Parte I - A Desumanidade
Este Spin-off: Episódio Hideki é uma Intervenção de linha temporal no sistema.
A narrativa principal se desenrola nos dias críticos que se estendem do clímax do arco Epicentro do Caos até o final do Arco dos Corajosos. É um lapso de um mês onde a coerência do Executor será levada ao seu limite.
Na confusão entre as mesmas perguntas e respostas, é nessa situação que Hideki se encontra, tentando reviver a si mesmo ao revisitar o passado de sua lógica no agora.
“Se é possível que não exista mais humanidade? Se a resposta é sobre o que eu estou pensando, então sim. A desumanidade é um tipo de extinção.”
(…)
Durante o caos de Dynami…
A quarta maior metrópole afundava. Haviam nela cerca de 3 milhões de habitantes, e nas estimativas urgentes que eram noticiadas na televisão, nas rádios e redes sociais, assustadoramente, entre 1,5 milhão e 2 milhões perderam a vida. As nuvens cinzas e a frieza morta que dormia sobre a grande cidade, servia como um lençol para os milhares de arranha-céus, edifícios, hotéis, casas, ruas, veículos, hospitais e demais destruídos, inteiramente e parcialmente. Não havia rua em que não se podia observar poças de sangue, corpos de pessoas — sendo elas idosos, crianças, mulheres e até bebês —, e assim como os humanos, cachorros e gatos também eram vistos desmembrados e esmagados como papéis deformados, cruelmente.
No extremo sul de Dynami, ao nordeste do país, onde a Fundação devastava a cidade com o uso de Gyakus e na ação impiedosa de seus portadores, estava a última base militar ainda viva, ou melhor, que em alguns minutos já não encontrava-se tão viva. Ordenado por Zarek O Intocável e líder das ações da Fundação, para pôr fim a vida de todos os civis presentes na base, e o Executor, como era chamado pelo próprio Zarek, somente executava as ordens. E do outro lado, na base militar, a insuficiência das Forças Armadas era desoladora, com poucas armas, equipamentos médicos escassos e veículos em estado precário. O número de civis acampados nas grandes cabanas de resgate ultrapassava setenta, e a carência de alimentos era um problema constante. Na defesa dos civis e poucos militares vivos na base, havia somente um portador. Este era o Tahiko, um portador aliado dos humanos e da Torre. Abaixo de Tahiko, era o capitão Williams, um oficial veterano e capacitado no que dizia respeito à organização, operação e experiência. A atmosfera nas bases era tensa. Os poucos soldados estavam constantemente em alerta, conscientes de que a qualquer momento poderiam ser atacados. Os civis, exaustos e famintos, buscavam qualquer sinal de esperança.
— O que aconteceu lá? O que te arrastou para dentro daquele carro? — Tahiko perguntou a Riley, o garoto resgatado em uma das principais avenidas do leste de Dynami, enquanto jogavam uma partida de xadrez que se arrastava para um final inevitável.
— Eu me perdi da minha mãe. — O menino estava concentrado.
— Faz muito tempo?
— Foi no começo, quando o horror ainda parecia algo distante.
— E seu pai? Acha que ele ainda tá por aí? — Tahiko fazia sua movimentação na partida, usando seu cavalo para capturar um peão de Riley.
— Ele… está dentro daqueles bichos. Vi os pedaços. — o menino tinha seu olhar perdido nas peças de marfim. Contudo, sua resposta não transpirava frieza, parecia mais uma genuinidade proposital, quase uma negação somente contemplativa, nem realmente praticada.
Com o pescoço ligeiramente curvado, Tahiko escrutinava as expressões calmas e amigáveis de Riley. A resposta direta do garoto, despida de qualquer emoção infantil, e a forma como sua atenção se fixava no xadrez fizeram Tahiko confrontar a probabilidade de que a família do menino fora consumida, e que, no final, aquilo já não importava para a sobrevivência vazia de Riley.
— Estava se escondendo nos destroços? — brincando, disse a voz grave do Capitão Williams, ao encontrar Tahiko imerso na partida.
