetivo de Norman: criar o Portador da Vingança. A cabana não era um lar, era o palco de um genocídio familiar. 

    O rosto de Cole, ao lado de Sam, estava banhado em lágrimas de nojo e repulsa. Ele tentou fechar os olhos, mas a técnica de Sam o forçava a ver.

    — Eu fui o penúltimo. — Cole conseguiu dizer. — Meu nome é Cole Fuller. Sou seu irmão mais velho.

    A cena mudou. Uma casa diferente, Cole, criança, correndo. Ele tinha um ferimento.

    — Eu escapei, depois que Norman tentou me matar. Eu não saí perfeito no acordo. — Cole disse, a mão apertando o ombro, em referência a uma cicatriz invisível. — Aquele ritual era um pacto demoníaco. Eu não servi para ser um portador, e ele tentou me silenciar como fez com os outros.

    Koji, vendo a cena de Norman correndo atrás de Cole criança com uma expressão de ódio insano, ligou os pontos de forma violenta. Seus olhos se voltaram para o Cole adulto, que chorava no vazio.

    — Você é meu irmão? — Koji perguntou, quase inaudível, mas cheia de uma raiva nova, pesada e fria.

    Sam ignorou o reencontro dos irmãos e continuou a martelar a verdade — Quando chegou a sua vez, Koji, Norman estava no limite. Ele usou o suicídio na sua frente, o assassinato de Jenna, para que o trauma o tornasse a arma que ele precisava. E funcionou. Mas…

    A última cena se formou, mostrando a noite do incidente, o sangue.

    — Sua técnica, Koji, é imperfeita. Tem uma falha. Mesmo que esse defeito seja resultado da própria loucura de Norman Fuller, ele teria te matado, no final, se você não fosse sua última chance de deixar um herdeiro. — Sam depositou a última verdade como um peso de chumbo.

    O herói esperançoso em Koji desintegrou-se — Eu nasci do assassinato. Minha mãe… colaborou e foi sacrificada para me criar… Eu os odeio. Odeio… Norman Fuller… E odeio minha… mãe.

    Cole, desabado no sofá mofado (que retornava à ilusão), chorava convulsivamente, com o corpo tremendo. Koji olhou para Cole, a frieza estava o dominando.

    — Por que você chora sabendo disso? — Koji questionou, a brutalidade em sua voz cortava o choro. — Você está morto? Se ainda tem vida, diante disso, deveria sentir raiva, não tristeza.

    Cole, incapaz de responder à brutalidade do irmão, apenas chorou mais forte. Sam, o narrador sombrio, focou em Koji, dando-lhe o alvo final.

    — A paranoia de Norman Fuller era justificável. Ele era uma marionete. — Sam continuou, oferecendo a Koji a válvula de escape para a violência. — Ele sofria ameaças de tecnocratas poderosos do país. Usavam os arquivos de Os Demônios de Oxford que ele possuía para chantageá-lo moralmente, emocionalmente, psicologicamente e financeiramente.

    Sam inclinou-se.

    — E fizeram mais. Usaram sua esposa. Sua mãe. Abusos. Estupros. O sacrifício de Jenna e o suicídio de Norman foram o último gesto de um homem desesperado para criar a única arma que poderia os destruir. Você.

    A ilusão desvaneceu-se. Koji e Cole estavam de volta à cabana mofada. A urgência de lutar contra a Fundação foi substituída pela necessidade primária: vingança implacável contra as origens de seu tormento. Sam, sem dizer mais nada, saiu da cabana, deixando Cole, agora abatido e lacrimejando, e Koji, pensativo e com raiva, sozinhos.

    Koji correu para a porta, gritando para o Sam que se afastava no frio — Um nome! Sam! Me diga um nome! Aquele que me levará aos outros ratos!

    Sam parou, virando-se para Koji — Alex. O advogado de Norman Fuller. Ele era o intermediário entre os tecnocratas e seu pai. Ele é o primeiro na lista. 

    Citação a Alex, Capítulo 1

    Alex era advogado de Norman Fuller há muitos anos, a sua personalidade materialista tornava-o alguém apegado em objetivos que elevasse o seu status, incluindo corrupções e falsas acusações, caso fosse necessário.

    Koji virou-se para a porta. Não havia mais incerteza. A vingança era a única verdade, a única missão que lhe restava.

    — Matarei de Alex até o último desses ratos…

    Chegamos ao fim do Arco dos Corajosos em Akarui!.

    No entanto, a partir de agora, faremos uma breve pausa nas publicações semanais de capítulos de Akarui! (que ocorriam às segundas, quartas e sextas). O retorno da trama principal com o próximo arco acontecerá no dia 20 de outubro de 2025. Este pequeno intervalo de tempo é essencial para que eu possa focar na escrita de um projeto especial que mal posso esperar para compartilhar: o Spinoff Akarui! Episódio Hideki. Este episódio único e denso será lançado na Illusia no dia 17 de outubro de 2025 e explorará profundamente a mente e as origens do nosso enigmático Executor, Hideki.

    Aguardem o retorno da história principal no dia 20, e preparem-se para mergulhar no vazio opaco de Hideki no dia 17!

    Até breve.

    — Kailan

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