No tabuleiro, Tahiko mantinha suas últimas esperanças: um Cavalo na penúltima casa, a Rainha logo ao lado, e uma Torre, última guardiã de seu Rei, mais à direita. O garoto, por sua vez, havia estrategicamente entrincheirado seu Rei atrás de uma Torre, em um espelho da defesa de Tahiko, com a Dama e um Cavalo espreitando, uma ameaça silenciosa que mirava diretamente o flanco do Rei de Tahiko.
— Tahiko, há assuntos urgentes, o perímetro… — Williams começou, sendo abruptamente silenciado pela movimentação fatal no tabuleiro. Poc! O som seco da peça.
— Agora eu me atirei na boca da desgraça — murmurou Tahiko, mas a leveza forçada em sua voz não conseguia disfarçar o frio na espinha que a jogada lhe causava.
Ele havia avançado o Cavalo para o centro, expondo a Rainha. O garoto sorriu, parecia se divertir com a breve suspensão da realidade sangrenta em que viviam.
— Não temos tempo para isso… — Williams insistiu.
Poc! O som da captura.
O menino respondeu com uma violência estratégica, lançando sua Torre para trucidar o Cavalo exposto de Tahiko. Sem hesitar, Tahiko moveu sua Torre de defesa, que era a única proteção do Rei, para retaliar, uma jogada de desespero arriscado.
— Parece que alguém aqui quer ver o sangue escorrer, hein? — Tahiko forçou uma brincadeira, gesticulando com as mãos como se estivesse diante de um monstro iminente
— Ah, eu nem tenho tanta chance assim. — brincava o menino. Ele olhava para as peças com uma genuína alegria.
Com os braços cruzados, os olhos de Williams frios como o aço, ele esmagou a ilusão de Tahiko — Não viu a armadilha? O garoto já selou seu destino.
— O quê? — Tahiko abriu os braços em um gesto de incompreensão desesperada, incapaz de localizar a fissura que o levaria à derrota.
— Quando movimentei minha única torre, deixando meu rei sem defesa e capturando seu cavalo, deixei minha torre na mira da sua torre que protegia seu rei. — explicou o garotinho, apontando para as peças.
— Como o meu cavalo não era usado há muito tempo, você esqueceria dele. Minha dama parecia mais ameaçadora, e a movimentação que fiz com minha torre foi a jogada mais arriscada.
O Capitão Williams desferiu um tapa seco no ombro de Tahiko — Ele te venceu com sobras.
— Jogou de maneira conservadora a partida toda, para no final fazer uma jogada arriscada que me deu a sensação de que eu deveria atacar imediatamente, assim deixei meu rei indefeso… — Tahiko levantou com o corpo meio molenga devido à calmaria nas bases. — Tu é bom, garoto.
Genuinamente satisfeito com a diversão, Riley começou a juntar as peças.
— O Riley pode ir? — Tahiko perguntou ao Capitão, que respondeu com um suspiro pesado. — Não. Mas deixe ele por perto.
Antes de se afastar, Tahiko gesticulou, gritando para o garoto — Eu volto já, Riley!
Tahiko e Williams percorreram as fileiras de civis e soldados, oferecendo pequenas expressões de consolo e força. Apesar do ceticismo das pessoas, Tahiko sabia que precisava ser um farol de esperança para aqueles que dependiam dele. Williams precisava descarregar a carga de pavor que levava, então levou Tahiko para a borda da base. A visão do lado de fora era o retrato da agonia: abandono, destruição indescritível, coberta por uma névoa espessa de poeira e fuligem. Eles estavam ao extremo sul da cidade de Dynami, no limiar da cidade de Maka. O contraste era uma ferida aberta. Dynami em pedaços, isolada e pútrida, era uma visão que ressaltava a gravidade nefasta da situação.
Entretanto, a paz na base militar, apesar de diante da fome e desesperança, estava com o tempo contado, pois Hideki o Executor, portador da Fundação e ordenado por Zarek, enfim chegara em uma das partes laterais da base, e não pela entrada, onde Tahiko e Williams estavam conversando. As laterais da base possuíam ferros encobrindo as grades de proteção por algum motivo desconhecido. Com a face apática e um comportamento discreto, Hideki aproximou-se silenciosamente, sentindo a presença de Tahiko, mas sem conseguir localizá-lo precisamente.
— Só um portador… — murmurou ele.
A confiança do portador foi interrompida por sons desesperadores. Tahiko ouviu gritos de desespero e correu imediatamente para ver o que estava acontecendo. Entre as pessoas correndo para um lado e para outro, Tahiko gritava: “Riley! Riley! Riley!”, enquanto avançava na direção dos gritos. Ao chegar, Riley logo correu e abraçou Tahiko. Ele então se deparou com Hideki, que parecia indiferente ao caos ao seu redor. Os civis correram para se protegerem atrás de Tahiko, já Williams ficava ao seu lado e Riley se juntava aos civis.
— Quem é você? — Tahiko estava firme, na espécie de um herói na frente dos civis como um escudo.
— Não é necessário apresentação. Só não seja resistente — respondeu Hideki, na seca e serena voz como a de alguém sem vida. Seus braços se encontravam calmos, caídos, e nem em sua face parecia haver esforço.
— Então mete o pé daqui. Não matei nenhum Gyaku ainda, estou com toda energia para uma luta.
— Estou apenas respeitando uma ordem dada.
Tahiko soltou um sorriso largo e exagerado, e falou apontando para Hideki — Deixa que eu vou te expulsar na porrada!
Ele olhou para trás, em que estavam Williams, Riley e as dezenas de civis, para deixar clara sua convicção.
— Saiam daqui. Eu cuido dele… capitão e Riley, nos vemos depois — Um sorriso otimista abrilhantava seu rosto.
Depressa, as pessoas obedeceram a ordem dele e correram para longe, na direção da região ao sul da base, próximo da cidade de Maka. Com exceção de Williams, que deu alguns tapas no peito de Tahiko como forma de motivação enquanto falava.
— Confiamos em você.
Os olhares de aflição das pessoas se voltaram para a fuga. Agora, Tahiko estava frente a frente com seu adversário, que também era um portador, por uma distância de 10 metros.
— Agora é só entre nós, oh palhaço! — gritou Tahiko, cerrando os punhos e exalando uma empolgação extravagante.
— Antes, preciso fazer algo — respondeu Hideki. Tahiko não entendeu…
E logo, Hideki disse “Hariyaga: Inversão”
A técnica de poder “Inversão” permitia ao usuário a habilidade de inverter tudo e todos. Essa habilidade era tão versátil que o usuário podia trocar localizações de pessoas, objetos e animais, essencialmente alterando a posição e o estado de qualquer coisa existente. Essa técnica proporcionava inúmeras aplicações, capazes de surpreender até mesmo os mais experientes.
— Eu os deixarei ir longe, mas não chegarão a Maka. — afirmou o Executor.
Tahiko franziu a testa, pois apesar de determinado, realmente não estava entendendo a situação.
— Inversão? Essa é a sua técnica de merda, é?
Hideki, sem hesitar, usou uma das vertentes de sua habilidade “Inversão de Pressão: Hidrostática”
— Ahm? — reagiu Tahiko, olhando para todos os lados — O que tá fazendo?
— Nos encubra! — ordenou Hideki.
Em alguns segundos, algo gigante surgiu…
A habilidade de Inversão de Pressão Hidrostática com a ordem de Encobrir foi usada para criar uma prisão aquática de pressão inversa, encapsulando os alvos em um raio de 800 metros dentro de uma estrutura oval de colunas de água distorcidas.
Utilizando a ordem de “Encobrir,” ele formou uma estrutura oval gigantesca composta por colunas de água distorcidas e mantidas por pressão hidrostática inversa. Essa estrutura cercou Tahiko, Williams, Riley e os demais militares e civis dentro do raio de 800 metros.
As colunas de água, sustentadas pela pressão hidrostática inversa, criaram uma barreira impenetrável ao redor do alvo. A distorção das colunas de água tornou a barreira difícil de atravessar e visualmente confusa, causando desorientação e dificuldade para respiração devido a intoxicação efetuada pela distorção.
— Que merda… — Tahiko olhou para o céu e se deparou com a enorme estrutura oval de água que os encobria. — Isso é sinistro!
— A intoxicação liberada das colunas de água matará seus civis em poucos minutos — disse Hideki, na plenitude de sua face inclemente e apática. Ele falava pouco, sentia pouco, e seu olhar vazio incomodava quem tinha coração.
Algo precisava ser feito, e Tahiko não pensou duas vezes. Voltou a cerrar os punhos e avançou com uma velocidade impressionante, na subida alta de terra dos seus pés no mesmo instante de seu avanço, desferindo uma série de golpes rápidos e precisos. Investidas essas que eram socos direitos, esquerdos, inferiores e laterais que pareciam quebrar o ar ao redor. Contudo, Hideki desviava com facilidade, quase como se estivesse brincando.
— Eu não acerto esse verme? Isso vai ser um belo desafio para experimentar — pensou Tahiko, sorrindo de alegria com a chance de desfrutar de um bom confronto.
A movimentação de Tahiko era insana. Para onde Hideki ia, logo após desviar, Tahiko já o acompanhava como um parasita extasiado por sangue.
— Minha capacidade é assustadora. Me fala, não é? — limpando a cara enquanto se levantava, disse Tahiko.
— Eu ainda não fui atingido.
Por outro lado, Hideki não esboçava dificuldade alguma, se esquivando tranquilamente. Sua expressão não mudava, era nada mais nada menos que a mesma, quase uma analogia de um adulto experiente lidando com uma criança teimosa e ansiosa. O suor escorria pelo rosto de Tahiko, mas ele não desacelerou. Em vez disso, ele sorriu, um sorriso mais determinado e desafiador.
— É impressionante que ainda desvie, mas isso só me empolga mais, e eu ainda nem usei minha técnica…
Antes que alguém pudesse reagir, vários disparos de metralhadora ecoaram, especificamente de uma AR-15.
Rá-Tá-Tá-Tá! Rá-Tá-Tá-Tá!
O capitão Williams surgiu de repente, descarregando uma AR-15 em direção a Hideki. No entanto, algo que era de conhecimento mundial aconteceu.
— Essas coisas humanas não funcionam em portadores… — disse Hideki, passando as mãos pelos braços e limpando sua vestimenta. Ele não havia sofrido qualquer dano.
— Ah, merda! — murmurou o capitão, perplexo. Seus olhos estavam paralisados e suas mãos tremiam levemente enquanto segurava a arma — Não! Não! Não…
Nesse momento, Hideki sentiu uma energia emanando de Tahiko, que se preparava para contra-atacar.
“Évros: Amplitude Natural!” exclamou Tahiko, enquanto se levantava e limpava o suor de sua testa.
A Amplitude Natural elevava todos os atributos e características humanas ao auge extremo, transformando o usuário em um ser sobre-humano. Com força, velocidade, resistência e intelecto aprimorados, o usuário podia realizar feitos extraordinários. Essa habilidade proporcionava uma vantagem incomparável em combate, exploração e estratégia. No entanto, exigia controle e disciplina para evitar o desgaste excessivo e a exaustão.
Uma aura poderosa envolveu Tahiko, aumentando exponencialmente sua velocidade e força. Em um piscar de olhos, ele se posicionou atrás de Hideki, desferindo um golpe devastador. Contudo, ainda assim, o Executor se moveu com uma graça letal, desviando de cada golpe com uma leveza desconcertante. Ele observava Tahiko com um olhar analítico, quase entediado.
— Não acha que está perdendo tempo? — perguntou Hideki, pois não via justificativa alguma para Tahiko se arriscar em prol dos humanos. — Está tentando provar algo?
A batalha se transformou em uma corrida incessante, mas nada que Tahiko tentasse, mesmo com a Amplitude Natural ativada, conseguia atingir seu adversário.
Hideki aproveitou a oportunidade para fazer algo “Inversão de Sonoridade” disse ele, completando com uma única palavra “Trocar”, com essa ordem, Hideki inverteu e redirecionou os sons, de forma que, em vez de se dissiparem normalmente, foram enviados diretamente para onde Tahiko estava.
Ele se concentrou na origem e no destino dos sons, especificamente no som dos corpos dos civis caindo no chão, mortos. Tahiko ouviu claramente o som dos corpos caindo, como se estivesse no local onde os civis estavam, apesar de estar fisicamente em outro lugar.
Instantaneamente, não apenas Tahiko, mas também Williams ouviram e expressaram total desesperança. Williams se ajoelhou, sua força parecia desaparecer completamente. Era possível escutar até as últimas respirações das pessoas e, posteriormente, os corpos caindo no chão, já sem vida devido à intoxicação. Dessa vez, o orgulho de Tahiko estava quebrado, estraçalhado, morto. Seus pensamentos se concentravam em uma única coisa.
— Riley… Riley…
A presença do garoto era de enorme importância, equilibrando a loucura dentro de Tahiko. Entretanto, não havia mais raiva dentro dele, mas sim ódio puro e implacável. Seus olhos, cheios de fúria, anunciavam uma ameaça iminente. A pulsação de raiva em seus músculos demonstrava sua perda de controle, enquanto um grande sorriso falso estampava seu rosto, tentando encobrir sua odiosidade.
— Poucas vezes eu senti tanto ódio…
Ligeiramente, Tahiko avançou na direção de Hideki. A velocidade era tanta que deixava rastros de vento pelo caminho, mas seus ataques não terminavam como ele queria. Hideki continuava a se esquivar das tentativas desesperadas e visivelmente forçadas de Tahiko, que se esforçava, suava, e tentava ao máximo acertar seu adversário.
— Como? Como eu não consigo acertar? Até mesmo com a Amplitude… — gritava Tahiko, impaciente, ofegante e suspirando de raiva, olhando fixamente para Hideki.
Por outro lado, Hideki somente observava calmamente seu adversário, determinado a lutar pelos civis. Ele refletia sobre a técnica Amplitude Natural de Tahiko.
“É uma ótima técnica para quem possui um ótimo físico como ele, mas a inexperiência dele é nítida. Certamente ainda não tem conhecimento sobre o uso da energia externa… quando entender, se tornará um problema.”
Como já explicado, a energia externa era usada unicamente para o aperfeiçoamento das capacidades físicas, elevando-as ao auge da capacitação humana. Enquanto isso, a energia interna era utilizada exclusivamente para sustentar a técnica. Portanto, a cada minuto que Tahiko usava sua Amplitude, ele consumia sua energia interna devido à natureza técnica dessa habilidade.
O uso da energia externa aumentava as capacidades físicas ao extremo. Quando utilizada junto com a Amplitude Natural, isso tornava o portador muito além do que ele imaginava, superando todos os limites de sua compreensão, atingindo até mesmo a velocidade do som, se necessário.
“Pelo visto, é iniciante, provavelmente é de última classe”, Hideki observava, sereno, enquanto batia as mãos para limpar a poeira, analisando friamente o estado enfraquecido de Tahiko.
Exausto, Tahiko não conseguia se manter de pé. Seu esforço havia ultrapassado todos os limites, e a exaustão o dominou por completo. Suas pernas enfraquecidas não o sustentaram, e ele caiu de costas sobre um grande pedaço de concreto, um dos muitos destroços no cenário devastado. Hideki, a poucos metros de distância, apenas olhava para ele com uma expressão séria e serena. Não muito distante, o capitão Williams cedeu totalmente, caindo no chão sem forças e sem reação, atingido pela intoxicação.
Tahiko olhava o cenário ao seu redor, perdido e derrotado. Não conseguia mais levantar, muito menos lutar. Sua derrota estava confirmada. Seus olhos refletiam frustração e abatimento completo. Ele não conseguia manter a cabeça erguida. Sua capacidade havia sido destroçada e jogada no lixo. Ele não sabia como poderia mudar a situação em que se encontrava, resultado de sua confiança excessiva em si mesmo. E no interior vasto da base militar, longe, bem longe, na fronteira sul da base bem próximo da divisa de Dynami com a cidade de Maka, estavam todos os civis mortos. Seus corpos estavam tão juntos que pareciam folhas caídas de uma árvore no outono. Na fronteira norte da base, era lá que encontravam-se Hideki, de pé, tranquilo, com os braços caídos e normais, sem ferimentos e nada, somente encarando, na posse de seu olhar morto e opaco, o seu adversário impotente no chão.
Este oponente impotente? Este sem forças, que do chão não conseguia se levantar? Bom, era Tahiko, qualquer um também poderia chamá-lo por Homem. Possuidor de uma sombra, da má essência, da intrínseca alma corrompida — , mas também era um homem, instintivo, vivo, carente da genuinidade e detentor da indignidade humana. E por tanto odiar o mal, apesar de tê-lo em seu interior por ser justamente um portador, era capaz de odiar a si mesmo por entender sua hedionda mancha — este homem não conseguia se firmar em pé. Ele estava no chão, com o corpo exausto além de qualquer limite físico e a pele coberta por ferimentos que a sua Amplitude Natural não poderia fechar ou restringi-lo de ter. Nada do que ele havia tentado, em sua fúria instintiva, havia surtido efeito positivo contra a lógica fria e a superioridade absurda de Hideki. Seu olhar raivoso, desesperado e cheio de ódio, recaiu sobre o Capitão Williams, que jazia sem qualquer movimento sequer. O terror de perder um aliado crucial dominou Tahiko.
— Capitão! Acorda, capitão! — gritou Tahiko, com a voz rasgada e pulsante de uma impaciência perceptível. Ele se babava ao falar intensamente, e seus socos de raiva no solo vibravam com a frustração de sua derrota. O seu ódio era maior que tudo, certamente.
Hideki, o Executor, movia-se em contraste absoluto. Estava calmo, falava pouco e agia com uma precisão que beirava a indiferença. Ele caminhou pela destruição das partes incrivelmente tortas do solo devido a sua batalha com Tahiko, direcionando-se ao seu verdadeiro alvo e à pessoa que ele traria para a visão do adversário inábil. Hideki trouxe Riley desacordado nos braços. Ao passar por Williams, ele usou o pé para empurrar o corpo do Capitão e examinar-lhe o rosto. Notou a marca roxa nos lábios; o Capitão Williams estava oficialmente morto.
O Executor se agachou o suficiente para retirar a carteira pessoal que o oficial carregava.
— Documentos… Família… Niki Williams… — Hideki folheou rapidamente o conteúdo, catalogando as informações, mas nada lhe interessou como possível utilidade tática. Emoções e laços eram variáveis irrelevantes.
Quando Tahiko finalmente conseguiu levantar a cabeça, cabisbaixo e tomado pela impotência, seus olhos encontraram Riley inconsciente nos braços de Hideki. A nova onda de ímpeto não era mais apenas raiva, mas uma preocupação imediata que o tomou. Ligeiramente, as suas sobrancelhas se levantaram em um choque visível.
— Coloca ele no chão! Deixa ele aqui! — Tahiko exigiu.
— Não seja tão descontrolado. O garoto está vivo por minha escolha. Ele já deveria estar morto como os outros.
— O que vai fazer com ele?
— Me chamou atenção o modo como você vê esse menino. Certamente, ele não deve ser uma pessoa comum, e você pouco sabe disso. Por isso, vou levá-lo comigo.
Em seguida, Hideki jogou a carteira do capitão para a frente de Tahiko. Como despedida e análise final da situação, ele verbalizou o inevitável — Não precisa se culpar, não tinha como você vencer.
Posteriormente, Hideki e Riley desapareceram, o Executor se moveu com a velocidade de quem corta um nó. Ele deixou Tahiko se lamentando com raiva. Em vez de chorar, Tahiko socava o chão repetidamente para aliviar seu ódio não resolvido. Seu orgulho tornou-se inexistente…

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